Lugares da Memória
Banco de Dados
Histórico-Arquitetônico

Índice

1. Luz Água Branca: Lugares da Memória

2. Luz

Residências
Hotéis
Fábricas
Instituições Técnicas e Escolares
Escola Politécnica
Pinacoteca do Estado
Estações Ferroviárias
Estação da Luz
Antiga Estação da E.F Sorocabana
Áreas de Lazer
Jardim da Luz

3. Campos Elíseos

Residências
Palácio dos Campos Elíseos
Sobrados neoclássicos do fim do século XIX
Instituições Técnicas, Escolares e Religiosas
Liceu Sagrado Coração de Jesus
Estações Ferroviárias
Estação Júlio Prestes

4. Santa Efigênia

Residências
Sobrados neoclássicos do fim do século XIX
Vila Inglesa: São Paulo made in England
Hotéis

5. Bom Retiro

Instituições Técnicas e Escolares
Antiga Escola de Farmácia e Odontologia da Universidade de São Paulo
"Desinfectório"
Grupo Escolar Marechal Deodoro
Instituições Religiosas
Sinagoga da Rua da Graça
Paróquia de Santo Eduardo
Instituições sociais
Ru(g)as da cidade

6. Barra Funda

Residências
Instituições Culturais
Teatro São Pedro
Fábricas e Galpões Industriais
Moinho Central
Estações e Edificações Ferroviárias
Estação Barra Funda
Galpões e oficina ferroviária
Pátio de Manobras e Estação da Rua do Bosque
Oficinas Mecânicas

7. Água Branca

Francisco Matarazzo
Fábricas
Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo
Indústria Santa Marina
Parques
Parque Antártica
Parque Fernando Costa
Ru(g)as da Cidade
Rua do Curtume

1. Luz Água Branca: Lugares da Memória

Albert Camus tinha razão. São Paulo é mesmo uma "cidade estranha, Oran desmedida". Que outra definição poderia ser mais justa? A planta parece uma colcha de retalhos, juntados ao acaso. As ruas se imbricam, retas perdidas que se espraiam em todas as direções, compondo ângulo insólitos. As pontes se sucedem, esmagando o que estiver por baixo. Os rios, transformados em linhas retas, posam para uma aerofotogrametria e disfarçam um certo constrangimento da natureza face o asfalto e o concreto.

Camus visitou São Paulo no fim dos anos 40. Foi à penitenciária do Carandiru, passeou pelos prostíbulos da rua Aurora e compareceu a um desses programas de rádio em que as pessoas expõem suas tragédias em troca de um paliativo para sua miséria. Circuito um tanto quanto exótico, porém de certo relevo antropológico.

Claude Levi-Strauss, este sim antropólogo, andou nos anos 30 por caminhos mais convencionais, detendo-se sobre o centro da cidade. Sem o ceticismo de Camus, não deixou de registrar seu estranhamento perante a Paulicéia, essa "grande boca de mil dentes". Estarrecia-lhe o fato de que "a cidade desenvolve-se com tal rapidez que é impossível encontrar-lhe um mapa: cada semana exigiria uma nova edição."

Situação paradoxal. O único elemento estável da paisagem paulistana é sua transitoriedade.

Levi-Strauss constatava uma realidade que se faz presente desde a segunda metade do século XIX, mais precisamente a década de 1870 - 1880. Esse período aliás é comumente designado pela historiografia como a data da "segunda fundação" da cidade de São Paulo e esse termo ganhou fôlego ao longo dos anos mais por sua precisão conceitual do que por seu impacto retórico.

Nesse período, o trinômio economia cafeeira, viação férrea e imigração, redefine a paisagem da cidade e São Paulo começa a assumir os traços que todavia a caracterizam: movimento, velocidade e aglomeração humana. Tendência que se solidificou ao longo do século XX, mas que não teve precedentes. Só para se ter uma idéia do que significou esse trinômio para o cotidiano de São Paulo, basta lembrar que entre 1554 e 1872 a cidade cresceu muito pouco. Dos 100 habitantes de 1554 passou a 31.000 em 1872. Isso quer dizer que em 318 anos a cidade teve um incremento populacional anual, equivalente ao crescimento da Grande São Paulo a cada duas horas em 1982.

O setor urbano do Arte / Cidade III leva ao limite essa constatação. Entre o bairro da Luz e a Água Branca, circundando as linhas ferroviárias da Sorocabana e da Santos-Jundiaí, onde hoje se situam construções abandonadas e sub-habitações, já existiram uma cidade industrial, bairros operários, ruas elegantes, vida universitária e até a sede do governo estadual.

Historicamente os bairros que esse Arte / Cidade atravessa _Luz, Santa Efigênia, Bom Retiro, Campos Elíseos, Barra Funda e Água Branca _ marcam a expansão da cidade de São Paulo no sentido oeste, intimamente relacionada à implantação do sistema ferroviário estadual e à industrialização da capital paulista. Pertecem a um tempo em que a cidade funcionava à base dos bondes da Light e dos trens das companhias que serviam ao circuito cafeeiro.

Era uma cidade sobre trilhos da qual fizeram parte alguns lugares da memória da cidade, que o circuito do Arte/ Cidade III percorre, emaranhando as redes da "memória-sonho" e da "memória-trabalho": o parque Antártica, o cheiro das fábricas da Água Branca, o Jardim da Luz, o Palácio dos Campos Elíseos, as estações de trem, os hotéis, as indústrias, as residências neoclássicas, as enchentes.

Para entender a cidade, ensina Ecléa Bosi, é preciso saber escutar as pedras. Sugestão proustiana inequívoca e arte notável. Principalmente quando as ruínas anunciam "paisagens epilépticas", cenários taciturnos situados num espasmo temporal. Suspensão dos sentidos de presente, passado e futuro, arriscando um gesto de drenagem da história.

Brotos sui generis de um arbusto árabe

De 1870 em diante, a nova inserção político-econômica da cidade de São Paulo no país e sua expansão física são condicionadas pela febre ferroviária que acompanha o fluxo do "ouro verde" (o "rei café") em direção ao porto de Santos. Vencido o obstáculo dos 800 m de altitude da Serra do Mar, pelos operários e engenheiros da São Paulo Railway, as ferrovias multiplicam-se pelo planalto paulista e avançam na direção norte, leste e oeste do Estado. A cidade que permanecera alienada do litoral se abria para o mundo.

A imigração e a industrialização repercutiam na ocupação espacial da cidade, marcando sua expansão primeiramente na direção da vertente esquerda do Tietê, concentrando-se na área contígua ao centro da cidade, o "além Anhangabaú". Essa região compreende uma área situada sobre colinas de declive suave, que se estende da periferia do núcleo central (as encostas meridionais do vale do Anhangabaú) até a várzea do Tietê (planície formada pelo Tietê e Tamanduateí), no perímetro hoje formado pelos bairros de Santa Efigênia, Luz, Campos Elíseos, Bom Retiro, Barra Funda e Água Branca.

2. Luz

A origem dos atuais bairros de Santa Efigênia e Luz está ligada a dois velhos caminhos coloniais. O mais antigo deles tinha como ponto de partida o largo São Bento, atravessava o rio Anhangabaú e rumava para o Guaré, situado onde hoje fica o Convento da Luz (ao lado do Museu de Arte Sacra, na avenida Tiradentes) que foi construído sobre o local onde em 1603 se erigira a capela de Nossa Senhora da Luz. A importância dessa rota residia no seu destino, o Campo da Luz, área hoje ocupada pela avenida Tiradentes. O Campo da Luz era o ponto de concentração das tropas provenientes de Atibaia e Bragança que penetravam na cidade por Santana, para comercializar seus produtos na feira que existia ali. Durante o século XIX esse caminho se transformou na rua Florêncio de Abreu e na avenida Tiradentes.

Luz/Residências

Rua Florêncio de Abreu n º 714 a 726 com rua Paula Souza n º 19 a 27.

Casa neoclássica projetada por Ramos de Azevedo para Antonio de Paula Souza, concluída em 1889. Foi também residência de Washington Luís, prefeito, governador (na época "presidente do Estado)" e presidente da República. Sofreu várias modificações, principalmente internas, para ser adaptada para hotel.

Luz/Hotéis

Rua Mauá, 486 a 552 (Hotel do Comércio e Federal Paulista), avenida Casper Líbero, 651 a 677 (c/ Rua Mauá, 438 a 446 - Hotel Queluz), 633 a 649(Hotel Karin), Rua Florêncio de Abreu, 421 a 429 (c/ Rua Augusto Severo, 50 e 58 - Hotel Mundial)

Esses hotéis foram construídos na primeira década do século e estão intimamente relacionados à época em que as ferrovias eram parte integrante da vida da cidade de São Paulo e a Luz um de seus centros nervosos. Em sua maioria não tiveram suas fachadas alteradas, mas sim profundamente descaracterizadas por letreiros e painéis.

Luz/Fábricas

Beco da Fábrica: rua Florêncio de Abreu, altura do número 687.

Local onde foi estabelecida em 1872 a primeira grande fábrica da cidade de São Paulo, a "Grande Fábrica de Tecidos a vapor", de Diogo Antonio de Barros, que ali se situava pela sua proximidade à ferrovia. Essa fábrica dispunha de 50 teares, descaroçadores, máquinas de beneficiar algodão, fiação, tinturaria, tecelagem e enfardamento. O maquinário era movido a vapor, com força de 50 H.P. A capacidade de produção diária podia chegar a 2.400 m de algodão e 800 kg de fio. Nos períodos de pico de produção empregava 93 operários, dos quais 20 eram mulheres e 60 crianças de 11 a 13 anos de idade.

Luz/Instituições Técnicas e Escolares

Escola Politécnica

Praça Fernando Prestes, 30 a 184, avenida Tiradentes s/ n, Rua Afonso Pena, 258.

A criação da Escola Politécnica em 1893 evidencia as transformações e as demandas da cidade e do Estado de São Paulo no fim do século XIX, quando a industrialização e a urbanização passaram a demandar quadros profissionais com alto gabarito técnico e competência tecnológica. Expressa, também, a força do pensamento positivista na instituição da República em São Paulo. No conjunto de edifícios da remanescentes da Politécnica, o prédio mais antigo é o Edifício Paula Souza. Foi construído entre 1895 e 1896, e seu projeto é de um dos ilustres docentes da Politécnica, Ramos de Azevedo.

Pinacoteca do Estado, antigo Liceu de Artes e Ofícios

Avenida Tiradentes, 141 e 173; Praça. da Luz, 2.

O terreno da Pinacoteca fazia parte do Jardim da Luz. Foi cedido em 1897 para a construção do liceu. Em 1900, Ramos de Azevedo assumiu a direção do instituto que fornecia elementos importantes para as construções neoclássicas, que recaracterizavam a nova paisagem paulistana, como gessaria, ferragens artísticas, equipamentos para instalações elétricas etc. O liceu funcionou nesse prédio até 1971. A partir de 1905, a Pinacoteca foi instalada nesse edifício, que em 1946 passou a abrigar também a Faculdade de Belas Artes. Atualmente o prédio abriga exclusivamente a Pinacoteca. O projeto do prédio, que incluía uma cúpula e revestimento externo, nunca foi concluído, mas os especialistas costumam frisar que o prédio deve permanecer assim, "atestando o alto grau técnico então atingido pela alvenaria de tijolos."

Luz/Estações Ferroviárias

Estação da Luz

Praça da Luz s/, Rua Brig. Tobias s/n, Rua Mauá s/n, viaduto Couto de Magalhães

A estação da Luz era a estação principal da antiga São Paulo Railway (posteriormente, E. F. Santos Jundiaí), ou "inglesa", como era mais conhecida. Erguida com material integralmente importado da Inglaterra sobre parte do terreno do antigo Jardim Público (da Luz) e monumental em todos os sentidos ela foi construída entre 1895 e 1901. Ocupa uma área de 7.520 m 2 e possui um vão livre de 39 m na gare. É uma espécie de templo à magnitude do poder do café . Por ela circulavam não só o "ouro verde" e os produtos procedentes ou com destino a Santos, mas as autoridades nacionais e estrangeiras que vinham à capital. Sua torre dominava a paisagem paulistana e o tempo que seu relógio marcava confundia-se com o tempo público da cidade. Em 1946 foi vítima de um incêndio que consumiu parte de sua nobreza e lhe rendeu um pavimento a mais. É a obra arquitetônica mais emblemática das transformações urbanas que a excêntrica rubiácea provocou na Paulicéia e o tributo mais contundente à presença britânica na cidade.

Antiga Estação da Estrada de Ferro Sorocabana

Largo. General Osório, 86, 116, 120.

A primeira estação da Sorocabana ficava junto ao Viaduto Couto Magalhães. Foi construída nos anos 70 do século passado, reformada em 1903 e demolida em 1978. A segunda estação central da Sorocabana ocupou um edifício que se tornou posteriormente funesto. Esse prédio, que fica exatamente ao lado da Estação Júlio Prestes, ficou conhecido porque abrigou durante muito tempo o DOPS. Apesar das amargas memórias de que se tornou referência ele é, por suas características arquitetônicas, um elemento importante da composição do conjunto de edifícios ferroviários da região da Luz, apesar de, administrativamente, pertencer a outro bairro.

Luz/Áreas de Lazer

Jardim da Luz

Inaugurado em 1825 como "Horto Botânico", o atual jardim da Luz teve seu nome alterado em 1838 para o de Jardim Público. Contudo, foi apenas entre 1856 e 1858 que se deu a compra de variedades botânicas no Rio de Janeiro para serem aclimatadas no Jardim, até então pouco cuidado. Em 1860 perdeu 44 m de terreno da frente ao fundo que foram cedidos a São Paulo Railway para a construção da Estação da Luz. Nessa época, foi construído um chafariz no centro do Jardim. Na administração de João Teodoro Xavier de Matos, o Jardim adquiriu ares mais sofisticados. Ganhou estátuas alusivas às quatro estações, novas mudas foram plantadas e um observatório de tijolo com 20 m foi erguido. O mirante do Jardim, que imitava um farol marítimo, foi fechado em 1890 e demolido em 1900. Em 1891, foi inaugurado um restaurante, Chalet Restaurant, e o jardim foi dotado de iluminação a gás. Em 1910 foi implantado um busto de Giuseppe Garibaldi e em 1914 foram construídos passeios com mosaicos. Na década de 30, os animais, abundantes ainda no Jardim, foram transferidos para o Parque Fernando Costa, ou da Água Branca, como é mais conhecido. A única construção oitocentista que permaneceu intacta nas dependências do Jardim é a gruta de pedra.

3. Campos Elíseos

No fim do século XIX, a cidade vive seu primeiro surto de especulação imobiliária. O marco desse novo fenômeno foi o loteamento da antiga Chácara Charpe, feito pelos alemães Glette e Nothman que arruaram o trecho que ficava entre a atual avenida Duque de Caxias e uma parte da Chácara do Carvalho que compreendia as atuais alamedas do Triunfo, dos Andradas, Barão de Piracicaba, Glette e Nothman. Nascia o bairro onde a oligarquia cafeeira verticalizaria sua primeira vertigem de ver a Europa brotar nos trópicos: o bairro de Campos Elíseos.

Campos Elíseos/Residências

Palácio dos Campos Elíseos

Avenida Rio Branco 1269 a 1313, alameda Glette s/n, rua dos Guaianazes, 1042.

O "Palácio" foi construído de 1896 a 1899 para ser a residência de um rico fazendeiro de café, Elias Antônio Pacheco Chaves, ocupando uma quadra do então recém criado bairro de Campos Elíseos. O projeto é de autoria do arquiteto alemão Mateus HäussleRua Funde elementos da arquitetura clássica italiana, marcada pela "loggia", com características da arquitetura francesa do século XVIII, como a mansarda (último andar de uma edificação, formado pela inclinação inferior do telhado composto por águas quebradas, com duas inclinações, sendo a inclinação inferior quase vertical e a superior quase horizontal). Foi finalizado pelo arquiteto italiano Cláudio Rossi, o mesmo do Teatro Municipal, realizado pelo "Escriptório Ramos de Azevedo". Em 1912 o Estado adquire essa propriedade, que é então transformada em residência dos governadores. Em 1935 passa a ser, também, sede do governo do Estado, função que manteve até 1965. Em 1967, depois de um incêndio, deixou de ser residência oficial e passou a ser ocupado por diversas Secretarias de Estado. A construção já sofreu várias modificações internas e externas e, com o alargamento da avenida Rio Branco, perdeu o gradil que foi substituído por um muro de tijolo.

Sobrados neoclássicos do fim do século XIX

avenida Rio Branco 1260, 1278, 1294, 1312, 1318. alameda Nothmann n º 563 e 567, largo Coração de Jesus 65 a 83 A

Residências do período "cafezista", produtos típicos do ecletismo neoclássico dos "capomastri", testemunham a introdução da alvenaria de tijolo nas construções, em substituição à taipa. Destacam-se nas fachadas as grades de ventilação dos porões.

Sobrados das primeiras décadas do século XX (1900-1919) : avenida Rio Branco 1210 c/ alameda Glette, s/n, Rua dos Guaianazes, 1050, 1112 ( c/ alameda Nothmann, 495), 1128 ( c/ al. Nothmann, 526), 1149, al. Nothman 485 (c/ avenida Rio Branco), alameda Glette, 444, 488 (Liceu Nossa Sra. do Loretto)

Essas residências, exceto a da Rua dos Guaianazes, 1149, que é tipicamente neoclássica, manifestam tendências individualizantes da arquitetura residencial. É uma arquitetura descomprometida do ecletismo italiano, e denota certa urbanização dos valores da burguesia cafeeira, já preocupada em marcar as diferenças e os níveis de riqueza pela estilização e particularização da propriedade.

Imóveis com finalidades comerciais e residenciais: Largo Coração de Jesus, 65 a 83 - A.

Esse conjunto de prédios é de 1898. Além de documentar a urbanização do bairro, com a implantação de serviços, eles ajudam a perceber a dimensão da arquitetura dos capomastri. As soluções neoclássicas "invadem" a paisagem, incorporando os imóveis suntuosos e os simplórios.

Campos Elíseos/Instituições Técnicas, Escolares e Religiosas

Liceu Sagrado Coração de Jesus

Largo Coração de Jesus, 140 e 154

Esse liceu foi projetado como anexo do Santuário do Sagrado Coração de Jesus e terminou de ser construído em 1900. Tinha por finalidade o ensino técnico de comércio, artes e ofícios. O projeto do santuário e do liceu, parcialmente executado, é de autoria do padre salesiano Domingos Delpiano, secretário de D. Bosco, e data do fim dos anos 70. O lançamento da pedra fundamental do santuário foi feita em 1881 e constitui um marco da expansão da cidade "além Anhangabaú". Sua história se confunde com a do bairro dos Campos Elíseos. A obra da torre e do templo, uma das primeiras de tijolo, foi custeada pela família de D. Veridiana Prado. Destacam-se na construção os retábulos de mármore importado e as paredes com inscrições de nomes significativos da oligarquia cafeeira.

Campos Elíseos/Estações Ferroviárias

Estação Júlio Prestes

Praça Júlio Prestes, 148 e 260, Rua Mauá s/ n

Situada na divisa dos bairros do Campos Elíseos e do Bom Retiro, essa estação é uma obra de dois arquitetos brasileiros, Samuel das Neves e Cristiano Stockler das Neves, autor também do projeto do avô dos arranha-céus da cidade de São Paulo, o Edifício Sampaio Moreira (Rua Líbero Badaró, centro). O projeto foi premiado no III Congresso Pan-americano de Arquitetura e inspirado em estações americanas (Grand Central e Pennsylvania Station). Foge ao padrão da época áurea das ferrovias não só por suas características arquitetônicas e pelos materiais de construção (que incluem o concreto), mas principalmente por se erguer com rara beleza sobre um anacronismo histórico. Foi construída entre 1926 e 1938, quando as rodovias já eram o centro das preocupações do sistema de transportes interestaduais e a economia cafeeira cedia espaço à indústria. O hall já foi celebrizado como "o maior salão do Brasil". Hoje em dia certamente não é, mas suas dimensões ainda são impressionantes: 48 m de comprimento, 20 m de largura e 26 de altura. Não fossem esses elementos suficientes para tornar a estação interessante, poder-se-ia lembrar que a estrutura metálica da plataforma é constituída pelas peças do hangar do Zepelim no Rio de Janeiro.

4. Santa Efigênia

Santa Efigênia é o fruto do Caminho de Piratininga, o segundo caminho que desembocava no Campo da Luz. Corria paralelamente ao Caminho do Guaré e corresponde ao que hoje é a ladeira de Santa Efigênia e a avenida Casper Líbero (antiga rua da Constituição). O Caminho de Piratininga levava aos campos de mesmo nome situados numa porção dessa área que englobava os atuais bairros da Luz, Campos Elíseos e Bom Retiro. Nos Campos de Piratininga habitavam os índios Guaianá que os utilizavam para caça e pesca. Santa Efigênia constitui o "marco inaugural" da expansão urbana para "além Anhangabaú", balizada pela formação da paróquia de santa Efigênia em 1809. Contudo, é a partir de 1870 que se dá a ocupação sistemática dessa porção urbana, refletindo o impacto da implantação das estações da "inglesa" (São Paulo Railway) e da Sorocabana.

Santa Efigênia/Residências

Sobrados neoclássicos do fim do século XIX

rua General Osório, 436 e 438.

repetem o padrão descrito acima sobre o Largo Coração de Jesus, 65 a 83 -A

Prédios de apartamentos dos anos 20 e 30: Viaduto Santa Efigênia c/ Rua do Seminário, 202 a 222, Rua Sta. Efigênia 338 a 358 (c/ Rua Aurora s/ n - Palacete Helvétia), 361 a 373, 364 e 368, Rua Aurora 244 a 254 (c/ Rua Sta. Efigênia, 339 a 355 - Palacete Lellis), al. Barão de Limeira 10 a 50 (c/ Rua Vitória, s/n), 133 a 145 (c/ Rua General Osório, 663 e 671), avenida S. João 1282 a 1322 (c/ avenida Duque de Caxias, 312 a 318), 1214 a 1258 (c/ al. Barão de Campinas, 99 a 147),: Praça Júlio Mesquita, 84 a 96 (Palacete B. Carrera), 108, 112 e 116 (c/ Rua Vitória 679 a 687).

Esses primeiros prédios de apartamentos da cidade têm em média 6 pavimentos e o mais antigo é provavelmente o Palacete Helvétia. São todos muito interessantes e ecléticos. Alguns possuem lojas no térreo e sótão. Construídos nos anos 20 e 30 iluminam as transformações sociais e a criatividade da arquitetura do período, marcada pelo sincretismo das fachadas e na diversidade dos materiais de construção (concreto, alvenaria de tijolos, perfis metálicos). Constituem os primeiros traços de verticalização da cidade e rastreiam os problemas urbanos da época. O encarecimento da moradia, a debilidade do sistema de transportes e a diversificação social explicam sua construção entre o centro da cidade e o bairro da Luz, pólos econômicos da São Paulo de antigamente. Um prédio situado na rua Santa Efigênia, 364 e 368, documenta um passado intangível para o paulistano de hoje. Uma cidade com índices baixos de poluição atmosférica. De estilo art déco, esse edifício de três andares têm um revestimento que levava mica ou pó de vidro em sua composição e que ficava cintilante quando exposto à luz. É um material frágil e principalmente de difícil limpeza. Não resiste ao monóxido de carbono.

Vila Inglesa: São Paulo made in England

Rua Mauá 836, 842, 866 a 892 (Jardim Marquesa de Ytu ()).

O projeto é do engenheiro Eduardo Aguiar D'Andrada, nascido em 1873. Segundo os especialistas, destaca-se a o bom resultado estético de seu ecletismo que mescla soluções importadas da arquitetura britânica com elementos arquitetônicos neocoloniais brasileiros, fundindo o uso de tijolos aparentes com o de alpendres. Foi construída para ser residencial e destinada à classe média. As casas hoje são ocupadas em sua maioria por prestadores de serviços.

Santa Efigênia/Hotéis

Largo de Santa Efigênia, 20 a 56 (São Paulo Center Hotel), Largo General Osório 135 a 159 (Hotel Flórida)

Esses hotéis são a melhor tradução da expressão "do luxo ao lixo", principalmente o São Paulo Center Hotel, que foi construído na década de 20 pelo "Escriptório Ramos de Azevedo".

Santa Efigênia/Estações Ferroviárias

v. LUZ, Antiga Estação da Sorocabana.

5. Bom Retiro

No período que se estende de 1870 a 1890, ao mesmo tempo em que se constrói um bairro destinado aos extratos mais bem sucedidos da população, preponderantemente fazendeiros de café que se deslocaram para a capital, redefinem-se as funções da Luz e de Santa Efigênia. A área da Luz começa a concentrar hotéis e pensões (principalmente nas ruas Mauá e Brigadeiro Tobias) e a da Santa Efigênia indústrias e comércio. Na década de 1880, atrás do Jardim Público, entre os Campos Elíseos e a Luz, ou entre as várzeas do Tamanduateí e do Tietê e a linha da antiga São Paulo Railway, as chácaras do Bom Retiro, Dulley e parte da do Carvalho são loteadas por Manfredo Meyer, proprietário de uma grande olaria que existia nos arredores, dando origem ao bairro do Bom Retiro.

O Bom Retiro nasceu como bairro fabril e operário que contrastava com seu nobre vizinho, o Campos Elíseos das mansões neoclássicas e das alamedas, devido à presença das várzeas. Permaneceu aliás isolado desse bairro até 1900, quando se construiu a passagem de nível que ligou a alameda Nothman a rua Silva Pinto (entrada do Moinho Central, no lado oposto ao viaduto, sítio do Arte / Cidade III), sob a as linhas ferroviárias. Sua grande via de comunicação com a cidade era a rua dos Imigrantes, hoje José Paulino, que ligava o Bom Retiro à Luz. Com as obras de canalização do Tamanduateí, na altura da Ponte Pequena, abriu-se para a região norte.

É provavelmente o bairro mais cosmopolita da cidade. Um bairro de mil deuses, em que se superpuseram as correntes imigratórias italiana, lusitana, judaica e coreana. Lá foi construída a primeira Hospedaria dos Imigrantes, próxima às estações da Luz, na Rua José Paulino, depois transferida, em 1888, para o Brás, na rua Visconde de Parnaíba. O aspecto de palimpsesto transparecia na sua multiplicidade funcional e nos elementos da paisagem. Só o Bom Retiro poderia ser o bairro que tinha uma rua dos italianos, peixarias que vendiam carpas vivas, a sinagoga mais antiga de São Paulo, um dos principais centros comerciais da cidade, uma vigorosa vida universitária, um pólo de indústria têxtil e uma histórica zona de prostituição.

Bom Retiro/Instituições Técnicas e Escolares

Antiga Escola de Farmácia e Odontologia da Universidade de São Paulo

rua Três Rios, 363.

Participante da efervescência sanitária do fim do século XIX, a "Escola Livre de Farmácia" foi criada em 1898, como instituição particulaRua O prédio da rua Três Rios foi inaugurado em 1905 e sua instituição ilumina a proximidade entre higienização e urbanização. O crescimento da população da cidade, a ocupação das várzeas e a proximidade entre os bairros operários da porção oeste e o bairro aristocrático dos Campos Elíseos, fizeram com que a preocupação com epidemias ocupasse as elites dirigentes que tiveram de criar mecanismos para tratar os seus sintomas. Em 1934 a Faculdade foi anexada à USP e seus cursos foram transferidos para a Cidade Universitária em 1982. É atualmente ocupada pela Oficina Cultural Oswald de Andrade.

"Desinfectório"

rua Tenente Pena

Em 1895 o Serviço Sanitário do Estado, recém-organizado, instalou à rua Tenente Pena um "Desinfectório". Cabia à esse órgão promover a desinfeção das residências, quando ocorria um caso de doença epidêmica. Nessa época, os enfermos eram transferidos para o Hospital de Isolamento, situado no então distante Araçá, onde ficavam incomunicáveis. Isso fez com que as ações empreendidas pelos técnicos do serviço sanitário gerasse muito medo e o prédio do Desinfectório, que ocupava metade de um quarteirão, fosse identificado como um ente temível.

Grupo Escolar Marechal Deodoro

Rua dos Italianos, 405.

A atual Escola Estadual de Primeiro e Segundo Grau Marechal Deodoro é uma espécie de "segunda edição" de uma das primeiras escolas públicas da cidade. No começo do século, o Grupo Escolar Marechal Deodoro ficava na rua dos Italianos na altura da Júlio Conceição e ocupava um prédio amplo, onde apenas duas janelas davam para a rua.

Bom Retiro/Instituições Religiosas

Sinagoga da rua da Graça

(rua da Graça com Lubávitch)

É provavelmente o primeiro marco arquitetônico da comunidade judaica em São Paulo. Ligado às primeiras correntes imigratórias, da época da Primeira Guerra Mundial, o prédio abrigou primeiramente uma escola.

Paróquia de Santo Eduardo

rua dos Italianos, 567

A primeira nacionalidade do Bom Retiro foi a italiana. As recordações dessa fisionomia são escassas no cenário atual do bairro, preponderantemente coreano. Contudo, ficaram os versos de Juó Bananére dedicados aos Studenti du Bó Retiro, o nome de uma rua e a paróquia de Santo Eduardo, formada no fim do século XIX pelos primeiros imigrantes italianos que residiam nessa área da cidade.

Instituições sociais

O pletzel (vocábulo ídish diminutivo de "platz" = praça, largo, em alemão)

O centro comunitário mais importante do Bom Retiro judaico fica na calçada de uma esquina que liga três ruas (rua da Graça, Correia de Melo e Ribeiro de Lima). É ainda um ponto de encontro animado para os moradores mais antigos e os momentos de "pico" são as manhãs e os fins-de-semana. Institucionalizou-se no fim dos anos 30, na época da Guerra, quando os judeus recém-chegados se reuniam ali para ouvir as notícias no rádio e torcer pela derrota do nazismo. Daí em diante, polêmicas, fofocas, câmbio, em suma, qualquer assunto importante tinha já seu palco de discussão e um endereço certo .

Ru(g)as da cidade

As ruas Itaboca e Aimorés

A rua Aimorés é uma paralela `a rua José Paulino, vizinha do paredão da ferrovia Santos - Jundiaí (atualmente RFFSA). Uma pequena paralela da Aimorés, a rua Itaboca, atualmente Prof. Cesare Lombroso, concentrava os prostíbulos que se formaram no fim do século passado. Profundamente marcada pelo ruído dos trilhos e escondida atrás das vias mais movimentadas do bairro, a rua Itaboca parecia ser um "bom local" para a prostituição. Com o passar dos anos, no entanto, os prostíbulos avançaram sobre a rua Aimorés. A despeito das reclamações dos moradores, durante a interventoria de Ademar de Barros, sendo Prestes Maia o prefeito, as autoridades decidem erradicar a prostituição da rua Timbiras, no centro, e confiná-la na rua Aimorés. Tudo foi feito em uma madrugada, sem aviso prévio aos residentes e muito menos às prostitutas, que foram levadas em camburões, muitas das quais nuas, e atiradas ali. Na década de 50, no governo de Lucas Garcez, a zona do meretrício já se estendia até a Ribeiro de Lima e as prostitutas foram novamente expulsas. As casas foram fechadas e ficaram vazias. Ninguém queria morar numa rua de "má fama", além de barulhenta. Os preços dos imóveis ficaram baixíssimos e foram comprados por pequenos industriais e comerciantes, que deram a rua Aimorés e prof. C. Lombroso a sua fisionomia de hoje, sem conseguir apagar sua história.

Rua Jaraguá, a rua da Enchente

As enchentes são inerentes à natureza paulistana. Na região da cidade de São Paulo os leitos dos rios Tietê e o Pinheiros são marcados pela baixa declividade e pela sinuosidade de seus meandros. As enchentes são aí fatais na época de chuvas intensas porque nessa mesma região o Tietê e o Pinheiros recebem as águas de afluentes com alta declividade, o Tamanduateí e o Pirajussara, que os fazem transbordar e ocupar as várzeas. Os primeiros registros de cheias na cidade datam de 1560. Poucas entretanto marcaram as memórias de seus habitantes como a de 1929, uma das maiores da história. São Paulo já tinha mais de 700.000 habitantes e as enchentes agravavam a insalubridade do terrenos varzeanos, já ocupados. As chuvas de fevereiro fizeram com que o rio Tietê subisse 3, 50 m na altura da Ponte Grande. A rua Jaraguá, que divide o Bom Retiro e a Barra Funda e nunca havia sido inundada, ficou completamente alagada e isolada do resto do Bom Retiro. As cenas dos botes na rua e os infortúnios de seus moradores fixaram a imagem da enchente às histórias da Jaraguá.

6. Barra Funda

A rua Jaraguá é o limite entre o Bom Retiro e a Barra Funda. O nome do bairro está diretamente ligado à presença do Tietê, que era, até o fim do século XIX, pontuado pelos portos de areia. O caminho para se chegar a esses portos era em declive até a barra do rio, a barra baixa, ou funda.

O bairro se formou por volta de 1890, resultando do arruamento do antigo sítio do Carvalho. Seu traçado pouco mudou ao longo de um século. É um plano ortogonal cortado pela linha férrea, onde as ruas convergem para o largo da Estação, no fim da rua Brig. Galvão. A nota fundamental da estrutura da Barra Funda é a linha de trem que divide o bairro entre a Barra Funda de Baixo, trecho entre o Tietê e a ferrovia, que se confunde com o Bom Retiro, e a de cima, contígua aos Campos Elíseos.

As porções alta e baixa ligavam-se por duas porteiras. Uma na rua Anhangüera, em frente à rua Souza Lima, e outra na rua Assis, junto à estação. De ocupação industrial mais recente, década de 30, a Barra Funda concentrou armazéns, ao longo das linhas, pequenas indústrias alimentícias e oficinas mecânicas e serrarias.

A Barra Funda marca como poucos bairros em São Paulo os ciclos viários da cidade. A primeira linha de bonde elétrico, inaugurada em 1900, ligava ao centro à Barra Funda e corria nas ruas Barra Funda e Brigadeiro Galvão. Ali concentrava-se o circuito comercial e de serviços do bairro. Por outro lado, um dos pontos de vida social mais importantes da Barra Funda era "o fim da linha" ou balão do bonde, na rua Anhangüera com a rua do Bosque. Também na Barra Funda ficavam as estações terminais dos ônibus nos anos 30, de onde se faziam as conexões com os bondes e os trens. Nos fim dos anos 60 e começo dos 70, outra vez a Barra Funda faria um paralelo com a história dos transportes em São Paulo. Ligava-se à zona norte com a construção do viaduto Pacaembú. Já era a cidade dos elevados.

A várzea da Barra Funda começou a ser ocupada nessa época, depois que o canal que cortava a várzea foi canalizado por Faria Lima em 1969. Tinha 5 metros de largura e corria da rua do Bosque, a céu aberto, até o Tietê, nas imediações da rua Ribeiro de Almeida (antiga rua Baixa), ladeando a rua do Córrego.

Arquitetura de "ponta de guarda-chuva"

Com as transformações sofridas pela cidade de São Paulo no último quartel do século XIX começa a ocupação das várzeas, dando início à formação de bairros operários como a Barra Funda, onde se estabelecem os imigrantes recém-chegados, abrindo o filão do mercado da construção civil destinada à população mais modesta. Ao vertiginoso crescimento populacional da cidade, correspondia um alucinante ritmo de construção, setor que é dominado pelos italianos. Constróem nesses bairros casas muito parecidas, geminadas, caracterizadas por uma entrada lateral, uma fileira de cômodos, uma cozinha, um quintal e porão, adornadas com gessaria e algum detalhe em ferro, sem função estrutural. Essa arquitetura ficou conhecida como "arquitetura de ponta de guarda chuva" devido à simplicidade de sua planta. Em geral são cubos ou retângulos que segundo contam os memorialistas eram traçados pelos capomastri na terra, com a ponta do guarda chuva. As indicações dos locais onde seriam acrescentados os elementos decorativos eram feitas nesse mesmo desenho. Esse "estilo" é facilmente encontrado ainda nas habitações, imóveis de uso misto e fábricas da Barra Funda.

Barra Funda/Residências

casas geminadas com porão alto: rua Brig. Galvão 981, 983, 993, rua Sérgio Meira, 217, 221, 231 e 237, Rua Lopes de Oliveira 206 a 218, rua Souza Lima, 110 ao 120

Imóveis mistos (comércio no térreo, habitação na parte superior): Rua Barra Funda c/ Lopes de Oliveira, Rua Barra Funda, 131, 141, 145, 149, 803

Barra Funda/Instituições Culturais

Teatro São Pedro

Rua Barra Funda com Albuquerque Lins.

Barra Funda/Fábricas e Galpões Industriais

Alameda Eduardo Prado, 474 (c/ Rua Lopes de Oliveira), Rua Conselheiro Nébias, 1721, 1683, 1649, Rua Capistrano de Abreu (inteira, especialmente números 165, 195, 205)

Moinho Central

Alameda Nothman, entre rua Anhaia e alameda Dino Bueno

Moinho desativado ladeado pela linha da Rede Ferroviária Federal (RFFSA), dotado de seis silos e prédio de seis andares que ocupam um vasto terreno entre os bairros dos Campos Elíseos, Bom Retiro e Barra Funda. Funcionou pelo menos até o começo dos anos 60.

Barra Funda/Estações e Edificações Ferroviárias

Estação Barra Funda (ao lado, galpões e armazéns)

rua Mário de Andrade

Galpões e oficina ferroviária

Rua Tagiparu

Pátio de Manobras e Estação da Rua do Bosque

As estações ferroviárias constituíram os marcos das articulações entre a urbanização e as ferrovias. Isso se reflete no seu padrão arquitetônico que expressa os contextos sociais a que elas diziam respeito. Essa estação da rua do Bosque, na Barra Funda, possui uma construção de alvenaria de tijolos aparentes tipicamente inglesa, comum em São Paulo entre o fim do século XIX e as primeiras décadas do século XX, mas visivelmente distinta da que caracteriza a Estação da Luz. Simples e modesta nas proporções, ela evidencia a divisão apontada por um especialista entre as "estações de luxo e estações de serviço", funcionando "como se fosse a entrada de serviço de um prédio de apartamento de alta renda".

Oficinas Mecânicas

As oficinas mecânicas são um dos traços característicos da Barra Funda. A Rua Brigadeiro Galvão ainda guarda a memória do tempo em que os sportsmen de Campos Elíseos traziam seus carros para serem consertados pelos mecânicos italianos que instalavam em suas residências pequenas oficinas que se abriam da casa para a rua.

7. Água Branca

Outro bairro que o Arte / Cidade atravessa e que constitui uma das trilhas dessa "cidade sobre trilhos" é o da Água Branca, onde se situam as edificações das Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo. Até o fim do século XIX a Água Branca tinha com referências ambientais as olarias, as chácaras e as jabuticabeiras, situadas em torno do córrego da Água Branca. Seu primeiro marco urbano foi a abertura da avenida Água Branca (atual Francisco Matarazzo), que foi construída com capitais dos donos da Antártica e uma das primeiras a dispor de iluminação elétrica e linhas duplas de bonde. As indústrias que formaram o bairro, tributário da Estação Água Branca da Sorocabana, foram, além da Antártica, o Curtume do conselheiro Antonio Prado e a vidraria Santa Marina.

Um dos elementos mais fortes do seu perfil industrial era invisível: o cheiro da fábrica de cerveja, do curtume e depois, do sebo, quando, no anos 20, a Matarazzo foi implantada em parte do terreno que era da Antártica. Contudo, o cheiro da Água Branca, um dos lugares da memória da São Paulo industrial não exclui uma outra faceta do bairro que é ainda um dos lugares das memórias mais cândidas da cidade. Para muitos paulistanos, a Água Branca é o lugar da memória do lazer: o Parque Antártica com seu carrossel, seus quiosques e as atrações que traziam a população nos bondes para os pic-nics de fim-de-semana.

Água BrancaFrancisco Matarazzo

Francisco (Francesco) Matarazzo nasceu em Castellabate, na Itália, em 1854 e faleceu em 1937 em São Paulo. Chegou ao Brasil em 1881 com 27 anos. Estabeleceu-se na cidade de Sorocaba, no interior do Estado de São Paulo onde se dedicou ao comércio de banha de porco.

Transferiu-se para São Paulo em 1890 e associou-se a dois irmãos, José (Giuseppe), Luiz (Luigi) e Andrea, para criar a Matarazzo e Irmãos, com sede na rua 25 de março. Nessa sociedade, Francisco participava com duas fábricas de banha (uma em Sorocaba, outra em Capão Bonito), José com uma fábrica de banha estabelecida em Porto Alegre e Luís com um depósito-armazém estabelecido na cidade de São Paulo. Além de produzir e comercializar banha, a firma importava trigo dos Estados Unidos e arroz da China.

Em 1891, no contexto do Encilhamento, essa empresa foi dissolvida e constituiu-se a Companhia Matarazzo S. A. com 43 acionistas, que compraram as fábricas de Sorocaba e Porto Alegre. Em 1899 deu início à construção de sua primeira fábrica, o Moinho Matarazzo, localizado no Brás, junto à linha da São Paulo Railway, financiado pelo London Bank e equipado com máquinas Henri Simon & Co, de Mancheste.

O empreendimento que custou hum mil e quinhentos réis foi a cellula mater de um império. Inaugurado pomposamente em 1900, com a presença de autoridades locais, cônsules da Itália e Alemanha, catedráticos da Escola Politécnica e outras personalidades, beneficiou-se da conjuntura desfavorável à importação de trigo que a guerra hispano-americana causara. No Moinho funcionavam também duas oficinas, uma de consertos, que se transformou em 1902 em seção de metalurgia, e outra de sacaria. A oficina de sacaria foi o embrião de sua tecelagem, também localizada no Brás, a Fiação e Tecelagem Mariângela, inaugurada em 1904.

No Brás, ainda, Matarazzo construiu sua fábrica de óleo (a Sol Levante, 1907)e a Oficina Central. Ainda em 1900, junto com outros capitalistas em sua maioria imigrantes italianos, formou um banco, a Banca Commerciale Italiana de São Paulo.

Em 1905, formou outro banco, a Banca Italiana del Brasile, onde a família Matarazzo representava 73 % dos acionistas. Em 1911, cessam as atividades bancárias de Francisco Matarazzo nesses dois bancos e constitui-se a sociedade anônima denominada Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo (IRFM), que tinha Francisco Matarazzo como principal acionista dirigente e seu filho Ermelino e o irmão Andrea como assessores mais importantes.

Francisco Matarazzo passa a representar, entretanto, o Banco de Nápoles, que monopolizava as remessas do exterior para a Itália. Expandiu seus empreendimentos para o Belenzinho em 1913, onde funcionava a Tecelagem Belenzinho e para o Paraná onde constituiu a subsidiária S. A. Indústrias Matarazzo do Paraná para estocar trigo importado da Argentina. Instalaram-se ainda, filiais da IRFM em Santos, Rio de Janeiro e Curitiba.

Em 1914 a IRFM inaugura a sua amideria, e, em 1915, a fecularia. Ainda nesse ano de 1915, Francisco Matarazzo firma sua posição de líder da colônia italiana ao doar um pavilhão ao Hospital Humberto I, que atendia basicamente as famílias imigrantes. Também em 1915 concretiza-se um velho projeto de Francisco Matarazzo, levado a cabo por seu filho Ermelino. A criação de unidades fechadas de fábricas da IRFM.

O primeiro núcleo desse tipo foi implantado em São Caetano, que produzia velas e produtos gordurosos. Nessa época já funcionavam na Móoca as fábricas de fósforo, o moinho de sal e a refinação de açúcar Em 1917 recebe do rei italiano o título de conde, que veio a somar-se ao de comendadoRua Também em 1917 começa a funcionar o Moinho de Matarazzo de Antonina, no Paraná, e em 1919 a Sociedade Paulista de Navegação Matarazzo Ltda., dando autonomia para empresa em todo país.

Nessa época, a IRFM adquire um vasto terreno de mais de 100.000 m2 de propriedade da Antártica onde constrói o complexo industrial da Água Branca nos anos 20. Simultaneamente, começa a funcionar, em 1920, o Frigorífico Jaguariaíva, ligado à subsidiária do Paraná. Em 1922, Francisco Matarazzo inicia suas atividades no ramo de bebidas com a fábrica de Licores Matarazzo, situada no Brás e cria a seção de Cinema nas IRFM, encarregada da distribuição de filmes norte-americanos no país todo. A distribuidora encerrou suas atividades em 1932.

No fim dos anos 20, em 1926, as IRFM abrem uma nova área de atuação, a indústria química, com a constituição da Viscoseda, em São Caetano, instalam a Oficina Mecânica e de Fundição na Água Branca. Em 1927, as IRFM adquirem um novo estabelecimento na rua Amélia, Água Branca, destinado à produção de louças, aparelhos sanitários e azulejos. Nos anos 30 Francisco Matarazzo comprou a Tecelagem Ítalo-Brasileira de Sedas, entre as ruas Joli e Sampson, no Brás, e a Tecelagem Santa Celina no Belenzinho (1931), e associou-se a uma fábrica de óleo de algodão e sabão em João Pessoa na Paraíba.

Em 1933 as IRFM entram para o ramo da indústria extrativa com a Fábrica de Cal Santana, em Santana do Parnaíba. Expandem suas atividades nesse setor em 1935 com a aquisição de jazidas de caulim, quartzo, pedra argila e lenha na periferia de São Paulo (Sacomã, Guarulhos, Ermelino Matarazzo, Mauá e Mogi das Cruzes). Em 1936, por iniciativa do Conde Francisco Matarazzo, as IRFM inauguram uma nova fábrica de papel e papelão no Belenzinho e implantam suas primeiras máquinas de descaroçamento de algodão próximas dos centros produtores (Avaré e Itapetininga e, em 1937, em Catanduva, Bauru, Rancharia, Ribeirão Preto, Presidente Prudente, Bernardino de Campos e Marília). Em decorrência da produtividade dessas descaroçadoras foi instalada a fábrica de óleo de Catanduva.

O último empreendimento do Conde foi a instalação, em Limeira, no Estado de São Paulo de uma fábrica de extração de essências de frutos cítricos, de onde saiu um de seus produtos famosos, a "marmellata" de laranja.

Água Branca/Fábricas

Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo

avenida Francisco Matarazzo, altura do n º 2.000

O complexo industrial da Água Branca marca a expansão espacial das Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo (IRFM) na cidade de São Paulo e sua implantação se insere em um contexto de diversificação das atividades industriais do grupo. Até então, as IRFM concentravam-se na zona leste da cidade de São Paulo e restringiam-se à produção de farinha e tecidos. As indústrias da Água Branca ocupavam um vasto terreno de 113.721, 00 m2, onde a área construída ultrapassava 96.000, 00 m2. Ali funcionavam: unidades fabris de refinação de sal, refinação de açúcar, refinação de banha, uma destilaria de álcool e aguardente, fábrica de velas, glicerina, oleína, óleo de algodão Sol Levante, óleo de linhaça, de rícino e de coco, torta de sementes, sabões, sabonetes, perfumaria, inseticida (marca K.I.D.) e pregos. Ali funcionavam, também, unidades de serraria, fundição, serralharia artística, oficinas mecânicas, laboratório químico e o almoxarifado geral. Os diversos setores do complexo industrial eram interligados por passarelas internas e escoavam sua produção por uma linha de trem própria, ligada à Estrada de Ferro Sorocabana. A arquitetura do conjunto retrata os padrões da arquitetura industrial inglesa, profundamente marcada pela fachada de alvenaria aparente de tijolos de barro e as esquadrias metálicas de pouca largura e altas, que tinham a função de iluminar o ambiente sem permitir a visão do exterioRua Em 1985 o CONDEPHAAT (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Arqueológico Arquitetônico e Turístico do Estado de São Paulo) pediu o tombamento desse imóvel, na época já desativado, visando preservá-lo como documento arquitetônico da história da industrialização paulistana. No fim desse processo _ 1986, com revisões datadas de 1993 _ decidiu-se preservar um dos galpões da fábrica, o prédio de caldeiras e as três chaminés de alvenaria refratária, cujas alturas variam de 46 a 54 m e os diâmetros externo de 2, 60 a 4, 40 m, que complementavam a central de vapor

Indústria Santa Marina

Av. Sta. Marina, 1757.

Instalada desde 1897 no mesmo local, a antiga Vidraria Santa Marina era propriedade do Conselheiro Antonio Prado (prefeito da cidade de São Paulo de 1899 a 1911) e de Elias Fausto Pacheco e Jordão. Em 1900 já produzia 10 milhões de garrafas de vidro por ano, que eram consumidas pelas cervejarias Antártica, Bavária e, ambas de São Paulo, e Teutônica do Rio de Janeiro. Seus fornos funcionavam 24 horas todos os dias exceto aos domingos, quando ficavam acesos apenas 8 horas. Todas as dependências da fábrica eram dotadas de luz elétrica, fato único no começo do século. Foi uma das primeiras fábricas a ter casas para funcionários, inclusive diretoria, coisa que depois tornou-se comum na cidade de São Paulo. Arquitetonicamente a fábrica sofreu várias modificações, mas ainda possui uma chaminé centenária remanescente do conjunto original. Atualmente pertence ao grupo francês Saint-Goban, que tem mais de três séculos de história na produção de vidro.

Água Branca/Parques

Parque Antártica: avenida Francisco Matarazzo, altura do n º 2.000.

O parque Antártica foi construído pela Cia. Antártica Paulista no início do século XX e foi um dos mais importantes centros de lazer urbano. Era dotado de aparelhos de ginástica, campo de futebol, rinque de patinação, quiosques e um baRua O parque servia para prática de esportes e para divulgar os produtos da Antártica. Nos anos 20, a Antártica se transfere para a Mooca. A vasta propriedade dessa companhia, grosso modo, foi divida com o Palestra Itália, hoje Palmeiras, que ficou com a área do parque e as Indústrias Matarazzo com o terreno da fábrica. Uma pequena amostra da vegetação do antigo parque Antártica ainda sobrevive no lado oposto às IRFM na avenida Francisco Matarazzo.

Parque Fernando Costa: avenida Francisco Matarazzo altura do n º 900.

O parque Fernando Costa foi construído entre 1927 e 1928 para ser um local de exposições de animais da Secretaria da Agricultura. É mais conhecido como Parque da Água Branca, apesar de seu nome original ser Parque da Indústria Animal.

Água Branca/Ru(g)as da Cidade:

Rua do Curtume:

Essa rua é o rastro dos vínculos da Água Branca com os primórdios da industrialização da cidade de São Paulo. Seu nome deriva da existência do Curtume da Água Branca ali instalado em 1899, de propriedade do Conselheiro Antonio Prado (prefeito da cidade de São Paulo de 1899 a 1911). Ocupava uma área de 6.000 hectares e além do trabalho com couro produzia cola.

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