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Lugares
da Memória
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Histórico-Arquitetônico
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Hotéis
Fábricas
Instituições Técnicas e Escolares
Escola Politécnica
Pinacoteca do Estado
Estações Ferroviárias
Estação da Luz
Antiga Estação da E.F Sorocabana
Áreas de Lazer
Jardim da Luz
Residências
Palácio dos Campos Elíseos
Sobrados neoclássicos do fim do
século XIX
Instituições Técnicas, Escolares e
Religiosas
Liceu Sagrado Coração de Jesus
Estações Ferroviárias
Estação Júlio Prestes
Residências
Sobrados neoclássicos do fim do
século XIX
Vila Inglesa: São Paulo made in
England
Hotéis
Instituições Técnicas e Escolares
Antiga Escola de Farmácia e
Odontologia da Universidade de São Paulo
"Desinfectório"
Grupo Escolar Marechal Deodoro
Instituições Religiosas
Sinagoga da Rua da Graça
Paróquia de Santo Eduardo
Instituições sociais
Ru(g)as da cidade
Residências
Instituições Culturais
Teatro São Pedro
Fábricas e Galpões Industriais
Moinho Central
Estações e Edificações Ferroviárias
Estação Barra Funda
Galpões e oficina ferroviária
Pátio de Manobras e Estação da Rua
do Bosque
Oficinas Mecânicas
Francisco Matarazzo
Fábricas
Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo
Indústria Santa Marina
Parques
Parque Antártica
Parque Fernando Costa
Ru(g)as da Cidade
Rua do Curtume
1. Luz Água
Branca: Lugares da Memória
Albert Camus tinha razão. São Paulo é mesmo uma
"cidade estranha, Oran desmedida". Que outra
definição poderia ser mais justa? A planta parece uma
colcha de retalhos, juntados ao acaso. As ruas se
imbricam, retas perdidas que se espraiam em todas as
direções, compondo ângulo insólitos. As pontes se
sucedem, esmagando o que estiver por baixo. Os rios,
transformados em linhas retas, posam para uma
aerofotogrametria e disfarçam um certo constrangimento
da natureza face o asfalto e o concreto.
Camus visitou São Paulo no fim dos anos 40. Foi à
penitenciária do Carandiru, passeou pelos prostíbulos
da rua Aurora e compareceu a um desses programas de
rádio em que as pessoas expõem suas tragédias em troca
de um paliativo para sua miséria. Circuito um tanto
quanto exótico, porém de certo relevo antropológico.
Claude Levi-Strauss, este sim antropólogo, andou nos
anos 30 por caminhos mais convencionais, detendo-se sobre
o centro da cidade. Sem o ceticismo de Camus, não deixou
de registrar seu estranhamento perante a Paulicéia, essa
"grande boca de mil dentes". Estarrecia-lhe o
fato de que "a cidade desenvolve-se com tal rapidez
que é impossível encontrar-lhe um mapa: cada semana
exigiria uma nova edição."
Situação paradoxal. O único elemento estável da
paisagem paulistana é sua transitoriedade.
Levi-Strauss constatava uma realidade que se faz
presente desde a segunda metade do século XIX, mais
precisamente a década de 1870 - 1880. Esse período
aliás é comumente designado pela historiografia como a
data da "segunda fundação" da cidade de São
Paulo e esse termo ganhou fôlego ao longo dos anos mais
por sua precisão conceitual do que por seu impacto
retórico.
Nesse período, o trinômio economia cafeeira,
viação férrea e imigração, redefine a paisagem da
cidade e São Paulo começa a assumir os traços que
todavia a caracterizam: movimento, velocidade e
aglomeração humana. Tendência que se solidificou ao
longo do século XX, mas que não teve precedentes. Só
para se ter uma idéia do que significou esse trinômio
para o cotidiano de São Paulo, basta lembrar que entre
1554 e 1872 a cidade cresceu muito pouco. Dos 100
habitantes de 1554 passou a 31.000 em 1872. Isso quer
dizer que em 318 anos a cidade teve um incremento
populacional anual, equivalente ao crescimento da Grande
São Paulo a cada duas horas em 1982.
O setor urbano do Arte / Cidade III leva ao limite
essa constatação. Entre o bairro da Luz e a Água
Branca, circundando as linhas ferroviárias da Sorocabana
e da Santos-Jundiaí, onde hoje se situam construções
abandonadas e sub-habitações, já existiram uma cidade
industrial, bairros operários, ruas elegantes, vida
universitária e até a sede do governo estadual.
Historicamente os bairros que esse Arte / Cidade
atravessa _Luz, Santa Efigênia, Bom Retiro, Campos
Elíseos, Barra Funda e Água Branca _ marcam a expansão
da cidade de São Paulo no sentido oeste, intimamente
relacionada à implantação do sistema ferroviário
estadual e à industrialização da capital paulista.
Pertecem a um tempo em que a cidade funcionava à base
dos bondes da Light e dos trens das companhias que
serviam ao circuito cafeeiro.
Era uma cidade sobre trilhos da qual fizeram parte
alguns lugares da memória da cidade, que o circuito do
Arte/ Cidade III percorre, emaranhando as redes da
"memória-sonho" e da
"memória-trabalho": o parque Antártica, o
cheiro das fábricas da Água Branca, o Jardim da Luz, o
Palácio dos Campos Elíseos, as estações de trem, os
hotéis, as indústrias, as residências neoclássicas,
as enchentes.
Para entender a cidade, ensina Ecléa Bosi, é preciso
saber escutar as pedras. Sugestão proustiana inequívoca
e arte notável. Principalmente quando as ruínas
anunciam "paisagens epilépticas", cenários
taciturnos situados num espasmo temporal. Suspensão dos
sentidos de presente, passado e futuro, arriscando um
gesto de drenagem da história.
Brotos sui generis de um arbusto árabe
De 1870 em diante, a nova inserção
político-econômica da cidade de São Paulo no país e
sua expansão física são condicionadas pela febre
ferroviária que acompanha o fluxo do "ouro
verde" (o "rei café") em direção ao
porto de Santos. Vencido o obstáculo dos 800 m de
altitude da Serra do Mar, pelos operários e engenheiros
da São Paulo Railway, as ferrovias multiplicam-se pelo
planalto paulista e avançam na direção norte, leste e
oeste do Estado. A cidade que permanecera alienada do
litoral se abria para o mundo.
A imigração e a industrialização repercutiam na
ocupação espacial da cidade, marcando sua expansão
primeiramente na direção da vertente esquerda do
Tietê, concentrando-se na área contígua ao centro da
cidade, o "além Anhangabaú". Essa região
compreende uma área situada sobre colinas de declive
suave, que se estende da periferia do núcleo central (as
encostas meridionais do vale do Anhangabaú) até a
várzea do Tietê (planície formada pelo Tietê e
Tamanduateí), no perímetro hoje formado pelos bairros
de Santa Efigênia, Luz, Campos Elíseos, Bom Retiro,
Barra Funda e Água Branca.
2. Luz
A origem dos atuais bairros de Santa Efigênia e Luz
está ligada a dois velhos caminhos coloniais. O mais
antigo deles tinha como ponto de partida o largo São
Bento, atravessava o rio Anhangabaú e rumava para o
Guaré, situado onde hoje fica o Convento da Luz (ao lado
do Museu de Arte Sacra, na avenida Tiradentes) que foi
construído sobre o local onde em 1603 se erigira a
capela de Nossa Senhora da Luz. A importância dessa rota
residia no seu destino, o Campo da Luz, área hoje
ocupada pela avenida Tiradentes. O Campo da Luz era o
ponto de concentração das tropas provenientes de
Atibaia e Bragança que penetravam na cidade por Santana,
para comercializar seus produtos na feira que existia
ali. Durante o século XIX esse caminho se transformou na
rua Florêncio de Abreu e na avenida Tiradentes.
Luz/Residências
Rua Florêncio de Abreu n º 714 a 726 com rua Paula
Souza n º 19 a 27.
Casa neoclássica projetada por Ramos de Azevedo para
Antonio de Paula Souza, concluída em 1889. Foi também
residência de Washington Luís, prefeito, governador (na
época "presidente do Estado)" e presidente da
República. Sofreu várias modificações, principalmente
internas, para ser adaptada para hotel.
Luz/Hotéis
Rua Mauá, 486 a 552 (Hotel do Comércio e Federal
Paulista), avenida Casper Líbero, 651 a 677 (c/ Rua
Mauá, 438 a 446 - Hotel Queluz), 633 a 649(Hotel Karin),
Rua Florêncio de Abreu, 421 a 429 (c/ Rua Augusto
Severo, 50 e 58 - Hotel Mundial)
Esses hotéis foram construídos na primeira década
do século e estão intimamente relacionados à época em
que as ferrovias eram parte integrante da vida da cidade
de São Paulo e a Luz um de seus centros nervosos. Em sua
maioria não tiveram suas fachadas alteradas, mas sim
profundamente descaracterizadas por letreiros e painéis.
Luz/Fábricas
Beco da Fábrica: rua Florêncio de Abreu, altura do
número 687.
Local onde foi estabelecida em 1872 a primeira grande
fábrica da cidade de São Paulo, a "Grande Fábrica
de Tecidos a vapor", de Diogo Antonio de Barros, que
ali se situava pela sua proximidade à ferrovia. Essa
fábrica dispunha de 50 teares, descaroçadores,
máquinas de beneficiar algodão, fiação, tinturaria,
tecelagem e enfardamento. O maquinário era movido a
vapor, com força de 50 H.P. A capacidade de produção
diária podia chegar a 2.400 m de algodão e 800 kg de
fio. Nos períodos de pico de produção empregava 93
operários, dos quais 20 eram mulheres e 60 crianças de
11 a 13 anos de idade.
Luz/Instituições
Técnicas e Escolares
Escola Politécnica
Praça Fernando Prestes, 30 a 184, avenida Tiradentes
s/ n, Rua Afonso Pena, 258.
A criação da Escola Politécnica em 1893 evidencia
as transformações e as demandas da cidade e do Estado
de São Paulo no fim do século XIX, quando a
industrialização e a urbanização passaram a demandar
quadros profissionais com alto gabarito técnico e
competência tecnológica. Expressa, também, a força do
pensamento positivista na instituição da República em
São Paulo. No conjunto de edifícios da remanescentes da
Politécnica, o prédio mais antigo é o Edifício Paula
Souza. Foi construído entre 1895 e 1896, e seu projeto
é de um dos ilustres docentes da Politécnica, Ramos de
Azevedo.
Pinacoteca do Estado, antigo
Liceu de Artes e Ofícios
Avenida Tiradentes, 141 e 173; Praça. da Luz, 2.
O terreno da Pinacoteca fazia parte do Jardim da Luz.
Foi cedido em 1897 para a construção do liceu. Em 1900,
Ramos de Azevedo assumiu a direção do instituto que
fornecia elementos importantes para as construções
neoclássicas, que recaracterizavam a nova paisagem
paulistana, como gessaria, ferragens artísticas,
equipamentos para instalações elétricas etc. O liceu
funcionou nesse prédio até 1971. A partir de 1905, a
Pinacoteca foi instalada nesse edifício, que em 1946
passou a abrigar também a Faculdade de Belas Artes.
Atualmente o prédio abriga exclusivamente a Pinacoteca.
O projeto do prédio, que incluía uma cúpula e
revestimento externo, nunca foi concluído, mas os
especialistas costumam frisar que o prédio deve
permanecer assim, "atestando o alto grau técnico
então atingido pela alvenaria de tijolos."
Luz/Estações
Ferroviárias
Estação da Luz
Praça da Luz s/, Rua Brig. Tobias s/n, Rua Mauá s/n,
viaduto Couto de Magalhães
A estação da Luz era a estação principal da antiga
São Paulo Railway (posteriormente, E. F. Santos
Jundiaí), ou "inglesa", como era mais
conhecida. Erguida com material integralmente importado
da Inglaterra sobre parte do terreno do antigo Jardim
Público (da Luz) e monumental em todos os sentidos ela
foi construída entre 1895 e 1901. Ocupa uma área de
7.520 m 2 e possui um vão livre de 39 m na gare. É uma
espécie de templo à magnitude do poder do café . Por
ela circulavam não só o "ouro verde" e os
produtos procedentes ou com destino a Santos, mas as
autoridades nacionais e estrangeiras que vinham à
capital. Sua torre dominava a paisagem paulistana e o
tempo que seu relógio marcava confundia-se com o tempo
público da cidade. Em 1946 foi vítima de um incêndio
que consumiu parte de sua nobreza e lhe rendeu um
pavimento a mais. É a obra arquitetônica mais
emblemática das transformações urbanas que a
excêntrica rubiácea provocou na Paulicéia e o tributo
mais contundente à presença britânica na cidade.
Antiga Estação da Estrada de
Ferro Sorocabana
Largo. General Osório, 86, 116, 120.
A primeira estação da Sorocabana ficava junto ao
Viaduto Couto Magalhães. Foi construída nos anos 70 do
século passado, reformada em 1903 e demolida em 1978. A
segunda estação central da Sorocabana ocupou um
edifício que se tornou posteriormente funesto. Esse
prédio, que fica exatamente ao lado da Estação Júlio
Prestes, ficou conhecido porque abrigou durante muito
tempo o DOPS. Apesar das amargas memórias de que se
tornou referência ele é, por suas características
arquitetônicas, um elemento importante da composição
do conjunto de edifícios ferroviários da região da
Luz, apesar de, administrativamente, pertencer a outro
bairro.
Luz/Áreas de
Lazer
Jardim da Luz
Inaugurado em 1825 como "Horto Botânico", o
atual jardim da Luz teve seu nome alterado em 1838 para o
de Jardim Público. Contudo, foi apenas entre 1856 e 1858
que se deu a compra de variedades botânicas no Rio de
Janeiro para serem aclimatadas no Jardim, até então
pouco cuidado. Em 1860 perdeu 44 m de terreno da frente
ao fundo que foram cedidos a São Paulo Railway para a
construção da Estação da Luz. Nessa época, foi
construído um chafariz no centro do Jardim. Na
administração de João Teodoro Xavier de Matos, o
Jardim adquiriu ares mais sofisticados. Ganhou estátuas
alusivas às quatro estações, novas mudas foram
plantadas e um observatório de tijolo com 20 m foi
erguido. O mirante do Jardim, que imitava um farol
marítimo, foi fechado em 1890 e demolido em 1900. Em
1891, foi inaugurado um restaurante, Chalet Restaurant, e
o jardim foi dotado de iluminação a gás. Em 1910 foi
implantado um busto de Giuseppe Garibaldi e em 1914 foram
construídos passeios com mosaicos. Na década de 30, os
animais, abundantes ainda no Jardim, foram transferidos
para o Parque Fernando Costa, ou da Água Branca, como é
mais conhecido. A única construção oitocentista que
permaneceu intacta nas dependências do Jardim é a gruta
de pedra.
3. Campos
Elíseos
No fim do século XIX, a cidade vive seu primeiro
surto de especulação imobiliária. O marco desse novo
fenômeno foi o loteamento da antiga Chácara Charpe,
feito pelos alemães Glette e Nothman que arruaram o
trecho que ficava entre a atual avenida Duque de Caxias e
uma parte da Chácara do Carvalho que compreendia as
atuais alamedas do Triunfo, dos Andradas, Barão de
Piracicaba, Glette e Nothman. Nascia o bairro onde a
oligarquia cafeeira verticalizaria sua primeira vertigem
de ver a Europa brotar nos trópicos: o bairro de Campos
Elíseos.
Campos
Elíseos/Residências
Palácio dos Campos
Elíseos
Avenida Rio Branco 1269 a 1313, alameda Glette s/n,
rua dos Guaianazes, 1042.
O "Palácio" foi construído de 1896 a 1899
para ser a residência de um rico fazendeiro de café,
Elias Antônio Pacheco Chaves, ocupando uma quadra do
então recém criado bairro de Campos Elíseos. O projeto
é de autoria do arquiteto alemão Mateus HäussleRua
Funde elementos da arquitetura clássica italiana,
marcada pela "loggia", com características da
arquitetura francesa do século XVIII, como a mansarda
(último andar de uma edificação, formado pela
inclinação inferior do telhado composto por águas
quebradas, com duas inclinações, sendo a inclinação
inferior quase vertical e a superior quase horizontal).
Foi finalizado pelo arquiteto italiano Cláudio Rossi, o
mesmo do Teatro Municipal, realizado pelo
"Escriptório Ramos de Azevedo". Em 1912 o
Estado adquire essa propriedade, que é então
transformada em residência dos governadores. Em 1935
passa a ser, também, sede do governo do Estado, função
que manteve até 1965. Em 1967, depois de um incêndio,
deixou de ser residência oficial e passou a ser ocupado
por diversas Secretarias de Estado. A construção já
sofreu várias modificações internas e externas e, com
o alargamento da avenida Rio Branco, perdeu o gradil que
foi substituído por um muro de tijolo.
Sobrados
neoclássicos do fim do século XIX
avenida Rio Branco 1260, 1278, 1294, 1312, 1318.
alameda Nothmann n º 563 e 567, largo Coração de Jesus
65 a 83 A
Residências do período "cafezista",
produtos típicos do ecletismo neoclássico dos
"capomastri", testemunham a introdução da
alvenaria de tijolo nas construções, em substituição
à taipa. Destacam-se nas fachadas as grades de
ventilação dos porões.
Sobrados das primeiras décadas do século XX
(1900-1919) : avenida Rio Branco 1210 c/ alameda Glette,
s/n, Rua dos Guaianazes, 1050, 1112 ( c/ alameda
Nothmann, 495), 1128 ( c/ al. Nothmann, 526), 1149, al.
Nothman 485 (c/ avenida Rio Branco), alameda Glette, 444,
488 (Liceu Nossa Sra. do Loretto)
Essas residências, exceto a da Rua dos Guaianazes,
1149, que é tipicamente neoclássica, manifestam
tendências individualizantes da arquitetura residencial.
É uma arquitetura descomprometida do ecletismo italiano,
e denota certa urbanização dos valores da burguesia
cafeeira, já preocupada em marcar as diferenças e os
níveis de riqueza pela estilização e
particularização da propriedade.
Imóveis com finalidades comerciais e residenciais:
Largo Coração de Jesus, 65 a 83 - A.
Esse conjunto de prédios é de 1898. Além de
documentar a urbanização do bairro, com a implantação
de serviços, eles ajudam a perceber a dimensão da
arquitetura dos capomastri. As soluções neoclássicas
"invadem" a paisagem, incorporando os imóveis
suntuosos e os simplórios.
Campos
Elíseos/Instituições Técnicas, Escolares e Religiosas
Liceu Sagrado Coração de
Jesus
Largo Coração de Jesus, 140 e 154
Esse liceu foi projetado como anexo do Santuário do
Sagrado Coração de Jesus e terminou de ser construído
em 1900. Tinha por finalidade o ensino técnico de
comércio, artes e ofícios. O projeto do santuário e do
liceu, parcialmente executado, é de autoria do padre
salesiano Domingos Delpiano, secretário de D. Bosco, e
data do fim dos anos 70. O lançamento da pedra
fundamental do santuário foi feita em 1881 e constitui
um marco da expansão da cidade "além
Anhangabaú". Sua história se confunde com a do
bairro dos Campos Elíseos. A obra da torre e do templo,
uma das primeiras de tijolo, foi custeada pela família
de D. Veridiana Prado. Destacam-se na construção os
retábulos de mármore importado e as paredes com
inscrições de nomes significativos da oligarquia
cafeeira.
Campos
Elíseos/Estações Ferroviárias
Estação Júlio Prestes
Praça Júlio Prestes, 148 e 260, Rua Mauá s/ n
Situada na divisa dos bairros do Campos Elíseos e do
Bom Retiro, essa estação é uma obra de dois arquitetos
brasileiros, Samuel das Neves e Cristiano Stockler das
Neves, autor também do projeto do avô dos arranha-céus
da cidade de São Paulo, o Edifício Sampaio Moreira (Rua
Líbero Badaró, centro). O projeto foi premiado no III
Congresso Pan-americano de Arquitetura e inspirado em
estações americanas (Grand Central e Pennsylvania
Station). Foge ao padrão da época áurea das ferrovias
não só por suas características arquitetônicas e
pelos materiais de construção (que incluem o concreto),
mas principalmente por se erguer com rara beleza sobre um
anacronismo histórico. Foi construída entre 1926 e
1938, quando as rodovias já eram o centro das
preocupações do sistema de transportes interestaduais e
a economia cafeeira cedia espaço à indústria. O hall
já foi celebrizado como "o maior salão do
Brasil". Hoje em dia certamente não é, mas suas
dimensões ainda são impressionantes: 48 m de
comprimento, 20 m de largura e 26 de altura. Não fossem
esses elementos suficientes para tornar a estação
interessante, poder-se-ia lembrar que a estrutura
metálica da plataforma é constituída pelas peças do
hangar do Zepelim no Rio de Janeiro.
4. Santa
Efigênia
Santa Efigênia é o fruto do Caminho de Piratininga,
o segundo caminho que desembocava no Campo da Luz. Corria
paralelamente ao Caminho do Guaré e corresponde ao que
hoje é a ladeira de Santa Efigênia e a avenida Casper
Líbero (antiga rua da Constituição). O Caminho de
Piratininga levava aos campos de mesmo nome situados numa
porção dessa área que englobava os atuais bairros da
Luz, Campos Elíseos e Bom Retiro. Nos Campos de
Piratininga habitavam os índios Guaianá que os
utilizavam para caça e pesca. Santa Efigênia constitui
o "marco inaugural" da expansão urbana para
"além Anhangabaú", balizada pela formação
da paróquia de santa Efigênia em 1809. Contudo, é a
partir de 1870 que se dá a ocupação sistemática dessa
porção urbana, refletindo o impacto da implantação
das estações da "inglesa" (São Paulo
Railway) e da Sorocabana.
Santa
Efigênia/Residências
Sobrados neoclássicos do
fim do século XIX
rua General Osório, 436 e 438.
repetem o padrão descrito acima sobre o Largo
Coração de Jesus, 65 a 83 -A
Prédios de apartamentos dos anos 20 e 30: Viaduto
Santa Efigênia c/ Rua do Seminário, 202 a 222, Rua Sta.
Efigênia 338 a 358 (c/ Rua Aurora s/ n - Palacete
Helvétia), 361 a 373, 364 e 368, Rua Aurora 244 a 254
(c/ Rua Sta. Efigênia, 339 a 355 - Palacete Lellis), al.
Barão de Limeira 10 a 50 (c/ Rua Vitória, s/n), 133 a
145 (c/ Rua General Osório, 663 e 671), avenida S. João
1282 a 1322 (c/ avenida Duque de Caxias, 312 a 318), 1214
a 1258 (c/ al. Barão de Campinas, 99 a 147),: Praça
Júlio Mesquita, 84 a 96 (Palacete B. Carrera), 108, 112
e 116 (c/ Rua Vitória 679 a 687).
Esses primeiros prédios de apartamentos da cidade
têm em média 6 pavimentos e o mais antigo é
provavelmente o Palacete Helvétia. São todos muito
interessantes e ecléticos. Alguns possuem lojas no
térreo e sótão. Construídos nos anos 20 e 30 iluminam
as transformações sociais e a criatividade da
arquitetura do período, marcada pelo sincretismo das
fachadas e na diversidade dos materiais de construção
(concreto, alvenaria de tijolos, perfis metálicos).
Constituem os primeiros traços de verticalização da
cidade e rastreiam os problemas urbanos da época. O
encarecimento da moradia, a debilidade do sistema de
transportes e a diversificação social explicam sua
construção entre o centro da cidade e o bairro da Luz,
pólos econômicos da São Paulo de antigamente. Um
prédio situado na rua Santa Efigênia, 364 e 368,
documenta um passado intangível para o paulistano de
hoje. Uma cidade com índices baixos de poluição
atmosférica. De estilo art déco, esse edifício de
três andares têm um revestimento que levava mica ou pó
de vidro em sua composição e que ficava cintilante
quando exposto à luz. É um material frágil e
principalmente de difícil limpeza. Não resiste ao
monóxido de carbono.
Vila Inglesa: São Paulo made
in England
Rua Mauá 836, 842, 866 a 892 (Jardim Marquesa de Ytu
()).
O projeto é do engenheiro Eduardo Aguiar D'Andrada,
nascido em 1873. Segundo os especialistas, destaca-se a o
bom resultado estético de seu ecletismo que mescla
soluções importadas da arquitetura britânica com
elementos arquitetônicos neocoloniais brasileiros,
fundindo o uso de tijolos aparentes com o de alpendres.
Foi construída para ser residencial e destinada à
classe média. As casas hoje são ocupadas em sua maioria
por prestadores de serviços.
Santa
Efigênia/Hotéis
Largo de Santa Efigênia, 20 a 56 (São Paulo Center
Hotel), Largo General Osório 135 a 159 (Hotel Flórida)
Esses hotéis são a melhor tradução da expressão
"do luxo ao lixo", principalmente o São Paulo
Center Hotel, que foi construído na década de 20 pelo
"Escriptório Ramos de Azevedo".
Santa
Efigênia/Estações Ferroviárias
v. LUZ, Antiga Estação da Sorocabana.
5. Bom Retiro
No período que se estende de 1870 a 1890, ao mesmo
tempo em que se constrói um bairro destinado aos
extratos mais bem sucedidos da população,
preponderantemente fazendeiros de café que se deslocaram
para a capital, redefinem-se as funções da Luz e de
Santa Efigênia. A área da Luz começa a concentrar
hotéis e pensões (principalmente nas ruas Mauá e
Brigadeiro Tobias) e a da Santa Efigênia indústrias e
comércio. Na década de 1880, atrás do Jardim Público,
entre os Campos Elíseos e a Luz, ou entre as várzeas do
Tamanduateí e do Tietê e a linha da antiga São Paulo
Railway, as chácaras do Bom Retiro, Dulley e parte da do
Carvalho são loteadas por Manfredo Meyer, proprietário
de uma grande olaria que existia nos arredores, dando
origem ao bairro do Bom Retiro.
O Bom Retiro nasceu como bairro fabril e operário que
contrastava com seu nobre vizinho, o Campos Elíseos das
mansões neoclássicas e das alamedas, devido à
presença das várzeas. Permaneceu aliás isolado desse
bairro até 1900, quando se construiu a passagem de
nível que ligou a alameda Nothman a rua Silva Pinto
(entrada do Moinho Central, no lado oposto ao viaduto,
sítio do Arte / Cidade III), sob a as linhas
ferroviárias. Sua grande via de comunicação com a
cidade era a rua dos Imigrantes, hoje José Paulino, que
ligava o Bom Retiro à Luz. Com as obras de canalização
do Tamanduateí, na altura da Ponte Pequena, abriu-se
para a região norte.
É provavelmente o bairro mais cosmopolita da cidade.
Um bairro de mil deuses, em que se superpuseram as
correntes imigratórias italiana, lusitana, judaica e
coreana. Lá foi construída a primeira Hospedaria dos
Imigrantes, próxima às estações da Luz, na Rua José
Paulino, depois transferida, em 1888, para o Brás, na
rua Visconde de Parnaíba. O aspecto de palimpsesto
transparecia na sua multiplicidade funcional e nos
elementos da paisagem. Só o Bom Retiro poderia ser o
bairro que tinha uma rua dos italianos, peixarias que
vendiam carpas vivas, a sinagoga mais antiga de São
Paulo, um dos principais centros comerciais da cidade,
uma vigorosa vida universitária, um pólo de indústria
têxtil e uma histórica zona de prostituição.
Bom
Retiro/Instituições Técnicas e Escolares
Antiga Escola de Farmácia e
Odontologia da Universidade de São Paulo
rua Três Rios, 363.
Participante da efervescência sanitária do fim do
século XIX, a "Escola Livre de Farmácia" foi
criada em 1898, como instituição particulaRua O prédio
da rua Três Rios foi inaugurado em 1905 e sua
instituição ilumina a proximidade entre higienização
e urbanização. O crescimento da população da cidade,
a ocupação das várzeas e a proximidade entre os
bairros operários da porção oeste e o bairro
aristocrático dos Campos Elíseos, fizeram com que a
preocupação com epidemias ocupasse as elites dirigentes
que tiveram de criar mecanismos para tratar os seus
sintomas. Em 1934 a Faculdade foi anexada à USP e seus
cursos foram transferidos para a Cidade Universitária em
1982. É atualmente ocupada pela Oficina Cultural Oswald
de Andrade.
"Desinfectório"
rua Tenente Pena
Em 1895 o Serviço Sanitário do Estado,
recém-organizado, instalou à rua Tenente Pena um
"Desinfectório". Cabia à esse órgão
promover a desinfeção das residências, quando ocorria
um caso de doença epidêmica. Nessa época, os enfermos
eram transferidos para o Hospital de Isolamento, situado
no então distante Araçá, onde ficavam incomunicáveis.
Isso fez com que as ações empreendidas pelos técnicos
do serviço sanitário gerasse muito medo e o prédio do
Desinfectório, que ocupava metade de um quarteirão,
fosse identificado como um ente temível.
Grupo Escolar Marechal
Deodoro
Rua dos Italianos, 405.
A atual Escola Estadual de Primeiro e Segundo Grau
Marechal Deodoro é uma espécie de "segunda
edição" de uma das primeiras escolas públicas da
cidade. No começo do século, o Grupo Escolar Marechal
Deodoro ficava na rua dos Italianos na altura da Júlio
Conceição e ocupava um prédio amplo, onde apenas duas
janelas davam para a rua.
Bom
Retiro/Instituições Religiosas
Sinagoga da rua da Graça
(rua da Graça com Lubávitch)
É provavelmente o primeiro marco arquitetônico da
comunidade judaica em São Paulo. Ligado às primeiras
correntes imigratórias, da época da Primeira Guerra
Mundial, o prédio abrigou primeiramente uma escola.
Paróquia de Santo Eduardo
rua dos Italianos, 567
A primeira nacionalidade do Bom Retiro foi a italiana.
As recordações dessa fisionomia são escassas no
cenário atual do bairro, preponderantemente coreano.
Contudo, ficaram os versos de Juó Bananére dedicados
aos Studenti du Bó Retiro, o nome de uma rua e a
paróquia de Santo Eduardo, formada no fim do século XIX
pelos primeiros imigrantes italianos que residiam nessa
área da cidade.
Instituições sociais
O pletzel (vocábulo ídish diminutivo de
"platz" = praça, largo, em alemão)
O centro comunitário mais importante do Bom Retiro
judaico fica na calçada de uma esquina que liga três
ruas (rua da Graça, Correia de Melo e Ribeiro de Lima).
É ainda um ponto de encontro animado para os moradores
mais antigos e os momentos de "pico" são as
manhãs e os fins-de-semana. Institucionalizou-se no fim
dos anos 30, na época da Guerra, quando os judeus
recém-chegados se reuniam ali para ouvir as notícias no
rádio e torcer pela derrota do nazismo. Daí em diante,
polêmicas, fofocas, câmbio, em suma, qualquer assunto
importante tinha já seu palco de discussão e um
endereço certo .
Ru(g)as da cidade
As ruas Itaboca e Aimorés
A rua Aimorés é uma paralela `a rua José Paulino,
vizinha do paredão da ferrovia Santos - Jundiaí
(atualmente RFFSA). Uma pequena paralela da Aimorés, a
rua Itaboca, atualmente Prof. Cesare Lombroso,
concentrava os prostíbulos que se formaram no fim do
século passado. Profundamente marcada pelo ruído dos
trilhos e escondida atrás das vias mais movimentadas do
bairro, a rua Itaboca parecia ser um "bom
local" para a prostituição. Com o passar dos anos,
no entanto, os prostíbulos avançaram sobre a rua
Aimorés. A despeito das reclamações dos moradores,
durante a interventoria de Ademar de Barros, sendo
Prestes Maia o prefeito, as autoridades decidem erradicar
a prostituição da rua Timbiras, no centro, e
confiná-la na rua Aimorés. Tudo foi feito em uma
madrugada, sem aviso prévio aos residentes e muito menos
às prostitutas, que foram levadas em camburões, muitas
das quais nuas, e atiradas ali. Na década de 50, no
governo de Lucas Garcez, a zona do meretrício já se
estendia até a Ribeiro de Lima e as prostitutas foram
novamente expulsas. As casas foram fechadas e ficaram
vazias. Ninguém queria morar numa rua de "má
fama", além de barulhenta. Os preços dos imóveis
ficaram baixíssimos e foram comprados por pequenos
industriais e comerciantes, que deram a rua Aimorés e
prof. C. Lombroso a sua fisionomia de hoje, sem conseguir
apagar sua história.
Rua Jaraguá, a rua da Enchente
As enchentes são inerentes à natureza paulistana. Na
região da cidade de São Paulo os leitos dos rios Tietê
e o Pinheiros são marcados pela baixa declividade e pela
sinuosidade de seus meandros. As enchentes são aí
fatais na época de chuvas intensas porque nessa mesma
região o Tietê e o Pinheiros recebem as águas de
afluentes com alta declividade, o Tamanduateí e o
Pirajussara, que os fazem transbordar e ocupar as
várzeas. Os primeiros registros de cheias na cidade
datam de 1560. Poucas entretanto marcaram as memórias de
seus habitantes como a de 1929, uma das maiores da
história. São Paulo já tinha mais de 700.000
habitantes e as enchentes agravavam a insalubridade do
terrenos varzeanos, já ocupados. As chuvas de fevereiro
fizeram com que o rio Tietê subisse 3, 50 m na altura da
Ponte Grande. A rua Jaraguá, que divide o Bom Retiro e a
Barra Funda e nunca havia sido inundada, ficou
completamente alagada e isolada do resto do Bom Retiro.
As cenas dos botes na rua e os infortúnios de seus
moradores fixaram a imagem da enchente às histórias da
Jaraguá.
6. Barra
Funda
A rua Jaraguá é o limite entre o Bom Retiro e a
Barra Funda. O nome do bairro está diretamente ligado à
presença do Tietê, que era, até o fim do século XIX,
pontuado pelos portos de areia. O caminho para se chegar
a esses portos era em declive até a barra do rio, a
barra baixa, ou funda.
O bairro se formou por volta de 1890, resultando do
arruamento do antigo sítio do Carvalho. Seu traçado
pouco mudou ao longo de um século. É um plano ortogonal
cortado pela linha férrea, onde as ruas convergem para o
largo da Estação, no fim da rua Brig. Galvão. A nota
fundamental da estrutura da Barra Funda é a linha de
trem que divide o bairro entre a Barra Funda de Baixo,
trecho entre o Tietê e a ferrovia, que se confunde com o
Bom Retiro, e a de cima, contígua aos Campos Elíseos.
As porções alta e baixa ligavam-se por duas
porteiras. Uma na rua Anhangüera, em frente à rua Souza
Lima, e outra na rua Assis, junto à estação. De
ocupação industrial mais recente, década de 30, a
Barra Funda concentrou armazéns, ao longo das linhas,
pequenas indústrias alimentícias e oficinas mecânicas
e serrarias.
A Barra Funda marca como poucos bairros em São Paulo
os ciclos viários da cidade. A primeira linha de bonde
elétrico, inaugurada em 1900, ligava ao centro à Barra
Funda e corria nas ruas Barra Funda e Brigadeiro Galvão.
Ali concentrava-se o circuito comercial e de serviços do
bairro. Por outro lado, um dos pontos de vida social mais
importantes da Barra Funda era "o fim da linha"
ou balão do bonde, na rua Anhangüera com a rua do
Bosque. Também na Barra Funda ficavam as estações
terminais dos ônibus nos anos 30, de onde se faziam as
conexões com os bondes e os trens. Nos fim dos anos 60 e
começo dos 70, outra vez a Barra Funda faria um paralelo
com a história dos transportes em São Paulo. Ligava-se
à zona norte com a construção do viaduto Pacaembú.
Já era a cidade dos elevados.
A várzea da Barra Funda começou a ser ocupada nessa
época, depois que o canal que cortava a várzea foi
canalizado por Faria Lima em 1969. Tinha 5 metros de
largura e corria da rua do Bosque, a céu aberto, até o
Tietê, nas imediações da rua Ribeiro de Almeida
(antiga rua Baixa), ladeando a rua do Córrego.
Arquitetura de "ponta de guarda-chuva"
Com as transformações sofridas pela cidade de São
Paulo no último quartel do século XIX começa a
ocupação das várzeas, dando início à formação de
bairros operários como a Barra Funda, onde se
estabelecem os imigrantes recém-chegados, abrindo o
filão do mercado da construção civil destinada à
população mais modesta. Ao vertiginoso crescimento
populacional da cidade, correspondia um alucinante ritmo
de construção, setor que é dominado pelos italianos.
Constróem nesses bairros casas muito parecidas,
geminadas, caracterizadas por uma entrada lateral, uma
fileira de cômodos, uma cozinha, um quintal e porão,
adornadas com gessaria e algum detalhe em ferro, sem
função estrutural. Essa arquitetura ficou conhecida
como "arquitetura de ponta de guarda chuva"
devido à simplicidade de sua planta. Em geral são cubos
ou retângulos que segundo contam os memorialistas eram
traçados pelos capomastri na terra, com a ponta do
guarda chuva. As indicações dos locais onde seriam
acrescentados os elementos decorativos eram feitas nesse
mesmo desenho. Esse "estilo" é facilmente
encontrado ainda nas habitações, imóveis de uso misto
e fábricas da Barra Funda.
Barra
Funda/Residências
casas geminadas com porão alto: rua Brig. Galvão
981, 983, 993, rua Sérgio Meira, 217, 221, 231 e 237,
Rua Lopes de Oliveira 206 a 218, rua Souza Lima, 110 ao
120
Imóveis mistos (comércio no térreo, habitação na
parte superior): Rua Barra Funda c/ Lopes de Oliveira,
Rua Barra Funda, 131, 141, 145, 149, 803
Barra
Funda/Instituições Culturais
Teatro São Pedro
Rua Barra Funda com Albuquerque Lins.
Barra
Funda/Fábricas e Galpões Industriais
Alameda Eduardo Prado, 474 (c/ Rua Lopes de Oliveira),
Rua Conselheiro Nébias, 1721, 1683, 1649, Rua Capistrano
de Abreu (inteira, especialmente números 165, 195, 205)
Moinho Central
Alameda Nothman, entre rua Anhaia e alameda Dino Bueno
Moinho desativado ladeado pela linha da Rede
Ferroviária Federal (RFFSA), dotado de seis silos e
prédio de seis andares que ocupam um vasto terreno entre
os bairros dos Campos Elíseos, Bom Retiro e Barra Funda.
Funcionou pelo menos até o começo dos anos 60.
Barra
Funda/Estações e Edificações Ferroviárias
Estação Barra Funda (ao
lado, galpões e armazéns)
rua Mário de Andrade
Galpões e oficina
ferroviária
Rua Tagiparu
Pátio de Manobras e
Estação da Rua do Bosque
As estações ferroviárias constituíram os marcos
das articulações entre a urbanização e as ferrovias.
Isso se reflete no seu padrão arquitetônico que
expressa os contextos sociais a que elas diziam respeito.
Essa estação da rua do Bosque, na Barra Funda, possui
uma construção de alvenaria de tijolos aparentes
tipicamente inglesa, comum em São Paulo entre o fim do
século XIX e as primeiras décadas do século XX, mas
visivelmente distinta da que caracteriza a Estação da
Luz. Simples e modesta nas proporções, ela evidencia a
divisão apontada por um especialista entre as
"estações de luxo e estações de serviço",
funcionando "como se fosse a entrada de serviço de
um prédio de apartamento de alta renda".
Oficinas Mecânicas
As oficinas mecânicas são um dos traços
característicos da Barra Funda. A Rua Brigadeiro Galvão
ainda guarda a memória do tempo em que os sportsmen de
Campos Elíseos traziam seus carros para serem
consertados pelos mecânicos italianos que instalavam em
suas residências pequenas oficinas que se abriam da casa
para a rua.
7. Água
Branca
Outro bairro que o Arte / Cidade atravessa e que
constitui uma das trilhas dessa "cidade sobre
trilhos" é o da Água Branca, onde se situam as
edificações das Indústrias Reunidas Francisco
Matarazzo. Até o fim do século XIX a Água Branca tinha
com referências ambientais as olarias, as chácaras e as
jabuticabeiras, situadas em torno do córrego da Água
Branca. Seu primeiro marco urbano foi a abertura da
avenida Água Branca (atual Francisco Matarazzo), que foi
construída com capitais dos donos da Antártica e uma
das primeiras a dispor de iluminação elétrica e linhas
duplas de bonde. As indústrias que formaram o bairro,
tributário da Estação Água Branca da Sorocabana,
foram, além da Antártica, o Curtume do conselheiro
Antonio Prado e a vidraria Santa Marina.
Um dos elementos mais fortes do seu perfil industrial
era invisível: o cheiro da fábrica de cerveja, do
curtume e depois, do sebo, quando, no anos 20, a
Matarazzo foi implantada em parte do terreno que era da
Antártica. Contudo, o cheiro da Água Branca, um dos
lugares da memória da São Paulo industrial não exclui
uma outra faceta do bairro que é ainda um dos lugares
das memórias mais cândidas da cidade. Para muitos
paulistanos, a Água Branca é o lugar da memória do
lazer: o Parque Antártica com seu carrossel, seus
quiosques e as atrações que traziam a população nos
bondes para os pic-nics de fim-de-semana.
Água
BrancaFrancisco Matarazzo
Francisco (Francesco) Matarazzo nasceu em
Castellabate, na Itália, em 1854 e faleceu em 1937 em
São Paulo. Chegou ao Brasil em 1881 com 27 anos.
Estabeleceu-se na cidade de Sorocaba, no interior do
Estado de São Paulo onde se dedicou ao comércio de
banha de porco.
Transferiu-se para São Paulo em 1890 e associou-se a
dois irmãos, José (Giuseppe), Luiz (Luigi) e Andrea,
para criar a Matarazzo e Irmãos, com sede na rua 25 de
março. Nessa sociedade, Francisco participava com duas
fábricas de banha (uma em Sorocaba, outra em Capão
Bonito), José com uma fábrica de banha estabelecida em
Porto Alegre e Luís com um depósito-armazém
estabelecido na cidade de São Paulo. Além de produzir e
comercializar banha, a firma importava trigo dos Estados
Unidos e arroz da China.
Em 1891, no contexto do Encilhamento, essa empresa foi
dissolvida e constituiu-se a Companhia Matarazzo S. A.
com 43 acionistas, que compraram as fábricas de Sorocaba
e Porto Alegre. Em 1899 deu início à construção de
sua primeira fábrica, o Moinho Matarazzo, localizado no
Brás, junto à linha da São Paulo Railway, financiado
pelo London Bank e equipado com máquinas Henri Simon
& Co, de Mancheste.
O empreendimento que custou hum mil e quinhentos réis
foi a cellula mater de um império. Inaugurado
pomposamente em 1900, com a presença de autoridades
locais, cônsules da Itália e Alemanha, catedráticos da
Escola Politécnica e outras personalidades,
beneficiou-se da conjuntura desfavorável à importação
de trigo que a guerra hispano-americana causara. No
Moinho funcionavam também duas oficinas, uma de
consertos, que se transformou em 1902 em seção de
metalurgia, e outra de sacaria. A oficina de sacaria foi
o embrião de sua tecelagem, também localizada no Brás,
a Fiação e Tecelagem Mariângela, inaugurada em 1904.
No Brás, ainda, Matarazzo construiu sua fábrica de
óleo (a Sol Levante, 1907)e a Oficina Central. Ainda em
1900, junto com outros capitalistas em sua maioria
imigrantes italianos, formou um banco, a Banca
Commerciale Italiana de São Paulo.
Em 1905, formou outro banco, a Banca Italiana del
Brasile, onde a família Matarazzo representava 73 % dos
acionistas. Em 1911, cessam as atividades bancárias de
Francisco Matarazzo nesses dois bancos e constitui-se a
sociedade anônima denominada Indústrias Reunidas
Francisco Matarazzo (IRFM), que tinha Francisco Matarazzo
como principal acionista dirigente e seu filho Ermelino e
o irmão Andrea como assessores mais importantes.
Francisco Matarazzo passa a representar, entretanto, o
Banco de Nápoles, que monopolizava as remessas do
exterior para a Itália. Expandiu seus empreendimentos
para o Belenzinho em 1913, onde funcionava a Tecelagem
Belenzinho e para o Paraná onde constituiu a
subsidiária S. A. Indústrias Matarazzo do Paraná para
estocar trigo importado da Argentina. Instalaram-se
ainda, filiais da IRFM em Santos, Rio de Janeiro e
Curitiba.
Em 1914 a IRFM inaugura a sua amideria, e, em 1915, a
fecularia. Ainda nesse ano de 1915, Francisco Matarazzo
firma sua posição de líder da colônia italiana ao
doar um pavilhão ao Hospital Humberto I, que atendia
basicamente as famílias imigrantes. Também em 1915
concretiza-se um velho projeto de Francisco Matarazzo,
levado a cabo por seu filho Ermelino. A criação de
unidades fechadas de fábricas da IRFM.
O primeiro núcleo desse tipo foi implantado em São
Caetano, que produzia velas e produtos gordurosos. Nessa
época já funcionavam na Móoca as fábricas de
fósforo, o moinho de sal e a refinação de açúcar Em
1917 recebe do rei italiano o título de conde, que veio
a somar-se ao de comendadoRua Também em 1917 começa a
funcionar o Moinho de Matarazzo de Antonina, no Paraná,
e em 1919 a Sociedade Paulista de Navegação Matarazzo
Ltda., dando autonomia para empresa em todo país.
Nessa época, a IRFM adquire um vasto terreno de mais
de 100.000 m2 de propriedade da Antártica onde constrói
o complexo industrial da Água Branca nos anos 20.
Simultaneamente, começa a funcionar, em 1920, o
Frigorífico Jaguariaíva, ligado à subsidiária do
Paraná. Em 1922, Francisco Matarazzo inicia suas
atividades no ramo de bebidas com a fábrica de Licores
Matarazzo, situada no Brás e cria a seção de Cinema
nas IRFM, encarregada da distribuição de filmes
norte-americanos no país todo. A distribuidora encerrou
suas atividades em 1932.
No fim dos anos 20, em 1926, as IRFM abrem uma nova
área de atuação, a indústria química, com a
constituição da Viscoseda, em São Caetano, instalam a
Oficina Mecânica e de Fundição na Água Branca. Em
1927, as IRFM adquirem um novo estabelecimento na rua
Amélia, Água Branca, destinado à produção de
louças, aparelhos sanitários e azulejos. Nos anos 30
Francisco Matarazzo comprou a Tecelagem Ítalo-Brasileira
de Sedas, entre as ruas Joli e Sampson, no Brás, e a
Tecelagem Santa Celina no Belenzinho (1931), e
associou-se a uma fábrica de óleo de algodão e sabão
em João Pessoa na Paraíba.
Em 1933 as IRFM entram para o ramo da indústria
extrativa com a Fábrica de Cal Santana, em Santana do
Parnaíba. Expandem suas atividades nesse setor em 1935
com a aquisição de jazidas de caulim, quartzo, pedra
argila e lenha na periferia de São Paulo (Sacomã,
Guarulhos, Ermelino Matarazzo, Mauá e Mogi das Cruzes).
Em 1936, por iniciativa do Conde Francisco Matarazzo, as
IRFM inauguram uma nova fábrica de papel e papelão no
Belenzinho e implantam suas primeiras máquinas de
descaroçamento de algodão próximas dos centros
produtores (Avaré e Itapetininga e, em 1937, em
Catanduva, Bauru, Rancharia, Ribeirão Preto, Presidente
Prudente, Bernardino de Campos e Marília). Em
decorrência da produtividade dessas descaroçadoras foi
instalada a fábrica de óleo de Catanduva.
O último empreendimento do Conde foi a instalação,
em Limeira, no Estado de São Paulo de uma fábrica de
extração de essências de frutos cítricos, de onde
saiu um de seus produtos famosos, a
"marmellata" de laranja.
Água
Branca/Fábricas
Indústrias Reunidas Francisco
Matarazzo
avenida Francisco Matarazzo, altura do n º 2.000
O complexo industrial da Água Branca marca a
expansão espacial das Indústrias Reunidas Francisco
Matarazzo (IRFM) na cidade de São Paulo e sua
implantação se insere em um contexto de
diversificação das atividades industriais do grupo.
Até então, as IRFM concentravam-se na zona leste da
cidade de São Paulo e restringiam-se à produção de
farinha e tecidos. As indústrias da Água Branca
ocupavam um vasto terreno de 113.721, 00 m2, onde a área
construída ultrapassava 96.000, 00 m2. Ali funcionavam:
unidades fabris de refinação de sal, refinação de
açúcar, refinação de banha, uma destilaria de álcool
e aguardente, fábrica de velas, glicerina, oleína,
óleo de algodão Sol Levante, óleo de linhaça, de
rícino e de coco, torta de sementes, sabões, sabonetes,
perfumaria, inseticida (marca K.I.D.) e pregos. Ali
funcionavam, também, unidades de serraria, fundição,
serralharia artística, oficinas mecânicas, laboratório
químico e o almoxarifado geral. Os diversos setores do
complexo industrial eram interligados por passarelas
internas e escoavam sua produção por uma linha de trem
própria, ligada à Estrada de Ferro Sorocabana. A
arquitetura do conjunto retrata os padrões da
arquitetura industrial inglesa, profundamente marcada
pela fachada de alvenaria aparente de tijolos de barro e
as esquadrias metálicas de pouca largura e altas, que
tinham a função de iluminar o ambiente sem permitir a
visão do exterioRua Em 1985 o CONDEPHAAT (Conselho de
Defesa do Patrimônio Histórico Arqueológico
Arquitetônico e Turístico do Estado de São Paulo)
pediu o tombamento desse imóvel, na época já
desativado, visando preservá-lo como documento
arquitetônico da história da industrialização
paulistana. No fim desse processo _ 1986, com revisões
datadas de 1993 _ decidiu-se preservar um dos galpões da
fábrica, o prédio de caldeiras e as três chaminés de
alvenaria refratária, cujas alturas variam de 46 a 54 m
e os diâmetros externo de 2, 60 a 4, 40 m, que
complementavam a central de vapor
Indústria Santa Marina
Av. Sta. Marina, 1757.
Instalada desde 1897 no mesmo local, a antiga Vidraria
Santa Marina era propriedade do Conselheiro Antonio Prado
(prefeito da cidade de São Paulo de 1899 a 1911) e de
Elias Fausto Pacheco e Jordão. Em 1900 já produzia 10
milhões de garrafas de vidro por ano, que eram
consumidas pelas cervejarias Antártica, Bavária e,
ambas de São Paulo, e Teutônica do Rio de Janeiro. Seus
fornos funcionavam 24 horas todos os dias exceto aos
domingos, quando ficavam acesos apenas 8 horas. Todas as
dependências da fábrica eram dotadas de luz elétrica,
fato único no começo do século. Foi uma das primeiras
fábricas a ter casas para funcionários, inclusive
diretoria, coisa que depois tornou-se comum na cidade de
São Paulo. Arquitetonicamente a fábrica sofreu várias
modificações, mas ainda possui uma chaminé centenária
remanescente do conjunto original. Atualmente pertence ao
grupo francês Saint-Goban, que tem mais de três
séculos de história na produção de vidro.
Água
Branca/Parques
Parque Antártica: avenida
Francisco Matarazzo, altura do n º 2.000.
O parque Antártica foi construído pela Cia.
Antártica Paulista no início do século XX e foi um dos
mais importantes centros de lazer urbano. Era dotado de
aparelhos de ginástica, campo de futebol, rinque de
patinação, quiosques e um baRua O parque servia para
prática de esportes e para divulgar os produtos da
Antártica. Nos anos 20, a Antártica se transfere para a
Mooca. A vasta propriedade dessa companhia, grosso modo,
foi divida com o Palestra Itália, hoje Palmeiras, que
ficou com a área do parque e as Indústrias Matarazzo
com o terreno da fábrica. Uma pequena amostra da
vegetação do antigo parque Antártica ainda sobrevive
no lado oposto às IRFM na avenida Francisco Matarazzo.
Parque Fernando Costa:
avenida Francisco Matarazzo altura do n º 900.
O parque Fernando Costa foi construído entre 1927 e
1928 para ser um local de exposições de animais da
Secretaria da Agricultura. É mais conhecido como Parque
da Água Branca, apesar de seu nome original ser Parque
da Indústria Animal.
Água
Branca/Ru(g)as da Cidade:
Rua do Curtume:
Essa rua é o rastro dos vínculos da Água Branca com
os primórdios da industrialização da cidade de São
Paulo. Seu nome deriva da existência do Curtume da Água
Branca ali instalado em 1899, de propriedade do
Conselheiro Antonio Prado (prefeito da cidade de São
Paulo de 1899 a 1911). Ocupava uma área de 6.000
hectares e além do trabalho com couro produzia cola.
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