Articulando - Exposição: “Estado(s) de Emergência” - 23/08/2019.
O programa de TV onde professores e artistas visitam exposições na cidade de São Paulo, e entram em diálogo com curadores e autores. Uma forma de se apropriar e preservar a riquíssima oferta de exposições de arte que a cidade oferece. Uma iniciativa do PUC-MUSEUS e do Depto de Jornalismo da PUC SP.
O Paço das Artes – instituição da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo – inaugurou a exposição, “Estado(s) de Emergência”, com curadoria de Priscila Arantes e Diego Matos. Depois das bem sucedidas exibições de “ISSOÉOSSODISSO” de Lenora de Barros em 2016 e “O ciclo da intensidade” de Charly Nijensohn em 2017, a mostra, que fica em cartaz até 15 de dezembro de 2018, é o resultado de mais uma parceria entre o Paço das Artes – que desde 2016 não conta com uma sede própria – e a Oficina Cultural Oswald de Andrade.
Entre as ideias de reinvenção e resistência inerentes à arte contemporânea, Estado(s) de Emergência busca sublinhar uma produção artística altamente prospectiva e de incontestável natureza política, interessada em investigar o passado, encontrando fissuras para colaborar na construção de uma perspectiva de futuro. Para o momento atual de distensão democrática, em largo contexto de crise e impasse, a produção artística, literária e cinematográfica recente – encarada, também, como produção de conhecimento – tem muito a contribuir para a construção de novos enunciados para o debate público, especialmente diante do cenário atual do país.
A geração de artistas que demarca a produção selecionada nesta curadoria pode ser circunscrita à própria história recente do Brasil. São profissionais que nasceram durante o longo período de abertura política, obtendo suas formações nos últimos governos democráticos. Alguns, em uma ponta, viveram a primeira infância nesse período; outros, na extremidade oposta, nasceram em plena constituinte ou naquilo que se convencionou chamar de surgimento da nova república. Aliado a isso, é inegável o marco simbólico dos trabalhos recentes da Comissão Nacional da Verdade (CNV), abertos recentemente à apreciação pública.
Reunidas nesta exposição, estão obras e reflexões que trazem à superfície as memórias, os traumas e os impasses de nossa conflituosa história, com destaque para o longo período de ditadura civil-militar (1964-1985), que marcou profundamente a história recente de nosso país. De maneira desassombrada, por meio de estratégias artísticas ancoradas no escrutínio da memória, aliadas à profunda desconfiança em relação às narrativas hegemônicas, os artistas propõem novas imagens ou a ressignificação de outras existentes – mas escamoteadas –, numa tarefa paulatina de ativação do consciente coletivo em nome de um real valor de mudança. Por isso, há também, em exposição, dois exemplos significativos de iniciativas artísticas produzidas pelos nossos vizinhos argentinos e chilenos, o que mostra uma confluência de interesse e linguagem, ao mesmo tempo em que nos faz conhecer as histórias do outro. Em convergência, são as veias abertas das memórias da violência ditatorial na América Latina através da arte, para além da denúncia.
Pensados como formas de resistência ao colapso da memória e como forças antagônicas aos discursos consensuais, os trabalhos apresentados querem, de modo panorâmico, colaborar para um pensamento político e cultural emergente, contribuindo para desatar os impasses de uma crise que nos aflige e que, de certo modo, impedem um passo adiante em nosso projeto democrático de país. Em certo sentido, a arte assume papel relevante em dar entendimento a nossa modernidade periférica, construindo outros entendimentos para nossas narrativas históricas. E, para grande parte da América Latina, essa parece ser também a tônica, numa iniciativa de se confrontar com as particularidades e durezas dos contextos e tempos de cada um.
Fonte: Paço das Artes