Ensino Religioso entre Sons e Imagens

Karina Kosicki Bellotti[*] []

Resumo

A proposta deste artigo é discutir o uso de meios de comunicação de massa como ferramentas de auxílio ao Ensino Religioso, com base na proposta teórica elaborada pela equipe da UNICAMP, em parceria com a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, e realizada entre agosto de 2002 e outubro de 2003. Meios de comunicação populares, como televisão comercial e religiosa, websites e revistas são consideradas fontes valiosas para desenvolver a tolerância religiosa a partir do entendimento da diversidade cultural.

Abstract

The purpose of this article is to discuss the use of means of mass communication as auxiliary tools of Religious Teaching, based on the theoretical proposal elaborated by the team of the State University of Campinas, in collaboration with the Secretary of Education of the State of Sao Paulo (Brazil), during the period of August 2002 and October 2003. Public media, such as commercial and religious television, websites and magazines are considered as valuable resources in order to develop religious tolerance from the understanding of cultural diversity.

Introdução

Um dos grandes desafios ao se divulgar uma proposta de Ensino Religioso para os milhares de professores da rede pública do Estado de São Paulo é transformar teoria em prática. O material escrito pela Profa. Dra. Eliane Moura Silva e pelo Prof. Dr. Leandro Karnal (Departamento de História/UNICAMP), apresentado no editorial do presente número, foi elaborado procurando organizar um ponto de partida acadêmico e intelectual para o trabalho pedagógico na área de História Cultural das Religiões. Os professores da rede estadual de ensino, atuando como docentes em Ensino Religioso e com formação em História, Ciências Sociais e Filosofia, tinham necessidade imediata de ministrar suas aulas com base na nova proposta, adotando recursos teóricos, metodológicos e didáticos para o desempenho da atividade docente.

Por isso, com base na experiência de pesquisa sobre Mídia Evangélica no Brasil, meios de comunicação de massa foram contemplados como instrumentos pedagógicos do Ensino Religioso, privilegiando a televisão e a internet. A televisão foi escolhida pela visibilidade que confere aos grupos religiosos, povoando o imaginário dos telespectadores com expressões, imagens, práticas e simbolismos nem sempre bem compreendidos. Já a internet figura como um poderoso meio de pesquisa, que complementa a biblioteca e as publicações editoriais (jornais, revistas, livros).[1]

Não é possível ignorar o papel decisivo que a televisão possui em nossa cultura, ao promover a difusão e a circulação de referências culturais de forma indistinta. No espaço televisivo convivem diversos formatos de programas, personagens, estilos de narrativas e personalidades que, ao longo de 50 anos de história, perfazem a complexa cultura de massa brasileira, dificultando a defesa ou a condenação sumária da televisão. Se os educadores fazem restrições ao uso da televisão, nossos alunos assistem a ela, e é nossa intenção compreender as razões disso, ao invés de, simplesmente, assumirmos a visão do “pão e circo” ou compartilharmos a noção corrente sobre o seu caráter alienante e massificador. Ignorar as referências culturais que difunde, por pensarmos que são inferiores às referências disponíveis na cultura escrita, é negligenciar materiais importantes para discussão. Trazer a televisão para a sala de aula não significa ilustrar com documentários aquilo que o professor considera insuficiente nos livros didáticos. Significa problematizar o corriqueiro, a fim de promover uma “educação do olhar”.

Essa é a idéia central de Marcos Napolitano, em Como usar a Televisão em Sala de Aula. (Contexto, São Paulo, 2002). Napolitano propõe dinâmicas de trabalho para alunos e professores a partir de considerações teóricas sobre o papel da televisão na cultura ocidental. Recusando a idéia de que a televisão é um instrumento de dominação ideológica, o autor considera que a ela não destrói os valores do telespectador, pois cada pessoa possui seus próprios códigos e valores, que permitem um entendimento diferenciado do que se vê e ouve. Para tanto, estamos propondo alguns procedimentos básicos para que a programação veiculada pela TV possa ser incorporada como documento sócio-histórico, como fonte de aprendizado e como catalisadora de debates na escola [...] a TV como fonte e não como suporte para conteúdo escolar.” (Napolitano 2002 : 9).

A Televisão no Ensino Religioso

Muitos professores, ao iniciar o ano letivo com a disciplina de Ensino Religioso, optam por fazer um mapeamento “religioso” da classe, a fim de descobrir o perfil de crenças e as práticas religiosas de seus alunos. Uma sugestão é de que, ao lado desse mapeamento religioso, seja feito um mapeamento “midiático”, isto é, que o professor pergunte aos seus alunos sobre quais os meios de comunicação preferidos e/ou mais presentes em seus cotidianos: jornais, revistas, histórias em quadrinhos, filmes, programas de TV, livros. Assim, o professor terá uma idéia dos tipos de linguagens audiovisuais e impressos a que seus alunos estão acostumados.

Partir do cotidiano dos alunos é uma tarefa desafiadora, pois o educador deve: “(...) a) estimular uma reflexão crítica acerca dos conteúdos transmitidos pela TV; b) incorporar parte dos seus conteúdos e programas como fontes de aprendizado, articulando conteúdo e habilidades.” (Napolitano 2002 : 13). Napolitano não se refere a nenhum tipo de programa religioso, enfatizando o trabalho com telejornais, telenovelas, séries televisivas, documentários, videoclipes, entrevistas, reality-shows e programas de auditório.

Dentro do universo religioso relacionado à TV, podemos identificar dois tipos de programas – os programas sobre religiões – documentários, reportagens especiais, debates, entrevistas; e os programas propriamente religiosos, produzidos por instituições religiosas ou por pessoas ligadas a algum tipo de crença e voltados para a difusão de mensagens religiosas. Se um trabalho sistemático com algum tipo de programa de TV não é o alvo do professor (Napolitano fornece vários esquemas de trabalho), apresentamos algumas ferramentas para um trabalho eventual – como, por exemplo, aproveitar um documentário, uma matéria jornalística ou mesmo um programa religioso que venha a despertar a atenção dos alunos.

O procedimento para se trabalhar com TV compreende dois tipos de preocupação: trabalhar com um tema específico e analisar um gênero televisivo específico: “partir do tema em discussão para refletir sobre a linguagem e os códigos televisuais; partir da análise dos códigos e linguagens televisuais para incrementar a reflexão sobre os temas em discussão.” (Napolitano 2002: 56). “Não se trata de estabelecer se o que se veicula é verdade ou mentira, mas perceber com sua linguagem e conteúdo organizam os dados de realidade social para constituir uma determinada mensagem.” (Napolitano 2002: 62).

Um exemplo é o caso dos programas evangélicos pentecostais, objeto de polêmica e de curiosidade por parte de não-evangélicos. Muito antes de o bispo Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), comprar a Rede Record (em 1989), programas com pastores já existiam na TV brasileira de forma esporádica desde a década de 50. Seu espaço foi aumentando a partir da década de 80, e a compra da Record pela IURD só fez crescer essa visibilidade. Como toda programação televisiva, que varia de região para região dependendo da disponibilidade de retransmissores e de TVs por assinatura ou a cabo, a programação religiosa também varia. Mas, de forma geral, o professor pode gravar alguns programas evangélicos, de várias igrejas ou de uma só, e promover o seguinte exercício com os alunos em sala de aula:

  1. Analisar a estruturação do programa: duração, gênero (culto, programa de entrevistas e depoimentos, monólogo, musical); ordem dos segmentos;
  2. Analisar as mensagens – sobre o que fala o (a) apresentador (a)? como fala? (qual o vocabulário utilizado – acessível, inacessível, cheio de termos religiosos desconhecidos ou conhecidos – quais?); como ele ilustra sua fala (trechos da Bíblia? Animações? Dramatizações? Usa depoimentos? Interação por telefone ou por carta?);
  3. Identificar temas que se sobressaem – como conduzir sua vida perante Deus? Quem é Deus? Visão sobre a morte; uso de bens materiais; pecados; o certo e o errado; família; casamento; sexualidade; filhos; apelo à conversão; apelo à doação; exorcismos.

Outras questões podem ser elencadas: Como práticas e discursos se relacionam nesses programas? Se há público presente no programa, como ele é retratado? Quais os sentimentos ressaltados pelo programa – emoção, raiva, paz, tranqüilidade, prosperidade, humildade? Há críticas a outras religiões? O que é visto como certo e como errado pelas pessoas que conduzem o programa?

O que podemos fazer com essas questões?

  1. Relacionar com a história do protestantismo – enfocar como uma “raiz” comum – a Reforma Protestante – deu origem a diversos movimentos religiosos e igrejas, utilizando a “árvore genealógica” do protestantismo. Explorar a história dos protestantismos e dos pentecostalismos, mostrando como diferentes realidades históricas, aspirações, desejos e necessidades dão suporte a diversas práticas religiosas, cada qual com sua especificidade;
  2. tema da valorização do dinheiro por algumas igrejas neopentecostais, como a Igreja Universal do Reino de Deus, Igreja Renascer em Cristo, Igreja Internacional da Graça em Cristo, que utilizam a Teologia da Prosperidade – problematizar a “clássica” relação entre protestantismo e capitalismo, mostrando que o protestantismo não foi uma “justificativa ideológica” para a expansão burguesa, mas um movimento religioso que veio a se conformar com uma sensibilidade religiosa cristã vigente desde o século XIII e XIV na Europa. Problematizar também a ação de igrejas evangélicas em ambientes de pobreza e desagregação familiar – como essas igrejas podem contribuir para o acúmulo de bens materiais pela reorganização familiar e pela rede de solidariedade comunitária, conferindo dignidade a seus membros.

É preciso ter em mente que todo produto de mídia religiosa, seja evangélica, católica, ou de outra crença, é uma forma de propaganda, partindo do seguinte princípio: o grupo que o produz acredita que é detentor de uma verdade universal que deve ser compartilhada com aqueles que não a possuem, a fim de que todos se convençam de que o seu caminho é o melhor. Ainda que existam programas que não promovam proselitismo direto (convidando o telespectador para ir a uma igreja, por exemplo), eles promovem idéias e crenças religiosas específicas. Alguns partem para o ataque a outras religiões, a fim de mostrar que a sua verdade é a única verdade válida, desqualificando os diferentes. Um exemplo visível é o ataque da Igreja Universal do Reino de Deus aos cultos afro-brasileiros e espíritas, nas suas sessões de descarrego e de exorcismo. As “forças demoníacas” que atrasam a vida do ser humano, para essa igreja, são associadas com as divindades da umbanda e do candomblé e, neste momento, como são concorrentes dos evangélicos na disputa por fiéis dentro do mercado religioso, são demonizadas, satanizadas.

O produto de mídia religiosa, além de ser um instrumento de diferenciação e de legitimação dentro de um campo religioso plural, serve também como meio de instrução religiosa, procurando mostrar o caminho certo e reprovando as escolhas erradas. Assim, o produto de mídia religiosa está carregado de valores e de símbolos que podem ser problematizados pelo professor. É a forma como uma religião se apresenta àqueles que não a conhecem – e àqueles que a conhecem, mas, na visão de seus líderes, não a praticam de forma “correta”. Tendo em mente essa dupla dimensão – propaganda e instrução – o professor pode trabalhar as representações, os códigos e as mensagens transmitidas por esses programas, sem assumir uma postura proselitista ou condenatória.

Dessa forma, o trabalho com um programa religioso ou sobre religião deve compreender três fases:

  1. A análise estrutural do programa;
  2. A relação desse programa com um ou mais temas (história do protestantismo, história do catolicismo, pluralidade religiosa, intolerância religiosa, etc) a partir de um problema (qual a relação entre protestantismo e capitalismo?; quais as simbologias que separaram católicos e protestantes?; por que evangélicos atacam as religiões afro-brasileiras? etc.);
  3. A conclusão.

Toda atividade que possui um objetivo e uma estratégia precisa ser concluída não com um consenso, mas com idéias críticas em relação ao problema inicial. Levantar problemas para adolescentes de oitava série no âmbito do Ensino Religioso pode gerar conflitos e questionamentos religiosos e existenciais em pessoas que estão construindo de forma intensa sua identidade, diferenciando-se de padrões familiares e comunitários. O professor pode aproveitar esses questionamentos para trabalhar preconceitos, simpatias e indiferenças que permeiam o olhar em relação ao “Outro”, ao diferente. “O gosto pela polêmica, aliado à fase de afirmação pessoal do adolescente, pode tender para uma marcação de posições polemistas em torno dos assuntos que muitas vezes não estão maduras e refletidas. É muito comum uma parte dos adolescentes, ligados a alguma subcultura jovem (as famosas “tribos”), repetir argumentos disseminados pela força da sua mídia específica. O professor deve identificar esta tendência e, mesmo respeitando-a, estimular uma reflexão construída por meio de argumentos próprios, ainda que incipientes e fragmentários.” (Napolitano 2002 : 66).

A nossa proposta de trabalhar com diversidade religiosa e tolerância ativa valoriza a compreensão – e para se compreender é preciso conhecer, buscar superar pré-conceitos em relação ao desconhecido, tendo em mente que nós também somos o “Outro”. Napolitano, apesar de não estar em nenhum momento relacionado com esse projeto de Ensino Religioso, resume bem a perspectiva que devemos problematizar em sala de aula: “O culto da subjetividade e a crise de valores, ainda que possam ter aspectos interessantes e libertários, possuem uma contraface que tende a esvaziar a noção de esfera pública: se o que importa é ter uma identidade e não há mais nenhum eixo de valor comportamental, religioso ou ideológico a ser seguido, tudo é igual a tudo” (Napolitano 2002 : 67).

Outros formatos

O exemplo desenvolvido acima é apenas um dentre vários que podem ser utilizados em sala, conforme o interesse da classe. Outros formatos televisivos também podem ser trabalhados, seja sistematicamente, seja de maneira informal, conversando com os alunos sobre a programação corrente da televisão:

É importante observar quem produziu o documentário, pesquisar um pouco sobre a orientação de trabalho de seus produtores e diretores, pois, apesar de o formato ser conhecido pelo distanciamento crítico, na verdade ele expressa o olhar de seus realizadores.

Um exemplo recente foi o documentário do Globo Repórter sobre as relações entre Fé e Ciência/Medicina, exibido pela Rede Globo em 09/04/2004. Ao expor diversos casos de associação e conflito entre as soluções oferecidas por crenças religiosas e as oferecidas pela medicina para problemas de saúde, a emissora mostrou o famoso caso do ator Norton Nascimento, seu contratado, que sofreu um transplante do coração alguns minutos antes da falência cardíaca completa. Nascimento se convertera ao protestantismo meses antes de sua condição física piorar e sua surpreendente história foi narrada por ele como um milagre, que veio com o propósito de torná-lo uma testemunha viva do poder divino. Para isso, tornou-se pastor evangélico, a fim de pregar o Cristianismo. O programa mostrou Nascimento orando e pregando em uma igreja evangélica – ainda que sem identificação - e tomou o seu depoimento como cristão.

Essa atitude é interessante do ponto de vista histórico, pois há mais de dez anos a Rede Globo entrou em confronto com a Igreja Universal do Reino de Deus e, por tabela, acabou atacando outras igrejas protestantes. Além disso, a associação entre a Globo e a Igreja Católica é bastante conhecida, não só por manter em sua grade a santa Missa em Seu Lar e a Missa do Padre Marcelo, mas também por dar bastante destaque às ações de Igreja em seus noticiários. Por esses fatores, retratar de forma positiva a história de Norton Nascimento é sinal, ainda que tímido, uma possível mudança de atitude da emissora perante temas religiosos não-católicos.

Para se trabalhar com quaisquer meios de comunicação é fundamental reconhecer que não há representações distorcidas, simplesmente, na televisão - o que existe são representações que um indivíduo (ou grupo de indivíduos) faz de si próprio e de outros grupos, diferentes daquele a que pertence. Isso, porém, não justifica a perpetuação de estereótipos e de preconceitos nos programas de televisão. Dizer que há incoerências e distorções nas representações religiosas significa dizer que há uma religião pura (em geral, a religião dos líderes e teólogos) e que as pessoas comuns praticam desvios à verdade. Seria interessante questionar porque determinadas representações consideradas distorcidas aparecem, quem as produz e por quê.

Utilizar textos e materiais diversos para fomentar a discussão, cujo objeto principal seria o programa de televisão, ajuda a contrapor visões diferentes sobre um mesmo tema. Pode-se usar somente o documento televisivo, mas nada impede que outros materiais sejam utilizados, como, por exemplo, fontes pesquisadas na Internet.

Internet

A Internet abre a possibilidade não somente da comunicação instantânea, mas, principalmente, do acesso a textos, imagens e sons graças ao formato do hipertexto. É o que pode ser chamado de convergência de vários meios de comunicação em um só. Ao analisarmos as possibilidades de uso da internet preferimos abordá-la mais como um instrumento de pesquisa do que, propriamente, como construção de uma comunidade virtual de aprendizagem, que é um recurso de ambiente de Educação à Distância, utilizado por várias universidade e centros educacionais para capacitar pessoas sem a educação presencial.[3]

Partimos do princípio de que qualquer tipo de material pode ser um documento histórico e, como tal, deve ser problematizado pelo educador. Porém, no caso do discurso religioso, é necessário tomar alguns cuidados. A perspectiva da História Cultural, que enxerga as religiões como fenômenos historicamente construídos, permite trabalhar com os discursos religiosos sem que se caia em determinadas “armadilhas”, como o proselitismo ou a visão universalizante. Por isso, ao se trabalhar com websites de instituições religiosas, ou feitos por praticantes de crenças religiosas, é importante ter em mente que são documentos históricos que possuem funções específicas – seja a de fazer a propaganda de uma crença religiosa para um público leigo, seja a de reforçar a instrução de preceitos religiosos para um grupo de fiéis e/ou de fiéis em potencial.

Portanto, não há problema nenhum em se levar textos religiosos para a sala de aula, desde que eles sejam problematizados a partir de um tema. Dessa forma, o método comparativo é muito útil para se discutir diferentes visões sobre um determinado tema. No quinto volume das apostilas sobre Ensino Religioso foram incluídos alguns endereços de websites devidamente comentados, com o objetivo de fornecer ao professor não somente fontes “primárias” de pesquisa (sites de instituições religiosas), mas também links para centros de estudos das Religiões no Brasil, como a própria REVER e a ABHR (Associação Brasileira de História das Religiões).

Novas Publicações

Uma consulta rápida a qualquer banca de jornais e revistas chama a atenção do educador das Religiões para a crescente quantidade de publicações relacionadas a temáticas religiosas. O fato é que tanto revistas científicas (como Superinteressante e Galileu) quanto semanários (como Veja e Época) sempre mantiveram a religião em suas pautas, principalmente em datas religiosas cristãs (Páscoa e Natal) ou por ocasião de lançamentos de obras de pesquisadores com descobertas científicas sobre temas bíblicos.

Há também ocasiões em que certos grupos religiosos se destacam de forma polêmica como, por exemplo, a investigação que a Revista Época fez sobre os líderes da Igreja Pentecostal Renascer em Cristo, em 2002.

Contudo, é interessante observar o surgimento de uma publicação mensal da Editora Abril, a Revista das Religiões, em abril de 2003.[4] Enquanto muitas publicações oscilam entre o proselitismo (seja de uma igreja específica, seja de uma crença) e o ceticismo, essa revista abre espaço para várias religiões, trazendo curiosidades e notícias (chamariz para o formato) como também reportagens extensas sobre “as origens de Deus” e divindades em diversas religiões, como o Diabo surge no Cristianismo, o Espiritismo, o Budismo, ou a discussão sobre interpretações da Paixão de Cristo (a reboque do filme de Mil Gibson, lançado em 19 de março de 2004 no Brasil).

Sua perspectiva comparativa e respeitosa de diferentes tradições religiosas e de seus desdobramentos atuais traz material para que o professor de Ensino Religioso e de História trabalhe crenças, práticas, imagens e depoimentos de religiosos sobre sua vida espiritual e cotidiana. É uma boa alternativa tanto para quem não possui acesso fácil à internet, quanto para quem gostaria de complementar o material recolhido na rede eletrônica ou em outros meios.

Mais importante é ressaltar que o uso de qualquer meio de comunicação, ou de qualquer material de apoio nas aulas de Ensino Religioso, não precisa necessariamente estar relacionado a temas religiosos. Como os eixos da proposta de História Cultural são a diversidade e a tolerância, pode-se discutir direitos humanos, dignidade, qualidade de vida e ética, aproveitando não somente as respostas positivas que crenças religiosas dão a problemas como incompreensão, intolerância e violência, mas também respostas positivas que autores literários oferecem em seus livros, colunas jornalísticas, ensaios; ou até história em quadrinhos e cartuns (como os de Laerte Coutinho, que publica aos domingos na Folha de São Paulo a tira “Deus”, transformada em três livros lançados pela Editora Olho D’Água).

A História das Religiões é uma área de pesquisa relativamente recente no Brasil, o que explica a angústia de muitos profissionais que receberam a incumbência de ministrar aulas de Ensino Religioso na Escola Pública, muitas vezes sem ter uma formação suficiente, que confira segurança para trabalhar um tema tão delicado e polêmico. Por isso, a criação de uma cultura de tolerância à diversidade é uma alternativa que pode ser abordada a partir de materiais tão corriqueiros e, por isso, muitas vezes naturalizados, como os meios de comunicação de massa religiosos e seculares.

Bibliografia

CAMPOS, Leonildo Silveira. Teatro, templo e mercado, São Paulo, UMESP/Vozes, 1997. Leitura indicada para se entender a Igreja Universal do Reino de Deus – sua teologia, práticas, simbologias e uso dos meios de comunicação.

COUTINHO, Laerte. Deus segundo Laerte, Olho D´Água, São Paulo, 2002.

________________. Deus 2 – A Graça Continua, Olho D´Água, São Paulo, 2003

________________. Deus 3 – A Missão, Olho D´Água, São Paulo, 2004.

MARIANO, Ricardo. Neopentecostais – Sociologia do Novo Pentecostalismo, São Paulo, Loyola, 1999. Leitura indicada para se entender o pentecostalismo e o neopentecostalismo.

NAPOLITANO, Marcos. Como usar a televisão em sala de aula, São Paulo, Contexto, 2002, 4ª ed.

___________________. Como usar o cinema em sala de aula, São Paulo, Contexto, 2003.

Revista das Religiões, Editora Abril, São Paulo, edição 8, abril de 2004.

SILVA, Eliane Moura; KARNAL, Leandro; BELLOTTI, Karina K.; BASSINI, Marili. O Ensino Religioso na Escola Pública do Estado de São Paulo, UNICAMP/ S.E.E., São Paulo, 2004, volume 5.

Links de Internet:

Ensino Religioso

Secretaria de Educação do Estado de São Paulo: http://www.educacao.sp.gov.br (área da CENP)

Ensino Religioso: http://www.ensinoreligioso.com.br, endereço virtual em que as quatro primeiras apostilas elaboradas para os professores da rede pública pela Profa. Dra. Eliane Moura Silva e pelo Prof. Dr. Leandro Karnal estão disponíveis para download gratuito.

História das Religiões/Fontes

Associação Brasileira de História das Religiões - http://abhr.cjb.net

Núcleo e Laboratório do Imaginário da USP - http://www.imaginario.com.br

International Association for History of Religion - IAHR - http://www.iahr.dk

Beliefnet - http://www.beliefnet.com

Klepsidra - Revista Virtual de História - http://www.klepsidra.net

Biblioteca Virtual de Estudos Culturais - http://www.prossiga.br/estudosculturais/pacc/

Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro - http://www.bibvirt.futuro.usp.br/

Notas

[*] Doutoranda e Mestre em História Cultural pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), especialista em Mídia Evangélica no Brasil.

[1] Não contemplamos aqui a internet como comunidade virtual de ensino, e sim como recurso de pesquisa. Estamos cientes de que a internet ainda não é um meio popular e acessível a todos os alunos da rede pública (nem particular), mas tivemos a oportunidade de acompanhar Diretorias de Ensino equipadas com Núcleo de Informática, em que a pesquisa é possível.

[2] A Professora Maria Carmen Karon, ATP da Diretoria de Ensino de Americana-SP, fez um grande levantamento de vídeos da TV Escola que contém temáticas religiosas, e que estão disponíveis para todas as Diretorias de Ensino do Estado de São Paulo. O levantamento encontra-se no quinto volume das apostilas elaboradas pela Unicamp em parceria com a Secretaria de Educação do Estado.

[3] A educação à distância pode ser uma idéia formidável, mas ainda há muito que se pesquisar para se chegar a um formato satisfatório, em que o aprendiz tenha um retorno personalizado de seu aprendizado. Por isso, mesmo em consultas feitas por alunos nos computadores de suas escolas, a presença e o auxílio do professor é fundamental pata direcionar o trabalho de conteúdo.

[4] A Revista das Religiões surgiu como suplemento da Superinteressante, sendo publicada esporadicamente até setembro, quando se tornou mensal a partir de terceiro número.