Projetos Finalizados > Multiusuário
Projeto coletivo de pesquisa, realizado de 1998 a 2001 sob a coordenação de Lucia Santaella e sob os auspícios da Fapesp
Os resultados alcançados foram avaliados nos relatórios parciais e finais enviados à Fapesp
Title: The production and dissemination of research in the digital era
Abstract:
The aim of this project is to create a Virtual Center of research whose aim is to investigate the multiple issues raised by the digital revolution: a virtual institute of research on the questions posed by virtuality. The research projects will be grouped according to topics and they will be put on line. The research projects of this Center, sponsored by FAPESP are the following:
Apoio Fapesp
Ref.: 98/09243-1
PROJETOS PRINCIPAIS
DADOS SOBRE O PROJETO PRÉ-QUALIFICADO
No. DO PROCESSO MULTI-USUÁRIOS: 98/09243-1
NOME DO COORDENADOR (PRINCIPAL): Maria Lucia Santaella Braga
ENDEREçO ELETRÔNICO: Lbraga@exatas.pucsp.br
DADOS SOBRE O PROJETO PRINCIPAL No. 1
NOME DO RESPONSÁVEL: Maria Lucia Santaella Braga
TÍTULO DO PROJETO: A PRODUçãO E DISSEMINAçãO DA PESQUISA NA ERA DIGITAL.
1. Contextualização geral de todos os projetos apresentados neste processo de multi-usuários
Um número crescente de textos científicos, revistas especializadas e mesmo livros não está mais sendo editado em papel, mas encontra-se agora disponível on line para assinantes dotados de um modem, uma linha telefônica e acesso a redes internacionais de tipo internet. A mais nova geração de editores de textos já não pode mais ser encarada como uma mera ferramenta para auxiliar a escrita, mas como uma mídia nova, híbrida, multimídia, completa em si mesma, uma vez que permite acrescentar aos textos um certo número de elementos áudio-visuais (voz, música, sons, imagens em movimento) que não podem mais ser impressos em papel.
O desenvolvimento dessas linguagens híbridas (som, imagem e verbo: cores, luzes, formas, movimentos), nas gravações digitais de som, imagem e palavra oral e escrita dos CD-ROMS e das mensagens via Rede, eminentemente interativas, inaugura novos canais de comunicação. São canais ainda não sedimentados, em ebulição. Vários segmentos da sociedade, especialmente aqueles voltados para a comunicação, tais como empresas jornalísticas e editoriais apressam-se em explorar comercialmente esses novos suportes comunicacionais. Diante desse quadro, cabe aos cursos de comunicação das universidades, principalmente nos seus programas de pós-graduação, investigar esses novos meios, não apenas a nível teórico, mas também prático e criativo, funcionando como uma central avançada de produção, sinalizando caminhos e apresentando questões que as empresas de informação, entretenimento e lazer não são capazes de enxergar ou não tem por função desenvolver.
Quais são as características das novas linguagens multi e hipermídia e dos novos canais que as veiculam, que tipo de conhecimento e de informação elas são capazes de criar e de veicular, que transformações elas podem trazer para a produção e disseminação da pesquisa, que potencial estético elas apresentam, quais os impactos sócio-culturais que estão aptas a produzir, enfim, que projetos inovadores podem explorar a multi e hipermídia como linguagem? Essas são perguntas que necessitam ser enfrentadas por institutos e centros de pesquisa em comunicação, tais como os programas de pós-graduação.
Tendo isso em vista, o programa de pós-graduação em Comunicação e Semiótica da PUCSP (COS-PUC), que já conta com um laboratório visual, desde 1989, e um laboratório de música eletroacústica, desde 1992, contando, também com uma equipe de primeira qualidade de pesquisadores em formação, especialistas em imagem e som, deu início a projetos de pesquisa em multimídia, hipertexto e hipermídia há alguns anos, sob a coordenação de Arlindo Machado e Lucia Santaella.
Como fruto desses projetos, desde 1997, começou a funcionar, sob a coordenação de Lucia Santaella, no programa de COS-PUC uma nova iniciativa: a de criação de extensões virtuais, quer dizer, transmitidas via rede, do programa de pós-gradução real. Essas extensões estão sendo implantadas de modo gradativo e crescente, incorporando desde o informativo do programa on line, agenda, grupos de discussão, primeiros experimentos com aulas virtuais, foruns, até um banco de dados das teses defendidas, a edição multimídia de uma revista especializada, arte via rede e textos resultantes de eventos científicos promovidos pelo programa (o estado da arte de tal empreendimento pode ser consultado no endereço www.pucsp.br/ cos-puc). Evidentemente, essa iniciativa só vem se realizando a contento dado o grande número de pesquisadores e artistas de qualidade que tem alimentado essa rede com a produção contínua de projetos.
Este processo de multi-usuários que aqui apresentamos e todos os projetos de que ele se compõe inscrevem-se no contexto dessa iniciativa, num grau de maior complexidade que a ela agora pretendemos dar, conforme será brevemente explicitado a seguir.
Desde 1992, foram sendo criados no programa de COS-PUC, por iniciativa dos próprios pesquisadores, professores e alunos, Centros de pesquisa que funcionam como extensões das linhas de pesquisa do programa, congregando pesquisadores na promoção de um grande e diversificado número de atividades. Essas atividades foram dando tão certo que hoje o programa conta com 11 Centros de pesquisa, cada um deles com um grande número de grupos de trabalho sobre temas para os quais os pesquisadores convergem. Na fase atual, esses 11 centros estão se unindo na criação de um Intituto de pesquisa em cultura, arte e mídia, com funcionamento extensivo, e paralelo ao programa de pós-graduação.
Este pedido de multi-usuários que aqui remetemos tem por finalidade estender esse Instituto de pesquisa para um nível virtual, quer dizer, contar com os meios para a transmissão via rede dos projetos de pesquisa e das realizações práticas e criativas desses centros. Num primeiro momento, era preciso fazer um recorte. Os centros de pesquisa contam com um número muitissimo grande de pesquisadores e de projetos de pesquisa. Nesse contexto abrangente, o recorte escolhido foi o dos projetos de pesquisa que estão diretamente voltados para as questões do mundo virtual, isto é, para a problemática da revolução digital. Nesse sentido, neste primeiro momento, o instituto virtual estará metalingüisticamente voltado para o trato dos problemas colocados pela virtualidade. Um instituto de pesquisa virtual sobre o virtual, na convicção de que somente a soma das experiências de produções em equipe é que vai possibilitar a criação e disseminação de know how da produção acadêmica em mídia digital.
Nessa medida, o título do projeto no cabeçalho acima, A produção e disseminação da pesquisa na era digital, refere-se a todos os projetos, os 3 principais e os 12 secundários, que estão reunidos neste pedido de multi-uusários, de que o projeto abaixo especificado, sob o título de ‘As interrelações do verbal, visual e sonoro na multimídia’, de autoria de Maria Lucia Santaella Braga é uma parte, quer dizer, um dentre os 3 principais.
2. Contextualização do projeto ‘As interrelações do verbal, visual e sonoro na multimídia’.
Trata-se de um projeto coletivo que conta, além da pesquisadora principal, Maria Lucia Santaella Braga, com a consultoria do Dr. Sergio Bairon e com a participação dos seguintes pesquisadores: Milton Ferreira (apoio técnico), Vicente Valery Paiva Júnior e Daniel Couto Gatti (especialização) e Érika Mônaco e Dário Siqueira (IC). Trata-se de um projeto em andamento, com finalização prevista no final de 1999 e que tem por objetivo descrever, analisar e classificar os processos híbridos das linguagens (misturas entre o verbal, visual e sonoro) que operam no interior da produção multimídia e hipermídia, conforme será especificado a seguir.
3. Histórico do projeto
De 1987 a 1989, com o apoio do CNPq, realizei uma pesquisa sob o título de "Três Matrizes da Linguagem Pensamento". Tal pesquisa desenvolveu-se sob a hipótese de que há raízes lógicas que determinam a formação de todas as linguagens, todos os sistemas de comunicação, que o homem produz. Foi assim postulado nessa pesquisa que, por trás da multiplicidade manifesta das linguagens, há três e apenas três matrizes lógicas a partir das quais, por processos de combinação e mistura, originam-se todas as formas possíveis de linguagem, sistemas de signos e processos de comunicação. Tais matrizes são: o verbal, o visual e o sonoro.
A semente teórica que fecundou a pesquisa foi a fenomenologia e doutrina dos signos de C. S. Peirce e o resultado obtido foi:
a. Um sistema de classificação dos discursos verbais em três modalidades que se subdividem em nove, como se segue:
a.1 Discurso descritivo
a.1.1 descrição qualitativa
a.1.2 descrição indicial
a.1.3 descrição conceitual
a.2 Discurso narrativo
a.2.1 narrativa espacial
a.2.2 narrativa consecutiva
a.2.3 narrativa causal
a.3. Discurso dissertativo
a.3.1 dissertação conjectural, hipotética
a.3.2 dissertação relacional, indutiva
a.3.3 dissertação argumentativa, dedutiva
b. Uma outra classificação das imagens em três modalidades, subdivindo-se também em nove:
b.1 Imagens não-representativas
b.1.1 qualidade reduzida a si mesma: talidade
b.1.2 qualidade como marca do gesto
b.1.3 qualidade como lei: a invariância
b.2 Imagens figurativas
b.2.1 a figura como qualidade: o sui generis
b.2.2 a figura por conexão dinâmica
b.2.3 a figura por convenção
b.3 Imagens simbólicas
b.3.1 o símbolo por analogia
b.3.2 o símbolo cifrado
b.3.3 o símbolo por convenção: o sistema
c. Uma terceira classificação da linguagem sonora em três modalidades, com uma subdivisão em nove:
c.1 Sintaxe temporal aleatória
c.1.1 o aleatório caótico
c.1.2 o aleatório por improvisação
c.1.3 o aleatório markoviano
c.2 Sintaxe temporal por coordenação, parataxe
c.2.1 coordenação paralelística
c.2.2 coordenação consecutiva
c.2.3 coordenação por causalidade
c.3 Sintaxe temporal por subordinação, hipotaxe
c.3.1 subordinação imitativa
c.3.2 subordinação relacional
c.3.3 subordinação sistêmica
As discussões alongadas dessas classificações e várias modalidades de suas aplicações foram publicadas em vários trabalhos (ver, por exemplo, Santaella 1989, 1992, 1996), inclusive no exterior (ver Santaella 1988, 1990).
Dando continuidade a essa pesquisa, de 1990 a 1992, realizei, novamente com apoio do CNPq, um novo projeto, sob o título de "Por uma interdisciplinaridade dos sistemas de signos", que propunha verificar os tipos de misturas que podem ocorrer entre as 27 modalidades de linguagens acima mencionadas. O resultado desse novo projeto levou-me à conclusão de que dessas misturas originam-se todos os sistemas híbridos de linguagem, tais como linguagem verbal oral, cinema, vídeo, dança, arquitetura etc., resultado que acabou por viabilizar a hipótese de que, na base de todos os sistemas de linguagem e processos de comunicação estão, de fato, apenas três matrizes de linguagem, de modo que a proliferação crescente de sistemas de linguagem e comunicação não deve ser senão o produto da mistura entre 27 modalidades de linguagem. Os resultados desse projeto foram, então, sendo incorporados de modo prático, tanto na configuração do arcabouço estrutural (Núcleos de linguagem verbal, visual e sonora) e organização curricular do programa de estudos pós-graduados em Comunicação e Semiótica da PUCSP, como também serviram de base para um projeto integrado, também sob os auspícios do CNPq, sob o título de "Intersemiose da Arte, Literatura e Mídia", envolvendo três professores do programa de Comunicação da PUCSP, Philadelpho Menezes, Cecília Almeida Salles e Amálio Pinheiro, realizado de 1992 a 1994.
Entretanto, o motivo maior de encorajamento para a elaboração do presente projeto sobre ‘As interrelações do verba. , visual e sonoro na multimídia’ não foram tanto os antecedentes téoricos acima mencionados, mas começou a germinar há alguns anos, desde o aparecimento da MULTIMÍDIA.
4. Justificativas para o projeto
Ora, a multimídia parece funcionar hoje como uma comprovação empírica não só para os resultados alcançados pelo projeto sobre "As três matrizes da linguagem-pensamento" (1987-89), mas também para os resultados do projeto subseqüente sobre "A interdisciplinaridade dos sistemas de signos" (1990-92). De fato, não apenas a multimídia está realmente fundada sobre as três matrizes da linguagem-pensamento --- verbal, visual e sonora ---, como também seus programas (softwares, ver, por exemplo, "Toolbook" e Macromídia "Director") literalmente programaram as misturas entre essas matrizes, criando uma linguagem híbrida que nasce nos cruzamentos dos signos audíveis, imagéticos e verbais, estes últimos tanto escritos quanto orais.
Muitos são os aspectos através dos quais a multimídia pode ser investigada: seu potencial interativo, os processos de recepção que propicia, sua novidade tecnológica, as transformações sócio-culturais que acarreta, enfim, as novas formas de conhecimento que permite. Nesse elenco de possibilidades, o projeto sobre "As interrelações do verbal, visual e sonoro" está voltado especificamente para a descrição e análise, enfim, para a caracterização dos novos processos de linguagem que nascem na e com a multimídia. Nesse contexto, parece até que a pesquisa sobre "As três matrizes da linguagem-pensamento" estava esperando pelo aparecimento da multimídia para nela encontrar um laboratório privilegiado de investigação. Que a multimídia tenha nascido nos interiores das linguagens de síntese do computador funciona como um fator de comprovação para a hipótese das três matrizes da linguagem-pensamento. Enfim, a teoria e o objeto estão, nesse caso, exercendo uma força de atração tão grande uma sobre a outra que, por si só, reclama pela realização desta pesquisa.
5. Objetivos do projeto
5.1 Geral
Analisar as mudanças que se operam no interior das linguagens e na relação entre elas quando do aparecimento de novas tecnologias de produção de linguagem e processo de comunicação.
5.2 Específicos
5.2.1 Estudar a bibliografia existente sobre mutimídia para elaborar o estado da arte.
5.2.3. selecionar uma amostra de textos multi e hipermídia inovadores:
- que explorem a multimídia como linguagem, textos abertos à navegação do leitor, para que este possa escolher livremente seu percurso, fazendo suas próprias descobertas.
- onde as relações entre o verbal, visual e sonoro apresentem níveis avançados de complexidade e qualidade.
5.2.4 tendo por base a teoria das trêz matrizes da linguagem verbal, visual e sonora, examinar o comportamento:
- de cada uma dessas três matrizes e suas correspondentes classificações e
- das misturas que ocorrem entre os 27 itens da classificação.
5.2.5 Estabelecer as características de linguagem e de comunicação do texto multi e hipermídia.
5.2.6 Delinear o perfil do texto multi e hipermídia inovador.
6. Metodologia da pesquisa
6.1 Considerações Gerais:
A metodologia a ser empregada é a metodologia semiótica, segundo os pressupostos que estão enunciados a seguir.
A semiótica é uma ciência que cria o seu próprio método. Essa afirmação é válida para qualquer uma das correntes da semiótica, tanto a semiótica de extração lingüística, de linha sassuriana e hjelmsleviana, quanto a semiótica da cultura desenvolvida a partir dos teóricos do leste europeu. Também é válida para a semiótica discursiva, narratológica e modal de linha greimasiana. Mas a semiótica pode ser considerada, ela mesma, uma ciência dos métodos. Neste caso, estamos falando da semiótica filosófica de C. S. Peirce, visto que o estudo dos mecanismos de raciocínio (abdutivo, indutivo e dedutivo), que presidem os diferentes métodos de investigação, constitui um dos principais campos de estudo e aplicação dessa semiótica. O pressuposto de toda investigação peirceana é o de que não há mecanismo de pensamento que prescinda do uso de signos. Estudar a variedade de todos os tipos de signos é dar subsídios para o estudo das formas de pensamento e, consequentemente, para o estudo dos raciocínios e dos métodos empregados pelas ciências. É por isso que a semiótica peirceana está dividida em três grandes ramos: a gramática especulativa ou teoria e classificação de todos os tipos possíveis de signos; a lógica crítica ou estudo da força e validade dos tipos de raciocínio ou argumento (abdutivo, indutivo e dedutivo); a metodêutica ou teoria do método das ciências, que se desenvolve a partir da unificação dos tipos de argumento.
O fator que merece ser destacado na discussão do potencial metodológico da semiótica peirceana é que da definição lógica, triádica de signo podem ser extraídas três teorias: uma teoria da objetivação (ou seja, da relação das linguagens e dos processos sígnicos com a realidade); uma teoria da significação (o potencial específico que as linguagens, os processos de signos têm para significar); uma teoria da interpretação (os efeitos de sentido que os signos produzem nos intérpretes). Nessa medida, a semiótica não só está apta a contribuir com todas as outras ciências que utilizam métodos interpretativos, mas também está capacitada para oferecer os elementos necessários para melhor compreender a natureza dos fenômenos comunicacionais, pois estes só funcionam como tal porque são processos de signos. Enfim, ler signos, compreender seus modos de ação, significação e interpretação é a tarefa precípua da semiótica. Uma vez que o projeto proposto lidará com objetos sígnicos híbridos (som, imagem e verbo: multimídia e hipertexto) e com as mutações comunicativas por eles provocadas, não há metodologia mais adequada para examiná-los do que a metodologia semiótica de linha peirceana (ver sobre isso "Metodologia semiótica: fundamentos", Santaella 1993). Entretanto, nos aspectos discursivos e narratológicos do projeto se fará uso de uma metodologia greimasiana. Em síntese, dependendo das necessidades criadas pelos objetos de estudo, o método buscará se adequar a essas necessidades.
6.2 Considerações específicas:
6.2.1 Elaborar, a partir do levantamento biliográfico sobre multimídia, quais são os traços caracterizadores da linguagem multimídia.
6.2.2 Selecionar a amostra de textos multi e hipermídia de acordo com os critérios estipulados nos objetivos 6.2.3 Utilizando uma metodologia indutiva, aplicar a teoria das três matrizes da linguagem-pensamento sobre a amostra de textos selecionada.
6.2.4 A partir do exame efetuado no item anterior, estabelecer as características gerais do texto multimídia inovador.
7. Tarefas futuras e resultados já obtidos pela pesquisa
O cronograma de realização desta pesquisa é de 1997 a final de 1999. Uma etapa preliminar, fundamental para o seu desenvolvimento estava na seleção criteriosa, representativa e significativa de uma amostra de textos multi e hipermídia. Para isso, a seleção deveria ser variada, além de tomar como ponto de partida textos de alto nível de qualidade. Tendo isso em vista, de janeiro a agosto de 1997, dediquei-me a essa etapa do projeto, tendo inclusive, de janeiro a março de 1997, com apoio do DAAD e FAPESP, pesquisado na Alemanha, um dos centros mais avançados do mundo em laboratórios hipermídia, visitando alguns desses laboratórios para contato com o programa COS/PUC e coletando material hipermídia para o desenvolvimento do projeto. A coleta e seleção da amostra de textos hipermídia seguiram os seguintes critérios: a. textos com predominância do verbal, b. textos com predominância do visual, c. textos com predominância do sonoro e d. textos em que verbal, visual e sonoro estão em equivalência.
Tendo dado início, em agosto 1997, juntamente com o grupo de pesquisa, à parte de aplicação das matrizes da linguagem verbal, visual e sonora e suas classificações às obras multi-hipermídia coletadas, uma dificuldade começou a aparecer. As definições das 9 modalidades da linguagem sonora não estavam muito claras. Elas pareciam se sustentar a nível teórico, mas faltava ainda muita elaboração e, especialmente, exemplificações várias, para permitir uma aplicação segura. De fato, enquanto as classificações do verbal e visual já haviam passado por diversas experiências de exemplificação e aplicação no passado, tendo merecido várias publicações, a sonora estava ainda em estado virgem, sendo aplicada pela primeira vez. Problemas não previstos a nível teórico surgiram nessa situação mais prática.
Desde o início, a classificação da linguagem musical foi, sem dúvida, a que mais me desafiou. Isso não é casual. Por estar na matriz do ícone, a música é a forma mais aberta de linguagem, parecendo resistir a quaisquer sistemas de classificação. Além disso, durante muito tempo, fiquei presa à convicção de que os três princípios básicos da música seriam o ritmo, correspondendo à primeiridade, a melodia à secundidade e a harmonia à terceiridade. Cheguei, inclusive a estabelecer uma subdivisâo triádica no interior de cada um desses princípios, num total de nove modalidades que parecem bastante coerentes, especialmente quando comparadas às nove modalidades do visual e do verbal.
No entanto, depois de algumas pesquisas sobre composições musicais não-ocidentais e especialmente sobre a música ocidental na segunda metade do século XX, ficou clara a limitação da classificação da linguagem musical em ritmo, melodia e harmonia, isto é, essa divisão tripartite, embora coerente e evidentemente correspondente às três categorias, de primeiridade, secundidade e terceiridade, restringe-se apenas a um certo período da história da música ocidental, mais particularmente, da música ocidental até inícios do século XX. A música contemporânea e os novos instrumentos de produção musical abalaram nas bases esses três princípios que vigoraram durante o tonalismo. Segundo nos informa H.J.Koellreutter (24-09-1987), a partir de princípios do nosso século, um novo repertório de signos musicais começou a surgir e se estabelecer, incluindo ruídos e mesclas, natural ou artificialmente produzidos. Desapareceram também a barra do compasso, os valores de duração fixa, assim como a pulsação predeterminada e a métrica. Desapareceram ainda melodia e harmonia, assim como as vozes, componentes das partituras vocais e instrumentais, o pentagrama e a direcionalidade de grafia e leitura.
Cada vez mais, as partituras começaram a mostrar os chamados "campos sonoros", lembrando uma teia, por assim dizer, de "fios melódicos" em vários registros e apresentando um desenvolvimento rítmico de alturas, timbres (coloridos) e valores de duração de grande variedade. Com a composição de "campos" desaparece o que se praticou até então como composição de vozes. A "estética relativista" tal como foi batizada por Koellreutter, base da composição musical contemporânea, não considera mais alturas e intervalos absolutos, mas graduações e tendências. Não se trata, por exemplo, de acordes, mas de graus de densidade; nem de ritmos e andamentos determinados, mas de graus de velocidade, de mudanças de andamento, de tendências, enfim. Na composição de campos, o processo de desenvolvimento cede lugar ao processo de transformação. A determinação de graduações e tendências encontra-se entre o preciso e o impreciso, entre o determinado e o indeterminado. A composição de campos depende, principalmente, do equilíbrio das relações entre ordem e desordem, entre as camadas de pontos, linhas, grupos e complexos sonoros e entre os graus de adensamento e rarefação (Koellreutter 17-03-88).
Em vista disso, a divisão da música em ritmo, melodia e harmonia foi radicalmente repensada. Nunca esteve nas intenções da minha proposta de classificação que o som tenha por objeto estritamente a produção musical de um certo período da história, mas, ao contrário, ela se pretende lógica e com poder de generalização que a habilite à aplicação a qualquer composição musical de qualquer espécie. Enfim, sua universalidade e generalidade têm de ser equivalentes àquelas apresentadas pela classificação dos discursos na linguagem verbal e pela classificação das formas na linguagem visual.
A revisão e ampliação da classificação da linguagem musical levou-me, então, a encontrar na sintaxe o eixo estruturador da música. A perfeição com que a sintaxe se apresenta como atributo próprio da iconicidade tende a aumentar quando, à luz das categorias peirceanas, se compara a sintaxe com os eixos que caracterizam a linguagem visual, de um lado, e a verbal, de outro. Ou seja, a sintaxe está para a música (primeiridade), assim como as figuras estão para a visualidade (secundidade) e os discursos estão para o verbal (terceiridade). É por isso que, quando a visualidade fica reduzida à pura forma, ela está muito mais próxima da música do que da visualidade, visto que a função precípua desta é figurar, isto é, duplicar ou replicar o mundo visível. Não se pode separar a sintaxe da forma, mas é certo que a forma é um efeito da sintaxe, isto é, não há forma sem sintaxe, fator que vem trazer mais munição ao argumento de que a sintaxe é o traço mais primariamente de primeiridade que qualquer linguagem pode apresentar. Desses pressupostos, nasceu a classificação das nove modalidades da sintaxe sonora acima elencadas. Embora essas modalidades parecessem coerentes e satisfatórias, suas definições não chegaram ao nível de clareza necessário para uma aplicação.
Em função disso, no primeiro semestre de 1998, tive de aprofundar a investigação bibliográfica especializada e a seleção de exemplos sonoros tendo em vista uma melhor definição e exemplificação das modalidades da sintaxe sonora. Para isso, contei com a assessoria de Silvio Ferraz e Fernando Iazzetta, ambos musicos pesquisadores no programa de COS, e com o grande auxílio de Vicente Paiva Neto, da equipe de pesquisadores do projeto em nível de especialização
Disso resultou um texto escrito no qual as nove modalidades da sintaxe sonora encontraram uma definição mais clara, inclusive através de citações de exemplos sonoros como auxiliares para a operacionalização da classificação na sua pretendida aplicação à amostra de textos multimídia selecionados.
Enquanto as modalidades do sonoro estavam sendo redefinidas, as modalidades verbais e visuais já iam sendo aplicadas à amostra. Os resultados dessa aplicação já foram redigidos num longo relatório.
No tempo que ainda resta para o desenvolvimento da pesquisa, falta proceder à aplicação das modalidades da linguagem sonora, assim como sistematizar os tipos de misturas entre o verbal, visual e sonoro. Isso deverá ser feito até março de 1999.
Um desdobramento importante da pesquisa, para o qual estamos necessitando dos equipamentos que estão sendo requeridos neste processo multi-usuários, é a elaboração de uma hipermídia para a veiculação dos resultados do projeto via rede como parte do conjunto de pesquisas aqui apresentado para compor o primeiro material a ser disseminado através deste Instituto de pesquisa virtual sobre questões relativas ao mundo digital que estamos pretendendo criar.
8. Bibliografia referida
A bibliografia deste projeto é muito extensa. Por limitação de espaço só serão indicados os títulos referidos.
- Koellreutter, H.J. (1988-90). A Estética do Impreciso e do Paradoxal. Apostila do curso ministrado no Instituto de Estudos Especiais da USP, de 1988 a 1990.
Santaella Braga, Maria Lucia (1980). Por uma classificação da linguagem escrita. Em Produção de Linguagem e Ideologia. São Paulo: Cortez editora, 2a. edição revista e ampliada, 1996.
---------------------------- (1988). For a classification of visual language. Em Semiotica 70-1/2, 59-78. Berlin: Mouton de Gruyter. A versão desse texto em português aparece na Revista FACE, volume 2, número 1, 43-67, São Paulo: EDUC, 1989.
--------------------------- (1990). For a classification of verbal discourse. Em Acciones Textuales, 1, México.
DADOS SOBRE O PROJETO PRINCIPAL No. 2
NOME DO RESPONSÁVEL: Philadelpho Menezes
TÍTULO DO PROJETO: Práticas e Políticas de Tecnologias Comunicacionais na Cultura Globalizada
O projeto abaixo descrito é um projeto coletivo, sob a coordenação geral do prof. Philadelpho Menezes. O projeto envolve 4 professores doutores, a saber:
Prof. Philadelpho Menezes (Associado Doutor PUC/SP)
Sub-tema: "Processos comunicacionais multimídia: da prática à teoria de seus efeitos na globalização da cultura"
- Prof. José Luiz Aidar Prado (Assistente Doutor PUC/SP)
Sub-tema: "Da cibernética ao virtual: para uma teoria crítica da globalização"
- Prof. Renato Cohen (Assistente Doutor PUC/SP)
Sub-tema: "Performance e rede: estudo de mediações, narrativas e suportes na cena globalizada"
- Prof. Wilton Azevedo (Mackenzie/SP, pós-doutorando PUC/SP)
Sub-tema: "Hiperdesign: uma cultura do acesso"
Este projeto coletivo ainda integra vários pesquisadores de doutorado e mestrado. Alguns de seus sub-projetos estão descritos nos formulários referentes aos projetos secundários aqui anexados, aparecendo sob a indicação da Unidade de GT de Linguagens Tecnológicas. Essa unidade encontra-se sob a coordenação do prof. Philadelpho Menezes no programa de Comunicação e Semiótica da PUCSP. Além disso, este projeto também integra 5 bolsistas de iniciação científica.
INTRODUÇÃO
Cada vez mais as questões da comunicação global se põem no cerne das discussões da cultura contemporânea. Elas se apresentam diretamente ligadas a termos oriundos das áreas da estética, como "pós-modernismo" (cf. Featherstone, 1997), e da informática, de onde despontam as "novas tecnologias comunicacionais", e recaem sobre a reflexão política sobre o mundo contemporâneo.
O presente projeto coletivo, sob a coordenação de Philadelpho Menezes, procurará investigar esses três níveis imbricados com a comunicação globalizante: questões práticas das novas tecnologias; a estética e as novas formas comunicacionais; o papel político dessas práticas na sociedade atual.
Para tanto, fazem parte deste projeto dois professores doutores do Programa de Pós-graduação em Comunicação e Semiótica da PUC/SP (Profs. José Luiz Aidar Prado e Philadelpho Menezes), um professor que acaba de ser contratado pelo mesmo programa após concluir sua pesquisa de pós-doutoramento (Prof. Renato Cohen) e um professor doutor (Wilton Azevedo) da universidade Mackenzie, de São Paulo, em estágio de pós-doutorado no programa de Comunicação e Semiótica da PUCSP.
Na base de apoio técnico a esta pesquisa, encontram-se o Estúdio de Poesia Experimental (EPE) do P.P.G. Comunicação e Semiótica (equipamentos concedidos pela Fapesp em projeto do prof. Philadelpho Menezes, aprovado em 1996 e em funcionamento desde agosto de 1997) e o Laboratório de Expressão Visual da Universidade Mackenzie, numa atividade interinstitucional que qualifica o esforço transdisciplinar deste projeto. Como suporte teórico, este projeto coletivo encontra apoio no GT de Estudos sobre Globalização, inaugurado em outubro de 1997 junto ao P.P.G. Comunicação e Semiótica da PUC/SP, que reúne, além dos pesquisadores aqui envolvidos, outros professores e pós-graduandos do referido programa e participantes convidados de diversas outras áreas (economia, administração, relações internacionais, ciência política) para debate dos temas conectados à globalização, e no GT de Estudos da Performance, criado e coordenado pelo Prof. Renato Cohen junto ao mesmo programa no início de 1997, que transita das discussões teóricas à produção de espetáculos performáticos multimídia.
JUSTIFICATIVA
A sociedade contemporânea tem sido caracterizada cada vez mais a partir de postulados teóricos prioritariamente voltados para o papel da comunicação em sua índole global, integrativa e interativa, transformando a natureza da cultura e o próprio conceito tradicional de cultura (cf. ensaio "Crítica à ilusão antropológica", de Eduardo Neiva in Menezes, org., 1997, pp. 133-163). Se o processo de globalização não é inteiramente novo, podendo ser mapeado desde a expansão colonialista (cf. Roland Robertson in Featherstone, org., 1996, pp. 23-39), as características que lhe são típicas no período do pós-guerra são o desenvolvimento dos transportes e a explosão das tecnologias da comunicação, com a conseqüente expansão dos meios de comunicação de massa e o surgimento de novos meios híbridos como a internet.
Com isso, investigar a cultura contemporânea sem partir das novas bases comunicacionais que as delineiam é correr o risco de se afastar da análise científica. Por outro lado, buscar elaborar teoricamente os novos fenômenos da comunicação, sem ter por fundamento sua prática ativa em meio às novas linguagens, é correr o risco de formalizar um discurso arraigado em premissas equivocadas e irreais, mais próximo de elocubrações futurológicas e utópicas.
O presente projeto se fundamenta na fusão entre prática e reflexão teórica que vai do campo da atuação nas novas linguagens às indagações sobre seus efeitos na política e no cotidiano da cultura contemporânea. Partindo do funcionamento de dois estúdios que reúnem as linguagens multimídias (Estúdio de Poesia Experimental da PUC/SP e Laboratório de Expressão Visual do Mackenzie) e do uso das redes comunicacionais (internet, email), que ativarão a prática comunicativa em produtos estéticos e atividades teóricas dialógicas (explicadas em "Objetivos"), a pesquisa se mesclará com a investigação que vai dos conceitos envolvidos nessas novas linguagens às questões da globalização da cultura. Essas questões mais gerais, a partir daí, se impõem forçosamente em qualquer reflexão que queira entender o quadro da cultura hoje em suas possíveis novas formas de comunicação do pensamento, da sensibilidade e da estética.
OBJETIVOS
O presente projeto tem por objetivos gerais e integrados (os específicos estão detalhados em cada um dos projetos de que este conjunto se compõe) a produção de práticas comunicacionais em laboratórios tecnológicos (redes comunicacionais, multimídia) e a análise teórica de questões suscitadas por essas práticas e pelo debate geral sobre formas da comunicação global enquanto caráter definidor da cultura contemporânea.
As práticas comunicacionais serão realizadas em dois níveis:
1. produtos estéticos produzidos em parte ou integralmente em laboratório de tecnologias digitais (som e imagem), em que questões como a interatividade do usuário e a imaterialidade do produto comunicacional venham testadas e forneçam subsídios para as reflexões teóricas;
2. criação de um circuito comunicacional que coloque na rede os projetos individuais dos pesquisadores envolvidos no presente projeto coletivo. A finalidade é proporcionar a interação informacional com outros pesquisadores dentro e fora do programa de COS-PUC que queiram intervir nesses projetos. A idéia é abrigar em sites e endereços eletrônicos os projetos dos pesquisadores a partir do segundo semestre de 1998, expandindo-os para fora do circuito das salas de aula e também para além dos muros da universidade, chamando a um debate imediato do ambiente universitário em geral sobre os temas tratados. Uma das tarefas dos pesquisadores de IC no presente projeto é viabilizar esse contato em rede, organizando as mensagens recebidas, repassando-as aos participantes do curso, enfim, ativar o circuito comunicacional permanentemente.
As análises teóricas terão por objetivo aprofundar e problematizar questões centrais que vão se fixando no debate internacional como elementos definidores da sociedade da comunicação global e que têm se prestado a definições vagas, muitas vezes pouco fundadas em usos reais das tecnologias de comunicação, e contagiadas por um espírito quase místico-revelatório que podem esconder uma postura ideológica a ser devidamente investigada. Esses elementos são:
- conceitos de interatividade, imaterialidade e virtualidade e suas funções no processo comunicacional tecnológico;
- conceitos de estética informacional, performance, multimídia, hipertexto, utilizando-se o instrumental da teoria dos signos;
- conceitos de globalização, comunicação global e cultura global e suas relações com conceitos como "pós-modernismo", "pós-história" e "fim da história".
Assim, o presente projeto intenta mapear e debater, diante do quadro real da utilização possível de tecnologias na comunicação e em meio a um painel específico da cultura local, um espectro amplo de tópicos teóricos que vêm se sedimentando, de forma confusa e às vezes mesmo plana, no seio dos debates que transitam da informática à globalização da cultura.
BASES TEÓRICAS
Os fundamentos teóricos que organizam o percurso investigativo do projeto no seu perfil geral se assentam numa rede ampla de conexões que vão da teoria da comunicação à semiótica, passando pelas teorias da cultura formuladas na contemporaneidade sob impacto da globalização. Assim, podemos elencar alguns discursos norteadores da reflexão teórica do projeto coletivo no seguinte quadro:
- Estudos sobre redes telemáticas e virtualidade: Philippe Quéau, Pierre Lévy, Edmond Couchot, Nicholas Negroponte, Roy Ascott.
- Teoria dos signos na informação e na comunicação: Norbert Wiener, Isaac Epstein, Lúcia Santaella, Richard Lanham.
- Globalização e teorias da cultura contemporânea: Mike Featherstone, Arjun Appadurai, Gianni Vattimo, Jean-François Lyotard, Frederic Jameson, Nestor Garcia Canclini.
METODOLOGIA
Os projetos individuais, devidamente integrados ao projeto coletivo, se desenvolverão em pesquisas de índole prática (atividades de criação em linguagens e meios novos) e de índole teórico-investigativa, abrangendo tanto o caráter hermenêutico (análise e reflexão sobre textos) quanto o heurístico (tentativa de formulação de hipóteses teóricas a partir da prática e da hermenêutica).
As pesquisas de índole prática se desenrolarão a partir de duas direções:
- A. criação de produtos estético-comunicacionais em linguagem multimídia: 1. interrelacionados com poéticas experimentais intersígnicas (predominante no projeto do prof. Philadelpho Menezes); 2. interrelacionados com performance e presença corpórea do comunicador (predominante no projeto do prof. Renato Cohen); 3. interrelacionados com as artes visuais e o design gráfico (predominante no projeto do prof. Wilton Azevedo);
- A Criação de núcleos de interação dialógica - debates pela rede de tópicos de pesquisa desenvolvidos nos projetos.
As pesquisas de índole teórica serão desenvolvidas sobre o seguinte quadro temático:
- Questões sobre linguagem informática e virtual (multimídia, hipertexto, interatividade, imaterialidade);
- questões sobre a teoria dos signos e das linguagens produzidos na prática comunicacional experimental.
- questões sobre o impacto das tecnologias comunicacionais no processo de globalização da cultura e modificação de suas características.
DELINEAMENTO DOS QUATRO PROJETOS INDIVIDUAIS
1. Processos comunicacionais multimídia: da prática à teoria de seus efeitos na globalização da cultura
Responsável: Philadelpho Menezes
1.1. Objetivos
1.1.1. Produzir experimentos de poéticas comunicacionais multimídia em que as matrizes da verbalidade, visualidade e sonoridade estejam integradas não de uma maneira ilustrativa e referencial, mas num processo intersemiótico, em que se possam vislumbrar hipóteses de uma prática intermídia.
1.1.2. Analisar as formas de integração das matrizes da verbalidade, visualidade e sonoridade no âmbito de processos comunicacionais tradicionais (livro, tela, salas de espetáculo) para deduzir outros modos de combinações das matrizes em novas tecnologias comunicacionais.
1.1.3. Veicular os produtos experimentais em CD-Rom e via rede (internet) para testagem das práticas interativas do usuário/receptor.
1.1.4. Investigar as modificações ocorridas no processo comunicacional para caracterizar os diferentes níveis e tipos alcançados pelos experimentos estético-comunicacionais.
1.1.5. Analisar as teorias da cultura digital frente às observações tomadas da prática comunicacional para tirar daí conclusões sobre a validade e/ou alcance de conceitos como ‘interatividade’, ‘hipertexto’, ‘multimídia’ etc.
1.1.6. Discutir essas caracterizações para entender o impacto das novas tecnologias da comunicação nas formas de pensamento, imaginário e sensibilidade do homem contemporâneo.
1.1.7. Investigar os significados desse impacto no fenômeno da globalização da cultura, frente a conceitos binários como homogeneidade vs. heterogeneidade, globalismo vs. localismo, cosmopolitismo vs. turismo, religiosidade vs. misticismo.
1.2. Metodologia
Como todo processo investigativo que tem por base uma produção prático-criativa, a pesquisa se dará na composição indissociável entre um caráter empírico, inerente à produção de linguagens, e um caráter teórico que se nutrirá de dados da prática para a reflexão lógica.
É, contudo, importante salientar que o processo de criação será precedido de um amplo levantamento de material produzido em linguagem multimídia e interativa para se recolherem subsídios analíticos para a prática de criação a partir do que é apresentado hoje pelos produtores e pelo mercado.
De outra parte, a investigação teórica abrangerá necessariamente um lado hermenêutico, de análise das teorias produzidas sobre a temática da pesquisa, mas também se abrirá para o lado heurístico da teoria, na tentativa de formular, ao final do processo, novas abordagens teóricas sobre o tema da pesquisa, a partir das hipóteses formuladas no projeto.
2. Da cibernética ao virtual: para uma teoria crítica da globalização
Responsável: José Luiz Aidar Prado
2.1. Objeto e Objetivos da pesquisa
Esta pesquisa pretende investigar o fio condutor que leva da cibernética e da teoria dos sistemas ao virtual, ligando esse desenvolvimento aos ciclos sistêmicos do próprio capitalismo. Em outras palavras: trata-se de estudar a “ciência do controle”, desde seu surgimento até as temáticas pós-modernas do virtual, do hipertexto e do caos, a partir de uma análise que considere as mudanças ocorridas no sistema capitalista, ou no sistema-mundo. Além disso, como tal ‘desenvolvimento’ atua no campo da teoria da comunicação? Como realizar a crítica ideológica hoje? Ou ela teria perdido seu solo a partir das mudanças dos ciclos sistêmicos do capitalismo e de uma espécie de nascimento do ciberespaço? É possível ainda hoje falar em “crítica” do sistema e da cultura? Como pensar hoje uma teoria crítica da comunicação e da sociedade? A comunicação deve ser pensada hoje como um campo autônomo, isolado da história e da sociologia?
A partir desse campo de problemas acima situado, cabe então colocar a pergunta pela política: a intenção “política” das teorias da comunicação e da sociedade modernas está ausente na pós-modernidade? A “política” está morta? Responder a tais questões implica em teorizar a reviravolta que se deu por um lado nas configurações do sistema capitalista e por outro na cultura, na entrada do pós-modernismo, para melhor compreender o abandono assumido por grandes setores da teoria da comunicação de um aporte crítico construído a partir de questionamentos da ‘arquitetura’ da sociedade (entendida como uma totalidade).
2.2. Metodologia
Esta pesquisa é reflexiva, desenvolvendo-se na forma de ensaio teórico, a partir dos desafios propostos ao pensamento nos objetivos acima descritos. No contexto deste projeto coletivo de pesquisa temática, o papel desta pesquisa é o de repensar a teoria crítica da sociedade na fase multinacional do capitalismo, examinando os cortes temáticos a seguir, tendo por base o diálogo com os autores indicados:
2.2.1. O pós-modernismo e aspectos da ‘cultura’ e da ‘ideologia’ do capitalismo tardio: a partir de Mike Featherstone, I. Wallestein, G. Vattimo, A. Appadurai, G. Canclini, T. Eagleton, R. Bernstein, R. Rorty, J. Habermas, Arthur Kroker e F. Jameson.
2.2.2. A globalização da economia do sistema capitalista: principalmente com G. Arrighi, Chesnais e R. Robertson.
2.2.3. O desenvolvimento da cibernética, de N. Wiener aos cibernéticos sociais (R. Ackoff, R. Ashby, L. Bertalanffy, I. Epstein etc).
2.2.4. A teoria dos sistemas e sua problemática em relação ao ‘sentido’, a partir da discussão Habermas-Luhmann.
2.2.5. O virtual a partir de Lévy e de Deleuze; as questões trazidas pelas discussões relativas ao hipertexto; a discussão sobre o fim do livro a partir de Arlindo Machado e de Roger Chartier (as bibliotecas do futuro não precisam mais ter livros? O que isso significa? O que significa “história”a partir dessas considerações? Fukuyama estava certo?
2.2.6. A atual teoria do caos e os novos paradigmas na biologia e na física (Prigogine e Gould, entre outros a pesquisar).
2.2.7. A ideologia ontém e hoje; ideologia no paradigma crítico hoje (T. Eagleton, S. Zizek, G. Therborn, Adorno, P. Dews, L. Althusser, M. Pêcheux, P. Bourdieu, F. Jameson, A. Giddens).
2.2.8. A teoria crítica da sociedade ontem e hoje: as discussões de Adorno e Habermas com Popper no âmbito da disputa acerca do positivismo nos anos 60 e a questão da tecnologia e da sociedade hoje: o que significa “crítica” hoje?
3. Performance e rede: estudo de mediações, narrativas e suportes na cena globalizada
Responsável: Renato Cohen
3.1. Objeto e Objetivos
Partindo das relações axiomáticas da Performance -- atuação, textualização e comunicação, mediação entre atuantes e recepção -- a pesquisa visa reinscrever essas relações no contexto da cultura tecnologizada e globalizada.
Focando as relações contemporâneas entre a produção da aisthèsis e as mediações da teckhné, o trabalho busca objetivar as passagens entre os contextos da tradição (sociedades oralizadas, escritura textual) à nomeada cibercultura. Nessa passagem, o estudo visa às atuações que transitam da corporeidade ou presença para a virtualização; às textualizações que passam da oralização para a preponderância das signagens híbridas, imagéticas de natureza intersemiótica; à ampliação da mediação e da prismação da recepção em ambientes que incluem redes telemáticas, ou seja, a nova recepção dialogada e autoral, viabilizada pela interatividade.
Nessa ordem, o texto irá, ele próprio se alçar à condição de hipertexto, matriz de discursos simultâneos, a gênese criativa e a autoria operando em interescrituras coletivas, a performance, elocução de presença e fixação de mensagem, ganhando dimensionalidade. Os conceitos de espaço, tempo e memória redimensionam-se nas operações digitais da rede, alçando-se ao hiperespaço, hipertempo e memória coletiva interativa. O próprio estatuto do artista tem sua função alterada, passando de produtor de texto (paradigma Modernista) à de criador de contextos
As novas tematizações da questão performativa oscilam entre os pares presença e imaterialidade (nomeados por Deleuze como atualidade e virtualidade), corporeidade e fugacidade, continuidade e descontinuidade, singularidade e multiplicidade, unicidade e hibridização.
3.2. Metodologia
O método da pesquisa articula-se na produção de material criativo a ser produzido na investigação de novos suportes tecnológicos para a performance. Essa criação investigativa funcionará como retroalimentação para a pesquisa reflexiva, de acordo com os seguintes passos:
3.2.1. Performance e interatividade
Discussão da atividade performativa no seu espectro comunicacional, estético e cultural no âmbito das novas tecnologias. Estudar as alternâncias entre presença e virtualização e as ontologias do espaço e da temporalidade. Nessa direção, o fenômeno da performance será observado na égide do ciberespaço (espaço da rede), de um hipertempo, tempo das simultaneidades, da superposição.
3.2.2. Estudos de mediação
Estudar as passagens contemporâneas das mediações primárias (corporiedade, fixação espaço-temporal, vocalização) para as mediações terciárias que implicam em virtualização, prismação, disjunção e retorritorialização.
3.2.3. Pesquisa de suportes e ambientes de rede
3.2.3.1. Performance e rede. Aplicações dos modelos deleuzianos à rede: rizoma, cobra, corpo sem órgãos, máquina e dispositivo.
3.2.3.2. Combinação de performances em presença com cenários virtualizados.
3.2.3.3. Contexto multimídia. Performances superpostas a emissões multimidiáticas, combinado vídeo, animação 3D, instalação e uso de sensores.
3.2.4. Textualização: hipertexto e narrativa contemporânea.
Estudo da gênese criativa e dos procedimentos de escritura e narratividade na expressão contemporânea, buscando delinear sintaxes operativas. Testar os seguintes formatos de textualização como emblemáticos da rede:
3.2.4.1. Hipertexto e intertexto (fusão de enunciadores e códigos de linguagem).
3.2.4.2. Texto ideograma (o texto palimpsesto, fusão de antinomias).
3.2.4.3. Texto partitura (o texto storyboard, inscrição do texto espetacular, codificando deslocamentos, sonoridades, imagens, intensidades e sincronias).
3.2.4.4. Escritura em processo (procedimento narrativo com autoria difusa, incorporando acaso, deriva e sincronicidade).
3.2.4.5. Parataxe e escritura descentralizada (procedimentos do CD-Rom com matriciação de significantes que não operam em encadeamento sintático.
3.2.5. Arquês e mitemas contemporâneos
Estudo das novas geografias míticas no mundo globalizado.
4. Hiperdesign: Uma cultura do acesso
Responsável: Wilton Azevedo
4.1. Objetos e objetivos
Com o surgimento das novas mídias digitais, conceitos de natureza diacronica como forma-função e emissor-receptor não apenas têm de ser reformulados como também testados nos novos processos cognitivos digitais que aqui estou chamando de interface design.
Esta reformulação de conceitos não é necessária apenas pelo caracter híbrido, verbo-visual-sonoro, predominante na linguagem multimídia, mas principalmente no que diz respeito à interatividade, que fez desaparecer a idéia de signo pronto nas mensagens.
A interatividade potencializa a mensagem acrescentando a ela sempre um novo formato, o que introduz a noção do não acabado. No sentido de ampliar o conteúdo conceitual do design interativo, esta pesquisa propõe uma análise da imagética digital e o desenvolvimento de uma possível forma de escritura ambiental virtual que estou chamando de Hiperdesign.
No contexto dessa problemática, esta pesquisa tem por objetivo a criação de um produto multimídia, reavaliando os conceitos de design dos meios analógicos, para que o texto, a imagem e o som ganhem um corpo sígnico multidisciplinar e interativo. Minha proposta com o hiperdesign é a de desenvolver uma nova cultura do acesso e do trânsito digital, criando um conceito de roteiro imagético, no âmbito da criação poética e artística.
4.2. Metodologia
Na interação entre criação e reflexão crítica esta pesquisa seguirá os seguintes passos:
4.2.1. Levantamento dos conceitos tradicionais de design impresso.
4.2.2. Elaboração de uma nova concepção de roteiro, tendo em vista a interatividade.
4.2.3. Criação de ambientes para o conceito de imersão.
4.2.4. Elaborar novos conceitos de leitura para o meio digital, executando um produto que servirá de referência para essas questões, num percurso metodológico não apenas teórico, mas que leve em conta a praxis contida no exercício semiótico.
CRONOGRAMA DE EXECUçãO DOS PROJETOS
O cronograma obedece ao roteiro geral abaixo:
Primeiro semestre (ago/98 a fev/99):
- levantamento de material produzido em computação e multimídia
- levantamento de material bibliográfico
- elaboração dos projetos de trabalhos de criação
- investigação de novos programas para utilização nos projetos de criação
- desenvolvimento dos debates junto ao GT de Estudos da Globalização do P. P.G. Comunicação e Semiótica
Segundo semestre (março/99 a julho/99):
- continuidade do levantamento de material teórico e investigação dos pontos teóricos de debate
- primeira fase de realização dos trabalhos de criação
- continuidade dos debates junto ao Núcleo de Estudos da Globalização do P. P.G. Comunicação e Semiótica
Terceiro semestre (agosto/99 a fev/2.000):
- continuidade do levantamento de material teórico e investigação dos pontos teóricos de debate
- segunda fase de realização dos trabalhos de criação
Quarto semestre (março/2000 a julho/2000):
- amostragem dos trabalhos para estudo dos efeitos e práticas da interatividade, em mostras ou exibição
- realização de um Seminário pela Rede sobre os temas propostos pelas pesquisas em fase de conclusão;
- redação dos ensaios finais concluindo as pesquisas.
APRESENTAÇÃO DE RESULTADOS
Os resultados das pesquisas do projeto serão apresentados nas seguintes formas:
- Seminário virtual (pela rede), sobre temas trabalhados nas pesquisas, de que participarão convidados do Brasil e do exterior pela intervenção dialógica, a ser realizado nos últimos meses do último semestre;
- CD-ROM que reunirá os produtos criativos em linguagens multimídia produzidos nas pesquisas e um resumo dos debates do seminário virtual;
- Ensaios produzidos por cada um dos pesquisadores do projeto integrado que serão colocados na internet, bem como deverão vir publicados em livro (contatos preliminares com editoras Experimento e Hacker).
Atividades de bolsistas de iniciação científica
Em vista das necessidades de uma equipe auxiliar que viabilize a parte técnica da produção dos trabalhos e visando integrar ao projeto pesquisadores que se iniciam na graduação, os bolsistas de IC realizarão as seguintes atividades:
- produção dos trabalhos em CD-ROMs nos projetos de performance interativa (Prof. Renato Cohen), design computacional (Prof. Wilton Azevedo) e poemas interativos (Prof. Philadelpho Menezes);
- organização e colocação em rede dos projetos e eventos abertos também à interação dialógica com o ambiente acadêmico extra-PUC;
- organização de um arquivo em rede do material pesquisado, dentro do site do P.P.G. Comunicação e Semiótica
- auxílio na organização do Seminário final que discutirá os resultados das pesquisas, no final do primeiro semestre de 2.000.
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
. Appadurai, Arjun (1996): Modernity at large, Minneapolis: University of Minnesota Press.
. Canclini, Néstor Garcia (1996): Consumidores e cidadãos: conflitos multiculturais da globalização, Ri de Janeiro: Editora UFRJ.
. Costa, Mario: O sublime tecnológico, São Paulo: Experimento: 1995.
. Couchot, Edmond (1988): Images de l'optique au numérique: les arts visuales et l'evolution des tecnologies, Paris: Hermés.
. Domingues, Diana (org.) (1997): Arte no século XXI - A humanização das tecnologias, São Paulo: Unesp.
. Epstein, Isaac (1973): Teoria da informação, São Paulo: Ática.
. Featherstone, Mike (1997): O desmanche da cultura, São Paulo: Sesc/Nobel.
. Featherstone, Mike e Burrows, Roger (1995): Cyberspace, cyberbodies and cyberpunk - Culture of technological embodiment, Londres: Sage.
. Jameson, Frederic (1996): Pós-modernismo - A lógica cultural do capitalismo tardio, São Paulo: Ática.
. Lanham, Richard (1993): The Eletronic Word - Democracy, technology and arts, Chicago: University of Chicago Press.
. Lévy, Pierre (1994): As tecnologias da intelegência, Rio de Janeiro: 34.
. Lyotard, Jean-François (1990): O inumano, Lisboa: Estampa.
. Melo e Castro, E.M. de (1989): Poéticas do meio e arte high tech, Lisboa: Vega.
. Menezes, Philadelpho (org.) (1997): Signos Plurais - mídia, arte e cotidiano na globalização, São Paulo: Experimento.
. Negroponte, Nicholas (1995): A vida digital, São Paulo: Cia. das Letras.
. Parente, André (0rg.) (1993): Imagem/Máquina - A era da tecnologia do virtual, Rio de Janeiro: 34.
. Quéau, Philippe (1986): Éloge de la simulation. De la vie des langages à la synthese des images, Paris: Champ Vallon.
. Santaella, Lúcia (1996): Cultura das mídias, São Paulo: Experimento.
. Vattimo, Gianni (1997): O Fim da modernidade, Lisboa: Presença.
. Wiener, Norbert: Cibernética e Sociedade - o uso humano dos seres humanos, São Paulo: Cultrix.
DADOS SOBRE O PROJETO PRINCIPAL No 3
NOME DO RESPONSÁVEL: Arlindo Machado
TÍTULO DO PROJETO: Eisenstein Multimídia: investigações sobre o livro eletrônico
1. Colocação do problema a ser pesquisado
A investigação ora proposta dá continuidade a uma pesquisa já finalizada sob o título de ‘O Livro Eletrônico como Instrumento de Pesquisa e Divulgação na Área de Comunicação’. Este novo projeto visa definir um conjunto de reflexões teóricas e/ou teórico-práticas que possam servir de base conceitual para um projeto mais amplo e coletivo de elaboração de livros eletrônicos, atualmente em fase de implantação nos Núcleos de Linguagens Visuais, Sonoras e Verbais junto ao Programa de Estudos Pós-graduados em Comunicação e Semiótica da PUC/SP. Essas investigações todas buscam encontrar uma saída para um problema específico dos pesquisadores que lidam com linguagens áudio-visuais, qual seja a inexistência de uma metalinguagem ideal para trabalhar conceitual e criticamente com meios contemporâneos como o cinema, o vídeo, a televisão ou as novas mídias digitais. Utilizando, num primeiro momento, o CD-ROM como suporte para um novo tipo de reflexão (mais tarde, cogita-se utilizar também a rede WWW), tem sido possível incluir no texto de análise materiais não necessariamente verbais, como fragmentos de filmes e vídeos, trechos de música ou de depoimentos orais e animações produzidas em computador. O mais interessante é que, no CD-ROM, tudo isso pode ser articulado numa nova modalidade de discurso, onde o texto verbal continua a ter uma certa proeminência, mas divide com os outros meios a função significante do texto científico global.
Nesse sentido, o Programa de Comunicação e Semiótica editou, em 1995, uma primeira experiência com livro eletrônico, o CD-ROM Ensaios sobre a Contemporaneidade, de autoria do próprio responsável por esta pesquisa, onde a reflexão sobre cinema, vídeo e televisão contemporâneos é articulada com fragmentos dos próprios materiais analisados.
O projeto O Livro Eletrônico, ora em fase de elaboração, propõe uma reflexão mais funda sobre o que poderia ser um livro da era das comunicações áudio-visuais, sobre que formas ele poderia assumir dentro de uma sociedade cada vez mais informatizada e como poderia ele contribuir para a evolução dos métodos de pesquisa dentro do campo que nos interessa aqui, ou seja, no terreno da reflexão sobre os meios áudio-visuais de comunicação. Mas essa reflexão é ainda teórica. O que propomos agora é contrabalançar essa investigação teórica com a formulação prática de uma experiência concreta de livro eletrônico, uma investigação exaustiva, que leve às últimas conseqüências os conceitos que estamos tentando formular no plano teórico. Assim, a reflexão poderia estar suportada e alimentada por uma prática concreta, que seria conduzida em nossos Laboratórios de Linguagens Visuais e Sonoras, enquanto, por outro lado, ela poderia providenciar a base conceitual capaz de dar significado e alcance à intervenção prática. Em suma, trata-se de, a partir de uma experiência já em processo, refletir sobre os rumos que o texto científico toma (sobretudo quando os cientistas começam a utilizar redes de computadores para discutir e difundir seus trabalhos) e, particularmente, sobre como a investigação sobre a comunicação áudio-visual pode se beneficiar com a incorporação de elementos áudio-visuais em seu próprio corpo conceitual.
Como tema desse livro eletrônico foi escolhida a obra escrita e filmada do realizador russo Serguei M. Eisenstein. A escolha se baseou numa série de fatores, dos quais podemos citar apenas os principais:
1.1. Já temos uma familiaridade com a obra desse realizador, uma vez que ele tem sido objeto de artigos, palestras e cursos que escrevemos ou proferimos ao longo dos últimos anos. Ademais, nosso interesse pela obra de Eisenstein nos permitiu acumular uma vasta bibliografia sobre o assunto, além da videografia completa do cineasta e ainda materiais correlacionados, como partituras musicais dos filmes, desenhos, croquis e storyboards, esquemas e maquetes dos cenários, fotografias da vida do cineasta e do seu período histórico, etc.
1.2. A obra de Eisenstein é perfeita para aquilo que pretendemos elaborar, porque ela compreende uma produção fértil num leque imenso de meios verbais, visuais e sonoros. Eisenstein tem uma produção teórica em arte e meios áudio-visuais que praticamente não encontra termos de comparação com nenhum outro realizador conhecido. Sua produção plástica (sobretudo desenhos) é imensa e inclui estudos de figurinos, de cenografia, de expressões faciais, de gestualidade, etc. Eisenstein foi decorador, pintor, diretor de teatro, encenador de ópera, realizador de filmes, professor, escritor, orador e político. Conhecia cerca de vinte línguas diferentes (incluindo japonês e chinês), lia partituras musicais e era um profundo leitor de filosofia. Em resumo, trata-se de um autor multimídia completo, já bem antes do termo entrar em circulação e a sua obra presta-se à maravilha a uma abordagem multimidiática.
1.3. Nos últimos anos, a obra de Eisenstein vem sendo reavaliada em função de seu papel antecipador no que diz respeito aos novos meios eletrônicos e digitais. Eisenstein foi um dos primeiros a escrever sobre televisão (antes da comercialização desse meio) e de prever a sua hegemonia sobre os meios áudio-visuais. Ele previu também a montagem eletrônica, a navegação hipermidiática e a imagem digital. Seu conceito de "montagem vertical" é hoje largamente utilizado nas áreas da vídeo-arte e da computer art. Seu projeto A Casa de Vidro já era uma primeira formulação embrionária de uma obra permutativa e não-linear, tal como hoje se concebe no universo da hipermídia. Nesse sentido, adotar Eisenstein para um projeto de livro eletrônico é o que se pode definir como uma perfeita adequação entre forma e conteúdo.
2. Justificativa
Está se tornando cada vez mais patente a crescente importância dos meios técnicos nas sociedades modernas, não só para as atividades da vida cotidiana, com suas diversas modalidades de entretenimento, mas também para os processos de ensino-aprendizagem, para as formas de registro e síntese da realidade e, conseqüentemente, para as suas utilizações com fins científicos. Neste último campo, especialmente, pode-se dizer que os avanços nos modos de compreensão dos fenômenos têm acompanhado pari-passu os avanços nas formas de captação e síntese de sons e imagens.
A pesquisa Imagens Técnicas: do Mundo Mecânico-Industrial ao Mundo Eletrônico Pós-Industrial, que pioneiramente iniciamos no Programa de Estudos Pós-graduados em Comunicação e Semiótica há onze anos, com financiamento da FINEP, na sua terceira parte, propunha desenvolver o estudo comparativo dos modos de produção, execução e recepção das diversas espécies de imagens, desde as artesanais até as técnicas. Dentro das imagens técnicas, seriam investigadas desde as imagens fotográficas, passando pelas cinematográficas, até as videográficas. Então, dentro do vídeo, seriam estudadas desde suas formas correntes até as imagens sintéticas. E nestas, por fim, tanto a computação gráfica convencional quanto as imagens fractais. No nosso modo de entender, quanto maior a variedade da gama de imagens sob exame, maior seria o aprofundamento qualitativo da pesquisa, visto que a comparação dos modos de produção, recepção e dos efeitos que as imagens estão aptas a provocar deveriam iluminar-se mutuamente.
Damos início agora a um novo desdobramento dessa pesquisa geral, que é uma espécie de espinha dorsal das atividades intelectuais: trata-se agora de buscar compreender como as novas tecnologias da comunicação e sobretudo as novas modalidades de metalinguagem áudio-visual podem contribuir para o avanço da indagação sobre os rumos do saber humano para o futuro. Sabemos que um número crescente de revistas especializadas não é mais editada em papel, mas encontra-se agora disponível on line para assinantes dotados de um modem, uma linha telefônica e acesso a redes internacionais tipo Internet. Muitos clássicos da literatura e ensaios científicos já são hoje disponíveis em disquetes e podem ser lidos diretamente na tela de monitores, havendo ainda, em muitos casos, recursos para grifar trechos, marcar páginas e fazer anotações à margem, bem como para imprimir trechos selecionados. A mais nova geração de editores de textos já não pode mais ser encarada como uma mera ferramenta para auxiliar a escrita, mas como uma mídia nova, completa em si mesma, uma vez que permite acrescentar aos textos um certo número de elementos áudio-visuais (voz oralizada, música, imagens em movimento) que não podem mais ser impressos em papel.
Discos laser (CD-ROMs) já são atualmente veículos poderosos de informação, não apenas pelo impressionante volume de textos que se pode neles armazenar, mas também por seus recursos inovadores, tais como a possibilidade de localizar rapidamente qualquer palavra ou conceito, de produzir elos de ligação entre diferentes partes dos textos, de modo a permitir uma leitura não linear, ou de recorrer também a fontes não verbais, tais como sons e imagens fixas ou em movimento. Só a título de exemplo: um dos títulos lançados no mercado internacional -- Great Literature Personal Library (1992) -- consiste, na verdade, em uma biblioteca inteira, condensada em um único disco CD-ROM e reunindo quase 2.000 obras dentre as mais importantes do pensamento ocidental, onde se incluem os textos completos da Ilíada e da Odisséia, os romances, livros de poesia e peças de teatro que se impuseram como seminais na história da literatura (algumas obras literárias são declamadas oralmente), as obras filosóficas, científicas e religiosas que alteraram o rumo da história, e tudo isso pode ser localizado rapidamente por palavras-chave, por frases, por assunto, por temas recorrentes, por autor, por época, por correntes literárias ou por títulos.
Que impacto essas mudanças todas produzirão sobre o nosso próprio pensamento, sobre o nosso modo de pesquisar, de trocar idéias, de discutir e de difundir o pensamento? Essa é a indagação básica para a qual estamos tentando buscar respostas tanto na pesquisa teórica em andamento, como na pesquisa prática ora proposta.
3. Objetivos
3.1.. Investigar como se dá o processo de formação do sentido nas novas linguagens híbridas agrupadas sob a rubrica genérica da multimída.
3.2. Promover um balanço atualizado da contribuição de S. M. Eisenstein ao universo da cultura e das mídias contemporâneas, levando em consideração sobretudo seu papel pioneiro na definição dos novos recursos de linguagem possibilitados pelos meios eletrônicos
3.3. Estudar as mudanças no comportamento inventivo e nos processos de criação a partir do surgimento de mediações tecnológicas cada vez mais sofisticadas, que exigem do criador uma interação com a máquina e com os processos técnicos.
3.4. Sistematizar subsídios para a reflexão sobre e a produção de livros eletrônicos.
4. Tópicos da pesquisa sobre Eisenstein
4.1.. As relações de Eisenstein com a Revolução Russa de 1917
- Eisenstein no Exército Vermelho
- O período "vermelho" (A Greve, Potemkin)
- O período de críticas e perseguições (Outubro, O Velho e o Novo, Que
Viva México!, O Prado de Bejin)
- A "conciliação" (Alexandre Névski, Ivan I)
- Novas crises e ameaças (Ivan II)
- Ivan, o Terrível e a imagem do stalinismo
4.2. A experiência teatral de Eisenstein
- o conceito de "teatro de atrações"
- o Proletkult e a influência de Meyerhold
- a crítica ao método de Stanislavsky
- o sistema fisionômico de Lavater e a ginastica expressiva de Bode
- o primeiro filme: O Diário de Glumov
4.3. O conceito eisensteiniano de montagem
- a dialética no cinema
- montagem através de conflitos
- montagem polifônica ou vertical
- A montagem em O Encouraçado Potemkin
4.4. O cinema conceitual
- o projeto de filmar O Capital
- as associações intelectuais em Outubro
- metáforas e metonímias em O Velho e o Novo
- os jogos de oposições em Alexandre Névski
- o princípio cinematográfico e o ideograma
4.5. Antropologia áudio-visual
- os totens animados em Que Viva México!
- o pensamento "pré-lógico" e sensorial
- as leituras antropológicas de Eisenstein
- o monólogo interior
- carnavalização e paródia
4.6. O êxtase, a natureza não-indiferente
- erotismo em O Velho e o Novo
- Eisenstein e a psicanálise
- a atividade gráfica de Eisenstein
- anti-clericalismo e a relação com o sagrado
5. Metodologia
A pesquisa parte de uma reflexão teórica, com base na bibliografia levantada, sobre a obra do realizador russo Serguei Eisenstein, e de um levantamento o mais completo possível de sua produção escrita, pictórica e cinematográfica, com vistas a dar forma multimidiática aos resultados obtidos.
No seu aspecto técnico, a tradução multimidiática será realizada com os equipamentos de que dispõe hoje o Programa de Comunicação e Semiótica e que deverão ser atualizados. Para essa atualização, estamos contando com o atendimento a este pedido de auxílio multi-usuários. Vale observar que o Programa já acumulou alguma experiência no campo da produção de aplicativos multimídia e conta atualmente com um grupo de pesquisadores em condições de trabalhar com hipermídia, sobretudo graças às disciplinas "Multimídia: teoria e Prática", lecionadas pelo proponente desta pesquisa.
Nessa disciplina, foram delineadas as características definidoras da linguagem hipermidiática e discutidos os desafios fundamentais envolvidos na sua produção, tendo em vista o levantamento, de um lado, dos problemas que devem ser evitados, tais como os clichês na utilização acrítica dos softwares, o uso de uma nova mídia à luz de recursos que são próprios de mídias anteriores, de outro lado, das tendências que devem ser seguidas, entre elas, principalmente a descoberta dos potenciais de uma nova mídia e de suas linguagens.
À luz dessa experiência anterior, o grande desafio que este projeto ora proposto se dispõe a enfrentar será verificar e experimentar as possiblidades de construir um texto verbo-áudio-visual, que seja capaz de dar conta das implicações do pensamento de Eisenstein sem privilegiar exclusivamente a linguagem verbal. É neste ponto que a semiótica entra como teoria e método mais adequados para lidar com a intersemiose dos fenômenos multimidiáticos, conforme será explicitado a seguir.
O pressuposto de toda investigação semiótica (que traça a sua diferença em relação a outras modalidades de investigação) está na postulação de que não há mecanismo de pensamento que prescinda do uso de signos, o que quer dizer: não há pensamento possível sem signos. Vale observar que esse postulado fundamental da teoria anti-cartesiana de C. S. Peirce foi bastante desenvolvido nos aspectos práticos que ele envolve, quando se trata das linguagens hipermidiáticas, no livro de Pierre Lévy, Ideografias Dinâmicas, do qual serão extraídos caminhos de operacionalização do método semiótico.
De um lado, na sua dimensão epistemológica, estudar a variedade dos signos é dar também subsídios para o estudo das formas de pensamento e, conseqüentemente, para o estudo dos mecanismos de raciocínio e métodos de investigação. Nessa medida, a semiótica, entendida como ciência de todos os tipos de signos, dá alicerce a toda e qualquer investigação sobre o pensamento, o raciocínio e o método.
Na sua dimensão operacional, ao se propor como uma teoria geral de todas as possíveis espécies de signos e de seus modos de significação, a semiótica peirceana acaba chegando a um sistema classificatório altamente rigoroso dos tipos fundamentais de signos e das combinatórias possíveis entre esses tipos, constituindo-se, assim, no instrumental teórico-metodológico melhor equipado para a descrição, análise e avaliação dos processos de comunicação em geral, instrumental este adaptável, através das mediações necessárias, para a investigação imanente dos processos comunicativos homem-homem, homem-máquina e máquina-máquina. Por apresentar os meios necessários para a descrição dos códigos, das estruturas, relações e procedimentos sígnicos das mais diversas classes, a semiótica nos fornece subsídios para a análise e operacionalização de procedimentos para o tratamento de mensagens verbais, não verbais e de todas as suas misturas.
6. Fundamentação teórica
"A idéia de que o conhecimento é essencialmente um saber de livros -- já afirmou Marshall McLuhan (1972: 113) -- parece ser muito uma noção da época moderna, provavelmente derivada da distinção medieval entre clérigos e leigos, que veio dar nova ênfase ao caráter literário e um tanto estravagante do humanismo do século XVI". McLuhan é bastante conhecido pelo fato de ter sido um dos primeiros intelectuais a denunciar o caráter uniformizador e seriado do paradigma introduzido no ocidente pela imprensa de Gutenberg. Nossas instituições intelectuais, entretanto, ainda parecem se deixar embalar pelas idéias esdrúxulas de que o conhecimento encontra-se associado exclusivamente ao modelo conceitual do texto impresso ou de que só se pode pensar com palavras, com palavras escritas preferencialmente. Persiste ainda largamente nos meios acadêmicos, sobretudo nas áreas das humanidades, uma tendência generalizada de confundir competência intelectual com talento para a escrita.
Algumas aulas de Jacques Lacan foram proferidas em programas de rádio e de televisão. A transcrição dos textos das aulas foram depois publicadas em livro (Lacan, 1974), mas poderíamos honestamente dizer que o texto impresso é mais legítimo do que os programas de rádio ou de televisão? Quantos livros impressos poderiam rivalizar em originalidade, extensão de pesquisas, profundidade de análise e autoridade científica com séries televisuais tais como Ways of Seeing, Inside the CIA: On Company Business, Planet Earth, The Power of Myth, Vietnam: a Television History, The Living Planet, Sur et Sous la Communication, El Arte del Video ou a brasileira América? Falando sobre a dificuldade dos nossos contemporâneos em entender como a Europa pôde produzir uma rica tradição literária num período em que o livro impresso ainda não existia, Henry-Jean Martin explica que, penetrados como estamos por uma cultura escrita, nossa imaginação não consegue ser suficientemente prodigiosa para compreender o mecanismo das culturas orais. "Parece, contudo, -- completa ele (Martin, 1992: 33) -- que, em nossa época, os novos meios de difusão não-escrita do pensamento, como são o cinema e sobretudo o rádio, deveriam ajudar-nos a conceber melhor o que pode ser, para milhões de indivíduos, uma transmissão de obras e de idéias que não mais use o circuito normal do texto escrito". Levando em consideração um conceito mais largo de livro (instrumento para dar consistência ao pensamento disperso e para ampliar o seu poder de influência dentro de uma sociedade), não poderíamos pois dizer que os filmes, os vídeos, os discos e muitos programas de rádio e televisão são os "livros" de nosso tempo?
Se considerarmos que as mídias dão continuidade, em nosso tempo, ao projeto histórico do livro, é preciso também considerar que, nesse mesmo movimento, elas também o transformam, redirecionando-o em função das novas necessidades do homem contemporâneo. O livro passa a ser pensado agora como dispositivo, como maquinaria, cuja função é não apenas dar suporte ao pensamento criativo, mas também colocá-lo em operação. Se antes considerávamos o livro como um recurso para colocar a memória do homem fora do próprio homem (dando-lhe assim maior poder de difusão e de permanência), memória todavia estática e resistente às mutações do próprio homem, podemos agora visualizá-lo como uma máquina no interior da qual o pensamento já está a laborar.
Foi o escritor espanhol José Ortega y Gasset quem propôs, em 1939, a idéia um tanto exótica do "livro-máquina". "O livro-máquina tem a finalidade de manter fora do homem, sem prejuízo de sua energia mental e, ao mesmo tempo, à sua permanente disposição, as informações necessárias sobre as diversas ordens do pragmatismo humano. Algumas obras científicas alemãs e inglesas já são hoje verdadeiros aparatos que funcionam quase que automaticamente (sobretudo graças à refinada técnica de seus índices" (Ortega y Gasset, 1967: 151). O primeiro grande exemplo de livro-máquina é o projeto da Enciclopédia de Diderot, iniciado no século XVIII: uma obra em 35 volumes (17 de texto, 11 de pranchas, 4 de suplementos, 2 de índice e 1 de suplemento de pranchas), fruto do trabalho de 150 especialistas, 4 livreiros e 1.000 operários, que deveria dar conta do essencial acumulado em termos de conhecimentos até a época de sua publicação. A grande novidade introduzida pela Enciclopédia foi o conceito de estruturação do(s) texto(s): tanto a ordem alfabética das entradas, quanto os índices de assuntos e as palavras-chave que remetem a outras partes da obra dão um sentido inteiramente novo ao livro: não se trata mais de uma obra para ser lida por inteiro, da primeira à última página, mas de um dispositivo de organização do pensamento, no qual se pode penetrar de forma não-linear, a partir de qualquer ponto e dele saltar para qualquer outro ponto, de modo a descobrir apenas aquilo que no momento estamos procurando. Em outras palavras, trata-se de um livro-farol, destinado a iluminar os caminhos e auxiliar o trabalho de navegação, livro ao qual devemos retornar a todo momento, como a uma bússola, como ao mapa de um terreno, sempre que decidimos traçar nosso próprio caminho.
O projeto da Enciclopédia influenciou profundamente a própria história do livro. Não apenas deu o modelo dos chamados livros de referência (dicionários, manuais e as próprias enciclopédias), como também contribuiu para um certo aperfeiçoamento da própria idéia do livro. Muitos livros hoje produzidos, sobretudo nas diversas áreas das ciências ditas exatas, utilizam procedimentos inspirados na Enciclopédia, como é o caso dos boxes de informações paralelas, ilustrações detalhadamente comentadas, glossários minuciosos, bem como índices analíticos e onomásticos sofisticadíssimos, que possibilitam entradas não-lineares no texto. Mas a idéia do livro-máquina teria que desembocar na máquina propriamente dita, no computador, onde daria nascimento a obras eletrônicas áudio-visuais e não-lineares, com acesso aleatório a qualquer de suas partes, dotadas de mecanismos de busca extremamente avançados (como os baseados na álgebra booleana), construídas sobre estruturas tridimensionais simultâneas (que permitem dispor vários textos na tela ao mesmo tempo, para leitura comparativa, ou abrir na tela "janelas" através das quais se pode visualizar outros trechos relacionados ao texto atualmente exibido), obras ainda que se pode distribuir e acessar por via telefônica ou por ondas eletromagnéticas, através de bibliotecas virtuais informatizadas.
As grandes teorias dos últimos quinhentos anos, bem como as explicações sistemáticas dos grandes pensadores e mesmo determinadas concepções filosóficas de verdade (fundadas sobre a objetividade e a universalidade) estiveram baseadas grandemente numa certa estabilidade e numa certa unicidade que, de alguma forma, o livro impresso garantia. Hoje, com o pensamento em permanente metamorfose, tudo isso nos parece excessivamente fixo e bem pouco operativo. A partir das escrituras hipertextuais, costuma-se dizer que o escritor, o crítico, o cientista já não mais "escrevem" textos; eles "processam idéias". Conforme Pierre Lévy (1993), o espírito humano conheceu, ao longo da história, três tempos distintos: o da oralidade (baseado na memória, na narrativa e no rito), o da escrita (baseado na interpretação, na teoria e na legislação) e, finalmente, o da informática (baseado na modelização operacional e na simulação como forma de conhecimento). "As teorias, com suas normas de verdade e com a atividade crítica que as acompanha, cedem terreno aos modelos, com suas normas de eficiência e o julgamento de pertinência que preside sua avaliação. O modelo não se encontra mais inscrito no papel, este suporte inerte, mas roda em um computador. É desta forma que os modelos são continuamente corrigidos e aperfeiçoados ao longo das simulações. Um modelo raramente é definitivo." (Lévy, 1993: 120).
Na verdade, a história do livro sempre esteve associada a dispositivos de escrita ou de leitura, de modo que a assimilação da idéia do livro à tecnologia do período não é privilégio de nosso tempo. Recordemo-nos de que, na Idade Média, a leitura do manuscrito exigia a invocação de todo um aparato técnico: não apenas era preciso recorrer a um sistema de cavaletes e alavancas, porque o livro era um volume demasiado amplo e pesado para ser manuseado (às vezes até com capas de ferro fundido e grandes fechaduras), como também o conceito de leitura era completamente distinto do que predomina hoje: ler era necessariamente ler em voz alta, o que exigia o concurso de uma cela ou de um cubículo fechado, de preferência à prova de som. Esta é a razão por que McLuhan (1972: 135) chamava o local de leitura dos monges medievais de cabines de som, algo muito semelhante às atuais cabines telefônicas.
A história do livro relaciona-se também, embora indiretamente, com as técnicas da mnemônica desenvolvidas pelos gregos antigos e consideradas por Cícero uma das cinco partes da retórica clássica. Tratava-se, então, de criar procedimentos de memorização através de recursos artificiais auxiliares, tais como a associação daquilo que deve ser memorizado com certos lugares ou imagens. Nos séculos que antecederam a invenção da imprensa, o treinamento da memória era considerado uma atividade de vital importância e dela dependia, em grande parte, a sobrevivência da ciência e da cultura. O excelente tratado de Frances Yates (1966) sobre a arte da memória traça o panorama histórico dos vários procedimentos utilizados por diferentes povos para incrementar o poder de fixação da memória, inclusive com a construção de cenários arquitetônicos ou teatrais destinados à atuação dos elementos mnemônicos. Ao longo desse panorama, destacam-se, já no Renascimento, dispositivos tão exóticos quanto engenhosos, como o teatro da memória de Giulio Camillo, os sistemas de memorização de Giordano Bruno e um outro sistema teatral creditado a Robert Fludd, a maioria deles ligados à tradição cabalística. Todos esses engenhos são mais ou menos contemporâneos da invenção da imprensa e, embora direcionados numa perspectiva diversa, visavam dar respostas a um mesmo tipo de problema, qual seja a necessidade de dispositivos mais eficazes de fixação da memória humana, inclusive em suportes externos, capazes de resistir à efemeridade do corpo do homem. Apenas a imprensa vingou historicamente, mas, como já observou Greg Ulmer (1991: 4), em nosso tempo, o desenho de aplicativos hipermídias em geral tem muito em comum com o projeto dos teatros mnemônicos do Renascimento hermético-cabalístico.
Resta uma última questão a examinar. Por que o livro impresso é substituído por dispositivos informatizados de leitura, por livros-máquinas ou livros eletrônicos interativos que trafegam em cabos telefônicos ou ondas hertzianas? Pode-se explicar esse fenômeno sob um enfoque econômico, como uma estratégia das multinacionais da eletrônica e da informática para monopolizar todos os mercados. Mas isso seria uma extrema simplificação. A verdade é que o universo do texto impresso chegou ao seu limite de saturação e hoje degenera em entropia, em virtude da dificuldade cada vez maior de gerar significados consistentes. O universo do livro se agigantou de tal forma que hoje padece de uma doença crônica, a elefantíase. No século XIV, às vésperas da revolução da imprensa, a biblioteca da Sorbonne, tida como a maior da Europa, contava com um acervo de 1.228 livros. Hoje, as maiores bibliotecas do mundo abrigam cada uma por volta de dez milhões de volumes. Só a Biblioteca do Congresso de Washington cataloga a bagatela de dez títulos novos por minuto! Estima-se que, hoje, em qualquer parte do mundo, uma biblioteca razoavelmente atualizada duplica de tamanho a cada 14 anos (Wurman, 1991: 219-35). Estamos nos aproximando perigosamente da biblioteca-monstro imaginada por Jorge Luis Borges. O corolário inevitável desses números é que se torna cada vez mais impossível a um ser humano normal manter-se em dia com o que se publica no planeta, mesmo que ele se limite apenas às três ou quatro línguas mais utilizadas para a comunicação internacional e mesmo que ele restrinja todas as suas leituras exclusivamente a uma área específica de especialização.
Em nosso tempo, precisamos de outra espécie de livros, de outra espécie de literatura, de outra espécie de revistas especializadas e de outra espécie de obras de referência. É preciso que os novos livros funcionem como máquinas, à maneira da Enciclopédia de Diderot, e sinalizem os seus caminhos, para que o leitor possa entrar facilmente em suas avenidas e encontrar rapidamente o que procura. É preciso que as obras estejam abertas à navegação do leitor, para que ele escolha livremente o seu percurso e faça suas próprias descobertas. É preciso que os dispositivos de pesquisa sejam ágeis e inteligentes, permitindo chegar ao conhecimento desejado com um mínimo de atropelos e sem constrangimentos de ordem geográfica, econômica ou institucional. É preciso ainda que os atuais e infindáveis exercícios de retórica sejam substituídos por textos condensados, dotados da precisão de um diagrama e da velocidade de um haicai. Acima de tudo, os novos livros deverão ser escritos em "camadas" ou níveis diferenciados de aprofundamento, aproveitando a estrutura tridimensional das escrituras hipertextuais, de modo que se possa fazer uma leitura apenas informativa, quando se quer somente saber do que se trata, mas também se possa mergulhar fundo na argumentação, se o interesse do leitor vai mais longe.
Para se chegar lá, mudanças estruturais profundas deverão ocorrer tanto no que diz respeito aos mercados editoriais, aos hábitos de leitura, à rotina acadêmica nas universidades e ao processamento de informações naquilo que hoje chamamos de bibliotecas. Bancos de dados inteligentes deverão substituir os inexpressivos fichários atuais; novos softwares ajudarão na tarefa de localizar, selecionar e compreender a informação; empresas de processamento oferecerão serviços especializados de resumos, sumários e pré-leitura; novos canais de distribuição, muitos deles on line, deverão condenar ao esquecimento as atuais livrarias. Tudo isso acontecerá mais cedo do que se imagina. Em alguns lugares do primeiro mundo, o perfil das bibliotecas já está mudando radicalmente. Em muitas delas, os livros estão sendo digitalizados e armazenados em CD-ROMs ou em gigantescas memórias on line, de modo a permitir o acesso remoto e a pesquisa a partir de qualquer palavra na língua-sede. Dentro de mais algum tempo, muitas bibliotecas não terão mais um único livro impresso para expor em suas prateleiras, se é que ainda terão prateleiras.
O movimento nesse sentido é irreversível. Uma quantidade cada vez maior de "livros" é editada em vídeo-cassetes, em disquetes ou em CD-ROMs e distribuídos em lojas de departamentos ou em birôs de artigos eletrônicos (uma vez que a maioria das livrarias se recusa a expô-los em suas estantes). Uma nova espécie de literatura emerge do limbo e promete surpresas jamais sequer sonhadas pelos poetas de outros tempos. Agrippa (1992), do novelista William Gibson e do artista gráfico Dennis Ashbaugh talvez seja a proposta mais provocativa nesse sentido: trata-se de um romance "efêmero", que vai sendo embaralhado e destruído por uma espécie de vírus de computador no mesmo momento em que é lido, de modo que você só tem uma única chance de conhecê-lo, se for suficientemente rápido. The Madness of Roland (de Greg Roach), aplicativo multimídia tido pelos especialistas como o primeiro romance interativo da literatura, éuma história medieval construída através de várias camadas de comentários e diferentes focos narrativos, de modo a permitir forjar narrativas distintas umas das outras, conforme o ponto de vista e o nível de comentário adotado. No terreno da literatura infantil, living books distribuídos em discos CD-ROM, tais como Mixed-up Mother Goose (de Roberta Williams) e Just Grandma and Me (de Mercer Mayer), não apenas juntam em um só contexto música, imagens animadas, texto escrito e voz oralizada em várias línguas, como também possibilitam construir histórias mutantes, que se modificam cada vez que se volta a elas. E se quisermos um exemplo brasileiro, basta lembrar o impressionante retorno da oralidade no CD registrado por Haroldo de Campos (1992), com a leitura de 16 fragmentos de suas Galáxias.
7. Cronograma
- 1o semestre: Término do levantamento bibliográfico. Exame dos principais aplicativos multimídia existentes. Início dos estudos sobre a obra escrita e filmada de Eisenstein. Planejamento do aplicativo multimídia a ser executado.
- 2o. semestre: Elaboração do texto básico do aplicativo. Seleção das imagens fixas relacionadas com a vida, obra e contexto do cineasta russo. Seleção dos trechos de filmes a serem utilizados. Seleção musical. Seleção e tradução dos textos de autoria de Eisenstein que serão colocados no apêndice. Elaboração da estrutura básica do aplicativo (diagramação e programação).
- 3o.semestre: Elaboração do aplicativo. Concepção dos mecanismos de navegação não-linear. Levantamento das hotwords (palavras de referência) necessárias ao texto. Estabelecimento das ligações (links) entre as palavras-chaves do texto, as imagens e os sons.
4o semestre: Finalização do aplicativo. Elaboração dos índices remissivos, dos índices de assuntos e dos mecanismos de busca automática. Elaboração de índices interativos de imagens, textos e sons. Elaboração do apêndice com textos complementares. Elaboração do programa de instalação. Teste e correções do aplicativo realizado.
Obs: Este projeto já se encontra em andamento, estando agora no seu segundo semestre de execução. Isso significa que as tarefas formuladas para o primeiro semestre da pesquisa já foram efetuadas.
8. Bibliografia
Faz parte do projeto uma bibliografia com mais de duas centenas de títulos. Por problemas de espaço, nos limitaremos à indicação apenas da bibliografia citada na redação do projeto.
- Borges, Jorge Luis. Discussão, São Paulo, Difel, 1986.
__________. Ficções, S. Paulo, Círculo de Livro, 1975.
- Chartier, Roger. A Ordem dos Livros, Brasília, UNB, 1994.
- Lacan, Jacques. Télévision, Paris, Éd. du Seuil, 1974.
- Lévy, Pierre. As Tecnologias da Inteligência, Rio de Janeiro, Ed. 34, 1993.
----------. A ideografia dinâmica. Rumo a uma imaginação artificial?. São Paulo: Loyola, 1998.
McLuhan, Marshall. A Galáxia de Gutenberg, São Paulo, Cia. Ed. Nacional, 1972.
Ortega y Gasset, José. Misión del Bibliotecario y Otros Ensayos Afines, Madrid, Revista de Occidente, 1967.
Ulmer, Greg. "Grammatology Hypermedia". Postmodern Culture (periódico on-line), v.1, n.2, january 1991.
Equipamentos multi-usuários
‘Projetos secundários’
No. Processo Multi-usuários: 98/09243-1
Nome do coordenador (projeto multi-usuários)
Dra. Maria Lucia Santaella Braga
Resumo dos outros projetos (secundários) que também se beneficiarão com a concessão
Quantos projetos pretende listar (máximo 12): 12
1a. Os conceitos fluidos de D. Hofstadter e a interação dos signos de C.S.Peirce: a construção de um diagrama dinâmico das classes de signos de Peirce
Esta pesquisa parte da detecção de pontos em comum entre a semiótica de Charles S. Peirce e a abordagem de processos cognitivos de Douglas R. Hofstadter. Trata-se de uma pesquisa teórico-prática onde os resultados de um mapeamento entre duas visões (uma de cunho teórico, outra de cunho experimental) sobre a cognição serão aplicados na construção de um modelo informático da interação dinâmica dos signos em Peirce. O ponto de partida para o segmento prático da pesquisa são os diagramas das classes de signos elaborados por Peirce e alguns de seus comentadores. Fazendo uso de tecnologias digitais, pretendo chegar a uma nova família de diagramas -- aos quais me refiro como ‘diagramas dinâmicos’ -- que sejam mais eficientes enquanto ferramentas para a investigação das relações entre as classes.
1b) Responsável: Priscila Farias
1c) Unidade: Centro de Estudos Peirceanos, Programa de pós-graduação em Comunicação e Semiótica-PUCSP.
1d) Agência financiadora: FAPESP.
1e) Duração. Início-término: 1998-2001.
1g) Valor concedido:
2a.Realidade Virtual: Uma História de Imersão
Esta pequisa tem dois lados indissociáveis, um teórico e outro prático. O primeiro pretende refletir sobre a natureza representativa própria à realidade virtual. Ambientes virtuais se referem a uma tecnologia capaz de transportar um sujeito a um espaço simulado, sem fisicamente movê-lo. O lado prático visa produzir um sistema de personagens em tempo real, um balé virtual. Pretende-se habitar um conjunto de dados, um ambiente telemático virtual cujas regras do jogo são a presença, o espaço, o tempo. A idéia de imersão que norteia o projeto deve ser entendida como maneira de penetrar virtualmente no mundo das imagens. Não se trata de substituir o real pelo virtual, mas efetuar uma operação de tradução intersemiótica do Ballet Triadique de Oscar Schlemmer para um sistema de animação de personagens em tempo real. Como meio de intelecção e orientação metodológica mais geral será utilizada a teoria semiótica de C. S. Peirce. A relação do artista com a matéria será discutida à luz da teoria do pensamento criativo proposto por Paulo Laurentiz, junto com alguns valores estéticos da Bauhaus, especialmente os de Schlemmer por entendermos que este desenvolve uma visão cibernética fundamental neste projeto.
2b) Responsável: Rejane Caetano Augusto Cantoni
2c) Unidade: Centro de Estudos Peirceanos, Programa de pós-graduação em Comunicação e Semiótica-PUCSP.
2d) Agência Financiadora: FAPESP
2f) Duração: Início-término: 1997-2000.
2g: Valor concedido:
3a) Novos Modelos Comunicacionais na Internet
A internet é uma nova mídia distinta das mídias de massa. Empresas de comunicação já estão ocupando essas novas fronteiras, mas o tem feito sem explorar as características do meio. A internet tem se tornado uma grande banca de jornais internacional e híbrida, que se limita a expor as informações já dadas pelas outras mídias, utilizando a rede de modo superficial e inconsistente. Este projeto visa analisar o que as poderosas empresas de comunicação estão realizando na rede em contraste com projetos de pequenos grupos que, dado o baixo custo de investimento necessário para entrar na rede, têm ocupado esse espaço comunicacional muitas vezes com projetos mais condizentes com o potencial da nova mídia do que os das empresas de comunicação tradicionais. Serão objetos de investigação desta pesquisa os projetos de internet dos principais jornais (Folha, Estado, Globo, J. do Brasil), as editoras de revistas (Universo on line, Abril/Folha), e alguns títulos específicos (Exame Informática); rádios (Globo, Bandeirantes, Deutsche Welle) e canais de televisão (Globo, Bandeirantes, etc.), contrastados com projetos de pequenos grupos mais autônomos. A fundamentação teórica vem dos atuais pensadores franceses das mídias, cuja fonte primária está em Deleuze e Guatarri, com seus conceitos de virtual, subjetividade, caosmose, dobra.
3b) Responsável: Marco Antonio de Carvalho Bonetti
3c) Unidade: Centro de Ciências Cognitivas e Semiótica, Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica-PUCSP.
3d) Agência Financiadora: CNPq
3f) Duração: Início-Término: 1998-2001.
3g) Valor concedido:
4a) A Interatividade da Mídia Digital como Fator de Mudança das Mídias Impressas
O alto grau de interatividade do meio digital vem produzindo ecos nos meios impressos que se viram obrigados a repensar o papel do leitor para se manterem competitivos na era dos multimeios. A hipótese que norteia esta pesquisa é a de que a interatividade permitida pela mídia digital cria no seu usuário a expectativa de maior interatividade também na mídia impressa. Já é possível se verificar em jornais e revistas novos espaços de interatividade com o leitor. Mesmo a figura do ombudsman vem sendo atropelada pela interação direta do receptor da informação e o reporter ou colunista que a veiculou, graças à praticidade do e-mail. Este projeto pretende investigar até que ponto a interatividade vem se transformando no novo parâmetro de validação de competência da mídia, através do exame de novos padrões de interatividade que estão surgindo na mídia impressa. Para isso, será realizada pesquisa de campo que inclue o estudo de documentos de empresas de comunicação, viabilização de novos projetos, visando detectar sinais de mudanças e reposicionamento do papel do leitor.
4b) Responsável: Milton Bellintani
4c) GT de Linguagens Tecnológicas do Núcleo de Linguagens Verbais, Pós-graduação em Comunicação e Semiótica.
4d) Agência Financiadora:
4f) Duração: Início-Término: 1998-2000
4g) Valor concedido:
5a) Dimensões da Interatividade na Internet
A interatividade é uma das características fundamentais da internet. Trata-se do que os engenheiros chamam de full-duplex, ou seja, um canal que permite o tráfego -- emissor-receptor -- nos dois sentidos simultaneamente. Hoje trafegam na rede mensagens com variados suportes tecnológicos, formatos que determinam condições de interatividade distintas. Além disso, a prática é independente das possibilidades da técnica, ora subutiliza seus recursos, ora extrapola suas limitações. A rica variedade de conteúdos disponíveis na rede constituem a matéria prima original desta pesquisa. Seu objetivo central é caracterizar os mecanismos da interatividade na internet, visando produzir uma tipologia da interatividade nesse meio. As hipóteses que guiam a pesquisa são: a interatividade na internet é um mecanismo complexo que não se ajusta a modelos articulados, mas sim à idéia de vetores; a internet potencializa a interatividade vis a vis aos mecanismos dos meios de comunicação anteriores; a interatividade é e continuará sendo a função primordial da internet. A metodologia colocará em diálogo as manifestações da interatividade documentadas com os conceitos levantados através de material bibliográfico.
5b) Responsável: Hermano José Marques Cintra
5c) Centro de Pesquisa em Ciências Cognitivas e Semiótica, Pós-graduação em Comunicação e Semiótica-PUCSP.
5d) Agência financiadora: PUCSP
5f) Duração: Início-Término: 1998-2000.
5g) Valor concedido:
6a) As Ferramentas de Multimídia na Construção dos Websites
A tecnologia multimídia está revolucionando os meios de comunicação e propaganda, pois reune, em um só ambiente e em um mesmo instante, várias formas de comunicação. O computador pode passar uma informação usando imagens estáticas ou dinâmicas, associadas a recursos sonoros como voz, música, ruídos que podem estar estruturados em hipertexto. A internet está habitada de web-sites (sítios) dos mais diversos tipos: educacionais, comerciais, publicitários, informativos que utilizam as ferramentas multimídias. A partir da seleção de uma amostra significativa de web-sites nacionais e internacionais, este projeto tem por objetivo fazer um levantamento e analisar os principais modos de utilização das ferramentas multimídia nos web-sites. O foco da análise estará voltado para a avaliação desses recursos em termos de exploração eficaz das novas
potencialidades que as ferramentas multimídia apresentam.
6b) Responsável: Sergio Joel de Menezes Ferreira Vaz
6c) Unidade: GT de Linguagens Tecnológicas do Núcleo de Linguagens Verbais, Programa de pós-graduação em Comunicação e Semiótica-PUCSP.
6d) Agência financiadora:
6f): Duração: Início-Término: 1998-2000.
6g): Valor concedido
7a) Processos de Comunicação no World Wide Web
Os Web-sites disponíveis na internet apresentam uma linguagem própria de comunicação com seus usuários. Essa nova linguagem híbrida nasce de uma combinação das linguagens da informática, de cinema, de televisão, de design, de oralidade, de escrita. Embora incorporem todas essas linguagens, os web-sites têm um perfil inteiramente próprio dada a interatividade que é característica fundamental da internet. Esta pesquisa tem por objetivo focalizar transformações de ordem comunicativa, quer dizer, do modo como a recepção ou consumo da linguagem dos web-sites interfere na própria produção dessas linguagens. Para isso, buscarei identificar e analisar os novos modos de recepção e consumo inaugurados pelas web-sites. Partindo da hipótese de que o consumo funciona nesse caso como feed-back para a produção, buscarei evidenciar a impossibilidade de se separar produção e consumo nos processos comunicativos nos web-sites, dada a geração que eles permitem da nova figura do ‘prossumidor’, consumidor que é, ao mesmo tempo, produtor de mensagens (Tofler e de Kerckhove).
7b) Responsável: Alexandre Campos Silva
7c) Unidade: GT de Linguagens Tecnológicas do Núcleo de Linguagens Vebais, Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica-PUCSP.
7d) Agência financiadora: PUCSP
7f) Duração: Início-Término: 1998-2000.
7g) Valor concedido:
8a) Hipertexto Jornalístico: O choque dos sistemas abertos de informação sobre as noções tradicionais de propriedade e credibilidade jornalísticas.
Os web-sites dos grandes jornais na internet apresentam uma construção hipertextual: A hipótese de que esta pesquisa parte é a de que, embora hipertextual, tal construção se dá ainda sob pressão da ideologia textual dominante de seus pares impressos. Esses veículos reproduzem-se ideologicamente no tipo de utilização que fazem da internet. Tomando como referência as teorias contemporâneas do hipertexto, desenvolvidas por Landow, Lahan, Lévy, Moultrhop, este projeto visa detectar as estruturas ainda hierárquicas, sustentadas em noções tradicionais de propriedade e credibilidade, presentes nas web-sites dos jornais. Contrapondo-se a essas estruturas e noções tradicionais, na sua parte prática, este projeto visa criar um sistema jornalístico on line, tendo por base uma concepção hipertextual aberta, como proposta alternativa para a informação jornalística em meio digital.
8b) Responsável: Saulo Moura da Cunha
8c): Unidade: GT de Linguagens Tecnológicas do Núcleo de Linguagens Verbais, Programa de pós-graduação em Comunicação e Semiótica-PUCSP.
8d) Agência financiadora:
8f): Duração: Início-Término: 1998-2000.
8g): Valor concedido:
9a) Hipermídia e Visualidade: O Diálogo Texto-Imagem em Suporte Digital
A maioria dos estudos de hipermídia preocupa-se com a conexão entre textos ou blocos de textos. A linguagem hipermidiática não se restringe à conexão intertextual. Há outros tipos de ligação possíveis, tais como entre texto e imagem, imagem e imagem, imagem e som, texto e som, e entre texto, imagem e som. Esta pesquisa tem por objetivo reconstruir os nexos de sentido entre texto e imagem nos suportes que antecederam a hipermídia e que, independente do aparato tecnológico hoje existente, já produziam conexões hipermediáticas. As questões principais são: é possível ampliar o conceito atual de hipermídia para entendê-lo num sentido mais geral como técnica de conexão intersigno? Em caso afirmativo: é possível demonstrar esse vínculo através de uma
tipologia do diálogo texto-imagem, especialmente nas manifestações das vanguardas artísticas do início do século XX que, segundo Lanham, antecipam a ruptura com o lógica hierárquica e linear da escrita convencional, muito antes do surgimento do computador? Para responder a essas questões, a pesquisa vai consistir de um levantamento dos exemplos mais representativos de intersemiose entre texto e imagem em estruturas hipermidiáticas pré-computador como corpus para uma reflexão sobre texto e imagem no contexto das atuais teorias da hipermídia.
9b) Responsável: Marcus Bastos
9c) Unidade: Núcleo de Linguagens Visuais, Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica-PUCSP.
9d) Agência financiadora:
9f) Duração: Início-Término: 1998-2000.
9g) Valor concedido:
10a) Narrativa Áudiovisual Interativa: Roteiro em Hipermídia
Esta pesquisa abordará, sob o signo da interatividade, a problemática da escritura eletrônica da narrativa audiovisual, possível de ser tramada nas redes digitais de comunicação, dando ênfase à TV via internet. Trata-se de indentificar quais as relações significativas que a hipermídia está produzindo na lógica do roteiro para audiovisuais, buscando compreender o princípio da interatividade como elemento semiótico diferenciador do processo de produção de roteiros ditos clássicos. Partindo da hipótese de que a interação na narrativa audiovisual só se efetiva quando inserida numa teia de memórias armazenadas no conjunto hipermidiático das redes de computadores, será argumentado que o princípio da interatividade conduz a uma alteração na lógica da diegese audiovisual no interior das mídias digitais, inaugurando processos de autogeração e crescimento de complexidade. Para colocar em prática os conceitos que serão tramados no decorrer da pesquisa, o projeto, na forma de um ensaio hipermidiático, irá se realizar em mídia digital.
10b) Responsável: João Batista de Mattos Winck Filho
10c) Unidade: Centro de Estudos Peirceanos, Pós-graduação em Comunicação e Semiótica-PUCSP.
10d) Agência financiadora: CAPES, PICD.
10f) Duração: Início-Término: 1997-2000.
10g) Valor concedido:
11a) Labirinto 2: Hipermídia e Arte
Este projeto pretende investigar trabalhos artísticos realizados em hipermídia. A questão a ser verificada não diz respeito à apropriação da hipermídia para fins de catalogação de obras artísticas realizadas em outros suportes. Nosso objeto será o estudo de trabalhos que tenham sido projetados especialmente para o meio digital e que explorem potencialidades estéticas suscitadas pela tecnologia hipermidiática. A pesquisa será composta em duas partes. Na primeira, serão discutidos conceitos teóricos referentes a trabalhos criativos realizados no espaço hipermidiático. Para fins de análise, as investigações teóricas estarão voltadas para dois tipos de propostas: poéticas da navegação e poéticas da construção. A segunda parte envolve a elaboração de um trabalho prático, o ‘Labiritno de bits’, um sistema interativo que permite ao usuário a construção e geração de espaços labirínticos em tempo real. Baseado em princípios de geração randômica e de combinatória, tal trabalho possibilitará a construção de milhares de labirintos diferentes que poderão ser alterados ou colecionados (gravados em disco, copiados, impressos etc.) posteriormente pelo usuário.
11b) Responsável: Lucia Isaltina Clemente Leão
11c) Unidade: Centro de pesquisa em Ciências cognitivas e semiótica, Programa de pós-graduação em Comunicação e Semiótica-PUCSP.
11d) Agência financiadora: Fapesp
11e) Duração : (1997-2000)
11g) Valor concedido.
12a) A Contribuição da Semiótica para o Design de Interface
A semiótica tem chamado muito a atenção dos designers de interfaces computacionais. Baseada no uso de signos visuais e viso-motores, quer dizer, signos indicadores de ações a serem tomadas pelo usuário para navegar através dos programas, essas interfaces buscam uma comunicação eficaz e facilitadora com o usuário, denominada de ‘user friendly’, utilização amigável. Comunicação baseada em signos é, sem dúvida, uma questão prioritariamente semiótica. O objetivo desta pesquisa é o de examinar um conjunto de interfaces computacionais, tendo em vista o levantamento das constantes semióticas dessas interfaces. O projeto também envolve uma parte prática de criação de Home pages e Webs que incorporem os resultados da pesquisa.
12b) Responsável: Sandra Gavioli Puga
12c) Unidade: Centro de Pesquisa em Ciências Cognitivas e Semiótica, Pós-graduação em Comunicação e Semiótica- PUCSP.
12d Agência financiadora:
12f Duração: Início-Término: 1998-2000.
12g Valor concedido.