As fotos de Arnaldo Pappalardo, incrustadas nas paredes e no chão doscorredores junto às chaminés, parecem um sítio arqueológico. Como se uma escavação fizesse aflorar o que ali estava enterrado. Fragmentos de objetos e corpos que emergem das ferragens, dos fornos. Tudo parece ter sido sedimentado pelo passar do tempo. Uma arqueologia da nossa era. O mais novo transformado em relíquia. Um pé-de-pato que parece uma lanterna antiga, um elmo que de fato é uma máscara de surfista, uma ferramenta que ganha aspecto de larva. Tudo descartável como os resíduos urbanos. Uma arqueologia made in Taiwan. A mão que surge da terra, aparatos que são extensões do corpo. Tudo retratado em escala um por um, para sugerir uma presença real. Mas é um estranho realismo: essas coisas jamais estiveram lá. As fotos comentam o paradoxo da empreitada arqueológica no terreno contemporâneo: em vez de um buraco, a superfície lisa do cibacrome. |