Os grandes blocos de massa asfáltica, espalhados na área em frente ás chaminés da Matarazzo, em parte enterrados, alguns tombados, são a forma última e mais evidente do colapso daquele lugar.

A impermeabilidade não degradável do asfalto parece concentrar todo o óleo e os vapores poluentes que a fábrica ali verteu por décadas seguidas.

As inadequações de posicionamento e escala comentam a desagregação urbanística e arquitetônica da área. Ao serem formatados no local, parte do material asfáltico dos blocos acaba vazando.



Essas formas se deterioram sem jamais se integrar à paisagem. Elas são a evidência da sua completa entropia.

O asfalto que ainda escorre, entranhando o terreno, recobrindo parte das construções, completa o quadro de irreversível corrosão daquele mundo.



Feitos por Carlito Carvalhosa, os blocos, de diferentes tamanhos e formas imprecisas, se distribuem caoticamente pelo terreno.

As excrescências resultantes nas formas geométricas parecem uma espécie de cancro, num radical questionamento do rigor construtivo da escultura moderna. A natureza agressiva do asfalto acentua a incompatibilidade daquelas estruturas com o lugar.



Uma irregularidade que corresponde à desagregação estrutural das construções ali existentes.

É como se tivessem sido largados ao acaso, espalhados durante obras que nunca se concluíram. Não há nenhuma pretensão a organizar o lugar. São formas oportunísticas, crescendo como ervas daninhas industriais, parasitando as estruturas restantes. Aqui, ninguém é de ninguém.

Aqueles blocos evidentemente não são dali. A sua rápida desagregação, poucos dias depois de desformados, só enfatiza esse deslocamento. Evidenciando como a tentativa de cobrir as ruas com uma camada impermeável e plástica redunda numa topografia na verdade ainda mais erodida, atulhada por materiais inutilizados incompatíveis com o terreno. Ineficaz diante das questões de escala e peso colocadas pela cidade.