Não por acaso trata-se de uma construção de terra. O espaço nesta área se impõe pela imponência e consistência material. Aqui é muito difícil ultrapassar o limite da matéria, da substância. Difícil ultrapassar a sobriedade das construções ali existentes. A ação então consistiu numa recomposição daquilo que já está lá. Não pôs nem retirou nada. O material de cada parede foi retirado do próprio local, em frente delas, deixando um recorte no chão. Espelhando a elevação, como se a massa de terra tivesse sido deslocada, posta em pé. O processo construtivo da taipa deixa buracos, ao serem retirados os andaimes. Esses orifícios, que surgem ao se mover as fôrmas para cima, em fileira a cada metro, viram pontos para se observar a paisagem. O mirante estabelece uma relação entre o que se eleva e o que é pesado. Serve para recortar e destacar as grandes chaminés e a extensão do terreno. Conduz à contemplar a paisagem, ficar olhando o que já existe naquele lugar. As paredes de terra parecem revelar o que está soterrado ali. Elas vêm remexer o subsolo para desenhar o perfil que aquela massa informe teve um dia. O material já está ali: a questão é modelar, dar forma às coisas. A ruína dá a idéia do que houve mas não está mais completa, não tem mais forma. A obra então resgata todo o trabalho que ali aconteceu, o esforço de gerações, semeado naquela terra. Esse processo primitivo de construção _ a taipa _ faz com que tudo pareça mais antigo do que realmente é. Como se aquela indústria _ na verdade ativa até há três décadas _ fosse de uma época muito anterior. Essa construção de taipa, como as primeiras casas da cidade, remete a uma antigüidade que ultrapassa aqueles escombros. Não o passado, perdido por causa das demolições sistemáticas, mas um tempo mais amplo, um momento originário. Esses procedimentos arcaicos parecem remeter a uma pré-história, a experiências imemoriais, a construções que se erguem ali para sempre. A terra vermelha, saindo das profundezas, tem o tempo da cidade. |