|
Curadoria: Nelson Brissac Peixoto A Estação da Luz , as ruínas do Moinho Central e as antigas Indústrias Matarazzo são os pontos do percurso do Arte/Cidade 3. Esse recorte urbano estabelecido pelo projeto, apesar de percorrido pela linha do trem, não instaura nenhuma conexão direta entre aqueles pontos. A possibilidade de articulação se dá, portanto, apenas de dois modos: pelo solo - o ramal ferroviário - , e por pontos elevados - as passarelas, torres de escadas e viadutos urbanos. A escala urbana desta intervenção do Arte/Cidade enuncia-se, então, por dois modos complementares: pelos extensos retângulos coloridos pintados nas projeções dos cinco viadutos que transpassam pela área da intervenção (manchas bidimensionais) e pela construção de paralelepípedos que se sobrepõem às passarelas e torres de escadas, definindo formas geométricas perfeitas coloridas (estruturas tridimensionais). Inserções visíveis à grande distância, destacando-se da arquitetura em ruína dos locais e na malha urbana da cidade. Três paralelepípedos horizontais, envolvendo as passarelas externas da Matarazzo, e três verticais, as escadas do Moinho. Os três pares invertidos, colocados nos dois locais de intervenção, indicam um mesmo padrão de articulação, demarcando toda a região. A repetição da mesma figura geométrica - que corresponde à do trem - serve de pontuação circunscrevendo a grande área da intervenção. Configuram o campo mais amplo da metrópole. Essas peças têm dimensões evidentemente exageradas para o local. Elas parecem não ser dali. As passarelas são grandes volumes que atravessam as paredes das construções, como que marcações num mapa urbano. Uma desproporção que remete o observador para além dos limites do lugar. A referência delas não é o perímetro dos locais, mas toda a área formada pelo ramal. A escala dessas peças é de 5 km. As grandes manchas pintadas nas projeções apresentam esse mesmo caráter de desproporção, já que se referem a essa outra escala, a urbana. Entre passarelas, torres e viadutos haverá onze pontos de intervenção. A unidade desses pontos será dada não apenas pela escala (como já foi dito), mas também pelo posicionamento dessas formas que podem não corresponder exatamente ao das passarelas, escada e viadutos originais, podendo ser atravessadas diagonalmente por esses volumes descomunais. Se a relação delas é com o eixo urbano, apontam, então, todos para um único referencial, também urbano. Elas apontam para um desenho que não se pode perceber, que nenhum ponto de vista dá conta, uma dimensão decididamente urbana. O referencial tomado, então, é o do extremo da escala monumental: o sol. Infinitamente longe, emite seus raios paralelos que abarcam o todo, em infinitos pontos de vista. Rege a vida urbana cotidiana tanto espacialmente, na sua posição/orientação em relação à terra em que seus raios projetam as sombras dos volumes construídos, como também temporalmente, nas marcações dia/noite, início/fim. O eixo que desloca os pontos da intervenção é definido pelo deslocamento da posição do sol em relação ao norte geográfico, no período compreendido entre o início e o término do evento. Essa angulação determina um desenho e área de sombra que serão rebatidos na mancha sobreposta aos viadutos e passarelas, gerando a torção pretendida. |