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BOLETIM CLÍNICO - número 1 - agosto/1996

Boletim Clínico | Psicologia Revista | Artigos

5. Integração Psicofísica: Por que adotar esse enfoque de trabalho em (um curso de) Psicologia? - Rosa Maria Farah

"Qualquer coisa experimentada fora do corpo, num sonho por exemplo, não é experimentada, a menos que a "incorporemos", porque o corpo significa o aqui e agora"(1)

Alguns esclarecimentos são necessários para situar a origem do material apresentado a seguir, bem como localizá-lo enquanto fruto de um trabalho que vem sendo desenvolvido há aproximadamente 18 anos junto aos alunos estagiários de nossa Clínica Psicológica. Meu trabalho na PUC-SP teve início em 1972, como professora da equipe de Psicologia para o Ciclo Básico. Posteriormente - a partir de 1978 - passei a atuar na Faculdade de Psicologia, no antigo Núcleo 28 - então chamado "Identidade e Corpo".

Depois da mais recente reforma curricular da Faculdade de Psicologia este trabalho continua no atual Núcleo 15: "Integração Psicofísica". Desde seu início, a experiência pedagógica desenvolvida no Núcleo 28 dava ênfase especial às vivências corporais realizadas nas aulas. Esta característica do trabalho exigia um espaço físico adequado, espaço este só existente - no contexto acadêmico - na nossa Clínica-Escola. Dessa forma, as próprias aulas do Núcleo ocorreram, desde então no espaço da Clínica. Esta condição necessária ao trabalho reforçou ainda mais a já estreita vinculação entre o Núcleo e nossa Clínica.

Em função ainda das características da programação das atividades desenvolvidas no Núcleo - inovadoras para a época - enfrentávamos uma dificuldade prática: a carência de bibliografia acessível e adequada para ser indicada aos nossos alunos. Esta carência de material de leitura nos levou a preparar textos específicos para nossas aulas, inicialmente utilizados na forma de apostilas. Com o passar do tempo e a ampliação da experiência didática desenvolvida, o conjunto dessas apostilas deu origem ao livro "Integração Psicofísica: O Trabalho Corporal e a Psicologia de C. G. Jung"( Ed. C. I. / Robe - São Paulo, 1995). O texto a seguir constitui uma síntese adaptada do primeiro capítulo deste livro.

A apostila que deu origem ao atual capítulo tinha por finalidade situar nosso aluno, já no início do curso, quanto à dois aspectos simultaneamente: Em relação à abordagem e à metodologia de trabalho apresentadas pelo Núcleo, bem como em relação à própria forma de trabalho didático a ser realizado no cotidiano das aulas. Os demais capítulos do livro referem-se aos variados tópicos abordados ao longo das aulas teórico-práticas do Núcleo, a saber: alguns detêm-se em alguns aspectos da fundamentação teórico adotada; outros descrevem as principais formas de trabalho corporal propostas para o atendimento clínico.

Constitui-se, portanto, em um registro da experiência didática realizada, e ao mesmo tempo, em um texto básico do curso, em sua formulação atual. A síntese à ser apresentada a seguir, dentro do contexto deste boletim, tem como finalidade apresentar aos nossos colegas de trabalho os princípios gerais adotados em nossa prática pedagógica no Núcleo 15.

Os alunos geralmente chegam a nossos grupos movidos por interesses específicos: alguns vêm interessados em aprender algo sobre as técnicas de relaxamento. Outros querem conhecer os recursos da chamada abordagem corporal em Psicologia. Porém somente no decorrer dos trabalhos práticos, e com a gradativa compreensão dos objetivos de cada atividade realizada, vai ficando mais clara, para os participantes, a maneira integrada pela qual é proposta a aprendizagem da utilização desses recursos técnicos no atendimento terapêutico.

Podemos adiantar já de início nossa proposta de trabalho: a compreensão vivencial dos princípios gerais da integração psicofísica é essencial para que a correta utilização das técnicas de trabalho corporal possa ser desenvolvida pelo profissional em formação.

Antecipamos ainda que, em muitos momentos, realmente utilizamos as técnicas acima citadas. Isso não significa, porém, que elas sejam para nós recursos exclusivos de intervenção terapêutica. Tampouco o fato de adotarmos certos procedimentos, durante os trabalhos práticos, indica necessariamente uma opção pela abordagem teórica que lhes tenha dado origem.

Qual seria, então, nossa intenção ao inserir a mobilização da percepção corporal de nossos alunos em um curso que visa a sua instrumentação para a atuação profissional? Dizendo de outro modo: a que fundamentos podemos recorrer para justificar nossa opção por uma atuação pedagógica que coloca em pauta (como parte da formação profissional de nosso aluno) o seu envolvimento pessoal nas atividades vivenciais propostas?

Ou ainda: por que razão afinal, em nosso curso a aprendizagem "intelectual" das técnicas e procedimentos (bem como seus conceitos fundamentais) é pareada, em valor e importância, à vivência corporal que o aluno venha a ter das mesmas? Buscando elementos para responder tais questões vamos relembrar alguns dados sobre o desenvolvimento da história da Psicologia. Vamos mencionar aqui apenas alguns aspectos que nos interessam mais de perto, já que o tema é suficientemente desenvolvido nas obras referentes ao assunto.

Em que contexto ocorreu nosso desenvolvimento enquanto "cientistas", estudiosos do fenômeno humano? Recorrendo a Wertheimer, veremos, nas palavras desse autor, que elementos se agregam para compor o limiar da Psicologia científica. Em seguida, vamos comentar em que contexto psicológico (em termos coletivos) aconteceu seu surgimento:

"A nova psicologia experimental surgiu de dois grandes rios: um deles, da ciência, o outro, da filosofia. Os tributários do rio da ciência eram a filosofia, a biologia, uma abordagem atomista, um interesse na quantificação, e uma tendência a instituir pesquisa universitária e laboratórios de treinamento; os tributários do rio da filosofia eram o Empirismo Crítico, o Associacionismo e o Materialismo Científico"(2)

Ganhava força, portanto, no campo do estudo da Psicologia, um modo de pensar de características analítico-racionais: o denominado Atomismo, adotado pelas ciências exatas. Aquele mesmo enfoque que, por um lado, propiciou nosso vasto desenvolvimento tecnológico atual, mas que, por outro lado (no entender de muitos críticos), desumanisou e "cindiu" o pensar científico.

Em suma, essa perspectiva analítica e dicotomizante estendeu-se a nossa área de investigação, e suas conseqüências nos são familiares: a própria Psicologia fragmentou-se em diferentes escolas e abordagens, fazendo-nos recordar aqui a antiga fábula oriental sobre um grupo de cegos em sua tentativa de "conhecer" o elefante...(3)

Todos nós, estudantes e profissionais da Psicologia, sem dúvida já nos defrontamos com os meandros das polêmicas disputas entre as diferentes abordagens psicológicas resultantes dessa nossa evolução histórica. Também já nos sentimos, em algum momento da nossa formação profissional, confusos e "divididos", compelidos que somos a tomar partido frente as disputas teóricas e metodológicas travadas no campo da investigação psicológica.

Não é nossa intenção retomar aqui a polêmica referente às tradicionais disputas entre linhas e/ou abordagens psicológicas. Nossa intenção ao criar brevemente essa questão tem outra finalidade: a de remetê-la a um contexto de reflexão mais amplo, focalizando nossa atenção sobre o momento psicológico coletivo vigente na época em que a Psicologia surgiu no Ocidente como área específica de estudos e intervenção.

Para tanto, a abrangência pensamento de Jung mostra-se como preciosa fonte de elementos.

"A nossa evolução natural na Europa Ocidental foi interrompida pela introdução de uma psicologia e espiritualidade que se desenvolveram a partir de uma civilização superior à nossa. Fomos interrompidos logo no começo, quando nossas crenças ainda eram barbaramente politeísta, e essas crenças foram recalcadas e assim permaneceram nos últimos dois mil anos. Isso, creio eu, explica a natureza divisiva da mente ocidental. Ainda num estado primitivo fomos forçados a adotar as doutrinas comparativamente refinadas da graça e do amor cristãos. Produziu-se destarte uma dissociação no homem ocidental entre a parte consciente e a parte inconsciente de sua mentalidade.

A mente consciente foi libertada, indubitavelmente, da irracionalidade e dos impulsos instintivos, mas a individualidade total perdeu-se. O homem ocidental tornou-se alguém dividido entre sua personalidade consciente e inconsciente. A personalidade consciente pôde sempre ser domesticada porque estava separada da primitiva; e por conseqüência nós, ocidentais, passamos a ser altamente disciplinados, organizados e racionais. Por outro lado, tendo permitido que a nossa personalidade inconsciente fosse suprimida, estamos excluídos de um entendimento ou apreciação da educação e civilização do homem primitivo. Não obstante, a nossa personalidade inconsciente ainda existe e manifesta-se ocasionalmente de um modo incontrolado."

"Assim, somos capazes de reincidir nos mais chocantes barbarismos e quanto mais bem sucedidos nos tornamos na ciência e tecnologia, mais diabólicos são os usos que damos às nossas invenções e descobertas.

"Mas tornar o homem ciente de seu lado consciente não é o único método para civilizá-lo e, em qualquer caso, não é o método ideal. Uma abordagem muito mais satisfatória seria considerar o homem como um todo, em vez de considerar suas várias partes. O que é preciso é pôr termo à dissociação fatal que existe entre o ser superior e inferior do homem; devemos pelo contrário unir o homem consciente com o homem primitivo"(4). (Os grifos são nossos)


Esta foi, na visão amplificada de Jung, a base de cisão corpo/mente estabelecida no mundo Ocidental cristão. Porém podemos perceber ainda, nesta sua colocação uma proposta de solução reparadora para tal cisão, proposta esta extremamente ousada para a época. Tanto que ainda é tema de seus seguidores. Vejamos algumas referências à respeito.

O desenvolvimento da consciência, em termos coletivos, tem merecido especial atenção de autores Junguianos como Erich Neumann(5), entre outros. De maneira geral, o conceito de consciência é entendido, praticamente, como sinônimo mesmo do pensamento racional. Mas sabemos que, segundo a perspectiva de Jung, o pensamento é apenas "uma das funções da consciência".

O predomínio da função pensamento é tido, por autores como Neumann, como característico de nossa civilização. E essa predominância é entendida como uma etapa evolutiva humana, tanto em termos individuais, quanto coletivos. Ainda segundo essa concepção, a assim chamada consciência patriarcal - regida pelo logos - estaria em vias de ver "cumprido" seu tempo de predomínio, estando prestes, portanto, a ceder espaço para a manifestação de um novo estado ou manifestação da consciência, como decorrência natural de um processo coletivo de evolução.

De acordo com essa perspectiva, a identificação da função pensamento com a própria consciência reflete não apenas nossa dissociação interna, mas também nossa dificuldade em perceber o processo evolutivo humano de um ponto de vista mais abrangente, mais dilatado no tempo. Denotaria ainda, por outro lado, o quanto tendemos a nos posicionar de maneira auto-centrada, e mesmo preconceituosa, em relação a outras formas de expressão da consciência humana.

Entre os autores que têm se ocupado desse tema citaremos em especial o trabalho de Whitmont, denominado Retorno da Deusa(6). Nessa obra, Whitmont desenvolve e amplia análise de processos já tão claramente apreendidos e apontados por Jung, relativos às conseqüências da dissociação da consciência no homem ocidental. Whitmont nos apresenta uma rica reflexão sobre o nosso tempo, suas contradições, e os desafios com que se depara a humanidade para sua própria sobrevivência. Whitmont vai ainda além, apontando já os sinais de um novo ciclo de manifestação da consciência, ou seja, o retorno da chamada consciência matriarcal, em uma nova volta na escala evolutiva humana.

O caráter divisível e, posteriormente analítico da para com o corpo: é essa mais uma das expressões da busca de compensação da atitude excessivamente racional adotada no mundo ocidental cristão. Em essência, a retomada do contato com o corpo e suas funções apresenta-se como um canal viável para o restabelecimento do nosso contato com a própria natureza humana. Assim, como em um mercado farto, podemos observar nos últimos tempos as ofertas colocadas à disposição de pessoas ávidas por esta reconexão com seu corpo: desde as práticas esportivas até as mais variadas formas de ginásticas, dietas e tratamentos alternativos são oferecidos para que sejam consumidas.

Em manifestações menos estruturadas, essa tentativa de reconexão com o que há de "natural" no ser humano pode também ser observada coletivamente, por exemplo, na exacerbação de manifestações da sexualidade, tantas vezes mal orientada. Ou, ainda, expressarem-se como tentativas de se promoverem alterações de estados de consciência pelo do uso de substâncias que, se por um lado "abrem" determinados canais nessa direção, por outro lado também "abrem feridas" no corpo ou na alma...

Em suma, adotando esse enfoque de análise, podemos perceber o equívoco estabelecido na vida de tantas pessoas: em busca de atendimento a uma necessidade legítima, muitas vezes imperiosa, de uma volta à natureza, podem ter-se desviado por caminhos bastante discutíveis.

Ao longo dessas buscas, por vezes um tanto ingênuas ou mesmo afoitas, podemos entrar por caminhos equivocados e/ou distorcidos, já que, nessa etapa, é relativamente fácil a recaída no extremo oposto da atitude vista como inadequada anteriormente. Ou seja: ao excesso de racionalidade pode-se facilmente contrapor uma ingênua idolatria do corpo, tão inadequada quanto a sua negação. Jung já apontava esse rico.

"Então, a volta à natureza torna-se um problema. Não deveria ser uma regressão; não deveria afundar abaixo do conseguimento cristão, do encarar a carne como ilusória; antes deveria conservar-se a visão cristã e, usando-a como salvaguarda, voltar à natureza. De outro modo, se cairia no demonismo dos tempos primitivos, e todo o desenvolvimento subsequente se reduziria a nada"(7).

Não pensemos que a possibilidade de tais enganos é prerrogativa exclusiva de leigos ou pessoas desavisadas, atraídas por apelos publicitários lançados em torno desse novo "produto" - o "corpo". Nem tampouco pensemos que esse engano possa se expressar apenas em formas um tanto grosseiras ou toscas.

Mesmo para nós, profissionais atuantes na área, em muitos momentos torna-se difícil encontrar a medida certa de equilíbrio a ser adotada, por exemplo, na escolha de procedimentos técnicos de trabalhos corporais. Afinal, enquanto seres humanos, estamos imersos no mesmo caldeirão cultural, tanto quanto todas as demais pessoas.

O que nos diferencia, talvez, é uma condição gerada por "nosso" "dever de ofício", ou seja: faz parte de nossa tarefa cultivar em nós mesmos a habilidade de perceber o significado desses fenômenos - dos quais somos também participantes - de maneira mais acurada e abrangente.

Assim, a inserção do trabalho corporal (tanto em nossas aulas, quanto no contexto do atendimento psicoterápico) não representa um fim em si mesmo. A aprendizagem da integração psicofísica, bem como a utilização das suas diferentes técnicas perderão todo o seu significado, se não for apreendida a essência da sua correta proposição.

Empregamos propositalmente o termo apreensão para diferenciar esse processo da simples aprendizagem - entendida aqui apenas como a repetição mecânica de um procedimento, mesmo que corretamente realizado. Sem dúvida, os procedimentos corretos precisam ser apreendidos e treinados pelo aluno. Mas constituem apenas um dos aspectos componentes da sua formação enquanto terapeuta.

Para que se torne realmente habilitado a empregar qualquer dos recursos destinados à estimulação da integração psicofísica - dentro de um contexto terapêutico de trabalho será necessário que o psicólogo agregue dois aspectos essenciais à essa sua habilitação: Por um lado o aspecto da vivência pessoal das técnicas adotadas; por outro lado, a aquisição de um sólido embasamento conceitual acerca dos processos psicodinâmicos envolvidos na utilização de tais técnicas, independentemente do enfoque teórico adotado.

Cabe salientar ainda que não temos a ilusão de completar o processo de formação de nosso aluno para esta forma de atuação, dentro dos limites restritos de uma única cadeira inserida no curso de graduação em Psicologia. O objetivo que pretendemos atingir, é bem mais modesto, embora ainda assim, ambicioso: Introduzir o futuro profissional de Psicologia no caminho que leve à integração desses dois aspectos em formação.

Cabe colocarmos aqui ainda mais um esclarecimento importante: até o momento mencionamos sempre a aplicação deste enfoque (a integração psicofísica) visando a atuação futura do aluno no contexto psicoterapêutico. De fato, esse é o ponto de referência por nós adotado, principalmente por razões didáticas.

No entanto, novas e amplas possibilidades de aplicação desse mesmo enfoque vêm sendo experimentadas e comunicadas por vários colegas de trabalho, em contextos não restritos ao espaço da prática clínica. Na medida em que se desenvolve nosso trabalho com os grupos, preocupamo-nos em estimular, nos alunos, a percepção análogas por parte do psicólogo, bem como a expressão criativa de novas formas de intervenção profissional à serem pesquisadas.

Notas e Referências Bibliográficas:

(1) Jung, C. G., "Seminários sobre Visões"(The Visions Seminars). Texto traduzido e apostilado, para uso dos alunos do curso de "Terapia Psicomotora", do Instituto Sedes Sapientiae São Paulo, pelo Prof. Dr. Pethö Sándor, pág. 301.


(2) Wertheimer, M., "Pequena História da Psicologia", Companhia Editora Nacional, em colaboração com a Editora da Universidade de São Paulo, São Paulo, 1972, pág. 26.

(3) Em: Idries Shah, "Histórias dos Dervixes", Nova Fronteira, Rio de Janeiro, págs. 27 e 28, encontramos uma das versões da apresentação desse tema, aqui relatado sobre o título "Os cegos e a questão do elefante". Daremos a seguir um pequeno resumo desta versão. Havia uma cidade em que todos os habitantes eram cegos. Certo dia ali chegou e acampou nas proximidades um rei com seu séquito e seu exercito, do qual fazia parte um elefante, usado para atacar seus oponentes.

As pessoas do lugar estavam ansiosas para conhecer aquele animal, do qual, até então, só teriam ouvido falar. Um grupo de habitantes da cidade foi, então, rapidamente ao acampamento do rei, e assim que acharam o animal começaram a tateá-lo. Quando retornaram a cidade, foram logo interpelados pelos demais habitantes da cidade, curiosos que estes estavam também por saber "a verdade" sobre aquele animal, por intermédio daqueles que o teriam conhecido tão diretamente. Em resposta às suas perguntas, cada um dos componentes do grupo que tateou o elefante começou a fornecer as informações que obteve.

O homem que tateou a orelha do animal disse: -"É uma coisa grande, rugosa, larga, e grossa como um tapete felpudo". Outro, que apalpara a tromba, disse: - "Eu conheço a realidade dos fatos, trata-se de um tubo reto e oco, horrível e destruidor". Mais um, que apalpara as patas do animal, disse: - "É algo poderoso e firme como uma pilastra".

Conforme podemos perceber, cada um conhecera apenas uma dentre as muitas partes que compunham a "verdade" sobre o animal. À cada uma de tais percepções parciais haviam ainda acrescido suas interpretações, altamente pessoais sobre o mesmo. No entanto tais achados eram apresentados com verdades absolutas, na visão de cada um em particular.

(4) McGuire, W. e R. F. C. Hull, C.G. Jung: "Entrevistas e Encontros". Ed. Cultrix, São Paulo, 1982, págs. 349 e 350.

(5) Neumann, E., História da Origem da Consciência. Ed. Cultrix, São Paulo: Esta é uma das obras mais significativas, que poderá ser consultada sobre a questão levantada no texto.

(6) Whitmont, E. , Retorno da Deusa. Summus Editorial, São Paulo, 1991.

(7) Ob. cit. em 1 pág. 130.