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BOLETIM CLÍNICO - número 6 - agosto/1999

Boletim Clínico | Psicologia Revista | Artigos

11. Aprimoramento: Início e finalidade - Célia Maria de Souza Terra (1)

O Curso de Aprimoramento da Clínica Psicológica "Ana Maria Poppovic" foi instituído no ano de l997, durante a chefia da Profª Marina P. Boccalandro, com base em projeto apresentado pelo Prof. Durval L. de Faria e tem por objetivo propiciar uma experiência em atendimento clínico institucional e oferecer atendimento à população.

Sua história tem início na segunda metade da década de 70 e início na de 80, durante a gestão da Profª Maria do Carmo Guedes, na direção da Faculdade de Psicologia, e da Profª Elenir Rosa Golin Cardoso, na chefia da Clínica.

Naquela ocasião, todos os atendimentos psicológicos oferecidos pela Clínica estavam vinculados ao curriculum da Faculdade e ao período letivo, comprometendo o atendimento às pessoas que procuravam a Clínica bem como à formação dos alunos, especialmente nos processos psicoterapêuticos, pois a cada semestre o paciente tinha um psicoterapeuta diferente.

Além disso, a Clínica só podia absorver uma pequena quantidade de pacientes em psicoterapia, tornando o encaminhamento muito difícil: a maioria deles não possuía condições econômicas de arcar com um atendimento particular e não havia instituições suficientes que oferecessem este tipo de atendimento gratuitamente, gerando uma lista de espera muito longa.

Ficou muito clara a necessidade de amenizar a situação e melhorar a qualidade do atendimento oferecido de forma que ele se tornasse um modelo para os alunos e um referencial de atendimento para a população.

Frente a esse quadro impunha-se a necessidade de oferecer serviços desvinculados do período letivo e do curriculum da Faculdade e que contemplasse dois dos objetivos primordiais de uma Clínica Escola: ensino e atendimento à comunidade.

Considerando os aspectos referidos anteriormente, propus a implantação de um estágio supervisionado, em nível de pós-graduação, cujos objetivos eram: propiciar ao psicólogo uma vivência na qual pudesse experimentar o exercício da função de psicoterapeuta e fazer uma escolha sobre sua especialização; oferecer à população um local onde pudessem efetivar o encaminhamento sugerido pelo psicodiagnóstico; oferecer um atendimento que preservasse o vínculo paciente-psicólogo\vínculo primordial ao desenvolvimento dos processos terapêuticos. Além destes, foi incluído, por exigência da Universidade, ser autofinanciado.

Graças ao empenho da Profª Maria do Carmo Guedes o projeto foi implantado, em caráter experimental, utilizando-se horas de professores, já existentes, e da contratação de horas-técnico por meio de concurso público interno e externo.

Para cumprir a exigência de auto financiamento, foram formados grupos de 4 alunos para cada hora de supervisão. O preço estipulado tinha como referência o salário mínimo.

Cada aluno ficaria responsável pelo atendimento de um paciente, que deveria ser feito por tempo indeterminado. Após 18 meses de atendimento supervisionado (tempo estabelecido posteriormente, com base na experiência), o aluno receberia um certificado e poderia dar continuidade ao processo psicoterapêutico: na própria Clínica (sem ônus para si); em seu consultório particular, desde que o paciente estivesse de acordo ou desligar-se do caso.

Inicialmente esse procedimento zerou a lista de espera mas, como a demanda da comunidade pela Clínica sempre foi grande, nova lista se formou. Para enfrentar este problema, foi feito um cadastramento de psicólogos que se dispusessem a atender os pacientes que a Clínica não poderia absorver, nas condições que esta os atenderia (número de sessões e preço).

O projeto ficou sediado no Setor de Intervenção da Clínica, sob minha coordenação e contou com a participação das Profas. Lúcia C. Bonilha, Sílvia Portella, Elenir R. Golin Cardoso e Maria Cecília C. Faria, além das psicólogas, contratadas através do concurso referido anteriormente, Maria Helena P. Franco Bromberg e Regina Célia Gorodsky.

Desde sua implantação vem sendo objeto de grandes discussões por parte dos professores da Faculdade de Psicologia mas tem-se revelado eficaz como estratégia de ensino e atendimento à comunidade pois, ao longo desses anos, vem sendo aperfeiçoado e ampliado pelas diferentes chefias.

Por meio do Aprimoramento, a Clínica presta serviço a uma parte da população que não tem outro local alternativo para se submeterem a atendimento psicológico; prepara melhor os alunos, oferecendo uma estrutura de funcionamento de acordo com os princípios éticos técnicos de cada abordagem ou modalidade.

Em âmbito mais amplo, oferece um modelo a ser levado em consideração na formulação de projetos para atuação em saúde mental.

Notas:
(1) Professora Assistente-Mestre do Deptº de Psicodinâmica da Faculdade de Psicologia da PUC-SP e Psicanalista, Membro Associado da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo.