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BOLETIM CLÍNICO - número 6 - agosto/1999

Boletim Clínico | Psicologia Revista | Artigos

12. Avaliação neurológica e diagnóstico psicológico - Denise Menezes (1)

Nossa atuação na Clínica Psicológica, iniciada em 1998, decorreu de um processo natural ocorrido na convivência com os alunos.

Há alguns anos, ministrando a disciplina “Bases Neurológicas do Diagnóstico Psicológico” dentro do núcleo I de Psicodiagnóstico, a idéia central sempre foi dar aos alunos os instrumentos necessários para poderem fazer um diagnóstico diferencial entre quadros ditos orgânicos e sintomas puros da esfera psíquica. Sabemos que essa divisão é artificial, que disfunções emocionais podem gerar disfunções bioquímicas cerebrais, que problemas estruturais no cérebro geram sua contrapartida em nível emocional, e que, muitas vezes, tanto os sintomas orgânicos como os psíquicos fazem parte de um mesmo e indissociável processo.

Mas sabemos também que médicos e psicólogos têm instrumentos diferentes para a abordagem terapêutica dos pacientes, e que é preciso discernimento, bom senso e conhecimento das doenças, para que cada um de nós saiba até onde pode ir sozinho em um caso e quando deve solicitar o auxílio do outro. Para conhecermos nossos limites, muitas vezes precisamos conhecer os limites do outro. Assim, nossas aulas não abordavam o tratamento médico das doenças neurológicas, não aprofundavam os detalhes de fisiopatogenia ou de exames complementares.

Nossa ênfase era dada às formas clínicas, aos sintomas nas suas diferentes facetas, treinando olhos, ouvidos e raciocínio para o diagnóstico diferencial. Nesse espírito de trabalho, era comum os alunos trazerem para sala de aula dúvidas e questionamentos surgidos durante o atendimento dos pacientes na Clínica Psicológica Ana Maria Poppovic. As discussões desses casos tornavam nossa disciplina viva, uma presença concreta e necessária no dia-a-dia do consultório de psicologia.

Com a mudança do currículo do curso de Psicologia no início de 1997, a disciplina foi trazida para a série anterior (5 º e 6 º semestres), transformando-se em pré-requisito para o núcleo I. Com essa mudança, os alunos passaram a estudar clínica neurológica antes de iniciarem o contato direto com os pacientes. Para mantermos o mesmo enfoque prático e suprirmos a falta das discussões em sala de aula, de estudos clínicos realizados pelos próprios alunos, surgiu o desejo de atuarmos pessoalmente dentro da Clínica Psicológica.

Nessa época, a professora Marina Boccalandro, diretora da Clínica, estava também preocupada com o distanciamento do profissional que fazia as avaliações neurológicas, pois os pacientes eram encaminhados para serem avaliados por neurologista em outra instituição. Buscava uma forma de trazer o profissional para dentro da clínica. Como nossas preocupações e desejos se completavam, a solução foi rapidamente encontrada. O contato fácil e próximo entre neurologista e psicólogo enriqueceu o aprendizado, trazendo benefícios tanto assistenciais como acadêmicos.

E qual é o nosso trabalho, o que é feito na prática?

Atendemos tanto adultos como crianças que estejam sendo avaliados em qualquer setor da clínica ou que já se encontram em tratamento, desde que encaminhados com a anuência do supervisor e com relatório que especifique o motivo do encaminhamento. Os alunos podem acompanhar a consulta neurológica, ou podem vir discutir o caso após concluída a minha avaliação. Casos de maior interesse são levados a encontros multidisciplinares com a presença e participação dos alunos do núcleo I. Após a conclusão do estudo, os pacientes podem ter alta neurológica, ser encaminhados para acompanhamento em outro serviço, ou ainda podem ser acompanhados em nosso próprio ambulatório na Clínica.

Atividades de pesquisa estão dentro dos nossos planos e, havendo interesse dos demais profissionais da clínica, trabalhos conjuntos podem vir a ser realizados.

Notas:
(1) Professora de Bases Neurológicas do Diagnóstico Psicológico.