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BOLETIM CLÍNICO - número 10 - maio/2001

Boletim Clínico | Psicologia Revista | Artigos

6. A Vivência de uma Terapeuta Idosa junto a um Grupo da Mesma Idade - Francisca Garcia Gianiselle

Palavras-chave: Idade avançada; Reconhecer-se na Velhice; Auto-estima.

RESUMO
Na idade avançada, podem aparecer transtornos decorrentes do desconhecimento de si ou do próprio corpo. Pode-se encontrar na psicoterapia, a ajuda para contornar algumas das contingências comuns à velhice. No grupo terapêutico, na orientação adequada da profissional, as senhoras participantes desta pesquisa, encontraram novos parâmetros para viver essa etapa da vida com melhor qualidade, pois ficaram definidas e conscientes as circunstâncias, próprias e comuns, a todas as participantes do grupo.

Usei a metáfora do esqueleto para designar conteúdos psíquicos internalizados e cristalizados, assim como está o nosso esqueleto. Esses conteúdos manifestaram-se nas senhoras do grupo como empecilho para usufruir boa qualidade de vida, em sociedade ou em família.

Este trabalho psicoterapêutico em grupo com idosos visou dar a oportunidade às participantes de resgatar uma melhor convivência social, no reconhecimento de si, dos seus questionamentos e dos seus valores pessoais. Está centrado na idéia de que as senhoras têm capacidade em viver uma velhice com melhor qualidade.

INTRODUÇÃO
O interesse em apreender as condições psicológicas da Terceira Idade levou-me a pesquisar um grupo de mulheres idosas, a fim de beber o conhecimento na fonte. Outras razões me conduziram à pesquisa, como por exemplo, espelhar-me nas idosas, saber das suas experiências calcadas e recalcadas durante a vida e, dessa maneira, rever-me. Através dessas pessoas, pude conhecer ou constatar as minhas verdadeiras condições no evento relativo à velhice. Iniciei essa tarefa tentando fazer o melhor, tomando o devido cuidado para não perder-me, considerando ter o mesmo referencial de idade das participantes.

Neste trabalho, ao fazer o Aprimoramento Clínico, fui supervisionada pela Dra. Ruth G. da Costa Lopes e na segurança que sentia em trabalhar ao seu lado, fiquei ancorada. No espaço terapêutico da Clínica Psicológica da PUC-SP, com as ferramentas à mão, apoiada na Psicanálise, enveredei pelo emaranhado da psicoterapia, conjeturando no que eu teria de entregar para não ser ferida neste embate: culpa, ódio ou o amor? Refiro-me a estes sentimentos porque estou ciente de que projetamos nossos conteúdos continuamente.

Como poderia elaborar as minhas projeções, acumuladas nos meus sessenta e cinco anos de idade? Nesse contexto, uma expressão minha sem o devido controle da reflexão, poderia produzir sentimentos desagradáveis que se somariam ao já carregado reservatório de dados internos e negativos a respeito das minhas capacidades; então o conflito poderia instalar-se. A experiência foi satisfatória e ficou selecionada na lembrança, mas essa prática obrigou-me a uma agilidade mental muito grande durante o decorrer do trabalho.

Por outro lado, a situação de extrema necessidade de estar o mais atenta possível, sem paixões ou preconceitos, em uma condição interação plena com o idoso, propiciou-me uma abertura maior para a experiência, pois eu conhecia a linguagem do velho. Por ser impossível a isenção dos sentimentos, podem ter havido distorções da comunicação com percepções inadequadas.

Então começou o trabalho de análise, no qual esclareceram-se vagarosamente, para todos os atores deste trabalho, os momentos decisórios em que os fatos foram narrados e o desvelamento do sentido oculto das queixas. Neste trabalho de interpretação, ficaram para trás o lamento, o pranto, a dor, mas ficou consolidada a resignificação, tanto do pesquisador quanto dos pesquisados. Será que somos as mesmas pessoas ou teria se manifestado alguma mudança em nós, com as experiências futuras, ainda não constatadas? Só o tempo poderá explicitar.

A Clínica Psicológica "Ana Maria Poppovic", integrada à Faculdade de Psicologia da PUC-SP, foi fundada em 1959, oferecendo atendimento individual e em grupos, para todas as idades. É uma clínica-escola atendendo à formação prática do aluno de graduação em Psicologia, no Aprimoramento desses profissionais. Na Clínica, os estagiários tomam a seu cuidado um ou mais pacientes, colocando na prática seu aprendizado teórico, contando com o apoio dos serviços de Psiquiatria, Neurologia, Psicopedagogia, Fonoaudiologia e Serviço Social.

Todos esses serviços são oferecidos à clientela moradora nas redondezas ou mesmo da periferia e às pessoas procedentes de instituições particulares ou governamentais. A clientela se compõe de pessoas de todos os níveis sociais, pagando honorários condizentes com seu referencial econômico e financeiro, ou recebendo gratuidade total.

A modalidade de atendimento à Terceira Fase da Vida pode ser feita em grupos ou individualmente, por psicólogos do setor de Aprimoramento Clínico, durante um ano, sob supervisão. A instituição possui um cadastro dos profissionais que atendem em seus próprios consultórios, nas mesmas condições de pagamento dos serviços oferecidos pela Clínica, quando há necessidade de encaminhamento externo, devido a grande fila de espera.

O objetivo é relatar uma experiência de grupo de 7 idosas com idade entre 50 e 80 anos, com tempo determinado de um ano. Este trabalho ocorreu na Clínica Psicológica Ana Maria Poppovic, da Faculdade de Psicologia da PUC-SP, entre 02/1999 e 02/2000.

A supervisão com 2h semanais, foi feita pela Psicóloga Ruth G. da Costa Lopes, doutora em Saúde Pública USP e Profa. da PUC-SP.

Efetuadas as preliminares entrevistas e triagem, foram selecionadas as participantes e iniciado o trabalho de grupo.

Neste trabalho, usei o referencial psicanalítico, pois pareceu-me mais condizente com o material psicológico trazido pelos membros do grupo. A demanda foi direcionada à interpretação dos sintomas, pois as participantes sofriam por não entenderem seus pensamentos auto-destrutivos como por exemplo, os de suicídio. Freud em seu “2º Ensaio sobre a Sexualidade, (1905)”, nos ensina que o desejo de conhecimento tem suas raízes na Pulsão de Vida. A Psicanálise proporciona o conhecimento dos empecilhos, quando propõe trazer à luz da consciência as experiências que, por serem mal compreendidas, ficaram armazenadas no inconsciente ou no corpo físico, desorganizando a saúde física e mental.

Quando a Pulsão de Vida se sobrepõe, existe auto-estima, então, advém a responsabilidade de cuidar de si e de sua saúde integral. Uma senhora no grupo disse: “...estou cansada de tomar remédio...” Nesta senhora percebe-se que faltam cuidados psicológicos, sem os quais podem sobrevir a depressão, baixa auto-estima, não aceitação da atuação em sociedade, culpa, etc. Costa Lopes nos diz, em sua Tese de Doutorado (1999), que o enfoque médico e medicamentoso não é suficiente, há que se buscar nas profundezas do ser, seguindo as indicações dos sintomas psicológicos. Afirma-nos igualmente “...não podemos dispensar o profissional médico ou os medicamentos, porém há no envelhecimento sentidos diferentes para cada indivíduo.” O amor-próprio restante nas pacientes do grupo foi suficiente para que procurassem ajuda especializada a fim de manterem-se longe da melancolia.

Uma senhora, no final de um ano de psicoterapia, disse lembrando Fagundes Varela: “...joga o verde da lagoa nos meus restos humanos, lava o que resta de mágoa e dor...” ( Este verso não foi encontrado na obra do autor citado. Talvez a senhora, necessitando livrar-se de conteúdos dolorosos, tenha-se lembrado deste trecho, atribuindo-o ao poeta Facundes Varela). Na Clínica Psicológica tratam-se as dores para as quais não há medicamentos e contando apenas com a palavra, a cura pode ser estabelecida.

Uma pessoa pode viver toda a existência, da infância à senectude, sofrendo por seguir comportamentos que não sente como característica sua, inadequados porquanto são impostos pela sociedade, na qual vive. Certamente percebe outras pessoas com seus hábitos e nas vivências em comum, nos fatos ou circunstâncias que dependem do referencial próprio de cada um.

Esse referencial próprio e particular no idoso, como em qualquer idade, pode estar desorganizado perante a coletividade, mas, de acordo com os objetos internos de cada um e, sendo os comandantes da atuação própria de cada pessoa, pode aparecer o conflito, desorganizando o sujeito em sua saúde mais plena, afinal, o que é alheio pode bloquear as nossas transparências. A apropriação do sentido dessa presença permite o restabelecimento de uma convivência mais despojada do seu referencial estranho, para tornar-se um compromisso de convivência satisfatória mais condizente com o desejo de cada um.

Durante o trabalho, fez-se presente no grupo, a figura dos ossos do esqueleto humano, devido ao doloroso incômodo provocado nas idosas. Os incômodos psíquicos juntaram-se aos físicos sendo ambos nomeados pelo grupo como o esqueleto, ambos a pedir ajuda. Freud nos ensina sobre o inconsciente e seus conteúdos que, por serem insuportáveis, são transferidos ao corpo físico por medida de economia de energia psíquica.

Esses conteúdos representam experiências que são próprias de cada um e encontravam-se bem internalizadas e cristalizadas nessas idosas, provocando sintomas os mais diversos. Tais cristalizações, assim como as cristalizações esqueléticas, manifestaram-se nas senhoras por estarem desorganizadas e, dessa maneira, limitavam a atuação na sociedade em geral e especificamente no cotidiano, entre a família ou amigos. Certamente restou ainda muito que organizar portanto, o trabalho deve continuar, as senhoras ficaram cientes desta necessidade.

No trabalho devo destacar 4 fases:
1) Atualização de vivências cristalizadas e enraizadas na história de cada senhora;

2) A representação desse fenômeno foi por meio de metáforas como a do esqueleto (Estés, 1994);

3) A liberação dos sintomas que as trouxeram à Clínica;

4) Decisão de resolver os conflitos existentes.

As senhoras começaram a participação no grupo trazendo o tema da morte. Esse discurso parece ligar-se a pensamentos que ressoam na consciência e são projetados no exterior como resultante da dor provocada por perdas como por exemplo: perda do trabalho com a aposentadoria, perda de entes queridos, dos atributos físicos desejáveis em nossa sociedade, sem falar nas dificuldades de adaptação aos novos contextos.

Instala-se nas idosas a insegurança que pode trazer a inércia, dificultando uma boa qualidade de vida. Essa inércia resulta em acomodação e requer energia e agilidade mental para ser ultrapassada. Essa energia, muitas vezes, a pessoa nunca necessitou mobilizar, dessa maneira, deve esforçar-se para compreender o atual momento em que vive. No setting terapêutico, o psicólogo vai caminhando com o mesmo passo do cliente, em busca do entendimento dos sintomas.

Como os pescadores com suas redes estão em busca das ofertas do mar, o psicólogo e o cliente, desta feita, estão em busca dos conteúdos do mar do inconsciente. Juntos apoiam-se um ao outro para o sucesso do empreendimento e juntos chegam ao conhecimento da experiência vivida. Como na metáfora do esqueleto, a primeira vista o produto da pesca parece aterrador ao sujeito da psicoterapia, porém aos poucos os erros de interpretação vão se esclarecendo. Há uma resignificação dos fatos, vem a sensação de saúde e leveza com a liberação dos sintomas e, dessa maneira, as dores vão sendo amenizadas. A alegria pode chegar e, com ela, a melhor qualidade de vida dentro do auto-conhecimento: “Tirei dez anos do baú da minha vida..”. disse uma das senhoras do grupo.

No intercâmbio entre as participantes do grupo, as senhoras perceberam temáticas comuns, que se refletem em alguns pronunciamentos que serão citados a seguir:

Não reconhecimento das possibilidades: “ Meu mundinho é deste tamanhinho...”

Baixa auto-estima : “Onde vou me levo, não adianta fugir, sair da cidade...e todos podem rodar a baiana, menos eu...”

Início de uma nova visão: “O mal é o “esqueleto”, se pudermos vê-lo de maneira diferente...”

(Neste trabalho “esqueleto” significa conteúdos internos ; físicos ou psíquicos)

Ampliação da escuta: “Aqui no grupo se tem muitas idéias sobre como podemos melhorar nossa vida...”

Reflexão de conteúdos particulares: “Tirei dez anos do baú de minha vida...Estou caminhando, ainda não cheguei, cheguei...?”

Identificação de movimentos particulares que se reproduzem dentro e fora do grupo:

“Fui á luta, consegui um emprego...” e “...a cabrita montês escorrega, mas continua sempre subindo...”

“À noite saí fui dançar...”

Percebe-se na fala dessas senhoras o movimento no sentido positivo, chegando em algumas a esperança, que neste estágio da vida é fundante. No grupo psicoterapêutico, as senhoras falaram sobre as questões pessoais, sentindo-se respeitadas em seu sofrimento. Ao relacionarem-se com as outras idosas, puderam compreender melhor a si mesmas.

Na frase de uma paciente do grupo em questão: “...estou cansada, e cansada de tomar remédio...”, percebe-se que o medicamento por si só não resolve as questões dos velhos. Isto nos afirma Lopes (1999): “Como o luto da própria vida pode se transferir na utilização do medicamento?” referindo-se às perdas naturais, que ocorrem no transcorrer da vida de qualquer sujeito mas que mal elaborados prejudicam, além da saúde psíquica do próprio sujeito, os relacionamentos sociais e familiares. A mente da pessoa está ligada, simultaneamente ao corpo físico e também ao corpo social em que está inserido.

Os medicamentos, podem atuar no corpo físico mas não atuam no campo mental, às ordens desta instância ou às imposições da sociedade. Os conteúdos inconscientes devem ser vistos e revistos cuidadosamente, dentro de sua complexidade, porém, o idoso deve ser monitorado no sentido de cuidar de sua saúde integral: física e psíquica. Dessa maneira, poderá conviver melhor consigo próprio e com os outros, usufruindo de melhor qualidade de vida. Por essa razão, o trabalho desenvolvido em psicoterapia conta com o suporte médico, se assim o caso necessitar.

A decisão de cuidar de si-próprio está implicada no tratamento psicoterapêutico, numa decisão estabelecida e firme, que pode assegurar a continuidade e eficácia desta conquista. A baixa auto-estima pode produzir desestímulo, auto-desprezo e, desta maneira, as pessoas podem sentir o futuro fora do seu alcance. Podemos modificar essa situação no decorrer do processo psicoterapêutico. Deve-se ter sempre presente, o fato de que estamos sempre no centro da situação da qual somos criadores e isso deve-se aos comandantes internos, inconscientes e imperiosos, os quais um dia demos guarida.

Nesse trabalho usei essa metáfora do “esqueleto” para designar conteúdos psíquicos, produtores de sintomas, os mais diversos. Quando uma pessoa percebe a desorganização dos conteúdos psíquicos, por exemplo, o medo do suicídio, manifestado pelo grupo de idosas, procura o entendimento do si-mesmo. Esse entendimento próprio é de difícil realização, posto que o medo e outros sentimentos, são produtos emergentes do inconsciente. De acordo com Freud, somos comandados por essa instância psíquica, e esta nos é inacessível, portanto incontrolável.

Na Clínica Psicológica, com o respaldo do grupo psicoterapêutico a pessoa vai “à pesca” e, assim, emerge das águas um “esqueleto”. Ao emergir das profundezas do mar do inconsciente, o estranho pescado é assustador. Emaranhado nas malhas da rede, o “esqueleto” persegue o pescador, pois a rede encontra-se presa em sua botas. Então, quanto mais corre, mais é perseguido. Com a continência do profissional e do grupo, dentro do contexto da interpretação e depois na resignificação, este “esqueleto” começa a ser recoberto com cores afetuosas. Vai adquirindo novo semblante, deixando a forma assustadora e passando a ser reconhecido como companheiro que possui algo a ensinar.

Seguindo forças que nos obrigam a agir de maneira estranha ao nosso desejo, vivemos toda a existência, da infância à senectude, com uma sensação de inadequação. Na convivência social e humana, nos deparamos com múltiplas vivências, fatos ou circunstâncias. Significamos de maneiras diferentes essas experiências, de acordo com as referências de cada um. A apropriação do sentido dessa presença nos permite restabelecer uma convivência despojada do seu referencial estranho para tornar-se um compromisso de vida satisfatória, mais condizente com o desejo de cada um. As participantes do grupo, carentes de compreensão de si-próprias, procuraram ajuda na Clínica Psicológica da PUC-SP.

O arcabouço ósseo, que nos serve de sustentação para as diversas funções exercidas pelo corpo, é comandado através do cérebro, pela mente. Freud nos ensina que podemos somatizar os conteúdos insuportáveis que, por força de economia psíquica, ficam armazenados no corpo físico, constituindo os sintomas. Reorganizando-os respeitosamente, pode-se conviver com eles usufruindo-se de melhor qualidade de vida. Esse processo é feito por especialistas, dentro do contexto psicoterapêutico.

CONCLUSÃO
“Velhice é um estado. Pode ser vida...identificar-se como velho seria uma fusão entre o de fora e o de dentro, ou então quando a ameaça não é mais externa mas também interna”. Gorodscy, (1997). Nas idosas com quem estudei o contexto velhice, pude constatar a estranheza que o ego experimenta frente a algo que parece não derivar de si, mas de fora de si. As reações das senhoras do grupo assumem a qualidade especular dos intentos inconscientes de uma sociedade que projeta no velho qualidades que não crê possuir.

Os velhos as acolhem e este fato pode levá-los à baixa auto-estima e conseqüente auto-agressão por culpa, inveja, ciúmes, etc. Podem os velhos, neste contexto, encontrar as doenças e até a morte, por ignorarem outros fatores como o auto-conhecimento. Adaptar-se não é resolver os problemas ou transformar o meio-ambiente, os sujeitos precisam encontrar os motivos dos seus aborrecimentos. Finalmente podemos dizer que adoecemos por incapacidade de nos conhecermos e, pelo mesmo modo, nos pensarmos. O auto-conhecimento é o processo correto de nos integrarmos à realidade que pode ser vista dentro da ótica do sujeito.

Neste trabalho, não foram enfocadas outras vertentes resultantes de patologias como, por exemplo, a mídia que impõe ao velho uma vida na qual toda a responsabilidade recai no próprio velho. Não é minha intenção responsabilizar as pessoas por todo o mal que lhes acontece, mas penso que as pessoas podem e devem reagir aos fatos decorrentes da sociedade capitalista, na qual impera a exploração e o lucro, desconsiderando a população e a boa qualidade de vida. Lopes (1999) nos diz que “...A saúde perfeita não deveria ser o objetivo essencial no tratamento a idosos.

Mas entender junto com os idosos os seus distúrbios, pode ser uma oportunidade a mais para a introspecção”. Mais adiante “...Formar pessoas conscientes e participativas na conservação da sua saúde e na prevenção de doenças implica conduzir, tanto usuários como profissionais de saúde a uma relação de encorajamento da autonomia do idoso, numa perspectiva de adaptação contínua ao ambiente.”

Neste trabalho usei a metáfora do esqueleto (Estés), para designar os conteúdos psíquicos internalizados e cristalizados em todos os seres humanos. Estes conteúdos estão presentes em todos os seres humanos assim como está o nosso esqueleto. Nosso arcabouço ósseo nos serve de sustentação para as diversas funções exercidas pelo corpo, sendo comandadas através do cérebro, pela mente. Esta pode somatizar os conteúdos psíquicos insuportáveis que, por força de economia da energia psíquica, ficam armazenados no corpo físico (Freud, 1925-1926).

Estes conteúdos psíquicos, agora transformados em sintoma, limita a ação, tanto quanto a desorganização do nosso esqueleto, podendo limitar a atuação na sociedade tanto quanto a desorganização do nosso esqueleto, especificamente no cotidiano entre amigos e em família. As cristalizações de experiências próprias de cada um, assim como as cristalizações esqueléticas manifestaram-se no grupo de idosos como um empecilho para a atuação do idoso na sociedade em geral e especificamente no cotidiano entre amigos ou em família.

Respeitando-se estes conteúdos, reorganizando-os cuidadosamente através da resignificação, pode-se conviver com elas usufruindo de melhor qualidade de vida. Este trabalho é feito por especialistas dentro do contexto psicoterapêutico.

BIBLIOGRAFIA:
FREUD, S. in Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, Volume VIII, (1905)

GORODSCY, R. C. in Revista do IANSP - S.P, (1997)

LOPES, R. G. C. in As interpretações sociais da saúde na velhice, refletidas no uso do medicamento. Tese de Doutorado na Faculdade de Saúde Pública da USP, (1999).

ESTÉS, C. P. in Mulheres que correm com os Lobos (1994)

Obs. Imp. Aqui cabe uma explicação: foi procurada a citada estrofe na obra de Fagundes Varela, não sendo encontrada. Professores da Faculdade de Letras foram consultados, sem conseguir-se êxito. É possível que a paciente tenha atribuído a Varela um sentimento expresso em verso, mas que era nascido de si própria, naquele contexto emocional.

Notas:
(1) Aprimoranda da Clínica da Faculdade de Psicologia da PUC-SP, onde foi realizada esta pesquisa – CRP 06/55729-0 – Telefone: 6901.5703