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BOLETIM CLÍNICO - número 12 - abril/2002

Boletim Clínico | Psicologia Revista | Artigos


E- Do lado direito é aquele chapéu de Bispo com aquele cordão, que parece o cordão dos voto que se tem que fazer no catolicismo... Para mim essa parte do vitral que tem o chapéu de Bispo em cor roxa, que seria a cor da provação, do sofrimento necessário para poder fazer a alquimia interior, passar de um ser humano comum para um iniciado espiritual. Seria o primeiro momento dentro dessa fé religiosa em que alguém está próximo da divindade. Esse é o primeiro degrau, aí começou a trajetória. São orações, votos, trabalho... Passando para o lado esquerdo nós teríamos o segundo degrau que seria um chapéu cardenalício, uma chave de prata e outra de ouro, ou seja, isso em termos de energia seria uma energia Yin e outra Yang que todo ser humano tem, que essas pessoas que já passaram pelo primeiro degrau de iniciação podem conseguir elevar-se espiritualmente mais ainda, então seria a união das duas energias lunar e solar que sobem pelos condutos virtuais ida e pingala, do kundaline até o chacra da coroa, lótus das mil pétalas. Quem consegue acelerar essa energia poderá chegar ao nível de consciência superior se colocando no 2º degrau de iniciação. Infelizmente nem todos os cardeais tem essa possibilidade de atingir essa evolução espiritual. No centro temos duas chaves de ouro. A transformação da chave de prata e de ouro em duas chaves de ouro significa simbolicamente que o iniciado atingiu o 3º grau de iniciação. Ele é animicamente uno, ou seja, conseguiu realizar o andrógino na própria alma. No centro aparece uma espada dentro do livro da sabedoria. Uma coisa é saber conhecimento incorporado à própria pessoa e outra coisa é conhecimento que pode ser um decoreba. Nesse vitral está a Sapientiae, ou seja, a sabedoria, e essa sabedoria precisa dessa espada que é a espada da lógica, gênero, espécie, bem, mal. A figura da espada da lógica dentro do livro da sabedoria significa simbolicamente poder transmitir aos outro o saber.

R- E aí ela vem na sua base com uma flâmula escrito "et agentus scientia" que é para brilhar a ciência, seria o ouro, mas aqui acho que o ouro está entrando como luminosidade.

E- Ou uma mutação, até chegar a esse ouro alquímico que é ouro espiritual, uma pessoa que chegou nesse ponto das duas chaves de ouro, que razoavelmente não é qualquer uma que chega à altura espiritual.

R- Os outros símbolos dele lá tem isso, no campo azul uma espada de prata guarnecida de ouro acompanhado de quatro flores de lis de esmalte.

E- A flor de lis é a trindade.

R- Aí alinhadas um brocante sobre ela, um livro aberto e um encadernado de púrpura e ouro com as palavras Sapientiae em letras pretas. O timbre dos atributos pontifícios num distel azul sobre o escudo "et agentum scientia" em letras de ouro. Então a espada na tradução oficial que foi feita para esse logotipo, a espada simboliza o martírio de São Paulo, padroeiro da cidade de São Paulo, sede da Universidade. As flores de lis são as que em número de cinco figuram nas armas do fundador da Universidade que era o cardeal Mota, o armínio que a pele em que heráldica simboliza a realeza no caso junto ao azul é uma homenagem à Nossa Senhora, que sobre a invocação do Imaculado Coração de Maria, é a padroeira da universidade. O livro é o elemento que aparece na maioria dos escudos e armas das Universidades e os motes Sapientiae e et agentus scientia lembra os objetivos específicos da Universidade com imagem nesses dois graus, a sabedoria e a ciência. Então na tradição oficial de quando foi realizado esse logotipo eles quiseram deixar isso daqui. Você fez outra leitura que eu acho mais rica.

E- Cada um faz da leitura que pode. Porque a flor de lis que eu saiba é o símbolo da trindade: pai, filho, espírito Santo que é a base de fé da religião católica... então realmente a coroa Papal está acima desse símbolo. Eu já mostrei que as chaves que aparecem no vitral tem um segredo: A Cruz o que nos diz simbolicamente toda a provação necessária para a subida espiritual.

R- As chaves tem a cruz no meio.

E- Não será que isso já diz também alguma coisa importante para a gente poder chegar nesses passos de iniciação tem que passar pelo grau iniciático primeiro que é o sofrimento, pathos, provações sobre dor ou sofrimento de manter a fé talvez se solicita que o fiel tenha a fé que brota dentro dele porque há vários tipos de fé, ou seja, nós podemos ser transformados pra fé de várias maneiras, uma delas, que não precisa de agente externo é a fé de Jó que passou por mil e uma provações e nunca negou seu Deus.

R- Se olharmos a história da universidade nós vamos ver que passamos por esses momentos de provação, desde a criação da universidade à junção de diversas unidades que eram diferentes, depois quando se unificou tudo, a formação de um campus universitário permanente, depois a ampliação desse centro universitário. Quando isso se consolidou nós fomos invadidos por policiais e tal, passamos a ser uma resistência ao governo ditatorial, é um outro tipo de purgação também, e hoje nós temos um momento, eu até brinco né, quando eu falo sobre a história da Universidade, ela passou por um tempo de adolescência onde ela era uma resistência ferrenha e hoje ela chega num ponto em que está ficando madura e ela começa a rever seus próprios princípios e ver para que lado ela quer caminhar e a universidade caminha hoje a passos de uma senhora madura, depois de cinqüenta anos ela já aprendeu o seu caminho e ela começa hoje a ter uma consciência de fato do seu caminhar.

E- Você fez uma metáfora de uma senhora cinqüentona que entrou na terceira idade com toda dignidade, é uma metáfora muito boa porque o que seria se nossa universidade tivesse se transformando em marketeira.

R- Eu não sei se eu estudei muito a Universidade para fazer o doutorado, mas no mexer com os documentos é nítida essa história. Você tem um primeiro momento em que ela é um bebezinho mesmo, onde os pais, que eu chamo a igreja católica estavam muito mais presentes na direção, Eles eram os reitores. Eles vinham, faziam as reuniões, eles queriam saber. Você tinha os padres tomando conta do filho, depois você passa por um outro período que eles começam a dizer: não, você já pode ser responsável para começar a andar sozinho, então você passa a ter um reitor leigo, o reitor leigo passa a ter vontades próprias, você cria uma carreira acadêmica, depois cria uma carreira administrativa, os alunos passam a ter vontade própria, começam a ser lideranças de políticas estudantis e aí a gente entra nesse período de adolescência, que é: o governo é ruim? Eu sou resistência, precisa mudar aqui? Então nós vamos fazer um projeto do básico, precisa fazer aquele negócio. Nós vamos criar um centro de excelência. Precisa fazer alguma coisa na periferia, então nós vamos criar estudos especiais e ela se amplia a tal ponto de que ela sonhou tudo na prática: fez constituinte, fez eleições diretas, ela fez o básico, toda a parte de centros de excelência, então centro de humanas, centro de ciências jurídicas, fez a paridade... aí chegou no momento em que aquela adolescência tem que se consolidar; eu focalizo muito isso no final do mandato do professor Vanderley, que é num momento que a gente diz assim: para ser democrático precisa ser paritário? As eleições precisam ser feitas desse jeito mesmo, nesses níveis que a gente faz? Nós precisamos de um novo estatuto ou esse que nós temos é muito bom e nos supre a nossa necessidade... nós vamos passando por aquela idade que falamos: não, peraí, eu posso crescer, mas eu não preciso ficar mexendo toda hora na minha base. E aí ela passou por uma transição ruim que foi um choque: o que eu quero? Quero crescer com responsabilidade ou quero virar um permanente baluarte da fé e da glória...não, ela resolveu crescer com responsabilidade. Aí a gente olha pra PUC e fala: puxa ela não se mexe! Ela parece uma água parada, mas não é isso não, ela atingiu de fato essa maturidade e hoje ela cresce com consciência, ela pensa para que lado ela vai caminhar e ela sabe por onde, porque ela já tentou todos esses caminhos, ela fez muito mais que qualquer outra universidade no país, ela testou os seus campos de conhecimento...eu vejo desse jeito, falta à PUC exatamente encarar isso: dizer que é uma universidade pequena, que terá no máximo doze mil alunos, mas que esses doze mil alunos vão sair daqui com excelente qualidade profissional numa universidade de excelente qualidade acadêmica e profissional, tá faltando no meu modo de entender, esse público de qualidade para a Universidade.

E- Eu concordo com isso, várias universidades que eu entendo que são apenas esteiras volantes em que alunos universitários passam do 2o grau para o 3o grau e saem com o diploma debaixo do braço e querem obter o que menos importa que é o diploma são fábricas de diplomas.

R- É... o professor Joel Martins falava, nós temos que atingir uma Universidade que tem ensinos transdisciplinares. Então nós temos que caminhar para esse projeto, e eu acho que apesar do Joel ter morrido, o projeto permanece, a Universidade Católica tem que fazer o pátio da cruz, que é exatamente isso: de acordo com essa minha base, que é o nosso pátio da cruz, a gente atingir o nosso intelecto que seria o topo do pátio da cruz.

E- Pela ciência e também a sabedoria.

R- A Psicologia tem tudo a ver com a História, que tem tudo a ver com Direito que tem tudo a ver com a Medicina. Se nós conseguíssemos fazer estudos que fossem transdisciplinares, nós estaríamos formando um ser humano mais completo, mais apto ao conhecimento e à sabedoria.

E- E seguramente uma pessoa mais humana porque essa transdisciplinariedade é o que está procurando agora a visão, a abordagem ecológica. Um conjunto de saberes que estavam isolados, departamentalizados... então vamos tentar entender isso em conjunto, de que adianta fabricar, fabricar e poluir o ambiente e se está acabando com toda essa cultura.

R- E eu acho muito feliz a coincidência de que no pátio da cruz onde o cruzeiro estava ali no tempo do convento foi assentada a placa de pontifícia.

E- Mas não é coincidência... o pátio tem uma vibração, como a arvorezinha que vem a aterrissar no centro da cruz.

R- E nós temos no centro do prédio, no centro desse círculo, nós temos exatamente a cruz, a pontifícia e hoje nós temos a natureza indo ao encontro disso, é muito bacana isso.

E- Eu acho que nossa conversa já chegou fim.

R- Eu fico agradecido pela entrevista e fico aberto para outra.

Já falamos nas "Palavras do editor" da sincronicidade entre a breve história do convento de Santa Tereza e o artigo sobre a memória do Prof. Emílio Celso de Oliveira mas não bastou esta sincronicidade e vemos outra mais interessante. Encontramos depois de vários anos. O Prof. Miguel Ângelo Perosa e eu quisemos mostrar a acrobacia aérea da arvorezinha no Pátio da Cruz. Miguel ficou em silêncio depois disse que na sua volta a Universidade esteve no pátio e fez o poema a seguir:

CRUZ DO PÁTIO

Quem entenderá tuas monjas
diante das portas do claustro
vergastando as próprias costas
Senão tu?

Quem entenderá o rosto da repressão
Acelerando à tua volta
Preâmbulo de brutalidade e obscurantismo
Senão tu?

Quem entenderá os violões
a inocência alegre dos meninos e meninas
ensaiando cenas e cantos em teus degraus
Senão tu?

Quem entenderá minha volta
a renovação dos melhores propósitos
no exercício pedagógico do melhor de mim
junto aos pares
testemunhas da minha história
Senão tu?

Efraim Rojas Bocalandro - Mestre em Comunicação e Semiótica e Doutor em História da Cultura – PUC-SP

Miguel Ângelo Valente Perosa - Psicólogo Especialista e Doutor em Psicologia Clínica da PUC-SP