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BOLETIM CLÍNICO - número 19 - novembro/2004

Boletim Clínico | Psicologia Revista | Artigos


9. História do Braille

LUZ NA ESCURIDÃO

Um dia, um menino de 3 anos estava na oficina do pai, vendo-o fazer arreio e selas. Quando crescesse, queria ser igual ao pai.
Tentando imitá-lo tomou um instrumento pontudo e começou a bater numa tira de couro. O instrumento escapou da pequena mão, atingindo-lhe o olho esquerdo.
Logo mais, uma infecção atingiu o olho direito e o menino ficou totalmente cego.
Com o passar do tempo, embora se esforçasse para se lembrar, as imagens foram gradualmente desaparecendo e ele não se lembrava mais das cores.
Aprendeu a ajudar o pai na oficina, trazendo ferramentas e peças de couro.
Ia para a escola e todos se admiravam da sua memória.
De verdade, ele não estava feliz com seus estudos. Queria ler livros. Escrever cartas, como os seus colegas.
Um dia, ouviu falar de uma escola para cegos. Aos dez anos, Louis chegou a paris, levado pelo pai e se matriculou no instituto nacional para crianças cegas. Ali havia livros com letras grandes em relevo. Os estudantes sentiam, pelo tato, as formas das letras e aprendiam as palavras e frases.
Logo o jovem Louis descobriu que era um método limitado. As letras eram muito grandes. Uma história curta enchia muitas páginas.
O processo de leitura era muito demorado. A impressão de tais volumes era muito cara. Em pouco tempo o menino tinha lido tudo que havia na biblioteca.
Queria mais. Como adorava música, tornou-se estudante de piano e violoncelo.
O amor à música aguçou seu desejo pela leitura. Queria ler também notas musicais.
Passava noites acordado, pensando em como resolver o problema.
Ouviu falar de um capitão do exército que tinha desenvolvido um método para ler mensagens no escuro.
A escrita noturna consistia em conjuntos de pontos e traços em relevo no papel.
Os soldados podiam, correndo os dedos sobre os códigos, ler sem precisar de luz.
Ora, se os soldados podiam, os cegos também podiam, pensou o garoto.
Procurou o capitão Barbier que lhe mostrou como funcionava o método. Fez uma série de furinhos numa folha de papel, com um furador muito semelhante ao que cegara o pequeno.
Noite após noite e dia após dia, Louis trabalhou no sistema de Barbier, fazendo adaptações e aperfeiçoando-o.
Suportou muita resistência. Os donos do instituto tinham gasto uma fortuna na impressão dos livros com as letras em relevo. Não queriam que tudo fosse por água abaixo.
Com persistência, Louis Braille foi mostrando seu método. Os meninos do instituto se interessavam.
À noite, às escondidas, iam ao seu quarto, para aprender. Finalmente, aos 20 anos de idade, Luis chegou a uma alfabeto legível com combinações variadas de um a sei pontos.
O método Braille estava pronto.
O sistema permitia também ler e escrever música.
A idéia acabou por encontrar aceitação. Semanas antes de morrer, no leito do hospital, Louis disse a um amigo:
"Tenho certeza de que minha missão na Terra terminou."
Dois dias depois de completar 43 anos, Louis Braille faleceu.
Nos anos seguintes à sua morte, o método se espalhou por vários países.
Finalmente, foi aceito como o método oficial de leitura e escrita para aqueles que não enxergam.
Assim, os livros puderam fazer parte da vida dos cegos. Tudo graças a um menino imerso em trevas, que dedicou sua vida a fazer luz para enriquecer a sua e a vida de todos os que se encontram privados da visão física.
Há quem use suas limitações como desculpa para não agir nem produzir. No entanto, como tudo deve nos trazer aprendizado, a sabedoria está, justamente, em superar as piores condições e realizar o melhor para si e para os outros.

BRAILLE, LOUIS

Educador francês, inventor do alfabeto que tem seu nome, para cegos (Coupvray, perto de Paris, 04/01/1809 - Paris, 06/01/1852). Braille ficou cego aos três anos de idade em conseqüência de um acidente seguido de oftalmia. Tornou-se, apesar disso, excelente organista e violoncelista. Com uma bolsa de estudos, conseguiu cursar, em Paris, o Instituto Nacional para Jovens Cegos (1819), onde passou a lecionar depois de 1826. O fundador da escola, Valentin Haüy, observara que os cegos eram capazes de acompanhar como os dedos letras vulgares, romanas, em relevo. Conseguiu produzir tais textos e ensinou crianças cegas a ler. O sistema de Haüy permitia a leitura mas não a escrita. Braille se interessou por um sistema de escrita inventado pelo Charles Barbier de la Serre, que cegara na Palestina, para transmissões noturnas em campanha. Baseava-se em pontos em relevo, grupados de 12 em 12 formando 36 combinações. Braille reduziu para 6 os pontos de cada grupo e consegui 63 combinações.

Seu sistema foi publicado em 1829; uma versão mais elaborada apareceu em 1837.
Hoje os deficientes visuais aprendem esta escrita na "Associação dos Cegos em Juiz de Fora".

Fonte: Enciclopédia BARSA
Volume - 3 - pag - 212

ESCRITA PARA DEFICIENTES SURGIU DE IDÉIA MILITAR

O cego só se tornou gente no final do século XVIII, quando surgiu um movimento assistencial que ainda procurava educar os deficientes visuais e mesmo tentar fazer com que lessem pelo tato em tipos gráficos ampliados. Até então só os ricos senhores gregos e romanos, quando perdiam a visão, tinham os olhos dos escravos para satisfazer o hábito de leitura. Os copistas cegos podiam ao menos relembrar infinitamente os textos que copiaram quando ainda possuíam a visão. Aos demais, restava o tratamento de doentes, aprendendo e transmitindo oralmente seu conhecimento. Para eles, não havia quase oportunidades de trabalho.

Em 1784, Valetim Hüy inaugurou uma instituição educacional para os cegos em Paris. Mais tarde o capitão de artilharia Nicolas-Marie-Charles Barbier de la Serre criou um sistema combinado de pontos e traços em relevo para uso militar em operações noturnas e silenciosas. A "escrita noturna" aproximou Barbier dos deficientes visuais. Foi então que um aluno de 15 anos do Instituto Nacional para Jovens Cegos, em Paris, elaborou o surpreendente sistema de leitura e escrita para cegos utilizado ainda hoje que levou seu nome: Louis Braille (1809-1852).

Um fato que deve ser citado é que naqueles tempos ainda escuros para os cegos foi importante a participação deles na literatura popular como divulgadores e não como personagens. Pode parecer paradoxal, mas foram os maiores divulgadores da hoje conhecida literatura de cordel. Em Portugal, a Irmandade do Menino Jesus dos Cegos de Lisboa obteve direitos exclusivos na venda dos folhetos foram conhecidos como "literatura de cego". Apesar de pejorativa, a denominação não retira dos deficientes visuais sua importância, ao menos em Portugal, na divulgação da leitura.

Jornal Leitores & Livros - Nº 12 - Março de 2000