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BOLETIM CLÍNICO - número 20- julho/2005

Boletim Clínico | Psicologia Revista | Artigos


17. Projeto Inclusão - Percurso 2004

Quero inicialmente deixar claro que quando me refiro e quando retorno ao Projeto Inclusão e ao Serviço Inclusão, ainda que sob o risco de me tornar repetitiva, cabe re-lembrar que o Projeto Inclusão é, como seu próprio nome indica um projeto e sua ação tem vários desdobramentos, dos quais não é a menor a produção de conhecimento e o contribuir para a realização de pesquisas psicológicas no campo das deficiências mentais (ainda que seja evidente existir uma carência desse tipo de pesquisa em todos os campos de exclusão que são ocasionados pela existência de pessoas portadoras de marcas estigmatizadoras no corpo).

Entrando agora no seu quinto anos de existência, o que o Projeto Inclusão tem para apresentar? Primeiro que tudo ele alcançou certo grau de reconhecimento institucional, pela implantação, na Clinica Psicológica, do Serviço Inclusão, de duração anual.

O Serviço Inclusão se volta para o aprimoramento de formação de psicólogos matriculados no Aprimoramento da Clinica Psicológica da PUC / SP que o escolhem livremente e nele é indicada e debatida a bibliografia atualizada pertinente à processos psicoterapêuticos e deficiência mental, e os psicólogos inscritos são instrumentalisados através de estágio supervisionado de atendimentos psicoterapêuticos de orientação psicanalítica de crianças, adolescentes e adultos, matriculados na Clínica, que sejam afetados pela deficiência mental. O Serviço Inclusão preocupa-se também com o cuidado com o entorno que rodeia a pessoa deficiente mental, tomando-se como entorno toda e qualquer instituição: família nuclear, família próxima e agregados, instituições escolares especiais ou não, instituições governamentais e/ou filantrópicas e/ou privadas que atendem essa população de modo inclusivo ou não, profissionais que intervêm no atendimento do caso ou, se necessário, efetua a procura de profissionais habilitados, que possam lidar, com eficiência, com as singularidades do caso atendido.

Em 2004, seu primeiro ano de funcionamento, o Serviço Inclusão contou com 04 aprimorandos regularmente matriculados e com a presença, nas supervisões dos atendimentos, de Claudia Segura, T.O. da APABEX. Claudia com sua profunda experiência em campo, numa clássica instituição especializada, muito contribuiu para enriquecer o grupo de supervisão. Neste primeiro grupo de supervisão do Serviço Inclusão foi também supervisionada a parte teórica de um TCC, fundamentado no atendimento de um adolescente que tem a S.D., matriculado na Clinica. Seu autor, Thiago Vendramini, contou com a orientação de TCC e supervisão do atendimento clínico da prof. Eloísa Penna. Relatado, de modo mais ou menos esporádico no grupo de supervisão, este atendimento nos permitiu vislumbrarmos algumas peculariedades do sand play e acompanharmos, não só o investimento de Thiago no atendimento como as vicissitudes do processo psicoterapêutico.

Como é do conhecimento dos professores da Clinica, apenas este ano tornou-se obrigatória a apresentação de uma monografia no Aprimoramento e a questão da necessidade de apresentação dela para os Serviços ficou pouco esclarecida. De todo modo, orientei uma monografia no Serviço Inclusão e todos os aprimorandos apresentaram um relato escrito de seus atendimentos. Os casos atendidos foram, na sua grande maioria, difíceis, de manejo no cotidiano do atendimento e exigiram muito de seus psicoterapeutas, desde vistas a escolas, entendimentos com médicos da Santa Casa, encaminhamentos vários.

O Serviço Inclusão foi convidado pela Estação Especial Lapa para apresentar duas palestras aos seus usuários, equipe técnica e pais sobre o tema Sexualidade e Deficiência Mental, sempre difícil e instigante, porque muito delicado. Optamos por fazer uma pequena apresentação do tema, como aquecimento, e formamos grupos de discussão, conduzidos pelos aprimorandos do Serviço, que receberam certificados da Estação Especial Lapa, registrando sua cooperação no evento.

O Projeto Inclusão por sua vez, volta-se hoje em dia de modo preferencial para alunos de quarto e quinto ano da Faculdade, que nele se inscrevem quando da publicação de uma convocatória para um estágio voluntário supervisionado, que acontece em instituições externas, ou mesmo na Clínica da PUC, quando a fila de espera está grande (é necessário lembrar aqui que o Serviço Inclusão foi criado apenas no ano de 2004 e o Projeto Inclusão data de 2000).

Em 2004 o Projeto inclusão contou com a inestimável colaboração de Rosana Basto do Espírito Santo, que supervisionou 09 atendimentos semanais, realizados por 06 psicoterapeutas / alunos e dois psicólogos que já faziam parte do Projeto de há muito. Os casos atendidos e supervisionados ( em vários horários) vinham de anos anteriores e foram atendidos aqui na Clínica, ainda que os dois psicólogos atendessem os pacientes do Projeto Inclusão nos seus consultórios.

O Projeto Inclusão foi convocado pela Escola Estadual Calixto de Souza Aranha, na Água Funda, para realizar diagnóstico psicológico de seus alunos de classe especial. O objetivo declarado da escola era verificar se havia ou não necessidade da manutenção das classes especiais. Graças aos bons ofícios de Fernanda Cammarota, aprimoranda do Pensando o Pensar da Psicanálise na Clínica e autora de um TCC no campo das deficiências mentais, obtivemos salas para atendimento na Instituição Social Beneficiente Novo Signo, em Vila Clementino o que facilitou o acesso dos consultantes e evitou a sempre presente luta por espaço aqui na PUC/SP.

Publicada a convocatória para alunos quarto e quinto anos inscreveram-se e trabaharam 28 voluntários (!) que realizaram 30 diagnósticos psicológicos (!!!!) Fernanda Cammarota conseguiu a colaboração de pessoas físicas solidárias para compra de material de testes (que passaram a constituir acervo do Projeto Inclusão) organizou as grades horárias de atendimentos e todos os estagiários tiveram seus processos de diagnóstico supervisionados por ela, Rosana e eu.

O projeto Inclusão realizou assim um serviço voluntário de caráter profissional de altíssimo nível. Grande foi o significado e repercussão para os alunos de classes especiais da Calixto - a maioria absoluta foi encaminhada para classes comuns (para alguns foi indicado ao mesmo tempo classe de reforço) Para outros alunos foi indicada a prática de determinados esportes e/ou ateliês de artes (e a escola instada a providenciar isto) Alguns outros foram encaminhados para neurologistas e finalmente alguns poucos, pela gravidade de suas condições, foi indicada a permanencia em classe especial.

Tenho certeza que os nossos alunos ganharam muito com a experiência - não só academicamente (pois executaram todo o processo diagnóstico de entrevistas preliminares, visitas a escola, redação do laudo) mas existencialmente: se depararam com uma população vitima não só da exclusão social pela pobreza (havia casos de 14 pessoa morando no mesmo casebre) mas ameaçada de outra exclusão - a escolar.

Em novembro 2004, numa sexta feira, infelizmente chuvosa, registrado pela TV.PUC, realizamos um pequeno evento numa das classes do segundo andar do Prédio Novo, no qual entreguemos os certificados de prestação de serviços voluntários supervisonados para 40 alunos e ex -alunos nossos, que trabalharam para o Projeto Inclusão.

Escrevi acima que precisamos de pesquisas psicológicas sobre a deficiência mental e seu entorno. Talvez caiba registrar que está acontecendo na Psicologia da PUC/SP uma tomada de conhecimento mais profunda deste tema, que está registrada nos TCCs. No ano passado, só pelo Projeto Inclusão, aconteceram dois TCCs (nenhum dos quais orientado por mim) Este ano (2005) oriento dois TCCs dentro desse campo e existem outros. Vou ainda um dia desses pesquisar....

De que modo pode ser terminado este relato? Recorro a Winnicott e faço minhas as suas considerações: ... o impulso criativo pode ser visualizado a cada momento vivido de uma criança retardada que frui o respirar...