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BOLETIM CLÍNICO - número 20- julho/2005

Boletim Clínico | Psicologia Revista | Artigos


18. A Triagem Intervenção: Estágio do Núcleo 56 da PUC-SP na UBS e Ambulatório de Especialidades Maria Cecilia F. Dornazello - Brasilândia em 2004

O trabalho que aqui será apresentado trata-se da experiência de estágio vivenciada no quinto ano da Faculdade de Psicologia, durante o ano de 2004. A proposta de trabalho surgiu do acordo de cooperação estabelecido entre o Núcleo 56 - Contextos em crise e estratégias terapêuticas na clínica institucional, da Faculdade de Psicologia da PUCSP e a equipe de Saúde Mental da UBS e Ambulatório de Especialidades "Maria Cecília F. Dornazello" - Brasilândia.

Enquanto Ambulatório de Especialidades, a instituição "Maria Cecília F. Dornazello" conta com diversos especialistas: neurologista, endocrinologista, pediatra dermatologista, cardiologista, gastrologista, ginecologista, etc. Essas especialidades são responsáveis pelo atendimento de toda a região das Brasilândia, totalizando aproximadamente 250 mil pessoas.

Já o serviço de UBS é dividido em áreas de abrangência, que segue as normas da regionalização das Coordenadorias de Saúde das Subprefeituras de São Paulo. Portanto, abrange apenas uma parcela da população da Brasilândia. O atendimento em Saúde Mental, que foi o foco principal deste trabalho, faz parte do serviço de UBS.

A equipe de Saúde Mental do "Maria Cecília" até o final de 2004 era composta por duas Psicólogas, duas Psiquiatras, uma Terapeuta Ocupacional, duas Assistentes Sociais, uma Enfermeira e sete estagiários da PUC/SP. Algumas das atividades desenvolvidas por essa equipe eram: o plantão de acolhimento, atendimentos individuais e grupos, como o da terceira idade, de Liang-Gong, de saúde mental. Essa equipe se reúne semanalmente às quartas-feiras para discutir os casos do plantão e seus possíveis encaminhamentos, e às quintas-feiras para discutir os casos em andamento.

A demanda inicial, para a dupla de estagiárias da psicologia da PUCSP, foi a de se atender a população no Plantão de Acolhimento de Saúde Mental, com finalidade de intervenção breve. A supervisão na instituição ficou a cargo da psicóloga contratada Ana Carolina Menko e no núcleo a cargo da profa Dra Felicia Knobloch. As pessoas que foram atendidas no plantão vinham encaminhadas por especialistas do "Maria Cecília" ou de outras áreas de abrangências da Brasilândia. Outras procuravam espontaneamente esse serviço, geralmente com o intuito de aliviar a ansiedade advinda de alguma situação de crise.

O Plantão de Acolhimento realizado pelas alunas da PUCSP teve como objetivo desenvolver triagens interventivas baseadas nos princípios da psicoterapia breve, principalmente no que diz respeito à situação emergente como foco da situação de angústia a ser trabalhada.

Com base nestes objetivos, foram utilizadas as seguintes estratégias clínicas na triagem interventiva:

Ø não reduzir o atendimento a um único encontro para um encaminhamento,
Ø entender a situação de crise,
Ø iniciar um processo de esclarecimento e elaboração da crise, quando possível,
Ø promover intervenções breves que buscam resolutividade dos conflitos atuais dos pacientes,
Ø preparar para o encaminhamento, quando necessário.

As estratégias eram seguidas em todos os casos, inclusive para as pessoas de outras áreas de abrangência, que ali chegavam. Então, mesmo quando chegava um paciente que não pertencia ao "Maria Cecília", não era feito o encaminhamento diretamente para a sua unidade, mas realizava-se uma escuta da problemática trazida, o que muitas vezes significava mais de um encontro, com o objetivo de intervenção e/ou preparo para o encaminhamento. Buscava-se garantir a passagem, o que demandava não somente dar o endereço e o telefone do outro local para o paciente, mas explicar a importância e o porquê de procurar atendimento lá. Era feita a ponte: realizava-se o contato com a equipe deste outro serviço e notificava-se o encaminhamento. Por exemplo, para os agentes de saúde, no caso de PSF, eram passados os dados do paciente e a informação de como era importante que eles entrassem em contato com a pessoa necessitada de atendimento.

Essa orientação de encaminhamento está baseada na idéia de que uma postura de maior implicação com a situação pode reverter em uma maior sustentação da situação de angústia do caso e não de "vivência de abandono". Em decorrência dessa postura, por muitas vezes também as estagiárias entravam em contato com a unidade para confirmar se o procedimento havia se efetuado e se o paciente conseguira atendimento (follow up).

Os casos atendidos no Plantão de Acolhimento eram discutidos pelas supervisoras - do "Maria Cecília" e da PUC-SP - e posteriormente, na reunião com a equipe de saúde mental às quartas feiras. Os encaminhamentos eram acordados nesta reunião com a equipe. Havia quatro desdobramentos possíveis:
1. Resolução no próprio plantão e alta do paciente - total de 8 pacientes.
2. Encaminhamento para um dos serviços dessa unidade - total de 26 pacientes.
3. Encaminhamento para um serviço pertencente à área de abrangência do paciente : Qualis, PSF, CAPS e outras UBS - total de 19 pacientes.
4. Encaminhamento externo: clínicas-escola: PUC, SEDES, Unip - 10 pacientes.

Foram atendidos em 2004, no estágio, 72 pacientes. Na grande maioria dos casos foram feitos três atendimentos (52 pacientes). Para alguns casos realizou-se de quatro a sete atendimentos (18 pacientes) e para dois casos foram realizados oito ou mais atendimentos. É importante destacar que 9 pacientes não seguiram nenhum dos quatro desdobramentos destacados acima. Esses pacientes foram aqueles que o contato foi perdido, isto é, faltaram no retorno e não foi possível entrar em contato telefônico novamente.

Pode-se considerar que foi cumprido o objetivo que se pretendia com o estágio, de realizar uma escuta com finalidade interventiva. Percebeu-se que o trabalho de atendimento no Plantão de Acolhimento deu maior sustentação para a discussão dos casos com a equipe, possibilitou intervenção das angústias emergentes, colaborou para uma maior organização psíquica do sujeito, permitiu um enfrentamento da situação crítica e implicou o sujeito na continuidade de seu tratamento.

Por fim, as estagiárias da PUC-SP, consideram que essa experiência foi extremamente importante para sua formação. O estágio na unidade "Maria Cecília" ofereceu a oportunidade de se conhecer o funcionamento e o trabalho do psicólogo em uma Unidade Básica de Saúde e Ambulatório de Especialidades. Houve também participação na reunião da equipe de saúde mental, que ofereceu a oportunidade de aprender como é o trabalho institucional, como é estar em uma equipe multidisciplinar e também como funcionam as políticas públicas de saúde. Além disso, o estágio possibilitou uma experiência muito rica nos atendimentos do Plantão de Acolhimento, tanto pela quantidade de casos atendidos, como pela variedade de sintomas, queixas e idades dos pacientes.