As matemáticas surgiram
de necessidades práticas humanas que, vivendo em sociedade, deveriam
elaborar calendários, cobrar impostos, controlar os gastos públicos,
demarcar terras e prever cheias dos rios. Esse conhecimento garantia o poder
sobre os menos informados. Temos evidências do conhecimento da geometria
entre os egípcios, babilônios, hindus e chineses.
Para alguns autores,
segundo Domingues no prefácio da obra de Fetissov (1997), o desenvolvimento
da geometria pode ser classificado nas seguintes etapas:
Geometria
subconsciente: o
homem apresenta um senso geométrico inato e as primeiras necessidades
práticas, como demarcar terras, fizeram-no desabrochar. Considerando
questões concretas, desenvolveu-se a noção de distância (“mais longe”,
“menos longe”) e dos primeiros polígonos (quadrado, retângulo). “Como é
natural, os primeiros conhecimentos geométricos foram adquiridos pelo método
indutivo[1], a partir de um
número grande de observações e experiências” (FETISSOV, 1997, p.20).
Geometria
científica: geometria
praticada pelos egípcios e babilônios, que perceberam que os objetos
geométricos apresentam propriedades, o que requer certo grau de abstração. A
partir da experiência, de dados empíricos, de tentativas e erros, notaram,
por exemplo, que a razão entre a circunferência e o seu diâmetro é
constante. ”Porém, à medida que se foram acumulando verdades geométricas,
descobriu-se que muitas delas podem ser obtidas de outras mediante
raciocínios, ou seja, por dedução[2],
sem necessidade de recorrer a nenhuma experiência particular” (FETISSOV,
1997, p.20).
Geometria
demonstrativa: as
primeiras iniciativas para a organização de uma geometria dedutiva, mesmo
que rudimentar, segundo a obra de Eudemo de Rodes (séc. III a.C.), são
atribuídas a Tales de Mileto. Posteriormente a escola pitagórica apresentou
algumas seqüências de teoremas, demonstrados a partir dos anteriores,
por meio do raciocínio lógico. “O estudo atendo dessas verdades
[descobertas pela observação] revelou que se podem obter algumas delas a
partir de outras, por deduções lógicas. Isso sugeriu a idéia de pinçar de
entre todas as verdades geométricas algumas mais simples e gerais para
servir de base à dedução das demais propriedades e relações geométricas. (FETISSOV,
1997, p.21).
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As civilizações
egípcias e babilônias antigas (3000 a.C.) possuíam conhecimentos
geométricos práticos, como cálculo de áreas e volumes. Na
Antiguidade o conhecimento geométrico retratava situações
observáveis no cotidiano. A origem do termo geometria (do greco geo,
terra, e metrein, medida) reflete essa característica prática.
Posteriormente, com o desenvolvimento do raciocínio lógico e sua
aplicação na matemática, que atribuímos a Tales (c.625 a.C. – c.547
a.C.) e que foi aprimorado pelos pitagóricos, emerge uma literatura
voltada a descrever as cadeias dedutivas propostas pelos matemáticos
gregos, nas quais, a partir de poucas afirmações, aceitas por todos,
seria possível deduzir uma série de proposições que então eram
conhecidas e apresentadas de modo não formal. |
Tales |
A sociedade grega
era composta de escravos e nobres, que valorizavam a contemplação
filosófica, deixando a cargo dos primeiros os trabalhos manuais.
Vivendo nesse ambiente, onde emergiu a dialética, acreditasse que
Tales, reunindo o conhecimento matemático do Egito e da Babilônia,
tenha sido o primeiro a axiomatizar os conceitos da matemática. Foi
na Grécia, portanto, que a matemática perde seu caráter prático
assumindo o status de ciência pura, fundamentada no método dedutivo.
Segundo BRITO (1995, p.30) “para os gregos, as verdades geométricas
eram absolutas no sentido de independerem do tempo e do ser humano,
além de fornecerem explicações racionais para o funcionamento do
universo”.
Após os trabalhos de
Tales, a escola pitagórica teve uma grande influência no desenvolvimento
matemático grego. Criada por Pitágoras a escola sobreviveu após 150 anos de
sua morte, deixando importantes contribuições.
A geometria pitagórica
constitui um avanço em relação a de Tales quanto ao aspecto dedutivo. Na
obra pitagórica já se notam algumas cadeias de teoremas, com uns deduzidos
de outros por raciocínios lógicos. Mas, pelo fato de que não partia de um
conjunto de axiomas explicitados e porque só se ocupava de certos entes,
figuras e conceitos privilegiados pelas idéias filosóficas da escola
pitagórica, essa obra não constitui um exemplo de sistema dedutivo (FETISSOV,
1997, p.06) |
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Pitágoras |
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No séc. V a.C.,
foram escritos alguns livros denominados Elementos, que tentavam
apresentar o conhecimento matemático da época, por meio de sistemas
axiomáticos. Podemos citar alguns de seus autores: Hipócrates de Quio (c.470 a.C. – c.410 a.C.), Leon e Teudio de Magnesia, cujos
períodos de vida desconhecemos e Euclides (c.330 a.C. – c.260 a.C.).
Somente a obra desse último chegou até os nossos dias e é
considerada uma compilação dos trabalhos anteriores, não contendo
somente os conhecimentos da época sobre as seções cônicas e
geometria esférica.
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Euclides |
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