Os modelos cosmológicos de Ptolomeu e Copérnico estiveram no centro do confronto entre Galileu e a Igreja. Tanto num sistema como no outro, os astros seguem trajetórias circulares, com velocidades constantes. Para adaptar essa concepção ideal aos dados reais, Ptolomeu e Copérnico foram obrigados a usar vários truques. Um deles: fazer os corpos celestes percorrerem pequenas circunferências (epiciclos), que eram arrastadas em órbitas circulares maiores (deferentes).
A cosmologia só se livrou destes e de outros artifícios quando Kepler constatou que as trajetórias dos planetas eram elípticas - e não circulares - e suas velocidades variavam ao longo da órbita. Com base nessas descobertas, ele realizou uma reforma radical do modelo copernicano. Apesar de conhecer a obra de Kepler, Galileu jamais abriu mão da idéia da circularidade dos movimentos celestes
Na teoria de Copérnico (ao alto), a Terra se move em torno do Sol. Mas seus dados foram corrigidos pelas observações de Ticho Brahe (no meio). Com base nelas e em seus próprios cálculos, Kepler (acima) reformou radicalmente o modelo copernicano e chegou a uma descrição realista do sistema solar
O amante
Galileu nasceu em Pisa, no dia 15 de fevereiro de 1564. Filho de um intelectual de idéias avançadas, recebeu esmerada educação artística. Na juventude, compôs poemas e escreveu ensaios sobre literatura e artes plásticas. Amigo dos prazeres da vida, teve diversos relacionamentos amorosos. Maria Gamba, sua companheira na cidade de Pádua, deu-lhe três filhos: Virgínia (1600), Lívia (1601) e Vincenzo (1606).
O movimento da Terra era negado pelos partidários de Aristóteles e Ptolomeu. Eles diziam que, caso a Terra se movesse, as nuvens, os pássaros no ar ou os objetos em queda livre seriam deixados para trás. Galileu combateu essa idéia, afirmando que, se uma pedra fosse abandonada do alto do mastro de um navio, um observador a bordo sempre a veria cair em linha reta, na vertical. E, baseado nisso, nunca poderia dizer se a embarcação estava em movimento ou não. Caso o barco se movesse, porém, um observador situado na margem veria a pedra descrever uma curva descendente - porque, enquanto cai, ela acompanha o deslocamento horizontal do navio. Tanto um observador quanto o outro constataria que a pedra chega ao convés exatamente no mesmo lugar: o pé do mastro. Pois ela não é deixada para trás quando o barco se desloca. Da mesma forma, se fosse abandonada do alto de uma torre, a pedra cairia sempre ao pé da mesma - quer a Terra se mova ou não.
O cardeal Bellarmino (ao alto) presidiu o tribunal que proibiu a teoria copernicana. Culto e moderado, ele conseguiu poupar Galileu. Estimulado pelo novo papa Urbano VIII (acima), seu grande admirador, o cientista voltou à carga. Mas o vaidoso papa sentiu-se ridicularizado num livro de Galileu. E isso motivou sua condenação
A punição
A condenação de Galileu representou um enorme trauma nas relações entre ciência e religião. Lentamente, a Igreja procurou corrigir o seu ato. Em 1893, na encíclica Providentissimus Deus, o papa Leão XIII adotou o modo de interpretação da Bíblia proposto por Galileu. Em 1992, o papa João Paulo II reconheceu formalmente o erro cometido - resultante, segundo ele, de "uma trágica e recíproca incompreensão".
O percurso das balas de canhão e a queda dos corpos também foram estudadas por Galileu. Ele demonstrou que a curva descrita pelos projéteis é um arco de parábola e que os corpos caem em movimento uniformemente acelerado. Segundo as biografias romanceadas do cientista, ele teria realizado um experimento que desmoralizou definitivamente a física aristotélica. Subindo ao alto da torre de Pisa, deixou cair, no mesmo instante, dois corpos esféricos de volumes e massas diferentes: uma bala de mosquete e outra de canhão. Contra as expectativas dos acadêmicos aristotélicos, que apostavam na vitória da bala de canhão e na derrota do cientista, os corpos chegaram rigorosamente juntos ao chão. O historiador da ciência Alexandre Koyré demonstrou que, assim como muitos outros mitos que enfeitam os relatos sobre a vida de Galileu, a famosa experiência de Pisa jamais ocorreu. Ela foi, na verdade, um experimento mental, que o cientista realizou no recesso de sua consciência, e não um ruidoso espetáculo público.Sabia-se, desde o final da Idade Média, que a velocidade dos corpos aumentava à medida que eles caíam. E também se conhecia a lei matemática que descreve os movimentos uniformemente acelerados. O mérito de Galileu foi juntar as duas coisas e mostrar que, descartada a resistência do ar, todos os objetos caem com a mesma aceleração.