História
Mário Schenberg é um dos personagens mais ricos da história da ciência no Brasil:
foi físico e crítico de arte, e só não seguiu paralelamente a carreira política
porque, nas duas vezes que foi eleito deputado estadual, teve seu mandato cassado.
Além de se dedicar à física, tirava fotos, preparava catálogos e estudava ciência
oriental. Durante a ditadura, recusou-se a sair do país, pois acreditava que esse
era seu dever cívico.
Na física, Schenberg se destacou como poucos. Conviveu com os colegas José Leite
Lopes e Cesar Lattes e foi discípulo do russo Gleb Wataghin. Trabalhou com mecânica
quântica, termodinâmica e astrofísica. O físico conjugou uma carreira brilhante com
suas crenças na existência de uma parafísica e na intuição como uma das principais
armas da ciência. Schenberg dizia que o homem da ciência precisava estar aberto ao
desconhecido. "Eu não me guio muito pelo raciocínio", disse em entrevista a Ciência
Hoje em 1984. "É a intuição que mostra a solução dos problemas."
Mario Schenberg nasceu em 2 de julho de 1914, em Recife. Seu interesse pela ciência
teria início 13 anos mais tarde, quando estudou física e geometria pela primeira vez.
O jovem se encantou com a descoberta de que o funcionamento da natureza seguia leis
matemáticas, e de que a as formas podiam ser vistas como estruturas lógicas e
convertidas em números. O pernambucano viria a acreditar mais tarde que toda a física
era também geometria. Decidido a trabalhar nessa área, Schenberg ingressou na Faculdade
de Engenharia do Recife, e depois se transferiu para São Paulo. Lá, cursou também o
recém-criado curso de matemática da Faculdade de Filosofia, e se formou nos dois cursos.
Logo, foi contratado para trabalhar como assistente de Wataghin.
Em 1938, Schenberg fez sua primeira viagem profissional ao exterior. Partiu para a
Itália, onde trabalharia com o físico Enrico Fermi. No navio, foi em companhia de
Giuseppe Occhialini, com quem trabalhara no Brasil. Embora o italiano estivesse de férias,
os dois aproveitaram o tempo para fazer um trabalho sobre raios cósmicos. Na Europa,
Schenberg trabalhou com o austríaco naturalizado americano Wonlfgang Pauli e passou uma
temporada no Collège de France, em Paris.
Foi em uma de suas viagens ao exterior que Schenberg chegou a uma das principais
descobertas de sua carreira: a do processo Urca, que permitiu entender o colapso de
estrelas supernovas. Isso ocorreu em 1940, quando o brasileiro estava nos Estados Unidos
a convite do astrofísico russo George Gamow.