ISAAC NEWTON

 

O homem de cabelos brancos fechou o caderno, onde, com escrita regular e miúda, se alinhavam seus cálculos, e recostou-se na cadeira. Naqueles cálculos, naquele caderno fechado que lhe custara tantos esforços e deduções, mais um mistério fora revelado aos homens. E talvez tenha sentido grande orgulho ao pensar nisso.
          Esse ancião grisalho, Isaac Newton, era reverenciado na Inglaterra do século XVIII como o maior dos cientistas. Para seus contemporâneos, representava o gênio que codificara as leis do movimento da matéria e explicara como e por que se movem os astros ou as pedras. Uma lenda viva, recoberto de honras e glória, traduzido e reverenciado em toda a Europa, apontado como exemplo da grandeza "moderna" contraposta à grandeza "antiga" que Aristóteles representava. Ainda hoje, seus "Princípios" constituem um monumento da história do pensamento, só comparável às obras de Galileu e Einstein.
            Mas o trabalho que Newton, velho e famoso, acabara de concluir -- um dos tantos aos quais dedicou boa parte de sua vida, e ao qual atribuía tanta importância -- nada tinha a ver com ciência. Era um "Tratado sobre a Topografia do Inferno". Lá estavam deduzidos tamanho, volume e comprimento dos círculos infernais, sua profundidade e outras medidas. Essa prodigiosa mente científica envolvia-se também num misticismo sombrio e extravagante, que atribuía ao inferno uma realidade física igual à deste mundo.
            Newton, entretanto, era acima de tudo um tímido, e poucos souberam dessa obra, que só nos anos vinte deste século começou a ser divulgada.

 

voltar