TEORIA DO COMPORTAMENTO
As concepções de Demócrito sobre o comportamento seriam até mais
interessantes do que a sua teoria do conhecimento, se pudéssemos
restabelecê-las integralmente. É muito difícil, porém, ter certeza
sobre quais dos preceitos morais a ele atribuídos são genuínos. Não há
dúvida de que o tratado Sobre a Boa Disposição ou Bem-Estar (Perí
Euthymíes) era seu. Foi utilizado livremente por Sêneca e Plutarco, e
alguns fragmentos importantes do tratado sobreviveram.
O tratado partia do princípio de que o prazer e a dor (térpsis e
aterpsíe) são o que determina a felicidade. Isto quer dizer
fundamentalmente que a felicidade não deve ser procurada nos bens
exteriores. "A felicidade não reside em rebanhos, nem em ouro; a alma é
a moradia do daímon " . O homem é infeliz porque não conhece a
natureza. Para compreender isto, devemos lembrar que a palavra daímon,
que significava propriamente um espírito protetor do homem, tem sido
usada no sentido equivalente de "boa sorte". É, como foi dito, o
aspecto individual de týkhe, e a palavra grega que traduzimos por
"felicidade" (eudaimonía) baseia-se neste uso. De um lado, pois, a
doutrina da felicidade ensinada por Demócrito é intimamente afim com a
de Sócrates, embora dê mais ênfase ao prazer e à dor. "O melhor para o
homem é levar a vida com o máximo de alegria e o mínimo de
aborrecimentos" .
Isto não é, porém, hedonismo vulgar. Os prazeres dos sentidos são
prazeres verdadeiros tão breves como as sensações são verdadeiro
conhecimento. "O bom e o verdadeiro são a mesma coisa para todos os
homens, mas o agradável é diferente para gente diferente" . Além disso,
os prazeres dos sentidos são de duração demasiado curta para preencher
uma vida, e facilmente se transformam ao contrário. Nós somente podemos
ter certeza de superar a dor pelo prazer se não procurarmos os nossos
prazeres nas coisas "mortais" .
O que devemos nos esforçar por conseguir é o "bem-estar" (euestó) ou a
"alegria" (euthymíe), e este é um estado da alma. Para atingi-lo,
devemos ser capazes de ponderar, julgar e discernir o valor dos
diferentes prazeres. Demócrito afirmou, como Sócrates, que "a
ignorância do melhor" é a causa do erro. Os homens puseram a culpa na
sorte, mas esta é apenas uma "imagem" que inventaram para justificar a
sua própria ignorância . 0 grande principio que nos deve guiar é o da
"simetria" ou "harmonia". Este é, sem dúvida, pitagórico. Se aplicarmos
este critério aos prazeres, poderemos alcançar o sossego, o sossego do
corpo, que é a saúde, e o sossego da alma, que é a alegria, cujo
sossego se deve procurar principalmente nos bens da alma. "Quem escolhe
os bens da alma, escolhe os mais divinos; quem escolhe os bens do
'tabernáculo' (isto é, o corpo), escolhe os humanos" .
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