Demócrito concordava com seus antecessores num ponto: as
transformações que se podiam observar na natureza não significavam que
algo realmente se transformava. Ele presumiu, então, que todas as
coisas eram constituídas por uma infinidade de partículas minúsculas,
invisíveis, cada uma delas sendo eterna e imutável. A estas unidades
mínimas Demócrito deu o nome de átomos.
A palavra átomo significa indivisível. Para Demócrito era muito
importante estabelecer que as unidades constituintes de todas as coisas
não podiam ser divididas em unidades ainda menores. Isto porque se os
átomos também fossem passíveis de desintegração e pudessem ser
divididos em unidades ainda menores, a natureza acabaria por se diluir
totalmente.
Além disso, as partículas constituintes da natureza tinham que ser
eternas, pois nada pode surgir do nada. Neste ponto, Demócrito
concordava com Parmênides e com os eleatas. Para ele, os átomos eram
unidades firmes e sólidas. Só não podiam ser iguais, pois se todos os
átomos fossem iguais não haveria explicação para o fato de eles se
combinarem para formar por exemplo rochas ou mesmo seres.
Demócrito achava que existia na natureza uma infinidade de átomos
diferentes: alguns arredondados e lisos, outros irregulares e
retorcidos. E precisamente porque suas formas eram tão irregulares é
que eles podiam ser combinados para dar origem a corpos os mais
diversos. Independentemente, porém, do número de átomos e de sua
diversidade, todos eles seriam eternos, imutáveis e indivisíveis.
Se um corpo - por exemplo, de uma árvore ou de um animal - morre e se
decompõe, seus átomos se espalham e podem ser reaproveitados para dar
origem a outros corpos. Pois se é verdade que os átomos se movimentam
no espaço, também é verdade que eles possuem diferentes engates e podem
ser novamente reaproveitados na composição de outras coisas que vemos
ao nosso redor.
Hoje em dia podemos dizer que a teoria atômica de Demócrito estava
quase perfeita. De fato, a natureza é composta de diferentes átomos,
que se ligam a outros para depois se separarem novamente. Um átomo de
hidrogênio presente numa molécula de água pode ter pertencido um dia à
uma molécula de metano. Um átomo de carbono que está hoje no músculo de
um coração provavelmente esteve um dia na cauda de um dinossauro.
Hoje em dia, porém, a ciência descobriu que os átomos podem ser
divididos em partículas ainda menores, as partículas elementares. São
elas os prótons, nêutrons e elétrons. E estas partículas também podem
ser divididas em outras, menores ainda. Mas os físicos são unânimes em
achar que em alguma parte deve haver um limite para esta divisão. Deve
haver as chamadas partículas mínimas, a partir das quais toda a
natureza se constrói.
Demócrito não teve acesso aos aparelhos eletrônicos de nossa época. Na
verdade, sua única ferramenta foi a sua razão. Mas a razão não lhe
deixou escolha. Se aceitamos que nada pode se transformar, que nada
surge do nada e que nada desaparece, então a natureza simplesmente tem
de ser composta por partículas minúsculas, que se combinam e depois se
separam.
Demócrito não acreditava numa força ou numa inteligência que pudessem
intervir nos processos naturais. As únicas coisas que existem são os
átomos e o vácuo, dizia ele. E como ele só acreditava no material, nós
o chamamos de materialista.
Por detrás do movimento dos átomos, portanto, não havia determinada
intenção. Mas isto não significa que tudo o que acontece é um acaso,
pois tudo é regido pelas inalteráveis leis da natureza. Demócrito
acreditava que tudo o que acontece tem uma causa natural; uma causa que
é inerente à própria coisa. Conta-se que ele teria dito que preferiria
descobrir uma lei natural a se tornar rei da Pérsia.
Para Demócrito, a teoria atômica explicava também nossas percepções
sensoriais. Quando percebemos alguma coisa, isto se deve ao movimento
dos átomos no espaço. Quando vejo a Lua, isto acontece porque os átomos
da Lua tocam os meus olhos.
Mas o que acontece com a consciência? Está aí uma coisa que não pode
ser composta de átomos, quer dizer, de coisas materiais, certo? Errado.
Demócrito acreditava que a alma era composta por alguns átomos
particularmente arredondados e lisos, os átomos da alma. Quando uma
pessoa morre, os átomos de sua alma espalham-se para todas as direções
e podem se agregar a outra alma, no mesmo momento em que esta é
formada.
Isto significa que o homem não possui uma alma imortal. E este é um
pensamento compartilhado por muitas pessoas em nossos dias. Como
Demócrito, elas acreditam que a alma está intimamente relacionada ao
cérebro e que não podemos possuir qualquer forma de consciência quando
o cérebro deixa de funcionar e degenera.
Com sua teoria atômica, Demócrito coloca um ponto final, pelo menos
temporariamente, na filosofia natural grega. Ele concorda com Heráclito
em que tudo flui na natureza, pois as formas vão e vêm. Por detrás de
tudo o que flui, porém, há algo de eterno e de imutável, que não flui.
A isto ele dá o nome de átomo.