Demócrito e Schenberg


Demócrito é mencionado no livro de Mário Schenberg pois a sua idéia sobre os átomos que os admitia movendo-se no vazio, teve um futuro brilhante, pois hoje em dia sabemos pela teoria quântica dos campos que é exatamente o vazio a coisa mais importante , o vazio é o estado fundamental do campo. Mas um ponto que é ressaltado por Schenberg é que tal idéia não foi muito aceita entre os filósofos gregos, que tinham muita repugnância à idéia do vazio. Para os gregos o vazio não existia, pois o vazio seria o nada, e como é que o nada podia fluir sobre os processos físicos? Percebe-se então que o modelo de Leucipo e Demócrito foi uma idéia extremamente contrária ao sentimento grego, que não era favorável ao vazio. Então Schenberg acredita que essa idéia seja de origem indiana. Pois o vazio teve sempre um papel fundamental na Índia. Para o pensamento hindu o vazio corresponderia a Deus. Deus é que era aquele vazio onde as coisas se moviam. Schenberg também nos lembra que por conseqüência da não aceitação pelos maiores filósofos gregos quanto a existência do vazio, os gregos nunca puderam criar o número zero, pois o zero é o nada. A Álgebra moderna mostrou que o zero é uma idéia fundamental: o zero é o elemento unidade do grupo aditivo constituído pelos números inteiros, e, com mais generalidade, pelos números reais e complexos. Assim, estes números que usamos, os números arábicos, com o zero, não foram inventados pelos gregos. Os Árabes trouxeram o conceito de zero da Índia e o transmitiram para Europa. Mostrando, assim, que os Indianos tinham uma idéia do mundo muito diferente da dos gregos. A idéia Indiana dos números eram mais moderna. Schenberg em seu livro também compara a idéia do Nirvana que era uma espécie de idéia de zero, do vazio, da Índia. O vazio era a matriz de todas as coisas, tudo surgia deste vácuo. Essa idéia ficou muito bem ilustrada pelas teorias dos campos na quântica, onde é exatamente o vazio que passou a aparecer como uma coisa extremamente complicada e fundamental. Explica que esta importância moderna do vazio é um coisa relativamente recente, surgida por volta de 1930, quando começou a construção da teoria quântica dos campos e descobriu-se então a importância fundamental do vazio, onde ocorriam muitos fenômenos importantes. Assim, por exemplo, no vazio existe um campo eletromagnético, o que pode parecer contraditório, pois se existe um campo eletromagnético, como é o vazio? No vácuo do campo eletromagnético não há fótons reais mas existem campos flutuando caoticamente. Estas flutuações caóticas do campo no vácuo são muito importantes, pois são elas que determinam a emissão espontânea da luz, estabilizando os estados excitados. Um átomo pode estar num estado excitado e descer para o estado fundamental, emitindo um fóton, porque ele interagi com estas flutuações do vácuo. Foi depois da Segunda Guerra Mundial que essas idéias ficaram mais claras, apesar de já existirem certas idéias sobre isto antes. Daí também surgiram outras conseqüências muito importantes dessas flutuações, como o famoso efeito lâmbda. Foi introduzida também uma pequena correção em relação ao momento magnético do elétron por causa da interação do elétron com as flutuações do campo no vácuo. Em todo o seu livro diz que a origem das idéias mais importantes da física e da matemática são desconhecidas. E certifica da possibilidade destas idéias terem surgido de considerações não físicas, mas de considerações filosóficas, religiosas, talvez como o zero da Índia que era o Nirvana. O zero não podia ser de origem grega pois os gregos não aceitavam a idéia do vazio. Provavelmente foi da Índia. Percebe-se então que Schenberg achou de extrema importância a idéia de Demócrito da existência de vácuo e, também, de sua importância para a História da Ciência.


CLIQUE