Racionalismo
inatista
A grande questão porém é a de saber se todas as nossas ideias se podem explicar destes dois modos. Será o triângulo uma ideia adventícia? Como explicar então a sua perfeição? Será uma ideia factícia? Como explicar nesse caso a sua universalidade? E a ideia de Deus? Como explicar que seres finitos e imperfeitos como os homens são, possam ter a ideia de um ser infinito e absolutamente perfeito? A resposta de
Descartes é a de que para além das ideias adventícias e factícias os
homens possuem ideias inatas, ideias que, nascidas
connosco, são como que a marca do criador no ser criado à sua
imagem e semelhança.
"O bom senso é a coisa que, no mundo, está mais bem distribuída: de
facto, cada um pensa estar tão bem provido dele, que até mesmo
aqueles que são os mais difíceis de contentar em todas as outras
coisas não têm de forma nenhuma o costume de desejarem [ter] mais do
que o que têm. E nisto, não é verosímil que todos se enganem; mas
antes, isso testemunha que o poder de bem julgar, e de distinguir o
verdadeiro do falso que é aquilo a que se chama o bom senso ou a
razão, é naturalmente igual em todos os homens; da mesma forma que a
diversidade das nossas opiniões não provém do facto de uns serem
mais razoáveis do que outros, mas unicamente do facto de nós
conduzirmos os nossos pensamentos por vias diversas, e de não
considerarmos as mesmas coisas." Descartes,
Discurso do Método, I Parte, ed. cit., p.
11.
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A intuição, é portanto,
um acto puro e atento da inteligência que apreende directa e
imediatamente noções tão simples que acerca da sua validade
não pode restar qualquer dúvida. Assim, o que caracteriza a intuição
é a sua clareza e distinção, o seu caracter imediato, o facto de
constituir um acto de apreensão total e
completa. Fruto de uma singularidade meditativa, a intuição é o fundamento do seu individualismo subjectivista. Como Descartes escreve: “Entre os quais
[os pensamentos que me ocupavam], um dos primeiros foi que me
lembrei de considerar que, muitas vezes, não há tanta perfeição nas
obras compostas por várias peças, e feitas pela mão de diversos
mestres, quanto naquelas em que um só trabalhou. Desta forma vemos
que os edifícios que um só arquitecto empreendeu e acabou, são
habitualmente mais belos e melhor ordenados, do que aqueles que
vários tentaram compor, servindo-se de velhas paredes que tinham
servido para outros fins. Assim, essas antigas cidades que, não
tendo sido de início senão pequenos burgos, tornaram-se, com o
passar do tempo, grandes cidades, são geralmente tão mal ordenadas
em comparação com essas praças regulares que um engenheiro traça à
sua fantasia numa planície que, ainda que considerando os seus
edifícios um por um, encontramos neles tanta ou mais arte do que nos
das outras (...).” Descartes,
Discurso do Método, II Parte, ed. cit., p.
18.
A construção do edifício do saber só é possível a partir de
projectos unitários, solitariamente concebidos e ordenadamente
aplicados.
A dedução estabelece um encadeamento entre as proposições, um nexo
lógico de antecedente e consequente de tal modo que a verdade do
antecedente exige a verdade do consequente. Assim, a dedução permite
construir uma relação necessária entre as proposições de tal modo
que a verdade das proposições intuitivas possa passar para a
conclusão.
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