Quando era professor
na Universidade de São Paulo, então um já renomado físico,
marcou uma prova em sua casa. Não era uma exceção: as
turmas eram pequenas e o físico fazia isso com freqüência
para conhecer melhor seus alunos. Um deles teve uma surpresa ao chegar lá.O
que ele via surpreendeu-o e muito: “O que eu via parecia ter saído
de um conto de fadas”, disse em uma frase apresentada na exposição
“O mundo de Mario Schenberg” realizada em 1966, na Casa das Rosas,
em São Paulo.
Uma casa cheia de obras de arte, quadros e artistas circulando, interrompendo
a prova, de maneira que eu já nem sabia direito o que estava fazendo.
Mario Schenberg sempre nutriu paixão pela arte. Seu trabalho como crítico
era reconhecido pelo público e pelos artistas.
O físico escreveu textos sobre Alfredo Volpi, Lygia Clark e Helio Oiticica,
entre outros. Conheceu Di Cavalcanti em Paris, e as duas companheiras que
teve na vida, eram artistas.
Tinha uma coleção de arte invejável e expunha quadros
até na cozinha e nos banheiros de sua casa. Eram telas de pintores
famosos misturados com obras de iniciantes, que ele comprava para ajudá-los.
Como crítico de arte, sempre lhe interessaram as pessoas dos artistas
e como eles se ligavam no mundo, diz a física Amélia Hambúrguer,
membro do Conselho da Cátedra Mario Schenberg do Instituto de Estudos
Avançados da USP.
No entanto, o pernambucano não era apenas um interessado pela arte
.Em 1940, quando passava uma temporada na Universidade de Chicago, ele pegou
algumas lentes de um laboratório de astrofísica e tirou fotos
que, depois de expostas no Observatório de Yerkes, foram parar dentro
de uma caixa de sapatos na bagunçada casa do fotógrafo.
O curioso em relação às fotos é que, através
delas, Lygia Clark diz ter entendido que era expressionismo abstrato, diz
uma citação do físico na exposição da Casa
das Rosas. “Se for justo o que ela diz, fui um dos criadores desse movimento”.
O pernambucano publicou ainda livros sobre física, arte ou sobre si
próprio.
“Foi um período muito gostoso”, lembra o Prof. Dr. José
Luiz Goldfarb, editor r biógrafo de Schenberg. As reuniões eram
demoradas pois, segundo o professor, Schenberg “viajava” muito
rápido. Ele passava de um assunto a outro com muita facilidade, mas
nunca perdia o gancho. Nunca o vi perguntar: “Sobre o que eu estava
falando mesmo?”.Ele sempre concluía o raciocínio.
Foi durante a ditadura, que Schenberg se dedicou com mais assiduidade à
arte. Cassado e proibido de entrar no campus universitário, ele passou
a viver das críticas que fazia. “Nessa época, ele descobriu
que o meio artístico era muito mais solidário do que o acadêmico”,
diz Goldfarb.