Conferência sobre o Cristianismo na América Latina e no Caribe
Um Olhar Panorâmico

Natália Amélia de Brito[1]

Aconteceu, no período de 28 de julho a 1º de agosto de 2003, nas dependências da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e das Faculdades Batista, a Conferência sobre o Cristianismo na América Latina e no Caribe. O evento foi promovido por cinco instituições: Ameríndia, Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e à Educação Popular (CESEP), Centro de Estudos de História da Igreja na América Latina (CEHILA), Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e Sociedade de Teologia e Ciências da Religião (SOTER). Contou com o co-auspício de mais de 30 instituições acadêmicas e não-acadêmicas – vinculadas sobretudo às igrejas e ao movimento ecumênico - que organizaram as 48 mesas redondas temáticas. Recebeu, também, apoio financeiro de 11 instituições patrocinadoras brasileiras e do Exterior. Uma adesão, sem dúvida, bastante significativa.

Foram quase dois anos de preparação. Nos três últimos meses que antecederam o início da Conferência pudemos confirmar sua relevância: o número de inscritos crescia rapidamente, superando de modo significativo a expectativa inicial, de 500 participantes. No total, cerca de 740 pessoas de 32 países participaram das atividades programadas, trazendo na bagagem as mais diversas experiências religiosas, acadêmicas e também as advindas do comprometimento social e político. Todos se mostraram dispostos a partilhar suas pesquisas e vivências e a aprofundar os diferentes eixos temáticos de estudo e discussão.

E, sendo assim, o objetivo maior da Conferência foi atingido: a reunião multidisciplinar de teólogos, pastoralistas, cientistas sociais e das religiões e pesquisadores de áreas afins para a produção de um diagnóstico das situações presentes, para uma visita à memória histórica e para a construção de um estudo prospectivo no que se refere ao Cristianismo e às suas responsabilidades em meio às transformações por que passam a América Latina e o Caribe.

Trajetórias, diagnósticos, prospectivas... foram esses os grandes blocos de reflexão e discussão. As sessões plenárias da manhã - "Grandes questões da caminhada do Cristianismo", "Memória da caminhada do Cristianismo", "Globalização e justiça social: desafios às religiões" e "Prospectivas teologias e pastorais" - fizeram análises globais de tais aspectos[2], enquanto que as mesas redondas temáticas abordaram temas mais específicos como saúde, gênero, comunicação, ecumenismo, educação popular, pluralismo religioso, modernidade, secularização, ensino religioso, ecologia, laicato, poder, matrizes históricas, utopias, migrações, povos indígenas, negritude, Bíblia, economia e teologia.

As mesas de comunicação, em número de 48 e realizadas por iniciativa dos próprios participantes, foram divididas em blocos temáticos como "Ecumenismo e Sociedade"; "Religião e Cultura", "Teologia, Religião e Sociedade", "História da Igreja", "Religião Popular", "Protestantismo Histórico", "Religião e Educação", "Educação Ecumênica", "Religião e Cidade", "Gênero" e "Pentecostalismo e Ecumenismo na Esfera Bíblica". Foi, portanto, uma expressão clara de um amplo esforço reflexivo, demonstrado também nesse nível de participação.

Pode-se dizer, de maneira geral, que nos espaços gerados pelas análises e discussões o clima reinante foi de liberdade de expressão e de acolhida e respeito frente às diferenças eclesiais, o que proporcionou a todos uma rica experiência ecumênica. Muitas oportunidades de reencontro, rearticulações e renovação de esperanças entre aquelas e aqueles que sonham e lutam por um mundo radicalmente diferente deste que aí está - ou seja, solidário, afetivo, ecológico e justo - também foram marcantes nesse encontro.

Finalmente, em âmbito acadêmico estrito, ficou sinalizada a vitalidade dos diversos "Cristianismos" que co-existem na América Latina e no Caribe. Contudo, o compromisso com os setores populares e a produção teórica coerente com tal prática pareceu-nos ser, ainda o denominador comum do pluralismo cristão religioso.

Notas

[1] Secretária Executiva da Conferência sobre o Cristianismo na América Latina e no Caribe; mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da PUC-SP.

[2] Veja a leitura feita por Márcio Fabri dos ANJOS, Cristianismo na América Latina e Caribe, que está disponível no site www.cesep.org.br/conferencia/textos