XXVII Conferência
Société Internationale de Sociologie des Religions

Religions et Générations à L'Épreuve des Générations

Turim / Itália 21 - 25 de julho de 2003

Maria José Rosado-Nunes
[PUC-São Paulo]

De 21 a 25 de julho do corrente ano, realizou-se em Turim, Itália, a XXVII Conferência Internacional de Sociologia das Religiões, promovida pela SISR.. A Sociedade Internacional de Sociologia das Religiões (Société Internationale de Sociologie des Religions) constitui-se em uma das mais importantes organizações internacionais de reunião acadêmica em torno das discussões sobre religião, do ponto de vista das Ciências Sociais. Reúne, a cada dois anos, cientistas de todo o mundo, para debater questões centrais na análise sociológica do fenômeno religioso. Participei de várias dessas reuniões, graças ao apoio da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), e considero-as um momento excepcional de possibilidades de discussão e aprofundamento do meu objeto de estudo e pesquisa.

Este ano, o tema geral da Conferência foi: "Religion et Générations. Le fait religieux à l'épreuve des générations". A conferência inaugural "deu o tom" das discussões que se seguiriam, nas diversas sessões temáticas, simpósios e demais reuniões. Embora abordando o tema a partir da análise de situações empíricas relativas a realidades específicas - África, Caraíbas, Irã e França - questões conceituais e metodológicas foram trabalhadas. Salientou-se a mudança do enfoque no tratamento das relações entre gerações e religião. Tradicionalmente, a transmissão religiosa se dava "de pais/mães para filhos/as". As novas gerações eram herdeiras das religiões de seus pais. Tal dinâmica foi afetada pela aceleração das mudanças sociais, políticas e culturais ocorridas no século XX. "O fator geração tornou-se fonte de rebelião e de renovação, mais do que de transmissão."

Algumas das questões centrais abordadas nas diversas sessões temáticas dizem respeito a problemas teórico-metodológicos: Como tratar as complexas relações entre gerações e religiões, em um contexto de desenvolvimento da dinâmica secularizadora das sociedades contemporâneas? Diante das profundas mudanças culturais, políticas e sócio-econômicas que "constroem" a "juventude" atual, como trabalhar a problemática da transmissão religiosa?

Por outro lado, várias das sessões apresentaram questões empíricas colocadas por pesquisas em andamento ou finalizadas. Entre tantos temas abordados, saliento: a questão do retorno à ou da perda da tradição; o engajamento de jovens nos chamados novos movimentos religiosos; o ateísmo como experiência geracional; a experiência religiosa diferenciada de jovens das "tribos urbanas". Do ponto de vista europeu, uma questão central às reflexões e análises é a da herança cristã. Não apenas em relação ao rápido processo secularizador, mas também, em sua articulação com a problemática da imigração. Uma das questões colocadas ilustra a problemática: "Como as novas gerações saídas de diásporas muçulmanas estabelecidas na Europa ocidental geriram a herança social?"

A questão das relações religião - política foi abordada em uma das sessões plenárias, tratando especificamente do caso italiano. A partir porém, dessa situação particular, deu-se interessante debate a respeito do enfrentamento da nova realidade do pluralismo religioso em países historicamente católicos, e da necessidade de se reverem as relações com o Estado nessas circunstâncias.

As sessões temáticas abordaram enorme variedade de temas, desde problemas relativos à transmissão do conhecimento sociológico relativo ás religiões, até questões localizadas, do tipo "Religião na Escandinávia".

As discussões em torno do binômio "mulheres e religião" tiveram como foco o problema dos direitos das mulheres. Centraram-se na análise de situações particulares, para trabalhar as complexas relações existentes entre crenças e valores religiosos e o reconhecimento dos direitos das mulheres, proclamados hoje, como uma espécie de "valor universal compartilhado". Nesse quadro inseriu-se minha apresentação.

Como em conferências anteriores, na reunião dos grupos lingüísticos, estiveram presentes pesquisadores e pesquisadoras de vários países latino-americanos. Nesse espaço, discutiram-se questões relativas á organização da SISR e da inserção destes/as pesquisadores/as aí. Além da problemática política levantada, propôs-se aproveitar esse espaço também como lugar de troca acadêmica entre cientistas sociais da religião que participam regularmente da SISR. Também se discutiram formas de incentivar e apoiar uma presença numérica mais significativa da América Latina nesse espaço.

Um balanço final desta conferência indica o subtratamento da problemática juventude e religião no contexto internacional acadêmico de estudos de religião. Apesar do alto nível dos/das pesquisadores/as presentes, percebe-se que a temática tratada está ainda em desenvolvimento, requerendo maiores investimentos investigativos.