O tema deste Congresso não podia ser mais atual e sugestivo. Inspira-se em aprofundam,entos e revisões em curso na psicanálise européia e americana do conceito freudiano de "ilusão religiosa". O tema foi assim enunciado: "A ilusão religiosa: margens e contramargens: liberar o Homem das ilusões, liberar as ilusões do Homem".
O libreto do Convênio elencava cerca de 40 apresentações de maior ou menor porte em sessões plenárias e em grupos mais restritos. A leitura dos títulos dessas comunicações demonstra que os organizadores não queriam cingir o tema da "ilusão" tão somente ao âmbito da psicanálise. Os horizontes da discussão, como se verá adiante, eram bem mais abrangentes, embora os papers de M. Aletti (Universidade católica de Milão, Itália) e, muito especialmente, de Annamaria Rizzutto (de Boston, Estados Unidos) tenham levado as reflexões na direção da psicanálise em algumas de suas tendências contemporâneas mais em voga.
Mario Aletti, presidente da Associação Italiana de Psicologia da Religião, dizia em seu pronunciamento inaugural que o dilema atual da psicanálise pode se resumir na frase seguinte: "libertar o homem das ilusões, como queria Freud, ou libertar no homem a capacidade da ilusão, do jogo (in – ludere) e do jogar-se nas ilusões como, na linha de Winnicott, propõe o modelo relacional da psicanálise". E acrescentava que toda a psicologia de hoje, em especial a psicologia social e a psicologia cultural e da comunicação foram se tornando cada vez mais atentas ao jogo simbólico da linguagem que é responsável pela organização e mediatização no mundo intrapsíquico e interpessoal . Iludir-se, no fundo, significa "brincar" com a realidade assim como essa se oferece ao sujeito através da criatividade e do investimento subjetivo e pessoal. Representa uma das mais proeminentes funções do psiquismo. Ora, se assim é, então a ilusão religiosa é "parte" integrante do fato mesmo de sermos humanos, autenticamente humanos em nossa capacidade de criar realidades invisíveis mas cheias de significado que podem alargar o nosso potencial imaginativo para lá dos confins dos sentidos, como bem demonstra a obra de Annamaria Rizzutto. Nessa direção o Convênio de Verona era um convite a aprofundar o sentido e importância da vivência religiosa na estruturação e reestruturação da personalidade. E isto, seja no sentido de sua ambivalência, enquanto uma experiência sujeita a distorções e vulnerável a patologias, além de facilmente marcada por narcisismos e por um uso fetichista de objetos religiosos. Para M. Aletti, a atitude religiosa do ser humano (tanto do crente quanto do não-crente) traz necessariamente consigo uma interpelação ao psicólogo, não no plano dos conteúdos, mas no dos processos através dos quais a religiosidade se desenvolve e se expressa.
Durante o Convênio, além da precisa introdução de M. Aletti, houve 4 exposições mais longas, destinadas a dar o tom ao ao Covênio e aos grupos por áreas específicas. Elenco, sem mais, os títulos dessas palestras, ressaltando o destaque que a Associação Italiana quis dar à "aula magistral" de Annamaria Rizzutto que foi, na ocasião, agraciada com o título de membro honorário da Associação.
Annamaria Rizzutto (Boston): Transformações de si , do objeto e deDeus na psicanálise;
Antoine Vergote (Louvain): Discurso de abertura
Renzo Vianello (Padova): A evolução dos conceitos religiosos na infância e tarda adolescência
Geraldo J. Paiva (Brasil- USP): Cristo no Japão; margens e contramargens do Catolicismo na literatura de EndoShuzaku.
Os sub-temas, seis ao todo, foram trabalhados sob a forma de painéis. As mesas tinham cerca de cinco expositores por assunto e abordavam uma temática mais recortada, embora também um pouco dispersa., como soe acontecer em simpósios e congressos internacionais. Os participantes escolhiam o painel de seu interesse, uma vez que eles se davam simultâneamente, três em cada tarde. Eis o elenco dos seis sub-temas:
Na mesa sobre "a experiência religiosa dos outros", Edênio Valle (da PUC-SP, Brasil) fez uma exposição seguida de debate, expondo e analisando o resultados de uma pesquisa sobre a Conscienciologia/Projeciologia, um grupo parareligioso do Rio de Janeiro, estuturado em torno à figura de Waldo Vieira, médico carioca que se tornou conhecido como líder espírita e adotou um rumo novo para seu trabalho e liderança religiosa. O texto completo da apresentação pode ser encontrado no número 1 (janeiro de 2001) da Revista Eletrônica REVER, sob o título: "L’illusione religiosa in un movimento parareligioso del Brasile".
Quero ainda informar que as atas e textos das palestras e papers do Simpósio serão publicados na íntegra pela Centro Scientifico Editoriale, de Torino, no início do ano 2001.
Essa mesma editora publicou, faz pouco, um denso volume contendo os textos do Simpósio de 1998: Aletti, M. e Rossi, G. (Org) ,1999, Ricerca di sé e trascendenza, Torino, Centro Scientifico Editoriale.
A exemplo do que acontecera no Simpósio da Associação Européia de Psicólogos da Religião (em Upsala, Suécia, 2000), também em Verona se mencionou a necessidade de se partir para a criação de uma Sociedade Internacional de Psicologia da Religião. Passos concretos nessa direção já estão sendo dados.