Simpósio da Associação Européia de Psicólogos da Religião
Tema: "Pluralismo e identidade Religiosa"

Sigtuna, Upsala, Suécia, 28 a 31 de Julho de 2000

Edênio Valle
[PUC-São Paulo]

A Associação Européia de Psicólogos da Religião escolheu como tema de seu Oitavo Simpósio Internacional um assunto de grande atualidade: "Pluralismo e Identidade Religiosa".

O tema geral do Simpósio

Em 1997, por ocasião do seu último Simpósio, realizado em Barcelona, Espanha, a Associação já havia debatido amplamente sobre a influência da dimensão religiosa na definição da identidade dos indivíduos e dos grupos sociais. O Comitê Internacional, ao fixar o tema do ano 2000, quis dar seqüência àquela reflexão, situando o tema da formação da identidade no contexto cada vez mais pluralista e fragmentado da cultura deste fim de século.

Foram extremamente variados os enfoques que apareceram ao longo do Convênio. O leque de abordagens ia da psicanálise e da psicologia dinâmica de índole clínica à psicologia social e evolutiva, tocando ainda vários outros aspectos antropológicos e sociológicos da complexa questão em debate. Ao todo foram cerca de 50 os papers e comunicações levados ao público presente que reunia o que há de melhor entre os estudiosos da psicologia científica da religião e de algumas das principais ciências afins.

Palestras de fundo

O Simpósio de Upsala teve dois tipos principais de atividades. Houve duas palestras de fundo, confiadas aos Professores Jakob Belzen, de Amsterdam, e Antoine Vergote, da Bélgica. Os dois renomados pesquisadore e teóricos foram encarregados de lançar o grande pano de fundo das discussões que, como se disse, cobriam inúmeros sub-temas. O Prof. Belzen, por sinal Presidente da Associação Européia de Psicólogos da Religião, tentou mostrar a necessidade de a Psicologia da Religião privilegiar nos dias de hoje um quadro conceitual mais atento ao enquadramento histórico-cultural da acidentada construção psicológica da identidade religiosa das pessoas. Ele revalorizou, assim, um modelo de aproximação que esteve muito em voga na origem dos estudos psicológicos da religiosidade e que foram progressivamente sendo deixado de lado por ulteriores orientações teóricas e preocupações metodológicas. O psicólogo da religião, na Europa culturalmente plural de hoje, para Belzen, não pode negligenciar o aspecto da cultura na formação psicológica da identidade. É uma preocupação que encontramos em autores como E. Giddens e K. Gergen. A tese de fundo é simples: não se pode entender o que vai dentro do sujeito religioso senão considerando sua conexão psicossocial com os valores e comportamentos presentes na cultura multicultural em que a identidade se configura. Isto vale também para aspectos refinadamente individualizados, tais como o emocional, que embora, de um lado, tenham características absolutamente idiossincráticas, são, por outro, profundamente influenciados pelo clima cultural específico em que são gestadas. O modo subjetivo de, por exemplo, um protestante escandinavo sentir e expressar sua fé será diverso do de um correligionário religioso africano, que chega à mesma religião desde seu próprio set e ambiente cultural. É por essa razão que Belzen advoga uma psicologia da religião de tipo mais narrativo, isto é, mais atenta ao percurso e elaboração psico-cultural da subjetividade religiosa.

O enfoque da bem fundamentada palestra de A. Vergote ressaltava a importância dos conflitos pelos quais passa hoje em dia a configuração da identidade do sujeito em um cultura destituída de um polo aglutinador. Complementando em certo sentido o que dizi o Prof. Belzen, o psicólogo de Louvain dizia que o estudo da evolução psicológica da identidade religiosa individual e coletiva supõe um curso não linear, caracterizado por rupturas e contrastes inexistentes em cenários mais homogêneos.

O Brasil esteve representado pelo Prof. Geraldo José de Paiva, da USP que apresentou uma pesquisa sobre os processos pelos quais passou a identidade de alguns brasileiros que deixaram o Catolicismo para aderir a uma seita religiosa japonesa. Valendo-se de conceitos psicanalíticos e antropológicos (Lacan, Turner, Stryker) o Prof. Paiva centrou sua análise nas mudanças psicológicas sofridas pelos convertidos. Paiva constatou neles a necessidade psicológica de restringir o seu campo interpessoal de relações aos membros do novo "in group", para assim melhor poderem definir e afirmar sua nova identidade.

Os debates em grupo

Além das apresentações gerais em plenário realizaram-se sessões vespertinas por temas especializados. Os participantes escolhiam os grupos de discussão de seu interesse, pois as sessões se davam simultaneamente. Como era de se esperar houve uma predominância de trabalhos de cunho cross-cultural e narrativo, talvez por influ6encia do fenômeno migratório europeu que está derrubando as fronteiras religiosas clássicas da Europa e levando os indivíduos a um contato mais direto com tradições religiosas que não as de sua socialização primária. Em países como a Holanda e a Inglaterra surpreende o número de muçulmanos e hindus. Até na tradicional Itália e Espanha católica o mapa religioso tornou-se multicolorido, perdendo o catolicismo a sua milenar hegemonia cultural.

Não há como resumir aqui toda a riqueza das dezenas de comunicações apresentadas ao longo daqueles densos dois dias. Com Paolo Ciotti, da Sociedade Italiana de Psicologia da Religião, reassalto a relevância de duas delas. A primeira de autoria vem da Universidade de Louvain, que sempre teve um lugar de destaque na psicologia européia da religião. Seu autor principal é Dirk Hutsebaut, o atual presidente da Associação Européia de Psicólogos da Religião. Ele toruxe ao conhecimento dos presentes sua "Escala de Crenças" (em inglês, Post Critical Belief Scale - PCB). A escla resulta de um esforço longo e meticuloso e visa a avaliação das atitudes religiosas de adultos e da relação dessas atitudes de crença ou não-crença com as orientações éticas (valores) e visão política dos sujeitos. Nos Estados Unidos há uma tradição na confecção de escalas religiosas, mas na Europa a escala de Hutsebaut é um instrumento em certo sentido novo que abre espaço a pesquisas interessantes também no campo da identidade em um mundo pluricultural. Outra comunicação digna de destaque foi a de Josef Corveleyn, um dos editores do "The International Journal for the Psychology of Religion". Corveleyn apresentou instrumentos relativos ao estudo do fenômeno da culpa e do perdão no campo religioso, bem como do sentimento de vergonha.

Telegraficamente menciono algumas outras colaborações valiosas:

As atas do Simpósio

podem ser acessadas no seguinte endereço eletrônico:
http://www.pebblerock.com