Mulheres e gênero: uma estrutura teórica

Linda Woodhead []
Traduzido por Deborah Pereira

Este ensaio representa uma reação a dois corpos de "grandes teorias".

Primeiro, a grande teoria sociológica. A sociologia da religião ainda é decisivamente constituída por um número de grandes teorias. Essas teorias relacionam religião a alguns aspectos de modernização na tentativa de explicar e prever o destino da religião. Entretanto, como discuti longamente em um capítulo no livro de Dick Fenn, Blackwell Companion to the Sociology of Religon (2001), uma coisa que todas as grandes teorias têm em comum é que elas não dão conta da questão de gênero. O que elas dizem sobre a sociedade moderna e a religião é assumido como aplicável a todos os seres humanos sem distinção. Eu quero desafiar essa suposição porque ela falha em reconhecer que mulheres não necessariamente ocupam o mesmo espaço social e tampouco participam das mesmas instituições sociais como os homens, e que mesmo que o façam, elas freqüentemente o fazem de maneira diferente.

Segundo, a grande teoria feminista. Embora o gênero possa ser invisível nas grandes teorias de sociologia da religião, por bem mais de um século tem sido visibilizado claramente pela teoria feminista. E na falta de teorias alternativas de dentro do estudo da religião, a abordagem feminista tem tido uma enorme influência em como as pessoas abordam o tópico: mulheres e religião. Sua abordagem mais simples, tanto no caso liberal quanto no marxista, sugere que a religião é patriarcal, planejada por homens, executada por homens, legitimando interesses masculinos, e subjugando mulheres material e ideologicamente (através da falsa consciência). O legado duradouro da abordagem feminista é que o estudo de mulher e religião ainda é muito freqüentemente abordado em termos de uma única problemática: a religião é uma coisa "boa" (libertadora) ou "má" para as mulheres? Ela reforça o patriarcado ou o solapa ?

Estes são então os dois corpos da grande teoria que constituem a base para este trabalho. Não obstante as minhas críticas, reconheço o enorme poder dessas teorias e minha dívida para com elas. Mas meu reconhecimento vem na forma de uma alternativa: uma grande teoria de gênero de mulher e religião. Dados os limites de espaço, não posso fazer mais do que rascunhar suas linhas num estilo audacioso; farei somente uma breve referência a evidências concretas e exemplos em que isso se sustenta ou não.

A teoria

Minha premissa básica é o oposto da encontrada na teoria feminista. Ao invés de sustentar que a participação das mulheres na religião deva ser explicada em termos de um conluio com seus próprios opressores eu sugiro o seguinte:

  1. A participação religiosa das mulheres deve ser entendida em relação à habilidade das religiões em lhes prover um espaço social que não seria disponível para elas de outra maneira.

    Este ponto de partida tem a vantagem de (a) ser óbvio e (b) tratar as mulheres como agentes racionais ao invés de tratá-las como marionetes do patriarcado. As mulheres podem ocupar estes espaços por várias razões: porque eles provêem um capital social e cultural, permitem formação de identidade, oferecem formas particulares de permissão e porque eles permitem às mulheres articularem suas esperanças, medos desejos e convicções morais – entre outras coisas. E estou aberta à discussão dessas variáveis.

    A partir desta premissa, segue-se:

  2. A participação das mulheres na religião será influenciada significativamente pelos espaços sociais disponíveis para elas em uma sociedade particular.

    Aplicado ao estudo da religião, isto pode significar que:

    Para compreender a participação feminina na religião em uma sociedade dada, devemos compreender os espaços sociais disponíveis para as mulheres nessa sociedade.

    Teorias sociológicas das sociedades modernas sugerem que aqui a variável crucial será a natureza e o grau de diferenciação social/estrutural/funcional.

    Portanto:

  3. Dado que tais espaços sociais existem em função da natureza e do grau de diferenciação estrutural dentro de uma sociedade, é para tal diferenciação que nós devemos olhar para que possamos entender a participação da mulher na religião dentro dessa sociedade ou tipo de sociedade.

A teoria aplicada. (a estrutura)

Aplicando esta teoria, acredito ser possível discernir três padrões principais da participação da mulher na religião, padrões estes relacionados a três tipos principais de sociedade no mundo moderno. Esta é a estrutura teórica que eu gostaria de propor para a compreensão da mulher e religião no mundo moderno.

1) Sociedades ocidentais altamente diferenciadas e industrialmente avançadas

A maioria das sociedades ocidentais são caracterizadas por um alto nível de diferenciação estrutural. Diferenciação é o processo pelo qual as atividades sociais tornam-se separadas em diferentes instituições. Desta maneira nos estados modernos, atividades como governo, política, leis, educação, previdência, saúde e trabalho produtivo, tornam-se funções especializadas mantidas por autônomos, instituições e agências "diferenciadas". O processo é relacionado à "divisão do trabalho", pelo qual tarefas que eram antes executadas por um único indivíduo são divididas entre muitos trabalhadores especializados. Essencial a essa diferenciação nas sociedades industrializadas desde pelo menos o século XIX era o desenho da clara distinção entre vida "privada" e "pública". Esta era uma distinção de gênero. Não somente as mulheres eram confinadas à primeira, a esfera privada, como a própria definição de esfera privada era associada ao feminino mais do que ao masculino. Os homens controlavam as chamadas "instituições primárias"- a lei, o governo, os militares, os negócios etc. enquanto as mulheres tornavam-se mais e mais confinadas à instituição da família. Desde que, como parte integral deste processo, a religião foi racionalizada e gradualmente pressionada a retirar-se da esfera pública e mundana nas modernas sociedades ocidentais , ela gradualmente deslizou para dentro da esfera privada.

Assim, visto que a religião tornou-se uma questão privada e não um problema público, tornou-se portanto a esfera da mulher por excelência. Tornou-se o único espaço social além da família que era facilmente aberto à mulher. Nesse processo, a própria religião tornou-se "efeminada" e "domesticada" (Douglas). Ela surgiu como a guardiã da vida privada e dos valores da família, e ensinou as virtudes "femininas" do amor, da graça, da suavidade, da compaixão e outras que sustentam a vida familiar. Igrejas e capelas particularmente ofereceram um espaço social que de outra forma não seria disponível às mulheres. Era o espaço onde seu papel como as que cuidavam dos lares, viúvas e mães podia ser legitimado, articulado e recompensado; e assim elas poderiam acumular igualmente capital social e cultural; poderiam exercer um poder considerável – nas ordens religiosas, nos círculos de igreja, nos grupos de voluntárias, etc. Na verdade, o Cristianismo abriu um caminho parcial para o mundo público, através da participação voluntária em organizações de caridade e, talvez de forma mais marcante, no trabalho missionário fora do país.

Deste modo, nas sociedades modernas altamente diferenciadas em que as mulheres são identificadas com a esfera privada, podemos esperar um alto grau de participação na religião "tradicional" que reforça os valores domésticos e oferece o único espaço social além da família que é aberto às mulheres.

Entretanto, ao menos desde o período do pós-guerra nas modernas sociedades ocidentais, um número de fatores convergentes tem significado que mais e mais mulheres começaram a entrar nas instituições "primárias" públicas. Não ainda em pé de igualdade com os homens, claro, mas movendo-se, de alguma forma, nesta direção. Isso significa que as mulheres não estão mais confinadas à esfera doméstica fora da necessidade social., mas que elas tem mais opções dentro do espaço social no qual elas irão atuar. Essa situação, na qual nós atualmente nos encontramos, tem implicações interessantes para as mulheres e a religião. Eu proponho que isso seja resultante não somente de um, mas de três modelos principais:

  1. a religião sustentando papéis tradicionais/domésticos: mulheres que escolheram manter papéis domésticos, e para quem a família continua sendo o espaço social primário, podem ainda encontrar nas formas mais tradicionais de religião o espaço social de que necessitam. Isso torna, se é que torna algo, mais importante um espaço para as mulheres, uma vez que o papel doméstico é desafiado na sociedade moderna avançada, e a maternidade perde sua condição normativa para as mulheres. Isso, creio, é a explicação de um número significativo de mulheres continuarem a ser proeminentes em várias formas do Judaísmo Ortodoxo ou do Cristianismo fundamentalista, os quais, do ponto de vista da teoria feminista, parecem ser "anti-mulheres" (Davidman, 1191; Ammerman;1997).
  2. a religião criando tensão: mulheres cujas mães eram ativas na forma tradicional de religião – nas principais denominações cristãs, por exemplo – e que foram criadas nesse universo, mas optaram por entrar no mundo público (por exemplo) abraçando uma profissão, podem experimentar uma tensão entre suas vidas religiosas e suas vidas profissionais. Essa tensão será maior do que para os homens, uma vez que a autonomia, o poder, as possibilidades de escolha e a liderança de que a mulher profissional desfruta no trabalho são desmentidos pela negação desses papéis às mulheres na igreja, na sinagoga ou na mesquita e pela ênfase contínua na feminilidade, nas virtudes domésticas. Uma solução é obviamente abandonar ou a freqüência à igreja ou a carreira. (Há evidências de que mulheres profissionais são insuficientemente representadas nas igrejas.) Outra opção para as mulheres é viver com a tensão. Algumas mulheres podem achar isso criativo. Sua participação na igreja pode , por exemplo, permitir-lhes expressar uma identidade feminina que elas têm que suprimir no trabalho. Isso talvez ofereça um "balanço" com o mundo austero das pressões competitivas do mercado e sua "gaiola de ferro" da racionalidade, e lhes permita um equilíbrio entre diferente aspectos de suas vidas. Ou talvez, (uma terceira opção) algumas mulheres possam simplesmente manter a religião e o resto da vida em compartimentos separados– confirmando assim as teses sociológicas sobre a "privatização" da religião.
  3. Alternativas religiosas: Mulheres podem procurar mudar ou reinventar a religião de maneira a encontrar espaços mais adequados do que os fornecidos pela religião tradicional com seus valores "tradicionais" e, geralmente, com liderança masculina. Existem duas possibilidades. Na primeira, elas podem tentar reformar e mudar a religião tradicional. Elas podem, por exemplo, tentar pressionar a religião em direção a relações mais igualitárias/liberais/relacionais. Segundo, elas podem abandonar completamente a religião tradicional em favor de alternativas mais radicais. Desta maneira, nós encontramos novas formas de religião e espiritualidade que são criadas por mulheres com a intenção explícita de criar espaços para a articulação e realização de seus desejos. Cabem neste espectro, desde religiões mais individualizadas, criadas pela própria pessoa, como a espiritualidade praticada pela Princesa Diana, até as mais socialmente organizadas. As mais recentes incluem formas de espiritualidade que dão lugar central a deusas, e buscam suas formas em tradições Pagãs e Wicca. Mulheres também têm sido atraídas para alguns desses Novos Movimentos Religiosos (NMRs) que dão espaço para a exploração de seu gênero e identidade sexual muito mais livremente do que a religião tradicional (e, talvez, mais facilmente que o feminismo). Desta forma, a religião continua a oferecer às mulheres mais opções do que aquelas encontradas no domínio "secular", freqüentemente descrito como restritivo no que concerne ao gênero feminino e a identidades sexuais. Novamente encontramos a religião oferecendo um espaço social que, de outra forma, não estaria disponível em uma sociedade moderna avançada, supostamente pluralista e plena de oportunidades.

2) Sociedades semi-diferenciadas/ não-ocidentais/ pós-coloniais

As sociedades têm sido submetidas a diferentes (apesar de relacionados) padrões de modernização pelo Ocidente industrial avançado. Em relação à diferenciação, muitas delas não estão, ou ainda não se tornaram, tão altamente diferenciadas quanto as sociedades ocidentais, e a distinção entre público e privado não é sempre tão clara e nitidamente definida. Além disso, a religião é freqüentemente um processo mais central e mais integral de modernização do que nas sociedades ocidentais. Essas diferenças na natureza da modernização e no lugar da religião estão intimamente ligadas, e existem, em parte, devido a pressões para criar identidades nacionais (freqüentemente na esteira do colonialismo), que simplesmente não imitam o Ocidente e seus padrões de modernização secular. Poder-se-ia argüir que, diferentemente do Ocidente, onde agentes da modernização foram principalmente masculinos (mesmo que o trabalho doméstico que tornou isso possível fosse feminino), a modernização em várias sociedades não-ocidentais é mais freqüentemente uma divisão de tarefas de todas as pessoas, homens e mulheres, que são impelidos por um desejo de seguir um caminho próprio ao invés de um caminho ocidental.

Não obstante a grande variedade entre essas sociedades dentro delas, é possível discernir três padrões particularmente importantes da participação de mulheres na religião:

  1. purificação do doméstico/purificação da nação. Enquanto no nacionalismo ocidental a tendência é ser secular e secularizar, fora do Ocidente, particularmente na era pós-colonial, a religião tem tendido a ser parte integrante no processo de formação da nação. Esta situação tem poderosas repercussões para o gênero. No nacionalismo religioso as mulheres freqüentemente tornam-se símbolos vivos da integridade da fé defendida e da nação. Os líderes dos movimentos religiosos freqüentemente falam das mulheres em termos de exaltação.

    Elas são as guardiãs da pureza da nação, formam as crianças na fé e guardam a santidade da casa. Assim como é necessário para os homens guardar e proteger a integridade da nação contra seus inimigos, assim é necessário proteger os corpos femininos. Desta maneira, no Paquistão (por exemplo), a instituição da reclusão feminina e o uso do véu (purdah) tornou-se um sinal de integridade de ambos, das mulheres e da nação. Aqui, mulheres estão firmemente estabelecidas dentro de um domínio privado, e dissuadidas de adentrar as esferas "masculinas" da religião e da política. Apesar de apresentado como "tradicional", isto é na verdade uma resposta Islâmica recente às forças de modernização e ao crescimento do estado-nação.

  2. Religião como um caminho seguro em direção ao espaço público. Além de participar na religião como forma de guardar e simbolizar a integridade da nação, as mulheres em sociedades semi-diferenciadas estão também usando a religião como meio de facilitar seu caminho para um novo espaço social criado por formas não-seculares de modernização.

    O Islã novamente nos dá um excelente exemplo com o uso do véu. O véu pode ser usado para simbolizar e reforçar o enclausuramento e restrição da mulher à esfera privada, mas pode também ser apropriado pela mulher e usado para negociar o seu lugar no espaço social. Permite às mulheres passar da esfera doméstica para a esfera pública de maneira segura e sem haver um rompimento dramático com o passado ou com o Islã. Então é possível demonstrar que o Islamismo contemporâneo serve a muitas mulheres muçulmanas como uma forma nativa de feminismo – não emprestada do Ocidente, mas um movimento de liberação local. De fato, isso pode ser visto como uma opção superior ao que está disponível no Ocidente., onde as mulheres podem entrar o mundo público somente na forma "racionalizada" e nos termos seculares masculinos, e são forçadas a deixar para trás aspectos vitais de sua identidade, incluindo sua religião. O véu pode representar uma tentativa de combinar crenças religiosas com desejo de mudança social. Isso é parte e parcela do processo no qual mulheres muçulmanas têm se tornado catalisadoras de mudanças, entrando na vida profissional e pública, tornando-se acadêmicas e porta-vozes do Islã, e formando organizações de mulheres, profissionais e de militância, sem abrir mão de sua identidade.

  3. religião transformando o espaço doméstico. O melhor exemplo desse padrão de participação religiosa é dado pelo Cristianismo Carismático no hemisfério sul. Isso é curiosamente diferente do Islamismo que renasce, porque é explicitamente apolítico, e busca um envolvimento com a renovação da vida privada, não da vida pública. Como o Islã que renasce, entretanto, o Cristianismo Carismático propõe um espaço no qual as mulheres podem iniciar uma revolução delicada, embora uma revolução dentro da igreja e da casa, e não em espaços públicos. Enquanto explicitamente afirma alguns elementos da religião e da sociedade tradicional e patriarcal (como a liderança masculina, um Deus soberano masculino e, mulheres nos papéis domésticos), o Cristianismo Carismático também as sujeita aos poderes transformadores do Espírito. Sob esse poder transformador tudo o que é sólido pode dissolver-se em novas formas. Hierarquia tradicional e papéis de gênero submetem-se à mudança, assim como o mundo social é parcialmente remodelado. Deste modo, a "Palavra" de Deus, masculina, autoritária, transcendente, divina é complementada pela influência insinuante do gentil, amoroso, inocente "Espírito" de Deus. Tal ênfase serve não somente para exaltar o feminino , mas para desafiar o machismo. Cria-se um espaço para as mulheres não só por oferecer-lhes o poder divino no Espírito, mas também por converter os homens a posturas menos machistas. A validação da liderança masculina na igreja, mundo e na casa pode persistir. Mas as mulheres tornam-se as maiores beneficiárias do processo pelo qual os homens têm mais responsabilidade por suas famílias, e aprendem as virtudes cristãs do amor, da delicadeza, da bondade e da lealdade. Ambos, a casa e a igreja, tornam-se espaços nos quais as mulheres podem colocar seus medos e sofrimentos nas mãos de Deus, e preencher seus desejos de uma "nova vida" de poder e amor divinamente inspirados.

3) Sociedades sem diferenciação

Finalmente, uma terceira forma de sociedade. E aqui nós entramos nos domínios da especulação, também conhecida como o pós-moderno. Uma vez que vivemos em sociedades que estão nesse estágio de transição é muito difícil vê-las e nomeá-las claramente, e é muito fácil dramatizar a mudança em excesso. Nós, no entanto, parecemos estar vivendo em sociedades pós-industriais nas quais o estado nação e a "política" estão se tornando menos importantes como condutores da mudança do que forças econômicas globalizadas. Novos padrões de trabalho emergem, os quais privilegiam a criatividade e a individualidade em detrimento da disciplina e da deferência, e pequenos grupos em detrimento das fábricas e da produção em massa. Esses desenvolvimentos começam a quebrar a distinção público/privado, e a obscurecer as fronteiras entre as instituições sociais. Podemos então, falar de um processo de "não-diferenciação".

Existem pelo menos duas conseqüências importantes para a religião, ambas altamente significativas para a participação feminina. Primeiro, o papel de integração social e de legitimação do império ou nação da religião durkheimiana desaparece, e ao invés de trabalhar em nível societal, as religiões trabalham tanto em nível de grupos quanto em nível individual.

Cada vez mais, elas tornam-se religiões – ou espiritualidades – de salvação individual. Assim, alguém poderia imaginar que elas seriam totalmente relegadas ao privado, na verdade, ao domínio do subjetivo. Entretanto, desde que a distinção público/privado está se quebrando, com (por exemplo) "a casa tornando-se o trabalho, e o trabalho tornando-se a casa", isso não necessariamente se segue. Ao contrário , uma segunda conseqüência para a religião deva ser a de jogar um papel "integrador" nas vidas dos indivíduos, ajudando-os a unir partes de suas vidas que de outra maneira pareceriam separadas. Ao mesmo tempo, a religião/espiritualidade está sendo trazida para o domínio público – dentro do local de trabalho, por exemplo, como ferramenta de treinamento de pessoal e desenvolvimento, e como componente de um "negócio" crescentemente importante que é a reflexão ética.

Para as mulheres e a religião, da mesma forma: assim como o privado e o público, as esferas do masculino e do feminino tornam-se indiferenciadas. Desta maneira, por exemplo, as habilidades rotuladas de "femininas" –relacionamento, liderança colaborativa, inteligência emocional multifuncional etc. – vêm a ser valorizadas no domínio público, como o são no privado. Isso, por outro lado, pode levar a uma nova apreciação não somente das mulheres mas dos valores "femininos" da tradição religiosa ocidental. E, nesse processo, novos espaços sociais poderão abrir-se, de maneiras que estão atualmente além de nossa imaginação, mesclando, unificando e indiferenciando masculino e feminino, religioso e secular, privado e público. Mas agora nós realmente estaríamos dentro dos domínios da especulação.

Conclusão

Gostaria de terminar relacionando esta estrutura teórica ao futuro da religião, uma óbvia importância tendo sido dada às mulheres na determinação desse futuro. De uma perspectiva de gênero, é possível não só identificar algumas tendências correntes bastante claras, mas dar integralmente conta de porque deveria ser assim. Então parece que os três tipos de religião estão indo bem pelo mundo:

  1. Formas "conservadoras" hierárquicas que afirmam os papéis domésticos e "privados" das mulheres em oposição aos papéis "públicos" masculinos.
  2. Novas religiões e espiritualidades radicais que oferecem empoderamento individual para as mulheres. Ambas estão indo bem porque oferecem espaço social para as mulheres articularem medos e desejos – embora para círculos muito diferentes de mulheres e de maneiras diferentes.
  3. Aquelas formas de religião que rompem claramente a diferenciação entre público e privado. Tais religiões oferecem às mulheres a chance de entrar na esfera pública sem abandonar a identidade de gênero e lealdades, virtudes e responsabilidades domésticas.

O futuro da religião, que é também o futuro de mulheres e religião, será certamente interessante.