1. Iniciamos o presente editorial com uma notícia auspiciosa para todos os amigos leitores/as de nossa revista eletrônica: neste mês de março REVER atingiu a expressiva marca de 10.000 visitantes. Esta, para nós, é uma prova evidente do interesse existente hoje pelas Ciências da Religião no Brasil e, em segundo lugar, da validade de nossa iniciativa de lançar este ágil instrumento de comunicação para e entre os cientistas da religião em nosso país e no exterior. Para os responsáveis pela revista tal êxito é um incentivo e um desafio. Obrigado a todos/as os que nos acessaram!
No ano de 2003, a Comissão Editorial de REVER programou os seguintes quatro números monográficos:
Número 2003/1: Aspectos históricos do Protestantismo no Brasil.
Número 2003/2: Aspectos do Catolicismo no Brasil
Número 2003/3: Devoções no Brasil de hoje
Número 2003/4: Mística
2. De uns tempos para cá, o protestantismo brasileiro tem sido objeto de estudos cada vez mais minuciosos e originais. Eles são, em parte ao menos, fruto do ambiente de pesquisa criado com a implantação de bons programas de pós-graduação em Ciências da Religião e Teologia no Brasil. De um modo geral, pode-se dizer que a evolução do Protestantismo brasileiro contemporâneo é já bastante conhecida, embora exista um extenso campo para novos estudos. Ao contrário, é relativamente bem menor o que se conhece sobre aspectos específicos das fases iniciais de sua implantação nos tempos da Monarquia e da República.
Constata-se, no entanto, que cresce o número dos que garimpam documentos de difícil acesso, trazendo à luz dados interessantes e iluminadores. Mesmo sem chegar a abranger toda a enorme documentação que jaz escondida em arquivos nacionais e estrangeiros, estes investigadores/as começam a reunir um acervo expressivo de informações e revelações. Daí o interesse de REVER em difundir tais pesquisas que seguramente irão motivar outros estudiosos do assunto.
Entre os muitos trabalhos merecedores de atenção selecionamos quatro. O primeiro analisa e comenta o que anglicanos e batistas pensavam sobre a escravidão. Essas duas Igrejas se instalaram em regiões bem diferentes, uma na capital da Bahia, onde a presença negra era dominante e outra em Santa Bárbara d'Oeste-SP, na época em que a se dava a penetração de contingentes vindos da Europa e, no caso em pauta, dos Estados Unidos. A questão abolicionista atingia naquela época (entre 1860-1890, aproximadamente) seu ponto máximo de ebulição. A autora do estudo, Elizete da Silva, mostra que o ângulo desde o qual se via a questão tinha um verniz moralista-religioso. Interessava mais a salvação dos escravos do que uma tomada de posição com relação ao problema da escravidão em si.
O segundo artigo, de autoria de Haller Elinar Stach Schunemann, se ocupa de um grupo pouco estudado por cientistas da religião: o Adventismo do Sétimo Dia. O ponto central do estudo se centra na maneira como esta forma milenarista do pietismo protestante norte-americano se inseriu no Brasil, curiosamente, através de uma comunidade alemã.
Já Vani de Almeida, a quem devemos a terceira contribuição, analisa as posições e os códigos de comportamento individual e comunitário assumidos pelos metodistas em relação ao movimento que levou à proclamação da República, em 1889. Os textos de origem metodista sobre a nova ordem social insistem em aspectos como os da saúde, alimentação e higiene e manifestam simpatia pelo caráter inovador da modernização trazida pelo movimento republicano, introduzindo padrões que deixavam para trás a velha ordem monárquica-católica.
O último artigo é devido a Lyndon de Araújo Santos. Estuda a relação entre o protestantismo e a cultura brasileira, assim como essa teia relacional se constituiu no Brasil. A atenção do autor se concentra sobre o acontecido em duas cidades: São Luiz, no distante Maranhão e o Rio de Janeiro, o flamante e influente centro cultural do Brasil que sente a tensão anterior à revolução de 1930. A fase estudada de modo específico é a da República Velha (1910-1920). Trata-se de uma reflexão sobre a representação que os protestantes daquele período se faziam sobre si mesmos. A preocupação de Lyndon de Araújo Santos – de ordem metodológica – é a de ver se a noção de representação é pertinente e significativa para a interpretação histórica do protestantismo no Brasil.
3. Para a secção INTERCÂMBIO trazemos três colaborações de natureza e origem bem diferenciada. A entrevista que o cientista norte-americano William Stoeger – astrofísico atualmente atuante no Observatório Astronômico do Vaticano – concedeu à revista "Último Andar", dos alunos de Pós-Graduação da PUC-SP. Stoeger percorreu várias universidades brasileiras abordando temas interdisciplinares. Na entrevista ele fala sobre a experiência do conhecer cientificamente e a espiritualidade. A segunda colaboração vem da Universidade de Tucumán. A colega argentina Elisa Cohen de Chervonagura escreve sobre a palavra como enunciação do milagre. Finalmente, Marta Francisca Topel, do Centro de Estudos Judaicos/USP, tece considerações sobre o lugar que o Judaísmo ortodoxo paulistano ocupa no cenário religioso brasileiro.
4. Fechamos o Editorial, agradecendo a dois colaboradores de REVER que nos prestam uma ajuda preciosa e até agora anônima: Luiz Fernando Novaes e Rodrigo Wolff Apolloni, este último aluno do Mestrado em Ciências da Religião da PUC paulista. Como último comunicado, a Comissão editorial de REVER, com grande satisfação, informa que a Dra. Maria José Rosado Nunes não pôde colaborar na preparação deste número de nossa revista por razão que nos enche de orgulho: neste semestre ela se encontra na Universidade de Harvard, como professora convidada, ministrando curso de sua área de especialização.
Com nossos votos de boa leitura,
Prof. Dr. Frank Usarski
Prof. Dr. Edênio Valle