Conflitos militares recentes despertaram a atenção para a relação gênero x guerra. Partindo desse ponto, investigamos a representação da mulher na cultura marcial chinesa e seus reflexos sobre as relações de gênero. Para isso, utilizamos as obras de Joshua Goldstein e Leon Hunt. Configuramos a hipótese de que a representação da "mulher guerreira" não implicou em mudanças na condição feminina; que esse "não impacto" se deve ao encapsulamento dessa mulher em um universo mítico e à falsa imagem da mulher guerreira como personagem de um "feminismo à chinesa"; consideramos ainda que, a partir da transculturalidade, é possível que as mulheres chinesas possam se beneficiar dessa antiga representação. O artigo é organizado a partir de um background sobre a relação gênero x guerra, de um perfil das relações de gênero na China, da descrição, origem e influência da "mulher guerreira" na cultura chinesa, dos motivos para o afastamento entre a realidade dessa personagem e a das mulheres chinesas e do possível impacto dessa ancestral imagem sobre a sociedade chinesa a partir de um "refluxo cultural" decorrente da transculturalidade da "cultura do Kung-Fu".
Referring to concepts of Joshua Goldstein and Leon Hunt, the article deals with the role of women and the question of gender within the context of Chinese martial art. It is argued that due to the symbolic “encapsulation” of women trained as soldiers, the figure of a “female warrior” did not alter gender stereotypes but confirmed the traditional image of the “Chinese woman”. After having sketched the relation between war and women in general and the problem of gender within the Chinese society in particular, the author describes the origin of the “female warrior” and its impact on Chinese culture, followed by a discussion of whether the characteristics of a “Kung-Fu”- culture had contributed to the discrepancies between the image and the reality of the women-soldiers.
Socos, chutes, gritos de guerra, golpes de lança, cortes de espada, tiros - é natural imaginar o aparato guerreiro associado à figura masculina. Para isso há uma explicação: ao longo da História a guerra foi definida, pela maioria das culturas, como uma atividade tipicamente masculina. Os homens vão às guerras e as mulheres os aguardam com a resignação das esposas de Atenas ou, quando muito, com o vigilante estoicismo das matronas de Esparta: “Existe um relato sobre a vida espartana que conta que, quando terminava o treinamento militar e era incorporado ao exército, o jovem espartano recebia de sua mãe o escudo acompanhado da seguinte observação:“Com ele ou sobre ele”. A explicação da frase lacônica reside no fato de que o escudo era a peça mais pesada do armamento. Em caso de fuga, a primeira providência era jogá-lo fora. A opinião das mães espartanas (que no fundo reflete a opinião da própria cidade de Esparta), segundo a qual é preferível ver um filho retornar à cidade morto, carregado por seus companheiros de falange sobre o seu próprio escudo transformado em padiola, do que vê-lo retornar vivo, mas desonrado pela fuga, não é compartilhada por Arquíloco de Paros”.[1]
Estudos como o realizado pelo pesquisador Joshua Goldstein[2] mostram, porém, que a questão vai muito além da relação (e da redução) simplista "homem = força = caça = guerra" x "mulher = suavidade = família = paz". Segundo Goldstein, os episódios militares recentes envolvendo o Iraque (a invasão do Kuwait em 1991; em 2003, a invasão do próprio Iraque por uma coalizão liderada pelos Estados Unidos) e o trágico saldo para as mulheres em conflitos regionais nos anos 80 e 90 (a guerra dos Balcãs e em países africanos como Ruanda, Burundi e Algéria) motivaram o crescimento do interesse a respeito das relações entre gênero e guerra. Ainda assim, observa, os scholars ainda não produziram conclusões significativas sobre como o elemento "gênero" molda as guerras.
Goldstein coloca em questão os termos "sexo", "gênero" e "guerra", observando a dificuldade de se estabelecer um estudo preciso sobre o tema. De acordo com ele, a diferença que muitos estudiosos estabelecem entre "sexo" e "gênero" é errônea, uma vez que implica na construção de uma falsa dicotomia entre biologia e cultura[3]. Sobre o conceito de "guerra", o pesquisador observa que ele não é pacífico, uma vez que muitas vezes foi baseado especificamente no número de baixas. Para Goldstein, a mera "contagem de corpos" não é suficiente para abarcar um conceito tão complexo. Diante disso, ele define "guerra" como "toda forma de violência intergrupal letal".
Em seu trabalho, o pesquisador da Brown University mostra, através de hipóteses baseadas em conclusões próprias e em estudos de pesquisadoras de gênero, que as mulheres foram deliberadamente excluídas dos processos guerreiros. Hoje é relativamente comum encontrar mulheres nas forças armadas de muitos países; ainda assim, no mais das vezes elas seguem preservadas em território seguro, atuando em áreas como as de enfermagem, logística e comunicações. Para essas mulheres soldado há, evidentemente, a possibilidade de participação em combates reais - as chances, porém, são seguramente menores que a de soldados do sexo masculino.
Episódios históricos como o das chamadas "amazonas do Daomé" (tropa de elite formada por mulheres no reino de Benim que, em 1892, colocou em apuros um grupo expedicionário francês pleno de "élan masculino"), porém, mostram que seu papel como guerreiras é deliberadamente subvalorizado;[4] essa exclusão não tomou por base a estrutura das guerras em si, inadequação biológica ou comportamental, mas, apenas, relações de poder baseadas no patriarcado. Nas palavras de Goldstein, "a regularidade nos papéis de gênero na guerra contrastam com a grande diversidade encontrada tanto na guerra em si quanto nos papéis de gênero fora das situações de guerra."[5]
Neste ensaio tomamos por base o trabalho de Joshua Goldstein para fazer uma leitura do papel da mulher dentro da representação marcial chinesa. Optamos por essa abordagem porque ela guarda relação com nossa dissertação, que trata da presença e a transformação de elementos históricos e religiosos na arte marcial chinesa praticada no Brasil[6].
Nossa leitura passa, essencialmente, por um universo de representação baseado na chamada literatura Wusia - a literatura chinesa de "capa-e-espada", cuja origem remonta ao século I - e nos filmes chineses e norte-americanos de arte marcial centrados no chamado "Kung-Fu" (nome genérico pelo qual é conhecida, no Ocidente, a arte marcial chinesa). Para se referir à própria arte marcial, os chineses adotam os termos clássicos "Kuoshu"[7] e "Wushu".[8]
Em chinês, “Kung-Fu” expressa uma habilidade intuitiva obtida pela repetição intencional de uma ação.[9] A introdução do termo na Europa data do século XVIII, quando jesuítas franceses se referiram aos exercícios taoístas chineses como "Cong Fou"; no Ocidente, sua adoção como definidor para a arte marcial chinesa parece datar de 1973, quando as redes de televisão de vários países (inclusive do Brasil) veicularam a série "Kung-Fu".[10]
No caso da análise dos produtos culturais recentes sobre Kung-Fu, tomamos por base o livro de Leon Hunt, "Kung Fu Cult Masters - From Bruce Lee to Crouching Tiger",[11] obra que analisa os efeitos do fenômeno transcultural marcial chinês sobre livros, filmes, atitude, gênero e até jogos de computador.
Antes de seguir em frente, vale observar que o tema "Kung-Fu" - apesar do aparente "exotismo" - vem crescendo em interesse no mundo acadêmico. Ainda que trabalhos a respeito sejam praticamente inexistentes em nosso país, departamentos de estudos asiáticos de universidades norte-americanas e européias já tomaram conhecimento desse elemento da cultura chinesa. Episódios como o da "Rebelião dos Boxers", de 1900, não deixam dúvidas sobre o valor da marcialidade chinesa como objeto de estudo.[12] No campo da História, por exemplo, há trabalhos como o do pesquisador israelense Meir Shahar, que estudou profundamente a marcialidade dos integrantes do mosteiro budista de Shaolin em Henan, nos séculos VIII e XVI,[13] e abriu um espaço importante para a compreensão da relação entre Budismo e violência na China. No que se refere ao corte da raça, há um trabalho interessante do pesquisador Vijay Prashad, que aborda o papel da arte marcial chinesa como elemento de diálogo entre as minorias negra e oriental nos Estados Unidos dos anos 70 do séc. XX.[14]
Obras populares modernas, como "As Boas Mulheres da China"[15], de Xinram, expuseram ao público ocidental a situação das mulheres do "Império do Meio" nas últimas décadas do século XX. A obra da jornalista Xinram mostra que nem os princípios enunciados por Marx, nem o furor ideológico de movimentos como a Grande Marcha e a Revolução Cultural conseguiram tirar as chinesas, principalmente na esfera privada, de uma milenar situação trágica: em uma estrutura fortemente marcada pelo patriarcado e pelo "amor aos varões" - oriundo, provavelmente, do dever de continuidade das linhagens familiares patriarcais que permeia o Confucionismo -, elas são vítimas de infanticídio e seleção pré-natal, humilhação, casamentos forçados, violência corporal e reificação.[16] A situação é especialmente grave nas áreas rurais, marcadas pela pobreza e pela manutenção de costumes tradicionais. Isso, apesar de a Constituição de 1984 da República Popular da China determinar, em artigos de seu Capítulo 2, a igualdade de direitos entre mulheres e homens:
"Artigo 33. Todas as pessoas que possuam a nacionalidade da República Popular da China são cidadãos da República Popular da China. Todos os cidadãos da República Popular da China são iguais perante a lei. Todo o cidadão goza dos direitos e, simultaneamente, tem de cumprir os deveres prescritos pela Constituição e pela lei."
"Artigo 48. As mulheres na República Popular da China gozam dos mesmos direitos dos homens em todas as esferas da vida política, econômica, cultural, social e familiar. O Estado protege os direitos e interesses das mulheres, aplicando o princípio do igual pagamento pelo mesmo trabalho para homens e mulheres, forma e escolhe quadros entre as mulheres."
"Artigo 49. O casamento, a família, a mãe e a criança são protegidos pelo Estado. Ambos, marido e mulher, têm o dever de praticar o planejamento familiar. Os pais têm o dever de dar suporte e educar seus filhos menores, e os maiores têm o dever de dar suporte e assistência a seus pais. Violação da liberdade de casamento é proibida. São proibidos maus tratos a idosos, mulheres e crianças são proibidos."[17]
No momento em que a China caminha para a condição de segunda potência econômica mundial, "aberta para o mundo" e "moderna", a situação passou a preocupar mais as autoridades comunistas. Tal preocupação pode ser vista, por exemplo, em matérias recentes publicadas pelo principal jornal chinês, o "Diário do Povo" de Beijing:
"Casamentos infelizes e violência doméstica são os dois mais prevalentes problemas que afligem as mulheres chinesas, de acordo com a All-China Women's Federation. A ACWF recebeu cerca de 300.000 cartas, visitas e telefonemas de pessoas procurando assistência nos últimos dois anos. Parte dessas denúncias foram de pessoas sofrendo com problemas matrimoniais ou relacionados à família. A organização também testemunhou um crescimento no número de queixas relacionadas à violência doméstica. De acordo com a oficial superior da ACWF, Deng Li, a violência doméstica se tornou um problema social pervasivo em anos recentes, ameaçando a segurança e a saúde física e psicológica das mulheres. Apesar de a China ter reformado sua legislação relativa ao matrimônio em 2001 para garantir direitos familiares e maritais, ainda são necessário tempo e esforços para reforçar as leis e os regulamentos mais importantes, diz Deng. Atualmente a polícia, as federações de mulheres e habitantes de todo o país estão trabalhando juntos para estabelecer um efetivo mecanismo contra a violência doméstica que melhor proteja os direitos das mulheres. (...)"[18]
"De acordo com o mais recente levantamento oficial, 16% das mulheres chineses se queixam de agressões por parte de seus maridos, e 14,4% dos homens admitem bater em suas mulheres. Cerca de um terço dos funcionários públicos relacionados à questão vê a violência doméstica como o principal fator de ameaça aos direitos e interesses da mulher. (...)"[19]
Não se pode deixar de observar que, em alguns momentos, mulheres chinesas ocuparam posições centrais de poder político: foi o caso de Wu Zetian, imperatriz que reinou por 50 anos durante a Dinastia Tang (que vai de 618 a 907 d.C.)[20] e, mais recentemente, de Jiang Qing, terceira esposa de Mao Tsé-Tung. Militante comunista de primeira hora, Jian foi possuidora de enorme poder político durante a Revolução Cultural chinesa; logo após a morte de Mao, em 1976, porém, caiu em desgraça.[21]
Liderança política não implica, porém, na obrigação de portar armas e conduzir tropas em campos de batalha. Num nível mais "mundano" vamos encontrar exemplos recentes da participação de chinesas em ações guerreiras, principalmente nas de caráter subversivo ou revolucionário. Elas participaram dos confrontos de rua da Rebelião dos Boxers e, na condição de guerrilheiras, de batalhas durante a Longa Marcha.[22] Algumas, como a camponesa Kang Keqing (que, durante o périplo comandado por Mao Tsé-Tung, foi apelidada de "A Amazona Vermelha"), chegaram a ocupar posições de destaque no Partido Comunista Chinês.
Aparentemente, porém, essas mulheres "autorizadas a guerrear" parecem representar uma exceção na História chinesa. Pouco expressivas em termos numéricos - reflexo do condicionamento cultural/social ditado por um vetusto patriarcado - elas puderam mostrar valor marcial apenas em momentos nos quais a utopia e o desejo de reconstruir a realidade implicaram em uma quebra radical de idéias até então consideradas basilares para a sobrevivência do statu quo.
Os Boxers (homens e mulheres) foram aniquilados pelas potências ocidentais e pelo Japão em menos de dois anos; as comunistas, apesar de responsáveis por avanços significativos em relação aos direitos da mulher, não conseguiram arrancar a profunda raiz patriarcal da sociedade chinesa. Além disso, deve-se considerar que a presença das mulheres em ações guerreiras nesses dois casos, ainda que significativa, acabou minimizada diante da complexidade do quadro histórico chinês compreendido entre os últimos dias da Dinastia Qing e a tomada do poder pelos comunistas.
A conformação da mulher em termos de representação artística na marcialidade chinesa é surpreendentemente diferente da constatada na "realidade-padrão".[23] A começar pelo fato de que os heróis desse universo cultural jamais maltratam suas mulheres. Aliás, as próprias mulheres que compõem esse universo são, no mais das vezes, representadas como valentes, dotadas de poder de mando sobre homens e de maestria marcial. Cenas de luta como a encenada por Zhang Zi Yi em um trecho de "O Tigre e o Dragão"[24] são a prova cabal disso: em poucos instantes, uma jovem franzina surra vários homens e acaba literalmente demolindo uma hospedaria. Uma fala da personagem resume sua atitude: "Eu sou a invencível Deusa da Espada, armada com a incrível Destino Verde... Eu sou o dragão do deserto! Eu não deixo rastros! Hoje eu voei sobre Eou-Mei! Amanhã eu vou chutar a montanha de Wutang!"[25]
Outra personagem do filme, interpretada por Michelle Yeoh, é líder de um clã militar, e o inimigo, uma idosa feiticeira dotada de conhecimentos arcanos. Para três protagonistas femininos há apenas um masculino. Os exemplos, como observam Leon Hunt e outros especialistas no cinema marcial chinês,[26] são vários e não se prendem apenas aos filmes modernos. A predominância no universo marcial é, sem dúvida, dos homens; ainda assim, mulheres também estão lá, submetendo inimigos pela força. Pergunta-se: de onde veio essa forma de representação do universo feminino na cultura marcial chinesa? No contexto dos estudos de gênero, a pergunta se justifica pela importância do cinema e da literatura marcial não só para a cultura chinesa, mas para o mundo.
É preciso lembrar que esse cinema já abandonou seus limites geográficos, tornando-se um produto transcultural:[27] quando a heroina do blockbuster "Matrix" extermina seus inimigos com chutes e socos, ou quando os jogos eletrônicos de luta trazem personagens femininos com poderes iguais aos de suas contrapartes masculinas, aí está a influência da "cultura Kung-Fu" atuando sobre o gênero.
Podemos perguntar, pois, que efeito essas formas de representação e, no caso dos jogos eletrônicos, de "acesso ao poder", podem ter sobre as formas de contato entre meninas e meninos. Uma observação de caráter empírico feita junto a academias de Kung-Fu de cidades como Curitiba, São Paulo, Campo Grande e Florianópolis revelou que as mulheres ainda são minoria. Essa constatação, porém, não deve ser tomada como definitiva, uma vez que os contextos da marcialidade "virtual" e da "real" parecem guardar diferenças significativas. Em um mundo de "guerreiros virtuais" não é preciso ir a uma academia para assumir uma postura marcial.
Talvez seja preciso apelar para a velha tradição esotérica chinesa para chegar a uma primeira imagem de igualdade - e, paradoxalmente, de diferença - entre os elementos feminino e masculino. Ela está presente no Taoísmo, que define "masculino" e "feminino" dentro da classificação "Yin" e "Yang".[28] São pólos de mesma potência, opostos e complementares. Uma leitura feminista "da igualdade" talvez considerasse o conceito machista, uma vez que "Yang" (o pólo masculino) é considerado "ativo" e "Yin" (o pólo feminino), "passivo". Há que se considerar, porém, que os dois estão alinhados e que só subsistem diante de sua contraparte; além disso, o Taoísmo os define como "móveis": um traz em si a semente do outro e, em uma cadência perpétua, nele se converte (diante disso não pode haver preconceito, a não ser que do sujeito em relação a ele mesmo).
Estabelecida essa complexa (e fascinante) "divisão Taoísta de gênero", pode-se perguntar quais seus efeitos sobre a sociedade tradicional chinesa: em princípio pode-se dizer que ela permaneceu ligada ao campo religioso e às relações dos homens com certos elementos da natureza, uma vez que a sociedade não assumiu a igualdade como fator essencial à sua dinâmica. Por uma "hipótese poética", porém, poder-se-ia admitir que a mentes religiosa e literária estão mais próximas entre si do que da vida cotidiana: assim, desde cedo há referências a mulheres guerreiras na literatura chinesa. Essa literatura, chamada de Wusia, é o equivalente chinês dos gêneros ocidentais "capa-e-espada" e "faroeste": o termo é formado por dois caracteres, “Wu” e “Sia”, que servem para indicar o guerreiro errante.[29] Modernamente, essas obras viriam a ser a principal fonte de inspiração para o cinema de Kung-Fu.
São os livros e peças teatrais populares que vão apresentar, já no século I, a chamada "Dama de Yueh" (personagem do clássico "Anais dos Reinos de Wu e Yueh") e, no século V, Mulan (Fa Mulan), heroína que se veste de homem para vingar a morte do pai e liderar um exército contra poderosos inimigos.[30] Pelo menos no caso de Mulan, o que se observa é uma emulação (o trocadilho não é proposital), uma vez que a personagem literalmente "se converte em homem" para lutar - isso representaria uma "rendição de gênero" ou uma concessão em nome do acesso ao poder. Voltando para casa, o generalíssimo Mulan retoma a condição feminina chinesa clássica, de suavidade e submissão. O poema expressa a perplexidade dos soldados diante da transformação de seu poderoso comandante em mulher. Mulan é deixada em paz, mas a poeta não se arrisca a reconverter a heroína em soldado.
A tradição marcial pura também tem suas mulheres: é o caso de Ng Mui, monja budista associada à tradição do mosteiro de Shaolin e considerada a criadora de um poderoso estilo de Kung-Fu, o Wing Chun,[31] e de Fang Wing Chun, que, junto com o marido (Hung-Wei Kun), teria criado no século XVIII o estilo Fu Hok Sheun Yin Chuan ("Boxe do Tigre e da Garça"). Não encontramos informações suficientes para uma análise de Fang Wing Chun, mas sua colocação ao lado do marido como criadora de um estilo (o "normal", em princípio, seria que seu nome fosse omitido) é um bom sinal. No caso de Ng Mui, talvez o elemento mais importante de análise seja o fato de ela ter sido uma monja, o que reduziria sua condição de mulher a algo de menor importância (na tradição budista Mahayana homens e mulheres raspam a cabeça e usam vestes iguais: aqui, em princípio, não haveria igualdade entre sexos, mas a supressão da condição de gênero em nome de um desejo de transcendência).
De que maneira a literatura Wusia e o cinema podem ter influenciado o pensamento das mulheres chinesas em relação ao ímpeto guerreiro e à igualdade em termos de gênero? É difícil responder a essa pergunta, muito mais em um ensaio baseado em um reduzido número de fontes bibliográficas. Abandonando um pouco o rigor acadêmico, porém, é possível compor pelo menos uma hipótese. Em um trecho do livro "The Woman Warrior: Memoirs of a Girlhood Among Ghosts", a escritora sino-americana Maxine Hong Kingston[32] dá a medida do valor das velhas histórias para as meninas chinesas:
Quando nós, garotas chinesas, escutávamos as histórias contadas pelos adultos, aprendíamos o fracasso de crescer para ser esposa ou escrava. Nós deveríamos ser heroínas, espadachins. Mesmo se ela tivesse que assolar toda a China, uma espadachim enfrentaria qualquer um que tivesse prejudicado sua família. Talvez as mulheres tivessem sido um dia tão poderosas que, por isso, tiveram seus pés limitados... aos domingos, de meio-dia à meia-noite, nós assistíamos filmes na Igreja Confucionista. Nós víamos mulheres espadachins saltando sobre as casas sem esforço; elas nunca precisavam tomar impulso... Depois que eu cresci, escutei o canto de Fa Mulan, a garota que tomou o lugar do pai em batalha... Eu teria que crescer como uma mulher guerreira.[33]
Apesar de pertencer a uma minoria étnica e de ter crescido nos Estados Unidos dos anos 50 e 60, Maxine Hong Kingston conseguiu se tornar uma das mais influentes escritoras de ascendência chinesa na cultura norte-americana. O mesmo, seguramente, não aconteceu com as mulheres das áreas rurais e mesmo de boa parte das cidades da China. Ainda assim é detectável, no texto que reproduzimos, pontos em que a autora se refere ao machismo dominante: ao imaginar, como criança, uma explicação para o velho costume de enfaixar os pés das mulheres de extratos sociais mais altos ("tiveram seus pés limitados"), ela se aponta diretamente para a dominação masculina e para confrontação entre o sonho da mulher guerreira e a realidade da vida privada. Um trecho de uma biografia de Maxine Hong Kingston na internet[34] complementa essa observação:
O livro ["The Woman Warrior"] se refere também à história das gerações de mulheres chinesas que a precederam e as dificuldades dela [da autora] como uma americana tentando emergir de sua muitas vezes sufocante presença. O subtítulo do livro, "Memórias de uma Mocidade entre Fantasmas", sugere seu tom quase fantástico, mas também se refere especificamente aos fantasmas das parentes de Kingston e a tragédia de muitas de suas vidas, vividas em uma sociedade chinesa extremamente dominada pelos homens. Ela apresenta ditados populares chineses como "Quando pescar tesouros na enchente, tome cuidado para não fisgar garotas" e "Não há proveito em criar garotas. É melhor criar gansos do que garotas.[35]
Talvez seja possível antever, na expressão dessa mulher chinesa, a hipótese que pretendemos construir. As mulheres guerreiras estão lá, no folclore, nas novelas populares e nos filmes, vivendo aventuras extraordinárias num cenário de dragões, tigres e homens que as vêem como iguais. Dragões, porém, não existem, tampouco aventuras na labuta e na violência do cotidiano; e os tigres estão praticamente extintos. Ainda que inspiradora, a figura da mulher guerreira está, para a realidade da maioria das mulheres chinesas tradicionais, como os dragões ou a igualdade entre os sexos.
Em seu estudo, Joshua Goldstein expõe vários argumentos que mostram que a visão universal da mulher como um ser “necessariamente pacífico” e “não marcial” é uma construção do patriarcado. Ele aponta as justificativas machistas mais comuns para o “pacifismo feminino” e, em seguida, as desconstrói com base em dados de pesquisa. Nós faremos o mesmo, usando como elemento de desconstrução a “configuração básica” da heroína marcial chinesa do folclore e das artes. Em nossa análise, tomamos apenas as cinco justificativas de base biológica usadas pelo autor para a exclusão das mulheres dos processos guerreiros - pretendemos mostrar com isso, em um primeiro momento, o caráter subversivo das mulheres guerreiras chinesas representadas na cultura marcial:
Diante desse constructo teórico poderíamos afirmar que as heroínas chinesas do folclore e das artes representam, de fato, um poderoso ícone a favor da libertação das mulheres. Observações feitas de outro ângulo indicam, porém, que esse espírito marcial não está livre de condicionamentos patriarcais. Admitimos, inclusive, que essas observações serviriam para explicar, pelo menos em parte, o fracasso da transplantação do espírito guerreiro das heroínas para a vida cotidiana das mulheres chinesas.
Leon Hunt observa, com base nas conclusões de Yvonne Tasker, que o “furor guerreiro” das mulheres chinesas seria, em verdade, traído por elementos que amenizam e “enquadram” sua condição marcial.[36] Mesmo na representação cultural chinesa os homens são, via de regra, guerreiros à moda de "Conan, o Bárbaro": cheiram a suor, bebem, mantém relações sexuais livremente e possuem códigos muito próprios de conduta e honra.
Já as mulheres não dispõem das mesmas prerrogativas, sendo conectadas - apesar das espadas e da ferocidade - a valores aceitos patriarcalmente como “femininos”, como o amor maternal, ou a “distúrbios simbólicos” como o da menina que se mantém criança para burlar as responsabilidades da idade adulta (até uma certa idade não parece existir problemas no fato de meninas “brincarem de luta”. Ainda assim, esse argumento pode ser contestado: sendo a idade adulta de uma mulher repleta de responsabilidades infelizes, a via da espada seria um caminho de auto-afirmação e de desobediência à ordem opressora).
Já que nos referimos a um personagem ocidental como típico da masculinidade universal,[37] podemos usar um exemplo ocidental feminino – a personagem de quadrinhos underground "Droona"[38] - como complemento para a hipótese da “falsa guerreira” chinesa. Em termos de representação corporal ou da sexualidade, elas, ao contrário da personagem criada por Eleuteri Serpieri, são absolutamente recatadas, ou seja, enquadradas em um padrão aceito pela cultura machista: não andam nuas ou vestindo apenas tangas,[39] não dispõem de seios e nádegas avantajados e não fazem do sexo uma arma brutal contra inimigos ou uma forma de aliança com os companheiros de luta.
Outros elementos de justificação da condição guerreira, no caso feminino chinês - os homens não precisam deles -, são o dever filial (caso de Mulan) ou o “envenenamento” da personagem por um desejo absolutamente “macho” de vingança. Por essa perspectiva – que mantém nas guerreiras uma feminilidade tributária do patriarcado ou que as converte em seres anormais - as heroínas da representação marcial pouco auxiliariam na libertação das mulheres chinesas.
Os argumentos acima apresentados constituem apenas e tão somente um exercício de prospecção de possibilidades no campo dos estudos de gênero. Eles mostram, inicialmente, que a discussão sobre a igualdade de sexos e sobre a opressão da mulher pode ser travada em campos tão “exóticos” quanto as guerras ou a longeva cultura marcial chinesa. Não podemos, efetivamente, bater o martelo em relação a uma conclusão sobre as razões do remoto surgimento de mulheres guerreiras no campo da representação cultural marcial chinesa e nem, tampouco, sobre a profunda diferença de tais personagens em relação às “mulheres reais” na China.
Talvez a hipótese que mais se aproxime de uma resposta, pelo menos na concepção de um neófito no campo dos estudos de gênero, seja a do “encantamento” ou da semelhança entre as heroínas e os personagens fantásticos das lendas chinesas. Ambos são belos e cumprem um extraordinário papel na esfera dos sonhos: quem, afinal, não gostaria de testemunhar o surgimento de um magistral dragão por entre as nuvens, ou a performance marcial de uma “invencível deusa da espada”? No fundo, porém, as pessoas sabem que dragões não existem e que, tampouco, mulheres saem pelo mundo a guerrear usando o mesmo aparato bélico dos homens. Para o primeiro caso há, em princípio, uma justificativa plausível, baseada na própria natureza;[40] para o segundo, infelizmente, ela se baseia em um sistema de dominação baseado no patriarcado. Para esse sistema é aceitável que as mulheres – sejam elas guerreiras independentes ou condicionadas por valores machistas - continuem exibindo sua fúria num mundo cristalizado, encapsulado; inaceitável seria que elas tomassem armas no mundo real ou que se rebelassem contra a opressão doméstica e a reificação.
É preciso observar um último elemento que nos chamou a atenção nesse estudo, referente à transculturalidade recente da representação marcial chinesa. Como observado anteriormente, os filmes de Kung-Fu (e suas mulheres) penetraram profundamente no imaginário ocidental nos últimos trinta anos, provocando um fantástico movimento que abrange estética, efeitos especiais e até relações de gênero. Dentre as conseqüências desse movimento estão não apenas filmes de ação, mas desenhos animados, brinquedos e jogos eletrônicos que apresentam garotas e mulheres guerreiras capazes de se bater, em pé de igualdade, com homens ou monstros. Ainda que não seja possível afirmar que esses produtos venham a confrontar a visão de mundo patriarcal, é preciso considerar seu papel na formação das futuras gerações (basta encarar a seriedade com que as crianças assistem a desenhos como “Digimon” e jogam games como “Tekken” para se perceber isso).
Com a abertura da China ao elementos do capitalismo e do modo de vida ocidental é possível que, em pouco tempo, meninos e meninas de Beijing, Xangai e até das áreas rurais mais distantes tenham acesso a esses produtos. Se “Digimon” e “Tekken”, de fato, implicarem em algum tipo de transformação nas relações de gênero entre essas crianças - por mínima que seja -, poderíamos considerar a representação feminina nas histórias tradicionais, livros e filmes de Kung-Fu como vitoriosa para as mulheres em sua luta por direitos. Uma vitória por um caminho inesperado, sem dúvida, mas, ainda assim, uma vitória.
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XINRAM, "As Boas Mulheres da China" (The Good Women of China"), primeira edição, São Paulo: Companhia das Letras, 2003, 288 p.
[*] Mestrando em Ciência da Religião pela PUC-SP.
[1] Informação presente em TSURUDA, Maria Amélia, "Apontamentos para o Estudo da Areté", texto completo disponível em http://www.hottopos.com/notand11/amalia.htm (cons. 13.02.2004).
[2] GOLDSTEIN, J., "War and Gender: How Gender Shapes the War System and Vice Versa", Cambridge University Press, setembro de 2001, texto disponível em http://www.warandgender.com/wgch1.htm. Joshua Goldstein é pesquisador da Brown University; ver http://www.joshuagoldstein.com/index.htm, (cs. 10.05.2004).
[3] "I therefore use “gender” to cover masculine and feminine roles and bodies alike, in all their aspects, including the (biological and cultural) structures, dynamics, roles, and scripts associated with each gender group. I reserve the word “sex” for sexual behaviors (recognizing that there is no precise dividing line here either). However, I retain the term “sexism” which is in common usage, and retain original terms such as “sex role” when quoting." GOLDSTEIN, J., op. cit.
[4] Sobre as Amazonas do Daomé, ver DOUFOR, P., "Le baroud d'honneur des amazones du Daomey", in Historia, n. 636, dez. 1999, p. 30 a 32. Ver, também, http://www.iwm.org.uk/women/infobites3.htm (c. 10.05.2004).
[5] GOLDSTEIN, op. cit.
[6] "Shaolin à Brasileira: estudo sobre a presença e a transformação de elementos religiosos orientais no Kung-Fu praticado no Brasil", PUC-SP, trabalho em andamento, sob orientação do professor doutor Frank Usarski.
[7] "Kuo" = "Nação", "Shu" = "Arte"; "Arte Nacional".
[8] "Wu" = "Guerra", "Marcial"; "Shu" = "Arte"; "Arte Marcial".
[9] Segundo o mestre em arte marcial chinesa Lee Chung Deh (c.v. 05.09.2003), “Kung” indica “trabalho” e a partícula “Fu” serve como elemento de reforço. Segundo ainda o mestre, “Kung-Fu” também representa o alicerce sobre o qual se constrói a maestria em uma determinada atividade. Para uma tradução acadêmica de "Kung-Fu", ver HOLCOMBE, C., “Theater of Combat: A critical look at the Chinese Martial Arts”, disp. em http://www.sino.uni-heidelberg.de/FULLTEXT/JR-ADM/holcom.htm (c. 25.08.2003); ver, tb., DERRICKSON, "Chinese for the Martial Arts" (1ª ed., Rutland: Charles E. Tuttle, 1996, 40 p.), p. 19.
[10] A série "Kung-Fu", estrelada por David Carradine, foi produzida pela rede norte-americana ABC entre 1973 e 1975. No Brasil, estreou em 1975 pela Rede Globo.
[11] HUNT, L., Kung Fu Cult Masters - From Bruce Lee to Crouching Tiger, 1ª ed., Londres: Wallflower, 2003, 229 p.; Leon Hunt é Senior Lecturer em Estudos de Cinema e TV na Universidade de Brunel (Inglaterra).
[12] Sobre a Rebelião dos Boxers, ver HARRINGTON, P., "Peking 1900", 1ª ed., Londres: Osprey Publishing Ltd., 2001, 96 p.
[13] SHAHAR, M., "Epigraphy, Buddhist Historiography, and Fighting Monks: The Case of The Shaolin Monastery", inédito, 21 p., e "Ming-Period Evidence of Shaolin Martial Practice", in Harvard Journal of Asiatic Studies, vol. 61, n. 2, dez. 2001, p. 359 a 413, trad. de APOLLONI. R. disp. em http://www.pucsp.br/rever (c. 10.04.2004).
[14] PRASHAD, V., "Everybody was Kung-Fu Fighting", 1ª ed., Boston: Beacon Press, 2001, 256 p.
[15] XINRAM, "As Boas Mulheres da China" (The Good Women of China"), 1ª ed., São Paulo: Companhia das Letras, 2003, 288 p.
[16] Sobre a construção da imagem da mulher chinesa a partir da filosofia chinesa, ver BLOODWORTH, D., "A Imagem da China", 1ª ed., Rio de Janeiro: Bloch Editores, 1969, 503 p., p. 99 a 134.
[17] Constituição da República Popular da China (de 4 de dezembro de 1982), texto completo em port. disp. em http://www.macau.gov.mo/constitution/con_rpc_pt.phtml e, em inglês, disp. em http://english.peopledaily.com.cn/constitution/constitution.html3 (c. 14.02.2004).
[18] "Marital Problems, Domestic Abuse Plague China's Women", mat. não assinada, in People´s Daily, ed. 09.03.2003, in http://english.peopledaily.com.cn/200303/09/eng20030309_112987.shtml, (c. 10.02.2004).
[19] "Women looks for ways to defeat domestic violence", mat. não assinada, in People´s Daily, ed. 26.11.2003, in http://english.peopledaily.com.cn/200311/26/eng20031126_129045.shtml, (c. 11.02.2004.)
[20] Wu Zetian é festejada até hoje por milhares de chineses. Foi a primeira imperatriz chinesa a ser entronizada. Para informações sobre Wu Zetian, ver http://fpeng.peopledaily.com.cn/200010/07/eng20001007_51966.html (c. 24.02.2004).
[21] Jiang Qing foi presa no mesmo ano da morte do marido. Acusada de liderar a chamada "Gangue dos Quatro", foi condenada à morte, teve sua pena comutada para prisão perpétua em 1983. Suicidou-se na prisão em 1991. Para inf. sobre Jiang Qin, ver http://www.bartleby.com/65/ji/JiangQin.html (c. 16.02.2004).
[22] A "Longa Marcha" começou em Ruijin, Jianxi, no inverno de 1935. Das 60 mil pessoas que iniciaram a marcha, duas mil (3,3% do total) eram mulheres. Ver http://www.eclectica.org/v3n2/skea_women_march.html (c. 10.05.2004). Para a representação da "mulher guerrilheira" na China comunista, ver coleção de cartazes revolucionários em http://www.iisg.nl/~landsberger/pla3.html (c. 10.05.2004).
[23] Sobre o conceito de "realidade-padrão", ver BERGER, P. & LUCKMANN, T., "A Construção Social da Realidade" (21ª edição, Petrópolis: Editora Vozes, 2002, 247 p.)
[24] "Crouching Tiger, Hidden Dragon", filme de 2000 dirigido por Ang Lee.
[25] Esse diálogo foi compilado por HUNT ("Kung Fu Cult Masters", op. cit., p.136). "Destino Verde" é uma espada que confere um poder extraordinário a seu portador; Wutang é uma montanha considerada sagrada pelos taoístas. A identificação com o dragão é notável: na tradição chinesa ele é, muitas vezes, relacionado ao elemento masculino (na iconografia clássica, a pérola acompanha o dragão; é a sua contraparte feminina).
[26] Como MEYERS, et. al., From Bruce Lee to the Ninjas – Martial Arts Movies, 1ª ed., Nova Iorque: Carol Publishing Group, 1991, 256 p.
[27] Menos, paradoxalmente, na China continental, onde, por conta do regime comunista, as produções "capitalistas" não são bem-vindas. A partir dos anos 80, porém, o próprio governo de Beijing despertou para o potencial da cultura marcial: atualmente, produz filmes e resgata lugares históricos relacionados à marcialidade que tenham interesse turístico, como o mosteiro de Shaolin em Henan. Além disso, os governantes tencionam transformar uma versão desportiva da antiga arte marcial em esporte olímpico já em 2008.
[28] HOOKER, R., informa: "The yin and yang represent all the opposite principles one finds in the universe. Under yang are the principles of maleness, the sun, creation, heat, light, Heaven, dominance, and so on, and under yin are the principles of femaleness, the moon, completion, cold, darkness, material forms, submission, and so on." (http://www.wsu.edu:8080/~dee/CHPHIL/YINYANG.HTM, c. 09.01.2004).
[29] Para uma análise completa sobre a literatura Wusia, ver http://edu.ocac.gov.tw/taiwan/kungfu/e/1-11.htm (c. 10.06.2003).
[30] A história de Mulan é atribuída a uma poeta anônima que viveu durante o chamado período da Dinastia do Norte (420 - 589 d.C.); o poema foi compilado pela primeira vez durante a Dinastia Song (960 - 1279), em uma coletânea chamada "Yuefu".
[31] Também conhecido como Ving Tsun ou Winchun, esse estilo possui muitos praticantes no Brasil. Foi o estilo de origem de Bruce Lee, considerado por muitos como o maior nome dentro da moderna representação no Kung-Fu.
[32] Maxine H. Kingston, nascida em 1940, é figura presente nas discussões do feminismo norte-americano. No livro "The Woman Warrior..." (obra de cunho biográfico publicada em 1976) ela se refere à influência dos mitos ancestrais, inclusive referentes ao papel da mulher, na formação de sua visão de mundo.
[33] Citação presente em HUNT, L., "Kung Fu Cult Masters...", op. cit., p. 117.
[34] THOMSON GALE, FREE RESOURCES, Maxine Hong Kingston Biography, disponível em http://www.galegroup.com/free_resources/whm/bio/kingston_m.htm (c. 14.02.2004).
[35] The book also tells the story of the generations of Chinese women that preceded her and the weight she felt as an American trying to emerge from their sometimes stifling presence. The subtitle of the book, Memoirs of a Girlhood Among Ghosts, suggests the book's almost fantastic tone, but also refers specifically to the ghosts of Kingston's female relatives and the tragedy of many of their lives, lives lived in the extremely male-dominated society of China. She writes of Chinese folk sayings such as, "When fishing for treasures in the flood, be careful not to pull in girls" and "There's no profit in raising girls. Better to raise geese than girls." Texto presente em http://www.galegroup.com/free_resources/whm/bio/kingston_m.htm, cons. 14.02.2004.
[36] HUNT, L., “Kung Fu Cult Masters...”, op. cit., p. 118.
[37] Conan foi criado pelo norte-americano Robert Roward nos anos 30 do século passado.
[38] Personagem criada pelo italiano Eleuteri Serpieri que, aparentemente, deve ser vista com profundo horror pelas feministas.
[39] Um dos elementos mais chocantes na leitura de Droona é exatamente o da representação corporal/sexual: a personagem é tão extraordinariamente sensual – tão “gostosa” e tão consciente dessa condição – que representa uma ameaça não só para os personagens, mas também para os leitores do sexo masculino.
[40] Tomamos, aqui, o princípio da "Navalha de Okham": ainda que, por conta da imponderabilidade das coisas, não haja (em princípio) impedimento para o aparecimento de um dragão chinês sobre os céus de uma cidade como São Paulo, essa hipótese parece se colocar além do campo das hipóteses necessárias.