O texto trata do trabalho desenvolvido pela equipe do Departamento de História da Universidade Estadual de Campinas em parceria com a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo no ano de 2003. Apresenta a proposta do programa de Ensino Religioso entendido como campo de conhecimento e de formação cultural, de caráter necessariamente universal, renegando qualquer tipo de proselitismo e propondo o respeito a todos os tipos de religião sem discriminação ou privilégio de nenhuma delas. A abordagem parte do ponto de vista da experiência da autora como capacitadora dos professores da rede pública estadual, relata as discussões e debates desenvolvidos nos encontros realizados nas Diretorias Regionais do Estado, além de propor algumas sugestões de atividades didáticas com o uso do cinema como instrumento midiático para a educação.
The article refers to a project launched in 2003 by members of the Department of History of the State University of Campinas in partnership with the Sao Paulo State Department of Education. The author argues that Religious Education has to be understood as a field of knowledge and cultural formation universal in character and capable of promoting respect for all types of religion. Based on personal experience with professors at public schools, especially on quarrels and debates which occurred during official meetings, the final part of the article intends to stimulate specific didactic activities such as the use of movies in the context of religious education.
No ano de 2003, a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, em parceria com o Departamento de História da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), desenvolveu uma série de encontros visando a capacitação dos professores responsáveis por ministrar o curso de Ensino Religioso na rede pública estadual. A estrutura do projeto teve como coordenador acadêmico o Prof. Dr. Paulo Miceli. Foram elaborados materiais de apoio didático pelos Professores Doutores Leandro Karnal e Eliane Moura da Silva do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas. Foram, ao todo, cinco blocos de textos voltados, especificamente, para os professores da rede pública responsáveis por ministrar as aulas para o último ano do Ciclo II (8ª série). Cada um aborda um tema em particular, contém bibliografia integrada ao tema e é acompanhado de um vídeo de cerca de vinte minutos.
A apresentação desse material foi dividida em dois grandes blocos de ações. Em um primeiro momento foram apresentados os textos e vídeos em grandes reuniões na cidade de São Paulo. O público convidado, nessa fase, foi composto pelos Assistentes Técnico-Pedagógicos (ATPs) e Supervisores responsáveis pela disciplina de Ensino Religioso, representado cada uma das 89 Diretorias Regionais de Ensino do Estado.
Os autores dos textos, Prof. Dr. Leandro Karnal e Profa. Dra. Eliane Moura da Silva, do Departamento de História da UNICAMP, apresentaram suas propostas, conceitos teóricos sobre estudos acadêmicos em religiões, e o conteúdo do material além de abrirem espaço para discussão do tema. Foram, ao todo, quatro encontros de dois dias cada um, onde os ATPs e Supervisores receberam o material em primeira mão e se prepararam para dar continuidade aos trabalhos em suas Diretorias de origem. As fotos de 1 a 4 apresentam os professores, capacitadoras e autores nesses encontros.
O segundo momento foi de capacitação descentralizada. Esta consiste em visitas a cada uma das cidades sedes das 89 Diretorias Regionais de Ensino do Estado de São Paulo. Em cada uma delas foram ministradas palestras especiais a respeito do material produzido pelos professores da Unicamp. Nesse caso, o público era dos professores que ministram as aulas de Ensino Religioso para as 8ª séries. Dessa forma, houve um contato mais direto com os profissionais que, efetivamente, realizam o trabalho em sala de aula. As fotos 5 a 7 mostram um desses encontros. As capacitações descentralizadas foram planejadas com o intuito de apresentar a proposta da UNICAMP diretamente aos professores, promovendo troca de idéias, estratégias e procedimentos.
Para desenvolver essa capacitação descentralizada, um grupo de alunas da Unicamp, todas com mestrado concluído na área de História e com o doutorado em andamento, foram habilitadas pelos professores autores dos textos. Esses encontros não foram, simplesmente, palestras, mas uma apresentação do conteúdo dos textos, com discussão pormenorizada dos temas expostos nas apostilas, debates com os professores e sugestões de atividades em sala de aula.
Consideramos esses encontros nas capacitações descentralizadas de grande importância para mostrar aos professores o quanto o trabalho desenvolvido é sério, relevante e, mesmo tempo, difícil. Afinal, se a prática do ensino, de um modo geral, exige do professor o máximo de dedicação, pesquisa, estudo e comprometimento, no caso do Ensino Religioso todas essas prerrogativas se somam à dificuldade de implantar algo novo e, principalmente, por ser a Religião um tema bastante complexo e que suscita muitas controvérsias.
Tendo em mente que não existe imparcialidade no discurso, é preciso buscar o limite de autonomia em uma posição ética que permita ao professor colocar os temas das aulas de Ensino Religioso de forma idônea e o mais livre possível de preconceitos. Uma vez que o objetivo do programa foi apresentar aos alunos um novo conceito de ensino religioso, entendido como campo de conhecimento e de formação cultural, de caráter necessariamente universal, renegando qualquer tipo de proselitismo e propondo o respeito a todos os tipos de religião sem discriminação ou privilégio de nenhuma delas, a formação do professor, verdadeiro agente dessa ação educativa, se torna fundamental.
O processo de preparação do professor envolve vários estratos de aproximação. Para conseguir apresentar aos alunos as multiplicidades culturais de diversas religiões sem cair no erro de se limitar unicamente à colocação de sua própria postura no espaço público da sala de aula, o professor é estimulado a buscar uma auto-avaliação. Para o aluno adolescente da oitava série, em fase de contestação, de descobertas e formações de parâmetros, a discussão crítica proposta pelo programa é um tema presente. Todavia, para o professor, com suas posturas já estabelecidas ao longo de anos de experiências particulares, essas noções ligadas ao tema da religião, muitas vezes, já estão arraigadas e sedimentadas. Para ele, professor, discutir religiões, quebrar preconceitos e propor uma visão de tolerância pode ser muito mais complexo e difícil do que para seu aluno.
Por isso, nas capacitações descentralizadas buscou-se sempre colocar em pauta que, se é perfeitamente possível que escolas particulares apresentem aulas de religião de caráter confessional, nas quais se reflete a escolha da família que nela matriculou seu filho como aluno, na escola pública isso não é possível. A escola pública deve, portanto, ser considerada como espaço do conhecimento, de convivência e de tolerância ativa entre todos os cidadãos, independente de sua religião pessoal ou mesmo de sua falta de religião.
O Estado brasileiro, por princípio, é laico e isso não foi algo que sempre existiu. A intolerância religiosa e sua ligação com os poderes de Estado têm uma longa história. Portanto, faz-se necessário relembrar esse tipo de conquista para garantir a atenção constante na defesa da liberdade e do direito à cidadania. Longe de pretender indicar caminhos de salvação ou ensinar rituais religiosos, a proposta visa desenvolver a capacidade de discussão, reflexão e debate do aluno, ampliando sua visão histórica e social a respeito do tema. Assim, busca-se apresentar as religiões - e não uma religião - como parte indissociável da memória cultural e do desenvolvimento histórico de todas as sociedades.
Logo no início da primeira apostila e também em cada uma das capacitações descentralizadas é colocada a questão do uso dos termos nessa proposta do Ensino Religioso. Por objetivar o respeito máximo a todas posturas religiosas, não aceitamos a classificação de grupos religiosos como “seitas”, um termo usado na maioria das vezes com caráter pejorativo por colocar uma religião como maior ou mais importante que outra. Dentro desses mesmos parâmetros não utilizamos a definição de “sincretismo” para determinar algumas religiões, pois temos como base o princípio de que toda religião partilha influências de outras e é afetada por culturas e práticas diversas.
Parafraseando a apostila número 1, colocamos todas as religiões com seu valor específico e sua importância pelo fato de cada uma expressar uma visão própria de um grupo e de alguma forma colaborar com uma parte do pensamento religioso. Já que estamos tratando do Ensino Religioso, é fundamental definir bem o termo religião. Os autores das apostilas foram bastante prudentes ao apresentar a dificuldade que isso implica, pois religião pode ser entendida de diversas formas. Para garantir que todos estejam com os mesmo parâmetros e possibilitar um diálogo com menos ruídos e discrepâncias terminológicas, uma das primeiras atitudes na capacitação descentralizada foi explicitar essa definição, procurando esclarecer ao máximo todas as dúvidas e questões a esse respeito.
“Religião é um sistema comum de crenças e práticas relativas a seres sobre-humanos dentro de universos históricos e culturais específicos.”[1]
Ao apresentá-la, colocamos com firmeza que não se trata da única, nem mesmo da melhor definição do termo religião, mas atesta a posição que norteia a proposta abrangente e de antiproselitismo da disciplina Ensino Religioso na Rede Pública do Estado de São Paulo.
A dificuldade de entender essa proposta inovadora e as confusões em relação aos termos e seus usos geraram alguns obstáculos no início da implementação do programa. Em algumas Diretorias Regionais os professores relataram a reação negativa de alguns grupos de pais de alunos que temiam ver seus filhos sendo manipulados em uma aula de religião que visasse pregar uma determinada doutrina em detrimento de outras. O mesmo desconhecimento da profundidade da nova proposta do Ensino Religioso levou alguns professores a se recusarem a ministrar a disciplina ou a tomar a tarefa como um castigo nas atribuições de aula.
Posteriormente, segundo relatos dos professores, com o esclarecimento através de reuniões com os pais, aulas-magnas e diálogos abertos com os interessados, a maioria das escolas conseguiu vencer esse primeiro momento de desconfiança. No que concerne à atitude dos profissionais educadores, as capacitações descentralizadas exerceram um papel fundamental ao colocar as informações necessárias de forma próxima e esclarecedora.
Entre as discussões e debates críticos desenvolvidos nas diversas Diretorias de Ensino do Estado durante as capacitações descentralizadas, algumas se mostraram mais freqüentes.
Uma delas diz respeito ao debate sobre o que é maioria religiosa, suscitado pelos gráficos percentuais apresentados na primeira apostila. Foi discutida a necessidade da desconstrução da idéia de que a forma de pensar do grupo do qual se faz parte seja a forma de pensar dominante, num âmbito mais geral. O Censo de 2000 apresenta o Brasil como um país onde a grande maioria da população (cerca de 89%) tem algum tipo de formação cristã - e isso abrange uma série de diferentes crenças religiosas, como evangélicos, católicos, kardecistas, etc. Todavia, em termos mundiais, essa proporção de maioria se desvanece. Os dados apresentados pelo BBC World Service apontam para a dimensão relativa do número de cristãos quando se trata de um parâmetro mundial. Ao se perceber como um grupo não hegemônico, dá-se um passo em direção à tolerância religiosa. Dessa forma, nos encontros com os professores, buscou-se esclarecer que conhecer o outro, o estranho, o alheio, não significa aceitar ou se unir a seu ponto de vista, doutrina ou religião. Um dos exemplos apresentados foi o caso da cultura grega e sua complexa estrutura religiosa.
Não se espera, e nem parece lógico, que após uma explanação do professor de Ensino Religioso sobre as características desse povo e de suas práticas, algum aluno se sinta propenso ou incentivado a procurar o oráculo de Delfos ou a procurar identificar Zeus metamorfoseado em chuva de ouro! Todavia, é inegável a importância dessa cultura na formação do pensamento ocidental. Portanto, conhecer a história das religiões, seu envolvimento com o contexto cultural, econômico e social dos diferentes grupos que formam a diversificada história da humanidade é de fundamental importância para a formação intelectual dos alunos, independente de suas opções religiosas pessoais.
Nos encontros gerais em São Paulo, durante a primeira fase do projeto, foi questionado, pelos representantes das Diretorias Regionais, o fato de o material proposto pela equipe da Unicamp não apresentar um esquema mais específico e pragmático para o dia-a-dia em sala de aula. Na verdade os autores buscaram, com a ampla abrangência do material, tornar possível aos professores desenvolver em sala de aula experiências didáticas diferenciadas, de acordo com as características e necessidades específicas de cada grupo de alunos.
Durante as capacitações descentralizadas foi possível verificar a prática dessa apropriação através da vivência relatada pelos profissionais presentes. Constatou-se que, com base no mesmo grupo de textos e de indicações bibliográficas, ocorreram diferentes apropriações do tema. As abordagens variaram de grupo para grupo - afinal, não existem duas turmas iguais. Essa diversidade levou os professores a aproveitar as características e particularidades culturais, econômicas e sociais dos alunos para desenvolver o tema do ensino religioso adequadamente.
Os professores relataram que, somente através do conhecimento do universo cultural específico da turma, foi possível uma aproximação entre o tema e o grupo de estudantes adolescentes.
Durante as capacitações descentralizadas buscamos oferecer aos professores tanto um espaço para trocar experiências entre colegas de uma mesma região quanto a oportunidade de propor novas formas de tornar o ensino mais interessante, dinâmico e produtivo. Uma das sugestões trabalhadas, especialmente na minha experiência pessoal, foi a do uso do cinema como instrumento midiático no campo da educação.
Muitas vezes, em sala de aula, o professor pode sentir dificuldade em sensibilizar seus alunos a respeito de um determinado tema a ser tratado pela disciplina que, em um primeiro momento, pode parecer sem interesse para os jovens. Um recurso para despertar a possibilidade de discussão é o uso do cinema comercial, como atividade extraclasse.
Esses filmes têm a capacidade de atingir diretamente o jovem por compartilharem com ele a mesma linguagem, e, apesar de seus inúmeros problemas, podem ser i usados por professores para levantar debates, expor diferentes abordagens e temas, além de servir como objeto de crítica.
Além disso, exatamente por não serem produções voltadas ao processo didático, os filmes comerciais, que podem ser encontrados nas locadoras de vídeo comuns, são melhor recebidos pelos alunos adolescentes que não sentem, nessa atividade, uma cobrança acadêmica. No caso de longas-metragens, não estimulamos sua exibição durante o horário da aula por conta do pouco tempo disponível. O Ensino Religioso, atualmente, ocupa apenas uma aula por semana. Um filme apresentado apenas em parte, ou em etapas separadas, não desperta o mesmo interesse que um apresentado na íntegra, sem pausas. Por isso, sugerimos trabalhos em grupo que podem ser feitos pelos alunos em casa, fora do curto horário da aula. Dessa maneira, entre colegas e distante da pressão da avaliação do olhar do professor, o aluno pode se sentir mais à vontade para expor suas idéias, sua visão crítica a respeito do filme. Em um segundo momento essas impressões podem ser levadas para o ambiente da sala de aula para, nesse espaço, serem discutidas com maior profundidade.
Todavia, sabemos que, infelizmente, a falta de condições de muitas das turmas escolares impede esse tipo de procedimento. Em alguns casos, a própria situação dos alunos, como a necessidade de trabalhar nos horários previstos para as atividades extraclasse, por exemplo, ou ainda outros obstáculos de ordem técnica, como a falta de acesso a filmes, ou aos aparelhos de reprodução como videocassetes, impossibilitam esse tipo de prática. Nessas situações, sugerimos que os professores busquem soluções diferentes dependendo de cada caso.
De toda forma, uma vez que a sensibilização já terá corrido anteriormente, um tema mais específico poderá ser abordado com maior facilidade. Nesse sentido, algumas boas experiências foram relatadas nos encontros, como a edição de trechos de filmes, uso de documentários menos extensos ou de curtas-metragens. O uso, de forma positiva, do filme comercial nas aulas de Ensino Religioso abrange a apropriação de sua linguagem, a possibilidade de tocar a realidade do aluno e de buscar interesses em comum. Além disso, essa atividade abre a possibilidade de discutir, questionar, colocar a relatividade da verdade e apresentar a problemática das versões e dos pontos de vistas. Desta forma, incentivamos os professores a usar a discussão do cinema comercial também como forma de inserir a prática de questionamento de fontes no universo crítico dos jovens.
Por outro lado, existem também as formas negativas do uso do filme comercial para o ensino que devem ser evitadas ao máximo. Os filmes não podem ser usados como forma de preencher lacunas das aulas de Ensino Religioso. Tampouco podem ser vistos como sinônimo apenas de lazer. Nas discussões, é preciso evitar limitar-se apenas à história-fábula; afinal, o objetivo não é apenas acompanhar as aventuras de um personagem, mas conseguir apreender as formas de condutas, a diversidade de culturas e as relações existentes entre grupos. Em outras palavras, é preciso evitar a simplificação das discussões e transcender o mero aproveitamento do caráter apenas de “auto-ajuda” dos filmes.
O filme “X-Men”, do diretor Bryan Singer, foi produzido pela Fox Studio e lançado em 2002. Tem 96 minutos de duração. É um típico filme comercial voltado para o público adolescente que fez bastante sucesso e já foi apresentado na TV aberta. Um expectador desavisado diria que esse tipo de filme não se integraria a uma aula tradicional, pois, à primeira vista, o enredo não trata de nenhuma história religiosa específica. Todavia, se conseguirmos aplicar um olhar livre de preconceitos, poderemos perceber que o tema que atravessa toda a obra é o da denúncia da intolerância humana diante daqueles que são classificados como diferentes.
A série X-Men tem sua origem nas histórias em quadrinhos e baseia-se no princípio darwinista da evolução das espécies através das mutações. Porém, por se tratar de uma ficção científica, essas mutações ocorreriam em apenas uma geração. Com isso, são formados grupos de pessoas com características diferenciadas pelas mutações como, por exemplo, a capacidade de ver através das paredes, de telepatia, de produzir fogo ou gelo, de força descomunal, etc. O interessante da visão dos autores da série é que, ao invés de simplesmente criar novos super-heróis com esses poderes, eles mostram que, nos dias de hoje, ser diferente pode ser muito perigoso. No filme, é colocada a relação de medo e desconforto entre os chamados normais e os mutantes. As cenas apresentam as tentativas de criar legislações para classificar os mutantes, colocá-los em guetos e impedir seu contato com o restante da população.
Como se pode perceber por essa breve descrição, o filme pode ser usado como instrumento para trazer à tona a discussão sobre as relações com o outro, a forma de encarar grupos diferentes, o que chamamos de normalidade e, dentro desse contexto, apresentar as formas como, ao longo da história a diversidade foi tratada, sem sair, de forma alguma, do escopo da disciplina.
Há uma boa chance de os alunos já terem assistido anteriormente a esse filme, devido a seu sucesso. Entretanto, muitas das questões aqui apresentadas podem ter passado desapercebidas por falta de um debate direcionado. Nesse momento a posição do professor se torna essencial e pode servir como alerta para a presença de várias informações subliminares também desapercebidas em outros meios de comunicação. É uma forma de estimular a visão crítica dos adolescentes em uma época em que a banalidade das informações acaba suprimindo esse tipo de postura.
Ao tratar das práticas e rituais das diferentes religiões, o professor de Ensino Religioso pode aproveitar alguns filmes que tratam do ritual do casamento para apresentar aos alunos algumas características próprias de grupos religiosos com os quais talvez ele nunca teve contato.
Sugerimos “Casamento Grego” e “Um Casamento à Indiana”. O primeiro, lançado também em 2002, conta a história de uma grega de 30 anos de idade que se apaixona por um inglês e, para se casarem, eles tem que fazer uma série de adaptações culturais e religiosas. Além de ser uma comédia divertida, capaz de envolver o aluno, o filme traz a reprodução de uma cerimônia de casamento típica da Igreja Ortodoxa Grega. Essa é uma forma de promover o contato com outras culturas, suas práticas e ritos de uma forma leve, facilitando a aceitação da turma diante do tema.
Já o filme “Um Casamento à Indiana”, da diretora Mira Nair, foi produzido pela Europa Filmes em 2002 e tem 204 minutos de duração. O filme foi feito e locado inteiramente na Índia, ganhou muitos prêmios internacionais e, por isso, pode ser encontrado em locadoras sem muita dificuldade. Ele conta a história de um casal às vésperas de suas núpcias. Segundo a tradição indiana, quando uma família se reúne para o casamento de seus filhos, todos ficam hospedados na mesma casa, onde comem, bebem, dançam, cantam e contam velhas histórias. Essas manifestações culturais, com suas curiosidades e particularidades, fazem o espectador brasileiro se deparar com o estranho e o diferente e, ao mesmo tempo, perceber interessantes semelhanças com sua própria cultura.
Sobre religiões orientais, sobre as quais, na maioria das vezes, é mais difícil conseguir exemplos ou vivências mais próximas entre os alunos, contamos como uma série de filmes. Entre eles podemos citar “Sete Anos no Tibet”, do diretor Jean Jacques Annaud, de 1997, com 136 minutos de duração. Estrelado pelo ator Brad Pitt, o filme tem forte apelo estético e é bem recebido entre os alunos adolescentes. Conta a história de um alpinista austríaco que, durante uma expedição ao Himalaia, no conturbado período da Segunda Guerra Mundial, é capturado pelos ingleses. Em sua fuga, decide estabelecer-se no Tibet, onde conhece e torna-se amigo do Dalai Lama. O choque entre culturas é evidente e pode ser usado em sala de aula tanto pelo professor de Ensino Religioso, quanto pelo professor de Geografia ou de História de diferentes maneiras.
Podemos sugerir, também, uma comédia italiana menos conhecida, mas que permite essa mesma transversalidade nos debates em sala de aula. Trata-se de “Concorrência Desleal”, do premiado diretor Ettore Scola, produzido pela Warner Home Video em 2000, com 106 minutos de duração. Ambientado na Itália de 1938, durante a Segunda Guerra Mundial, relata o caso de dois comerciantes de roupas - um católico e outro judeu – disputando pela melhor clientela em meio a trapaças e discussões sem fim. A perseguição aos judeus, que passam a ser obrigados a viver em guetos correndo sério risco de vida, levam os dois antigos concorrentes a rever suas relações e a questionar a situação em que se encontram.
Portanto, foram apresentadas aqui algumas sugestões de filmes facilmente encontrados em várias locadoras de vídeo. A escolha e utilização de cada um deles depende de critérios específicos de cada grupo de alunos, e somente o professor é capaz de determinar sua pertinência, legibilidade e momento adequado para sua apresentação e discussão.
[*] Daniela Viana Leal graduou-se pela USP em 1999, defendeu o Mestrado pela Unicamp em 2003, no mesmo Departamento de História onde hoje é doutoranda.
[1] KARNAL, Leandro. SILVA, Eliane Moura da. O Ensino Religioso na Escola Pública do Estado de São Paulo, nº 1. São Paulo: Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas – Secretaria da Educação, 2003, p.9. Texto acessível no site da Secretaria de Educação e pelo endereço: http://www.ensinoreligioso.com.br