Editorial - REVER número junho, ano 7, 2007

Religião e Ciência - Tendências atuais (Parte II)

Este segundo número de Rever em 2007 dá continuidade ao primeiro, também dedicado ao tema “Ciência e Religião”. O leitor é, pois, referido a este primeiro número para uma descrição dos objetivos a que nos propomos e dos artigos, assim como pode consultar aqueles que sejam de interesse. Neste segundo número, completamos um panorama de pesquisas recentes e temas de ponta no estudo da religião. Apresentamos cinco artigos.

O primeiro é de Philip Clayton, filósofo que se dedica a temas fundamentais da Teologia e é professor visitante em Harvard. Ele aproveita uma referência a Robert Boyle (1627-1691) para extrair lições para o nosso século, defendendo uma postura aberta para o naturalista de hoje. Em seu artigo “A Emergência do Espírito: da complexidade à Antropologia e à Teologia”, o autor apresenta abordagens emergentistas na ciência contemporânea para sugerir como estas devem ser radicalmente naturalistas sem recorrer a artifícios divinos, e, ao mesmo tempo, estar abertas ao transcendente. A emergência do Homo Sapiens possibilita o mundo simbólico-espiritual que dá lugar às religiões. Distanciando-se de um naturalismo dogmático, pode-se compatibilizar a visão de natureza das ciências naturais com uma possível criação divina.

O segundo é de Francisco Ayala, eminente biólogo da Universidade da Califórnia em Irvine. Em “Do Mito do Éden a um novo Jardim: Genética e Responsabilidade Ética”, ele descreve a evolução da ética e da religião em nossa espécie. Se, por um lado, ele argumenta contra propostas de “Evas Mitcondriais” que eram populares há algum tempo, por outro defende o caráter único de nossa espécie, que também permite uma combinação única de evolução biológica e cultural na origem da ética e da religião.

Temos também a contribuição de Juan José Blázquez Ortega, professor de Filosofia da Natureza na Universidade Popular Autônoma de Puebla: “Verdad teológica y la ciencia de hoy: confrontación de saberes y sentido del hombre”. O autor tem basicamente a mesma preocupação de Clayton, mas sob uma perspectiva inteiramente diferente. Trata das condições de um diálogo interdisciplinar, em busca da questão de sentido e de uma imagem mais simétrica do universo, em uma linha próxima do neo-tomismo.

Já Philip Hefner, teólogo da Escola Luterana de Teologia em Chicago, apresenta, em seu “Religião no contexto da cultura, da teologia, e da Ética Global”, um conceito mais amplo de religião, e coloca para a Teologia judaico-cristã os desafios das ciências da natureza, da doença (em especial da AIDS) e do Mal. Ele apresenta também um número de autores contemporâneos de língua inglesa que procuram fornecer elementos para uma união das ciências da natureza, reflexões culturais sobre religião e Teologia em favor de uma nova ética global.

Por fim, Steven J. Engler, professor visitante na PUC-SP, descreve em seu artigo “Tipos de Criacionismo Cristão” várias tipologias contemporâneas do criacionismo advogado por certos grupos cristãos. Após uma análise e avaliação pormenorizadas, o autor propõe uma tipologia mais detalhada e clara para os criacionismos, que leva em conta os melhores aspectos das anteriores. O assunto se revela bastante atual se considerarmos a crescente influência de grupos criacionistas em um país como o Brasil.

O conjunto de contribuições apresentadas neste número de Rever não esgota o espectro de abordagens englobadas sob o termo “ciência e religião”. É até parcial em relação à tradição judaico-cristã e, em particular, ao Catolicismo. Entretanto, entendemos que o público latino-americano está melhor servido por este conjunto, dadas as particulares religiosas e acadêmicas de nosso continente.


Eduardo R. Cruz, editor convidado, com a colaboração de Steven J. Engler.