Este artigo discutirá as novas maneiras pelas quais a Fo Guang Shan, uma das principais vertentes do Budismo Chinês no Brasil, vem buscando o estabelecimento de uma Sangha Brasileira. A ênfase da discussão é o estudo sobre a instalação do “Curso de Estudos Avançados de Budismo”, ministrado na Universidade Livre Budista (ULB) do Templo Zu Lai, situado em Cotia, como um dos propagadores do movimento religioso. Após um resumo do histórico da Fo Guang Shan e de sua nova fase devido ao estabelecimento do novo templo Zu Lai e de seu projeto de ser a primeira Universidade Budista no Brasil, o artigo discute a iniciativa da Fo Guang Shan com base na teoria da escolha racional e na economia das religiões. Dentro do ainda frágil processo de estabelecimento do Budismo no Brasil, uma das vantagens da Universidade Budista da Fo Guang Shan é ao mesmo tempo prover uma legitimação intelectual para os brasileiros budistas (através de uma formação monástica em uma universidade livre) e adicionalmente servir como um curso que forme mediadores entre chineses e brasileiros, já que o curso pressupõe o aprendizado da língua e cultura chinesa. Por outro lado, apesar da importância da oferta dentro do contexto das escolas budistas no Brasil, ainda não é claro se a Fo Guang Shan vai atrair uma demanda suficiente para seu curso, dado que a formação monástica oferecida exige uma disciplina e um nível de renúncia cultural que poucos brasileiros parecem dispostos a abraçar.
Palavras-chave: Fo Guang Shan, chineses, Budismo, mediação cultural
This article discusses the new ways in which Fo Guang Shan, one of the principal orders of Chinese Buddhism in Brazil, has sought to establish a Brazilian Sangha. The discussion focuses on a study of the “Course of Advanced Buddhist Studies,” offered by the Free Buddhist University (ULB) of the Zu Lai Temple located in Cotia, as one of the most important proponents of this religious movement. Following a summary of the history of Fo Guang Shan, including the establishment of the Zu Lai Temple as well as its plans to become the first Buddhist University in Brazil, the article discusses Fo Guang Shan’s initiative from a theoretical perspective based on rational choice theory and religious economy. Within the still fragile process of the establishment of Buddhism in Brazil, one of the advantages of the Buddhist University of Fo Guang Shan is to simultaneously provide an intellectual legitimization for Brazilian Buddhists (through monastic formation in a free university) and serve as a formation for mediators between Chinese and Brazilians, since the course presupposes knowledge of Chinese language and culture. On the other hand, despite the importance of the offer within the context of Buddhist schools in Brazil, it is still unclear whether or not Fo Guang Shan will be able to attract a sufficient demand for the course, given that the monastic formation demands a level of disciple and cultural renunciation which few Brazilians seem prepared to embrace.
Keywords: Fo Guang Shan, Chinese, Buddhism, cultural mediation.
O Templo Zu Lai é a filial brasileira da Fo Guang Shan, uma organização budista chinesa fundada em Taiwan por Hsing Yün em 1967, hoje presente em diversos países (Japão, Austrália, Estados Unidos, Brasil, África do Sul e Holanda, entre outros). Após sua fundação em 1967 a Fo Guang Shan alcançou um crescimento substancial e atualmente está mundialmente envolvida em diversos aspectos da prática budista, desde o bem-estar social e educação religiosa até a manutenção de mosteiros budistas.
O início da expansão da organização pelo mundo se deu com a primeira viagem de Hsing Yün a outros países asiáticos em 1963, quando se juntou a um grupo de monges enviados à Índia, Tailândia, Malásia, Singapura, Filipinas, Japão e Hong-Kong, numa iniciativa do governo chinês para aumentar o apoio destes países em relação à República da China e apresentar uma petição solicitando a libertação de chineses e resgate de embarcações pesqueiras retidas na cidade portuária de Kaohsiung. Por meio de suas viagens, Hsing Yün começou a divulgar seus ensinamentos e as maneiras pelas quais acredita poder beneficiar as sociedades onde a organização se instala.
O objetivo desse artigo é analisar o estabelecimento da Universidade Livre Budista, que constitui a mais recente das iniciativas da Fo Guang Shan no Brasil. Considerando a aparente dificuldade em atrair adeptos de uma cultura religiosa totalmente diferente como a brasileira, o objetivo desse artigo é analisar quais seriam as principais demandas que vão de encontro ao estabelecimento desse curso e como ele se insere no ainda frágil processo de estabelecimento institucional do Budismo no Brasil.
Em termos mais gerais, Rodney Stark sugere um modelo com dez proposições para avaliar se um movimento religioso será bem-sucedido ou não (STARK 1996: 133-145). Algumas dessas proposições serão a pauta dessa análise, pois acredita-se que certos parâmetros sugeridos são válidos, visto que pretendem avaliar maneiras pelas quais movimentos religiosos se incorporam em ambiente alheio. Suas dez proposições serão divididas em dois fatores: "demanda e oferta", em que se entende o oferecimento de recompensas e compensadores, e "competência organizacional", que se entende pela manutenção de um nível médio de tensão entre o movimento religioso e o meio social e pelo grau de abertura da rede de relacionamentos dos membros do movimento religioso, tanto interna quanto externamente. Os dois aspectos citados na competência organizacional (tensão e rede de relacionamentos) estão, na realidade, relacionados entre si: a separação que se faz a seguir pretende somente ser um instrumento analítico para a compreensão sistemática do processo das estratégias do estabelecimento da Fo Guang Shan no Brasil.
Nesse processo, uma questão importante é como uma organização budista chinesa pode se enraizar harmoniosamente em um ambiente de matriz cristã como o Brasil. Segundo Stark, os humanos procuram conservar seu capital cultural, pois quando somos educados e socializados numa cultura particular, estamos também investindo nela, sendo assim, estaremos mais dispostos a aderir a um grupo religioso à medida que os gastos para tal adesão não sejam tão altos. Como exemplo, Stark exemplifica que é mais fácil que uma pessoa com histórico cristão se filie a um grupo de Mórmons do que a um grupo Hare Krishna cuja base religiosa é o Bhagavad Gita, bem diferente da Bíblia (STARK 1996: 133-145).
No caso de grupos ligados a comunidades étnicas, para se instalar satisfatoriamente em ambiente alheio ao da cultura original, um movimento religioso deve fornecer algo atrativo à sociedade mais geral. Esse fornecimento garantirá a atração e manutenção de devotos nativos. Além disso, o movimento religioso deve estar preparado para lidar com a tensão que naturalmente ocorre com o meio social quando se instala, principalmente quando esse movimento tem matriz cultural muito diferente da já estabelecida no meio social anfitrião. Para diminuir essa tensão, um grupo religioso trazido por imigrantes busca manter uma rede de relacionamentos “semi-aberta”, buscando laços na comunidade étnica e na sociedade destino. Com o surgimento de novas gerações, o que implica em um grau de mudança de adaptação lingüística e miscigenação, torna-se decisivo o estabelecimento de estratégias de intermediação étnica e de criação de mediadores culturais e religiosos.
Segundo Stuart Chandler, a Fo Guang Shan possuia, em 1997, 57 templos em Taiwan e 94 centros no Exterior (CHANDLER 2004: 222). Os maiores templos, atualmente, estão em Taiwan, EUA (Los Angeles), África no Sul, Austrália e Brasil (Cotia), e todos eles oferecem cursos de formação de monges. A formação acadêmica oferecida pelo templo de Los Angeles (Hsi Lai), porém, não se restringe ao meio religioso. Podemos encontrar no Hsi Lai, por exemplo, cursos de mestrado em Administração de Empresas, ou cursos absolutamente desvinculados da vida religiosa.
A Fo Guang Shan, como suas publicações afirmam, tem como objetivo a expansão da prática budista pelo mundo contemporâneo, com atenção focada ao sofrimento dos seres humanos e em formas de ajudá-los efetivamente, por meio de atividades que visam o bem-estar social, baseando-se nos valores e educação budista. O oferecimento gratuito de atividades, bem como de ações de caridade, determinam o caráter social da instituição, que busca atender à comunidade local dos lugares onde se instala.
Levantando a bandeira do “Budismo Humanista”, o fundador da organização pretende difundir o que considera como benéfico a todos os seres: a religião budista. O Budismo Humanista pode ser visto como uma junção das linhagens Ch´an e Terra Pura do veículo budista Mahayana. Com seu caráter antropocêntrico, o Budismo Humanista ressalta o conceito-chave da doutrina Mahayana, que afirma que todos os seres são Budas em potencial. Sendo assim, busca incentivar o aperfeiçoamento espiritual de forma que o desenvolvimento individual atente para a necessidade de ação em relação ao meio social resultando no benefício de todos, conforme o desejo dos discípulos. Hsing Yün, considerado pelos devotos como o “principal arquiteto da Terra Pura”, incentiva a característica pragmática do Budismo Humanista.
Paralelamente à expansão da organização Fo Guang Shan, deu-se o surgimento e expansão da BLIA (Buddha´s Light International Association). A BLIA é uma organização laica que pretende divulgar os princípios do Budismo chinês, preocupando-se principalmente com aplicação de projetos voltados para a assistência social. Essa organização tem trabalhos voltados para a população em geral, enfatizando aspectos espirituais, culturais e educacionais mais desvinculados do monasticismo.
O surgimento da organização Fo Guang Shan no Brasil se deu primeiramente por meio dessa vertente laica (a BLIA), cuja filial brasileira foi fundada em 1992 em Cotia, município da região metropolitana de São Paulo. Esse mesmo ano foi crucial para o desenvolvimento da Fo Guang Shan no país, pois foi quando o empresário Chang Shen Kai doou uma chácara para a organização. Essa área viria a ser o lugar do atual templo Zu Lai. Os objetivos da BLIA são seguir e propagar os ensinamentos do Buda, divulgar o Budismo Humanista propiciando o bem-estar social e aperfeiçoar o caráter humano por meio da educação e eventos culturais.
Atualmente existem no Brasil capítulos da BLIA em três estados: Rio de Janeiro (capital), Paraná (Londrina) e São Paulo (capital), mas todos eles se reportam à sede brasileira que fica no templo Zu Lai em Cotia. Além do templo de Cotia, também há templos da Fo Guang Shan no Rio de Janeiro, Recife e Foz do Iguaçu.
Nesse sentido, entre os meios pelos quais a Fo Guang Shan busca relacionar-se com o meio social de uma maneira geral, podemos citar dois: o oferecimento de atividades de assistência social e o ecumenismo (SHOJI 2002a). Como forma de expandir os ensinamentos budistas no Brasil, a organização estimula o envolvimento de leigos em atividades filantrópicas, como o projeto “Filhos de Buda”, que oferece benefícios sociais e aulas às crianças residentes de uma favela próxima ao templo. A doação de mantimentos a asilos e favelas da região, atividades com idosos e crianças carentes, o auxílio a desabrigados atingidos por enchentes ou outros fenômenos naturais são atividades que popularizam o grupo e dão a oportunidade de uma oferta religiosa para pessoas oriundas de classes sociais menos abastadas.
O ecumenismo é uma outra maneira que a organização Fo Guang Shan encontra para ser reconhecida socialmente, dessa vez no que diz respeito a sua presença dentro do campo budista brasileiro. Um dos aspectos do Budismo Humanista é sua concepção de Terra Pura adaptada aos valores ocidentais e sua atitude ecumênica, substituindo desta forma uma identificação étnica por um trabalho prático, geralmente de forma mais secularizada.
Os maiores templos da organização Fo Guang Shan fora de Taiwan estão localizados nos Estados Unidos, África do Sul, Austrália e Brasil. Em todos esses países houve a instalação de um monastério ou de uma instituição educacional intitulada universidade. A incorporação da organização no território brasileiro requer uma relação mutuamente legitimada e financeiramente sustentável entre o novo movimento religioso e o meio social. Isso ocorrerá de maneira satisfatória somente se a organização demonstrar competência para ocupar um espaço social fora da comunidade chinesa, o que pode ser avaliado pela maneira como fornece a religião aos brasileiros, pela maneira como atrai e mantém devotos e alunos nativos, bem como pelos meios utilizados para receber reconhecimento da sociedade.
Segundo informações fornecidas por entrevistas em abril de 2006, foi em 2002 que os administradores do templo Zu Lai começaram a esboçar o curso que viria a ser ministrado na ULB. Quando esteve no Brasil em outubro de 2003 para a inauguração do templo Zu Lai, Hsing Yün ofereceu uma aula inaugural que seria, segundo os devotos, a base para a criação do curso acadêmico cujo início se deu em setembro de 2004. Naquela ocasião, foi realizado o 1º Seminário da Universidade Livre Budista Zu Lai, que teve como tema “O desenvolvimento do Budismo no Brasil por meio da educação”.
Para se candidatar ao processo de seleção, os candidatos deveriam ser solteiros, divorciados ou viúvos, livres de quaisquer responsabilidades familiares, com idade entre 18 e 36 anos. Não podiam fumar, consumir bebidas alcoólicas ou drogas. Além disso, deveriam apresentar caráter e atitude positivos, de acordo com a avaliação dos organizadores do templo, ter boas condições de saúde e praticar os cinco preceitos budistas (não matar, não roubar, não praticar má conduta sexual, não mentir e não usar substâncias tóxicas como álcool, cigarro ou drogas). As aulas da primeira turma tiveram início em setembro de 2004 e, atualmente, a seleção dos alunos ocorre semestralmente. Para os candidatos ao segundo processo seletivo (de 2006), entretanto, duas outras exigências foram acrescentadas àquelas previamente citadas. Segundo o sítio da instituição na internet os candidatos devem estar aptos “a aceitar a rígida disciplina ensinada e praticada num monastério ch´an” e “verdadeiramente empenhados em, futuramente, seguir a vida monástica ou se tornarem professores de Darma, com vistas a prestar serviços no Tempo Zu Lai ou em outro templo integrante do Monastério Fo Guang Shan” (TEMPLO ZU LAI, acesso em 31/03/06).
Como parte do processo seletivo, os candidatos devem fazer uma prova escrita baseada em um livro sobre a vida de Hsing Yün, além de entrevistas nas quais justificam seu desejo de se tornarem monges ou professores de Dharma. Além da prova escrita e das entrevistas, os candidatos devem passar uma semana em retiro espiritual no templo, onde avaliarão a possibilidade futura de viver em regime de internato durante o curso. Segundo um dos monges do templo, o retiro serve para que eles possam “purificar a mente” e experimentar, por pelo menos uma semana, o que significa viver num monastério. Dessa forma, os candidatos podem refletir melhor se realmente estão ou não aptos a dar prosseguimento ao processo.[1]
O curso começa no Brasil, sendo que os alunos que apresentarem os pré-requisitos para seguir o caminho monástico estudarão durante dois anos em Taiwan, onde se encontra a sede da organização. Os alunos que não desejarem continuar os estudos em Taiwan podem, depois de um ano, receber um certificado comprovando a conclusão do Curso de Estudos Avançados de Budismo, ou receber o reconhecimento da instituição como professor(a) de Dharma não ordenado(a).
O custo mensal de cada aluno varia entre R$ 500,00 e R$ 800,00, de acordo com a monja Sinceridade, abadessa responsável pelo templo Zu Lai na época, o que demanda uma fonte de renda fixa, considerando que todos os alunos têm bolsas integrais de estudo (CHIBLI 2006). Além disso, os alunos recebem mensalmente a quantia de R$ 20,00, de que podem dispor conforme suas vontades. No total o templo tem o gasto diário de aproximadamente R$ 2 mil, segundo informações obtidas durante observação de uma das aulas da monja Sinceridade.
Tal gasto necessariamente demanda uma fonte de renda e, segundo informações obtidas com um dos monges do templo, alguns dos devotos fazem doações fixas e mensais ao templo Zu Lai. Por meio de um “contrato”, eles se tornam “sócios” do templo e contribuem mensalmente para sua manutenção[2]. Além disso, há visitantes que se interessam pelo projeto ou se encantam com a estrutura, resolvendo doar alguma quantia para o templo. Como nos templos orientais de uma forma geral, na entrada do salão principal, onde ocorrem as cerimônias, há uma urna onde estão os envelopes em que devotos e visitantes podem fazer suas doações.
Com relação ao curso mais especificamente, as disciplinas e práticas principais são o estudo do Dharma (em chinês e português), estudo de mantras, estudo e recitação de sutras, condução de cerimônias budistas, Budismo em inglês, ritual e conduta, ensinamentos da Escola da Mente (Escola Yogachara) no contexto do Budismo Humanista, técnica de cópias de sutras (caligrafia), etiqueta budista (como se comportar sendo monge), psicologia no contexto do Budismo Humanista, ética, chinês, treinamento disciplinar, trabalho monástico (o que compreende o aprendizado prático de todos os serviços a serem realizados no templo), estudo individual, estágio de vida monástica, o qual é realizado aos fins de semana e compreende atividades tais como manutenção geral, atendimento ao público, cerimônias religiosas, trabalhos relacionados à cozinha, trabalhos em projetos sócio-educacionais e administração geral do templo.
O corpo docente da ULB é formado pelos monges do templo, professores de língua chineses fluentes em português, ou brasileiros fluentes em inglês, além de professores convidados, inclusive de outras tradições, para que os alunos tenham conhecimento sobre outras escolas e práticas budistas[3]. A ULB não exige que seus professores tenham títulos acadêmicos ou similares; em vez disso, exige que os formadores tenham excelente conhecimento sobre o Dharma e o Budismo segundo os critérios internos da Fo Guang Shan. Segundo entrevistas, o critério de contratação de professores da universidade é a “competência sobre Budismo”[4]: conforme as oportunidades, alguns professores são convidados a ministrar aulas durante um semestre, o que não necessariamente significa que farão parte do quadro permanente.
Segundo um dos mestres do templo, os alunos recebem um “diploma” de “professor de Dharma” ao final do curso, com o qual poderão se candidatar ao ensino das palavras do Buda em alguma entidade budista (preferencialmente no templo Zu Lai, de acordo com o monge entrevistado). Os monges ordenados também recebem um “diploma” fornecido pela organização Fo Guang Shan. Embora o entrevistado afirme que o documento emitido pela organização não seja importante para os monges, acreditamos que a Fo Guang Shan espera, futuramente, poder emitir um diploma com validade certificada pela legislação educacional brasileira e pretende que o curso seja reconhecido academicamente não só pelo Ministério da Educação e Cultura, mas também pela população brasileira. A oportunidade de uma formação universitária é certamente um atrativo, ainda que os candidatos brasileiros tenham pouca idéia do que uma formação monástica na Fo Guang Shan signifique.
Um dos primeiros aspectos da oferta de uma formação universitária monástica diz respeito a sua inserção dentro do panorama maior do Budismo intelectualizado no Brasil (SHOJI 2002b). Dado o surgimento de centros budistas independentes das comunidades étnicas, tem se configurado a necessidade de formação e legitimação de representantes brasileiros do Budismo, com o objetivo de formar uma sangha brasileira. Nesse processo de formação de uma sangha brasileira, um primeiro critério é aquele já pertencente ao próprio Budismo, da existência de mestres que, em geral através de uma formação monástica e seguindo uma linhagem de transmissão (especialmente as escolas Zen e Ch'an), lideram e dirigem as atividades de meditação e de instrução religiosa.
A formação de monges brasileiros até o momento se apresentou bastante limitada. Um dos principais motivos é que uma formação monástica tem sido realizada, via de regra, através de um longo período no Exterior, o que representa difíceis exigências financeiras para as instituições e uma difícil adaptação cultural para a maior parte dos budistas. Na ausência de uma legitimação monástica, a difusão do Zen e do Ch'an entre os brasileiros tem se dado muito mais por um interesse intelectualizado, muitas vezes combinados com movimentos da Nova Era. A principal motivação e legitimação para o ensino é o conhecimento obtido através de viagens, livros ou palestras. Esse processo implica em uma elitização e na manutenção de uma classe que define o que é o verdadeiro Budismo, ainda que com frágeis critérios de legitimação.
Em consonância com esse padrão, muitos centros já se acostumaram com esse meios de atração de simpatizantes e os critérios de legitimação intelectual solicitada, até incorporando essa terminologia na própria organização. Por isso, algo importante em muitos grupos é a existência de cursos livres e professores do Dharma, como em uma espécie de academia espiritual. A organização da comunidade, dividida em níveis de estudantes e professores, mostra a valorização da transmissão de conhecimento espiritual nos moldes de uma formação em uma escola espiritual, tornando-se o substituto da participação ritual e da transmissão monástica ou hereditária dos sacerdotes nos países asiáticos. Ao invés de participar de rituais, muitos budistas ou simpatizantes freqüentam cursos e participam de sessões de meditação, atividades que podem ser complementadas por leituras e meditação em casa. É sempre possível, também, incorporar uma taxa a esses cursos, o que ajuda a manter financeiramente o centro e as atividades do grupo.
Essa forma de transmissão religiosa concretizada através de livros e cursos gera um Budismo que também se associa a uma tendência, presente nas religiões no Brasil, de pouco compromisso com a filiação religiosa. Essa característica torna bastante difícil o reconhecimento da identidade budista e uma sistematização pragmática das estratégias de adaptação. O componente intelectualizado gera freqüentemente debates sobre a essência do Budismo, discussão importada de outros países ocidentais. Na maior parte dos convertidos e simpatizantes, esse auto-ensinamento espiritual é baseado em diversas fontes, a partir de diferentes atividades em diferentes centros e templos. Na prática, tanto a instrumentalização dos conteúdos budistas quanto uma diluição dentro de um melting pot de tradições orientais e ramos budistas compõe um padrão social que dificilmente cria condições para a institucionalização das escolas.
A Universidade Livre Budista, com uma formação monástica chinesa que inclui vários aspectos tradicionais, traz a novidade de recuperar um nível de tensão entre os budistas da Fo Guang Shan (especialmente os monges) e o resto da sociedade (incluindo outros grupos budistas), sem ignorar as demandas de legitimação intelectual e difusão cultural atualmente associadas ao Zen e ao Ch'an. Após um período de maior ambigüidade, uma fase inicial comum na transplantação das religiões (PYE 1969), a Fo Guang Shan tem buscado a recuperação de um caráter mais tradicional do Budismo, o que inclui um nível médio de tensão entre o grupo religioso e a sociedade. Adicionalmente, como veremos a seguir, a Universidade Livre Budista busca formar mediadores entre os chineses e brasileiros.
Para Stark, movimentos religiosos são empreendimentos sociais cujo propósito principal é criar, manter e atender a uma demanda religiosa de um certo grupo de indivíduos (STARK 1996: 134). Nesse sentido, podemos dizer que a instalação da ULB no Brasil traz uma ressignificação do que tradicionalmente se entende por comunidade monástica. Essa criação está relacionada com a substância da oferta, pois a ULB oferece algo até então não visto no território brasileiro - um Budismo de matizes chineses e uma transmissão monástica a partir de uma universidade livre. O desejo de formar monges brasileiros familiarizados com a doutrina budista chinesa está relacionado com a obtenção de méritos prometidos pela organização religiosa e possivelmente manterá uma longa relação de intercâmbio entre o Budismo da Fo Guang Shan e os futuros monges.
Do ponto de vista dos alunos aspirantes a monges, deve-se inicialmente observar que as organizações religiosas podem ser consideradas como empreendimentos que costumam fornecer recompensas e compensadores. Por recompensa, Stark e Bainbridge entendem coisas cuja obtenção leva os humanos a voluntariamente despender recursos. Compensadores, por um outro lado, são postulações de recompensas baseadas em explicações não prontamente suscetíveis de avaliação empírica (STARK e BAINBRIDGE 1987). Em outras palavras, as recompensas seriam coisas práticas, como o relacionamento estabelecido entre devotos de uma mesma religião, e compensadores seriam coisas cuja existência não pode ser provada, como a vida em um "paraíso" após a morte, por exemplo.
Partindo do axioma de que os seres humanos procuram o que consideram ser recompensas e evitam o que consideram custos, conclui-se que o custo para aderir um novo movimento religioso deve ser menor do que o valor de recompensas obtidas com a adesão (STARK e BAINBRIDGE 1987: 43). Sendo assim, organizações religiosas devem, segundo os autores, fornecer tanto recompensas como compensadores, de forma que a qualidade da oferta seja um dos determinantes do sucesso do movimento religioso. Para que um movimento religioso se estabeleça em ambiente alheio à sua cultura original, é necessário que a substância da oferta seja atraente e que custe pouco aos futuros devotos.
“É voto do grande mestre atender a comunidade local por meio da educação”, afirma o discípulo Sullivan Silk Pouza.[5] Segundo ele, Hsing Yün pretende, por meio de cursos, atender a vocação da comunidade mais próxima. Os cursos de MBA oferecidos em sua universidade na Califórnia, por exemplo, são adaptações do que uma organização budista pode oferecer considerando a demanda estadunidense. O próprio curso de formação de monges ministrado no Brasil que acontece na Universidade Livre Budista pode ser considerado uma tentativa de se adaptar aos moldes culturais ocidentais, visto que tenta atender tanto a demanda social (pois oferece o curso em uma “universidade”) quanto as exigências do MEC (pois trabalham para tornar o curso o mais próximo possível dos padrões exigidos por esse ministério).
Nesse sentido, a recompensa fornecida pelo movimento religioso pode ser reconhecida em dois níveis diferentes: interna e externamente. O reconhecimento interno é aquele do próprio grupo religioso e o externo é o do meio social, não necessariamente pertencente à mesma religião. Segundo Stark e Bainbridge, as organizações religiosas, exceto aquelas que estão no mais alto nível de tensão com a sociedade, socializam seus membros para que eles correspondam às normas requeridas para o sucesso na sociedade (STARK e BAINBRIDGE 1987: 268). No caso da organização Fo Guang Shan, o próprio documento fornecido aos que concluem o curso pode ser considerado como uma recompensa do ponto de vista do meio social.
Considerando o ambiente ocidental, podemos afirmar que a ULB pretende que seus futuros monges sejam bem-sucedidos no meio budista e que também sejam reconhecidos pela sociedade brasileira por possuírem um “diploma” universitário, ainda que este não seja reconhecido pelo Ministério da Educação e Cultura. A oportunidade de ser ordenado por uma organização budista chinesa e ainda receber um “diploma” universitário que comprove a ordenação é uma oferta inédita no Brasil. O fato de os alunos formados terem conhecimentos sobre Budismo, recitação de mantras, condução de cerimônias budistas, caligrafia de sutras chineses, contos Ch'an, culinária vegetariana, entre outras coisas, também é um atrativo para brasileiros interessados e podem ser considerados como recompensa.
Um “diploma de monge” pode ser visto como uma recompensa não só pelo reconhecimento da sociedade, mas também pela possibilidade de poder e status que os futuros monges provavelmente terão dentro do próprio grupo religioso. O reconhecimento formal na sociedade brasileira, almejado pelos organizadores do curso, representaria uma recompensa ideal. Enquanto não se alcança tal reconhecimento, pode-se afirmar que o status adquirido pelos futuros monges dentro da comunidade budista e chinesa deve ser considerado como uma recompensa do ponto de vista interno. O estudante que por fim conseguir concluir o curso e preencher todos os requisitos para se tornar um “monge formado”, o que significa que obedeceu satisfatoriamente a uma série de regras rígidas estabelecidas por um monastério budista chinês, poderá ser visto como uma pessoa mais capacitada espiritualmente que outros dentro do grupo religioso. Os alunos da ULB devem acreditar que a conclusão do curso os levará a um desenvolvimento espiritual que não é facilmente atingido em outras organizações religiosas. Essa “maior” capacidade pode lhe conceder maior poder simbólico, como monge ou como professor de Dharma, reconhecido pela até então única entidade que oferece essa formação como um curso de formação universitária. Dada a ainda insipiente institucionalização do Budismo para brasileiros sem ascendência asiática, ainda que o Zen e o Ch'an sejam amplamente divulgados pela mídia, uma legitimação dada por uma Universidade Budista é uma aposta individual de que o “poder de um indivíduo ou de um grupo será positivamente associado ao controle das organizações religiosas e à obtenção de recompensas disponíveis para as organizações religiosas” (STARK e BAINBRIDGE 1987: 48).
A competência organizacional do movimento religioso é a maneira como a organização mantém sua doutrina por meio de regras rígidas e diferenciadas da secular, ao mesmo tempo em que atrai novos devotos e expande o movimento. Isso se dá por meio da manutenção de um nível médio de tensão entre o movimento religioso e o meio social e por meio de uma rede de relacionamento dos membros do grupo. No caso de grupos religiosos originados a partir de uma comunidade de imigrantes e descendentes, a separação entre o secular e o religioso se mescla com aspectos étnicos.
A maneira pela qual a organização religiosa mantém um nível médio de tensão está diretamente atrelada à abertura da rede de relacionamentos dos membros. Inicialmente, um movimento religioso busca diminuir a tensão que causa ao se instalar em ambiente de cultura muito diferente da proposta pelo movimento. Apesar disso, a tensão não pode ser totalmente esvaziada, sob o risco do grupo não ter uma justificativa para sua existência social. No caso da organização Fo Guang Shan no Brasil, percebe-se dois pontos que simultaneamente oferecem apoio e tensão: o relacionamento com o meio social em geral e o relacionamento com a comunidade chinesa, dada a busca de enraizamento do Budismo no Brasil.
Quando um movimento religioso se instala em ambiente alheio à sua cultura, é natural que se crie um nível de tensão com a sociedade anfitriã, pois a última já apresenta o seu próprio capital cultural. Ao se instalar, o movimento religioso deve participar de uma certa negociação com a sociedade na qual procura discípulos, ainda que algum nível de tensão deva ser mantido. Para crescer, deve oferecer uma cultura religiosa, além de estabelecer padrões morais. Desta forma, será bem-sucedido na medida em que mantenha um nível médio de tensão com o ambiente, ou seja, deve ser rígido, mas não em excesso (STARK e BAINBRIDGE 1987: 137). Segundo Stark, “movimentos religiosos continuarão crescendo somente na medida que mantenham suficiente tensão com o meio ambiente” (STARK 1996: 136), pois justamente a manutenção de certo nível de rigidez disciplinar é que parece ser responsável pelo seu rápido crescimento. Um grupo de alta tensão se mostra diferente do padrão social religioso, pois adota sua própria doutrina e, conseqüentemente, se separa da sociedade, ao passo que um grupo de baixa tensão se relaciona mais com o meio social. Para sobreviver satisfatoriamente, um grupo de tensão muito alta deve ser auto-suficiente e manter uma rede fechada, dado que o relacionamento com o meio externo é mínimo.
Para Stark e Bainbridge, uma rede social é fechada na medida em que um grande número de relacionamentos dos membros de um grupo religioso seja com outros membros e é aberta na medida em que um grande número de relacionamentos seja com não-membros (STARK e BAINBRIDGE 1987: 61). O segredo para o crescimento parece ser a manutenção de uma rede “semi-aberta”, ou seja, não completamente fechada (o que isola o grupo), nem completamente aberta (o que faz com que o grupo perca sua identidade). A rede deve, portanto, ser firme internamente, para que as pessoas valorizem sua religião na medida em que um alto valor possa ser comunicado aos outros ao seu redor, mas ao mesmo tempo deve estar aberta para formar laços com pessoas de fora, as quais podem ser vistas como potenciais devotos. Movimentos religiosos que não tenham fortes relações internas também não terão comprometimento de seus membros (STARK e BAINBRIDGE 1987: 142-144). Já os laços com pessoas de fora podem ser vistos como o combustível que impulsiona o movimento em busca de novos devotos que, por fim, darão prosseguimento ao movimento.
Como dito anteriormente, pode-se dizer que a competência organizacional de um movimento religioso, ou seja, a forma como atrai e mantém devotos e se relaciona com o meio, se mede pela maneira como a organização gerencia o grau de abertura da rede, a qual deve ser firme entre os membros, representado pela manutenção da disciplina monástica e pela presença de um líder legítimo, bem como pela abertura a potenciais devotos e ao relacionamento com autoridades locais.
No caso de movimentos religiosos poderosos em seu próprio meio cultural, como a Fo Guang Shan, os líderes geralmente preferem um nível de tensão menor com a sociedade. É evidente que, no Brasil, algum nível de tensão permanecerá, visto que é justamente a diferença cultural que identificará o movimento em um meio religioso tão diferente do chinês como é o brasileiro. Dessa forma compreende-se que o motivo pelo qual o movimento Fo Guang Shan oferece tantas atividades, tentando adaptá-las à cultura local, é o desejo de diminuir a tensão que causa a princípio, mas sem perdê-la totalmente a ponto de descaracterizar o Budismo como uma religiosidade sem compromisso.
Os alunos da ULB correspondem a uma rede com fortes relações internas, pois, ao seguirem regras monásticas rígidas e tão diferentes das de sua cultura originária, podem ser levados a crer que pertencem a uma categoria especial e a fortalecer suas relações, visto que compartilham as mesmas experiências. Nesse sentido, pode-se dizer que valorizam sua religião porque se consideram habilitados a comunicar um alto valor às pessoas de fora, ou seja, correspondem a uma rede interna firme, consolidada pela presença crucial de um líder, que é o principal representante do movimento religioso.
Parafraseando Max Weber, Stark postula que a autoridade carismática serve somente para originar um movimento, sendo instável para sustentá-lo (STARK 1996: 139). Embora o líder Hsing Yün ainda sustente a organização Fo Guang Shan com seu carisma, ele parece também ciente da necessidade de um enraizamento mais profundo nos países onde a Fo Guang Shan se estabelece. A solução parece ser a tentativa de encontrar líderes locais nos países onde se instala, por exemplo, com o oferecimento de cursos para formar monges.
Em outras palavras: como em qualquer movimento religioso que se instala em ambiente alheio e pretende expandir, a Fo Guang Shan mantém seu líder, bem como busca por outros líderes locais que o substituirão na parte prática do gerenciamento da organização religiosa. Sendo capaz de manter uma rede interna firme, o movimento religioso deve também ser capaz de manter um relacionamento harmonioso com o meio social. Em relação à comunidade chinesa, do ponto de vista de competência organizacional a formação de professores de Dharma pode ser interpretada como um investimento que oferece recursos humanos especializados e a um custo bastante acessível para a BLIA, que no momento nos parece o único “empregador” possível de um professor de Dharma no contexto do Budismo Chinês no Brasil.
O estágio de vida monástica, presente no currículo do curso de formação de monges, inclui a interação com os visitantes e participantes do templo, o que não se limita aos brasileiros curiosos que visitam o local, mas se estende aos chineses e seus descendentes que buscam as cerimônias e rituais. É nesse momento que os futuros monges podem relatar suas experiências no templo com pessoas de fora e, implicitamente, expor o que consideram como de alto valor na religião que escolheram, o que pode representar uma aproximação com potenciais discípulos. A relação com a comunidade chinesa também é frutífera, no sentido de que os monges brasileiros podem servir de mediadores culturais não só entre os chineses e brasileiros, mas também entre os chineses e seus filhos e netos nascidos no Brasil. Esse estágio de vida monástica certamente representa um dos aspectos necessários para a consolidação da rede de relacionamentos citada por Stark, o que determinará a manutenção de um nível médio de tensão também com a comunidade étnica. Assim, uma formação oferece também uma legitimação de monges brasileiros frente aos chineses e seus descendentes, mantenedores do templo. Afinal os brasileiros a serem formados (poucos chineses e descendentes têm interesse no curso) aprenderão cultura e língua chinesa, o que os legitima como mediadores entre a cultura chinesa e brasileira.
O oferecimento de um curso de formação de monges no que se chama universidade livre está muito mais próximo da concepção ocidental de conhecimento do que da oriental. Caso não houvesse interesse na atração de nativos brasileiros, o curso provavelmente seria oferecido em um “monastério” e não em uma “universidade”, que termina por combinar estudos chineses com formação monástica. Aqueles que a princípio mostram interesse pelo curso certamente buscam conhecimento acadêmico sobre a religião, visto que se candidatam a uma vaga em uma universidade livre. O oferecimento de um “diploma de monge” aos que concluírem o curso é, portanto, uma tentativa de expandir e enraizar o Budismo da Fo Guang Shan no Brasil a partir de uma oferta educacional e intelectualizada, procurando diminuir o estranhamento que a cultura monástica chinesa poderia causar no território brasileiro. Resta saber se a Fo Guang Shan irá conseguir reter alunos e formar uma quantidade de monges que efetivamente se comprometam com os ideais do grupo e com a difícil adaptação dentro da disciplina monástica e da cultura chinesa, uma tarefa nada fácil considerando a experiência dos monastérios da Fo Guang Shan nos EUA, na Austrália e na África do Sul (CHANDLER 2004: 275-300, LI 1999).
Embora a Fo Guang Shan tenha instalado o curso de formação de monges no Brasil por motivação religiosa, interpretamos essa motivação como uma escolha racional por fazer-se expandir através da recuperação de um grau de tensão necessário entre uma religião minoritária e a sociedade. Essa tensão também busca complementar a atuação de outros grupos budistas, já que o Zen e o Ch’an, em uma interpretação livre em grande parte oferecida pela mídia, exige pouca institucionalização ou formação. Como o objetivo de formar uma sangha real, a rede interna de membros do grupo religioso deve ser firme internamente, dado que os devotos compartilham as dificuldades de seguirem regras monásticas rígidas e, por fim, são também cúmplices do que consideram como a melhor oferta religiosa que encontraram. A formação de futuros monges em termos de graduação universitária pode também ser chamada de uma escolha racional no que respeita à interação com os budistas brasileiros e com a comunidade étnica chinesa. A formação e atuação de monges dentro do Brasil deve atrair novos discípulos ou alunos do Dharma, que futuramente darão prosseguimento ao movimento religioso e a divulgação da cultura chinesa no Brasil.
CHANDLER, S. 2004. Establishing a Pure Land on Earth: The Foguang Buddhist Perspective on Modernization and Globalization. Honolulu: University of Hawai’i Press.
CHIBLI, F. “A casa do saber profundo”, in: http://revistaensinosuperior.uol.com.br/textos.asp?codigo=11075, acesso em 01/04/06.
LI, M. H. 1999. "Fo Kuang Shan in Africa: Heritage and Future Plans". In CLASQUIN, M. e KRÛGER, J. S. Buddhism and Africa. Pretoria: University of South Africa, pp. 55-66.
PYE, M., “The Transplantation of Religions”, in: Numen: 16 (1969), pp.234-239.
SHOJI, R. 2002a. Estratégias de adaptação do Budismo Chinês: Brasileiros e Chineses na Fo Kuang Shan, in: USARSKI, Frank. O Budismo no Brasil. Lorosae: São Paulo.
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STARK, Rodney. 1996. Why Religious Movements Succeed or Fail: a Revised General Model, Journal of Contemporary Religion, vol.11, nº 2, May, pp.133-146.
STARK, R. & BAINBRIDGE, W.S. 1987. A Theory of Religion. New York: Rutgers University Press.
TEMPLO ZU LAI in: http://www.budanet.org.br/, acesso em 31/03/06.
Recebido: 29/03/2008
Aceite final: 03/05/2008
[*] Mestre em Ciência da Religião pela PUC-SP, com uma dissertação de mestrado sobre o estabelecimento da Universidade Livre Budista no Brasil.
[*]* Doutor em Ciência da Religião pela Universidade Leibniz de Hanover (Alemanha) e atualmente pesquisador pela Fundação Japão no Instituto Nanzan para Religião e Cultura em Nagóia (Japão).
[1] Informações obtidas em entrevista com mestre Hui Hou em 01/04/2006.
[2] Informação obtida em entrevista com mestre Hui Hou em 01/04/06.
[3] Informação obtida em entrevista com Moacir Mazzariol Soares em 07/06/05.
[4] Entrevista realizada em 10/04/06 com Sullivan Silk Pouza.
[5] Entrevista realizada em 10/04/2006.