Neopentecostalismo - um conceito-obstáculo na compreensão do subcampo religioso pentecostal brasileiro

Gerson Leite de Moraes[*] []

Resumo

O presente artigo pretende discutir o conceito que comumente designa a terceira onda no subcampo religioso pentecostal brasileiro, a saber, o conceito neopentecostal. O conceito em pauta é tratado como um conceito-obstáculo neste trabalho, na medida em que já não consegue qualificar de forma satisfatória a atual situação de um determinado segmento pentecostal no Brasil. Na tentativa de melhor compreender o subcampo pentecostal conhecido como terceira onda é proposto um novo conceito, que foi designado como transpentecostal.

Palavras-Chave: Pentecostalismo, Neopentecostalismo, Transpentecostalismo, Tipologização, Campo Religioso.

Abstract

The concept neopentecostalism was originally coined to design the third wave of Brazilian Pentecostalism. The article argues that in the meantime this concept represent an heuristic obstacle since is no longer capable of properly qualifying the current situation of Brazilian Pentecostalism. In order to overcome the heuristic difficulties the article introduces the expression transpentecostalism as a conceptual alternative.

Keywords: Pentecostalism, Neo-Pentecostalism, Transpentecostalism, Typology, Field Religious.

Introdução

O campo religioso brasileiro sempre se apresentou como polissêmico, dado a muitas leituras e interpretações. Mais especificamente em se tratando do subcampo do Pentecostalismo, desde que este passou a ser um objeto de estudo dentro da academia, no final dos anos 60, início dos anos 70 do século XX, nada é mais verdadeiro. Depois de algumas décadas percebeu-se a necessidade de utilização de uma tipologia que demarcasse e facilitasse o acesso ao objeto em questão. Desde então, há um certo consenso entre os especialistas nesta área, de que a metáfora das “ondas marinhas”, inicialmente utilizada no Brasil por Paul Freston seria uma boa ferramenta para a compreensão do movimento pentecostal brasileiro. Essa adaptação feita por Freston é fruto da apropriação da metáfora que David Martin utilizou para referir-se à história mundial do Protestantismo, na qual ele distingue três grandes ondas: a puritana, a metodista e a pentecostal (MARIANO, 1995: 28). A partir de um recorte histórico-institucional, a ideia inicialmente exposta por Paul Freston no Brasil – já que nos Estados Unidos tanto a metáfora marinha quanto o conceito neopentecostal já eram conhecidos – ganha novo fôlego com a utilização da expressão “neopentecostal”, utilizada por inúmeros estudiosos do Pentecostalismo no Brasil, especificamente para se referir às igrejas da terceira onda, nascidas a partir da década de 1970, e que teriam como características básicas – apesar da falta de homogeneidade – posturas menos sectárias e ascéticas, uma postura mais liberal e tendências a investir em atividades extra-igreja, quando comparadas com suas antecessoras do Pentecostalismo clássico e do Deuteropentecostalismo.

Para ser enquadrada como neopentecostal, portanto, uma igreja fundada a partir de meados da década de 70 deve apresentar as características teológicas e comportamentais distintivas dessa corrente. Quanto mais próxima dessas características estiver, tanto mais adequado será classificá-la como neopentecostal. Isto é, quanto menos sectária e ascética e quanto mais liberal e tendente a investir em atividades extra-igreja (empresariais, políticas, culturais, assistenciais), sobretudo naquelas tradicionalmente rejeitadas ou reprovadas pelo pentecostalismo clássico, mais próxima tal hipotética igreja estará do espírito, do ethos e do modo de ser das componentes da vertente neopentecostal (MARIANO 1995: 37).

O conceito neopentecostal, desde então, virou expressão consagrada entre os estudiosos do fenômeno religioso pentecostal no Brasil. O trabalho em questão pretende discutir se esse conceito, a saber, neopentecostal, ainda é útil e serve para a compreensão dos grupos religiosos que estão presentes na arena religiosa nacional, e consequentemente vinculados ao movimento pentecostal denominado de terceira onda. Esse trabalho parte do pressuposto de que o conceito neopentecostal é hodiernamente um conceito-obstáculo que não consegue não dar conta da realidade religiosa pentecostal brasileira, sendo necessário ultrapassá-lo. A expressão conceito-obstáculo foi emprestada da obra do historiador brasileiro Ciro Flamarion, quando este tratou da necessidade de se a construção do espaço mediante um diálogo com autores europeus. O contexto no qual aparece a expressão é o que se segue:

“Em 1976, o geógrafo francês Yves Lacoste criticou radicalmente o conceito de região tal como foi herdado de Vidal de La Blache: teríamos, nele, um ‘conceito-obstáculo’”. (FLAMARION 2005:37-38).

O conceito neopentecostal está consagrado, mas a meu ver ele é um conceito-obstáculo. O sociólogo Ricardo Mariano, que se dedicou na sua dissertação de mestrado a compreender, nos anos 90, um novo tipo de Pentecostalismo no Brasil que vinha se estruturando desde os anos 70 do século XX, deu vida e consagrou definitivamente o conceito acima citado ao apresentar-lhe as características mais marcantes. Esse trabalho foi publicado em 1995 e é ele mesmo quem nos alerta sobre a necessidade de continuarmos a pesquisa nesse subcampo. Ele diz:

Subjacente às observações feitas... está a ideia de que o neopentecostalismo abriga apenas uma parcela das igrejas pentecostais formadas nos últimos vinte e cinco anos [ele estava escrevendo em 1995]. Infere-se disso que o movimento pentecostal é bem mais complexo e abrangente do que as correntes cujos contornos delineamos. Isso remete, ainda, para a eventual existência de outras vertentes menores e menos visíveis em seu interior. Quanto ao futuro pentecostal, a virtual ocorrência de transformações para muito além das já realizadas nesse campo religioso, tanto faz se decorrentes de importações teológicas, de sincretismos, de idiossincrasias de novas lideranças e de cismas institucionais, corresponderia à formação de novas correntes pentecostais e, portanto, implicaria a formulação de novos tipos ideais para classificá-las. (MARIANO 1995:37-38)

Mariano não estava fazendo futurologia quando prenunciava, na década de 90, que o futuro pentecostal passaria por inúmeras transformações. Sua intuição sociológica apurada pressentia que sua análise, como, aliás, qualquer análise científica, é e precisa ser provisória, se não se torna dogmática. A tarefa não é fácil e nem simples, mas necessária em virtude da necessidade que existe de se compreender melhor o subcampo pentecostal brasileiro.

Problematização

Tentar entender o campo religioso brasileiro não é tarefa fácil, pois o mesmo está em constante mutação, e tentar apreendê-lo por meios de teorias, reduções científicas ou mesmo metáforas é um trabalho hercúleo. Por isso, antes de mais nada, cabe aqui uma nota de reconhecimento do trabalho do sociólogo Paul Freston, que, ao se apropriar da teoria/metáfora das ondas marinhas de David Martin, auxiliou todos os estudiosos do fenômeno pentecostal de maneira muito profícua, não só no Brasil. Portanto, a crítica que se pretende estabelecer neste trabalho não é sobre a metáfora marinha usada para compreender o fenômeno pentecostal no Brasil, mesmo porque ainda carecemos de outro modelo de aproximação dessa grande meta-narrativa da modernidade, como afirma David Martin.

Globalmente, minhas análises... trataram a América Latina como uma combinação híbrida da América do Norte e ‘Latina’ e modos de secularização através da introdução da competitividade religioso plural em escala massiva, e abracei o Pentecostalismo como a maior metanarrativa da modernidade global”. (MARTIN 2005:41)

Nosso objetivo é tecer uma crítica ao conceito que designa a terceira onda, a saber, o tão usado e irrefletido neopentecostal. Conceito melífluo, que encanta e resolve aparentemente o problema dos estudiosos de religião no país.

Todos que estudam religião no Brasil precisam seguir o conselho do pensador brasileiro Roberto Romano, que, ao tecer comentários sobre o ato de julgar e acolher conceitos e frases, diz que há uma grande pressa em se assumir determinadas verdades, sem, no entanto, medir o peso das palavras, dos atos e conceitos. Ele sugere que a melhor postura a ser seguida é a dos filósofos céticos. Ele diz:

Referindo-se ao cético, um comentador diz que esse filósofo evita a propéteia, ou seja, a pressa que consiste em acolher um argumento conclusivo, em deixar-se seduzir por ele, ao invés de continuar a pesquisa e aprofundá-la. O cético, contra o pensador dogmático, ‘não se deixará fascinar por uma doutrina que exiba argumentos aparentemente convincentes... ele não cairá em pecado de precipitação’. (ROMANO 2001:345-346)

Tornei-me cético sobre o conceito neopentecostal na medida em que desenvolvia minha pesquisa de doutoramento. Nessa trajetória pude perceber, ao ler muitos livros, artigos e em conversas com especialistas sobre o assunto, quanto o conceito neopentecostal é vazio hodiernamente. Ele tornou-se um daqueles conceitos que servem para tudo. Ele ao mesmo tempo em que explica tudo, não diz nada, pois parte de uma realidade historicamente situada e permanente, não levando em consideração as mutações e flexibilizações que o campo religioso brasileiro tem passado, especificamente o subcampo pentecostal, em que esse termo é aplicado em demasia e quase nunca de forma crítica.

Como foi dito na introdução deste trabalho, o conceito neopentecostal já foi utilizado nos EUA.

Lá na década de 70, ele designou as dissidências pentecostais das igrejas protestantes, movimento que posteriormente foi nomeado de carismático”. (MARIANO 1999:33)

Apesar de o termo ter sido muito válido no contexto religioso brasileiro na década de 90, hoje em dia pode-se dizer que o conceito neopentecostal envelheceu. O prefixo neo não designa nada de novo no que tange ao movimento pentecostal brasileiro. Há quinze ou vinte anos isso podia ser uma verdade inquestionável e que resolvia muitos problemas para os pesquisadores de religião no Brasil.

Aliás, vale lembrar que esses mesmos pesquisadores, naquele momento histórico, estavam se debatendo para entender o fenômeno de crescimento e comportamento religioso demonstrado pela consolidação da Igreja Universal do Reino de Deus, criada em 1977, mas que ganhou espaço e visibilidade junto aos brasileiros após a compra da Rede Record de Televisão em 1989, e que gerou frutos para esse grupo religioso no início da década seguinte. Foi por causa desta igreja, designada como ponta-de-lança do neopentecostalismo no país (MARIANO 1999:43), sua inserção no campo religioso brasileiro e seu fabuloso crescimento, que houve a necessidade de se criar um termo para aquela prática religiosa, que era filha do Pentecostalismo anterior, mas que diferia deste em muitos aspectos. Percebeu-se então, que algumas características básicas acompanhavam algumas igrejas, que, apesar de nascidas nas décadas de 70 e 80, estavam se expandindo na década de 90. Esse foi o caso da já mencionada Igreja Universal do Reino de Deus, da Igreja Internacional da Graça de Deus, da Igreja Renascer em Cristo e da Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra.

Alguns alegam, com razão, que desde o nascimento da Igreja Universal do Reino de Deus não houve nenhuma grande inflexão no subcampo pentecostal brasileiro. No entanto, também não se pode dizer que a prática pentecostal hodierna na sua integralidade é a mesma daquela época. Se de fato, não houve uma grande ruptura, também não se pode e não se deve dizer que há uma continuidade nas práticas daqueles grupos religiosos que foram denominados de neopentecostais.

Se os critérios para classificar igrejas como neopentecostais no subcampo pentecostal brasileiro são suas posturas menos sectárias e ascéticas, uma postura mais liberal e tendências a investir em atividades extra-igreja. Com relação às atividades extra-igreja parece não haver problemas, pois até mesmo protestantes históricos cumprem esse requisito, além é claro, dos grupos religiosos do Pentecostalismo tradicional. Poucas, porém, são as igrejas que conseguem cumprir esse programa em sua totalidade. De fato, a única que parece ser liberal, menos sectária e ascética em assuntos espinhosos para os evangélicos, como por exemplo o aborto e a homossexualidade, parece ser a Igreja Universal do Reino de Deus. Vejam o que diz, por exemplo, Edir Macedo sobre o aborto:

A IURD vem se diferenciando da posição bíblica e ortodoxa de outras igrejas evangélicas. O canal do Bispo tem veiculado uma vinheta que fala dos direitos de escolha das mulheres, inclusive o direito de decidir por um aborto. Em entrevista à Veja, o bispo licenciado Honorilton Gonçalves, vice-presidente da Record, disse que esta foi uma orientação direta de Edir Macedo “que nos pediu que conscientizássemos a sociedade da importância da mulher poder decidir sobre seu próprio destino”. Segundo ele, a programação evangélica que vai ao ar nas madrugadas “atende seu propósito, que é mostrar que a Igreja Universal [4.748 templos e 9.660 pastores] tem a mente aberta. Está preparada para discutir qualquer assunto: aborto, planejamento familiar, adoção de crianças por homossexuais”. A IURD admite o aborto e o divórcio nos casos previstos em lei. Segundo reportagem publicada no dia 13/10 na Folha de S. Paulo, parlamentares ligados à IURD - hoje 7 deputados federais e 1 senador - defendem o direito ao aborto. Macedo fala do tema abertamente e defende a legalização: Sou favorável à descriminalização do aborto por muitas razões... O que é menos doloroso: aborto ou ter crianças vivendo como camundongos nos lixões de nossas cidades, sem infância, sem saúde, sem escola, sem alimentação e sem qualquer perspectiva de um futuro melhor?... Acredito, sim, que o aborto diminuiria em muito a violência no Brasil, haja vista não haver uma política séria voltada para a criançada. [1]

Agora vejam o que diz R. R. Soares, outro líder comumente designado como neopentecostal, quando questionado sobre a posição da Universal sobre o aborto numa sessão de seu site oficial, intitulada “O Missionário Responde”.

Pergunta: A Igreja Universal está usando um trecho do Eclesiastes para justificar o aborto. Gostaria de saber qual a sua posição sobre este tema, e que interpretação o senhor tem deste trecho do Eclesiastes?
Resposta: Não acredito que qualquer igreja evangélica possa justificar o aborto em nenhuma circunstância, muito menos usando a Palavra de Deus. Desconheço totalmente essa informação e creio haver algum engano, pois a Bíblia é muito clara ao afirmar o valor inestimável e santo da vida humana. Afinal, cada homem ou mulher é imagem e semelhança do Senhor Deus e aquilo que lhe dá vida veio diretamente do peito do Senhor, o sopro da vida (Gn 2.7). Basta ler o Salmo 139, por exemplo, para ver que a defesa de um absurdo como o aborto simplesmente não cabe em quem tem temor de Deus. O que o texto de Eclesiastes afirma é a futilidade e o imenso vazio de uma vida sem o bem supremo, que é a salvação e a comunhão diária com o Senhor Deus. Basta lembrar que o Senhor Jesus veio a este mundo justamente para dar sentido e plenitude à vida dos que nEle crêem (Jo 10.10).[2]

E sobre a homossexualidade? Vejam o que diz Macedo:

Em mais uma demonstração de que pretende se diferenciar por suas posições menos conservadoras do que a de seus pares, Macedo afirmou que não rejeitaria um filho homossexual “de forma alguma”. “Tentaria ajudá-lo da melhor forma possível. Porque, se Deus respeita a livre opção de vida da criatura humana, por que não o faria eu?”, disse[3].

Soares não é nem um pouco complacente com a situação e lança mão do argumento típico dos evangélicos. Ele diz:

A Bíblia diz que o Senhor Deus criou o ser humano e o pôs no jardim do Éden. O versículo que diz isso, afirma textualmente: "E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou" (Gn 1.27). No salmo 139.13-16, a Palavra já dizia há 3.000 anos que o Senhor acompanha a formação do bebê no ventre da mãe, passo a passo. Ora, se o Criador só fez macho e fêmea ao criar o ser humano e acompanha a gestação de cada pessoa que vem ao mundo, por que Ele iria ser incoerente e fazer nascer um menino que, ao crescer irá desejar ser menina? Ora, isso é absurdo! Além disso, se fosse o Senhor Deus quem criasse a confusão sexual, como HOJE alegam os defensores do movimento gay (antigamente eles mesmos falavam de "opção sexual"), por que Deus iria destruir Sodoma e Gomorra, como de fato o fez, por conta da homossexualidade daquelas cidades? (Gn 19.1-29; 2Pe 2.6; Jd 7). Em Romanos 1.18-32, a Bíblia dá a verdadeira razão da existência dos homossexuais: a rebelião contra o Senhor Deus manifesta na recusa de tê-lo como único e verdadeiro Deus.[4]

Como pode ser observado, dois líderes de igrejas classificadas como neopentecostais possuem posições completamente divergentes sobre temas de grande relevância na contemporaneidade. Segundo os critérios teóricos estabelecidos para definir uma igreja como neopentecostal, somente a IURD parece atingi-los. Poderíamos citar outros líderes classificados como neopentecostais e suas posições iriam variar, mas com inclinação maior para o conservadorismo comportamental de Soares em relação ao liberalismo, também comportamental, de Macedo. Percebe-se, então, que as bases sobre as quais foi construído o conceito neopentecostal não comportam todas as igrejas que até agora foram classificadas como neopentecostais. Pode-se dizer que o conceito neopentecostal teve sua validade e seus méritos. Reconhecido isso, é necessário continuar a pesquisar o subcampo pentecostal e perceber que os tempos são outros. A Igreja Universal do Reino de Deus, o verdadeiro pivô que motivou a necessidade de se compreender aquele novo tipo de Pentecostalismo, não é a mesma da década de 90, parece que ficou mais liberal, menos ascética, mas ficou mais sectária, quando analisada por outros grupos evangélicos. As outras igrejas que foram mencionadas acima e que compunham o quadro inicial de igrejas neopentecostais também passaram por mudanças muito significativas nos últimos tempos, tanto do ponto de vista litúrgico, administrativo e até mesmo teológico, e também não são mais as mesmas.

No próximo tópico, pretende-se mostrar como Pentecostalismo é flexível, moldável e extremamente criativo em sua capacidade de se reinventar dentro da modernidade.

O potencial heurístico da dicotomia “resistência” versus “re-existência”

Sem dúvida, o crescimento pentecostal entre os brasileiros nesses cem anos, desde 1910-1911, com o início das atividades da Congregação Cristã no Brasil e da Assembleia de Deus, foi algo surpreendente no campo religioso brasileiro. Muitos estudiosos do fenômeno religioso brasileiro tentaram compreender como o Pentecostalismo tornou-se uma religiosidade em escala ascendente no Brasil. São muitos os artigos, dissertações, teses e livros sobre o assunto. Quando os pentecostais iniciaram suas atividades, já havia outros grupos religiosos não-católicos no país. O Protestantismo, que veio mais tarde a ser conhecido como Protestantismo Histórico, já estava instalado no país havia mais de 50 anos, e nos idos anos da década de 10 do século XX já havia conquistado um certo espaço, ainda que muito tímido, em sem comparando com a religiosidade majoritária, naqueles dias, e não nos esqueçamos, ainda hoje, o Catolicismo romano.

O fato é que o Pentecostalismo surgido no início do século XX nos EUA foi transplantado para a realidade brasileira e acabou conseguindo seu espaço no subcampo religioso protestante, e conseguindo notoriedade no campo religioso brasileiro. Um questionamento recorrente entre os estudiosos da religiosidade brasileira é entender o porquê de o Pentecostalismo ter esse poder de atração e de conquista de novos fiéis. Algumas coisas podem ser explicitadas, como: o esgotamento natural do Catolicismo romano em nosso país, que depois de séculos de influência em nossa cultura entrou em estagnação; ou ainda, o misticismo do povo brasileiro, que nasceu da influência das religiosidades africana e indígena, que estiveram presentes na organização da sociedade brasileira desde a colonização, deixando um legado que afetou não somente o Catolicismo romano, produzindo o Catolicismo popular brasileiro, como foi de fundamental importância para a aceitação do Pentecostalismo, que frequentemente recorre ao pensamento mágico para responder às suas indagações. Como nos lembra o pensador alemão Friedrich Schleiermacher, em seu debate com Immanuel Kant; religião é intuição e sentimento. Ele assevera:

Desta forma, a religião, para tomar posse de sua propriedade renuncia a toda pretensão sobre tudo o que pertença àquelas e desenvolve tudo o que lhe tem sido imposto pela força. Ela não pretende como a metafísica, explicar e determinar o universo de acordo com sua natureza; ela não pretende aperfeiçoá-lo e consumá-lo como a moral, a partir da força da liberdade e do arbítrio divino do homem. Sua essência não é pensamento nem ação, senão intuição e sentimento. (SCHLEIERMACHER 2000:33)

E essas palavras de Schleiermacher são perfeitamente compreensíveis quando se analisa a religiosidade brasileira.

A racionalidade religiosa nunca foi uma marca do ethos religioso brasileiro. Sérgio Buarque já sentenciava isso na década de 1930, em seu famoso Raízes do Brasil.

No Brasil é precisamente o rigorismo do rito que se afrouxa e se humaniza. Essa aversão ao ritualismo conjuga-se mal – como é fácil imaginar – com um sentimento religioso verdadeiramente profundo e consciente. Newman, em um de seus sermões anglicanos, exprimia a ‘firme convicção’ de que a nação inglesa lucraria se sua religião fosse mais supersticiosa, more bigoted, se estivesse mais acessível à influência popular, se falasse mais diretamente às imaginações e aos corações. [...] Assim, nenhuma elaboração política seria possível fora dela [religiosidade], fora de um culto que só apelava para os sentimentos e sentidos e quase nunca para a razão e a vontade. [...] Conta-se que os próprios protestantes logo degeneram aqui, exclama. E acrescenta: ‘É que o clima não favorece a severidade das seitas nórdicas. O austero metodismo ou o puritanismo jamais florescerão nos trópicos’. (HOLANDA 1995:150-151)

Essa religiosidade sentimental, intuitiva, de caráter mágico e nenhum um pouco tétrica - muito pelo contrário, feliz e expansiva -, com certeza contribuiu muito para o progresso do Pentecostalismo no Brasil.

Como se pode perceber também, já há muito tempo existem estudos que apontam para indícios de que uma religiosidade racional jamais vingaria em terras tupiniquins. Apesar de serem da mesma matriz religiosa, pentecostais e protestantes históricos estão vivendo fases diferentes em relação ao crescimento numérico e consolidação de seus ideais em nosso país. Por isso é necessário levantar alguns questionamentos sobre estas fases diferentes destes grupos anticatólicos. Por que o Pentecostalismo é mais propício a desenvolver-se no campo religioso brasileiro quando comparado ao Protestantismo histórico? Por que o Pentecostalismo cresceu a olhos vistos e os protestantes históricos, não? Em suma, por que as igrejas pentecostais cresceram muito mais do que as igrejas do Protestantismo histórico?

Para responder a tais questionamentos, creio ser necessário utilizar dois conceitos importantes, resistência e re-existência.

O Protestantismo histórico vive no estágio da resistência, ou seja, ele é resistente a mudanças. Ele não se adapta à realidade religiosa brasileira, que possui marcas como o sentimentalismo, a perspectiva intuitiva e o pensamento mágico, como princípios basilares. Resistência é um termo que se aplica à Física. Resistir é opor-se a algo, é causa que se opõe ao movimento de um corpo. O Protestantismo histórico opõe-se ao ethos religioso brasileiro e pretende de alguma forma transformá-lo por considerá-lo frouxo, flexível e produtor de uma religiosidade superficial. Com isso, o Protestantismo histórico não é capaz de mudar para crescer. Não é da natureza do ethos do Protestantismo histórico esta maleabilidade. O Protestantismo histórico não fará concessões ao ambiente cultural brasileiro porque o vê como algo ser mudado, a ser transformado.

Pelo contrário, o Pentecostalismo brasileiro vive no estágio da re-existência, ou seja, ele é marcado pela capacidade de re-existir, de se re-significar, de se reinventar. O fulcro do Pentecostalismo é essa flexibilidade, que lhe permite insistir em existir de forma criativa, adaptando-se às novidades que despontam de tempos em tempos na estruturação da sociedade brasileira, mesmo que esta se apóie em pilares antigos como o sentimentalismo, a perspectiva intuitiva e o pensamento mágico, em matéria de religião. O Pentecostalismo aproveita esses princípios e muda conforme a necessidade do momento.

Aquilo que pode ser apontado como a maior virtude do ethos pentecostal, ou seja, sua capacidade camaleônica de se configurar conforme o contexto, é também o maior problema para os especialistas em matéria de religião, quando estes necessitam de um conceito, que é estático por natureza, mas que tem a incumbência de designar algo em constante mutação.

Por isso o conceito neopentecostal, que comumente tem designado a terceira onda do Pentecostalismo no Brasil, é um termo datado. O prefixo neo de neopentecostal designou algo novo durante um tempo, mas não se pode dizer que essa novidade continue valendo, tendo perenidade, pois o tempo para a religiosidade pentecostal é algo que flui com facilidade. O tempo para o Pentecostalismo é de suma importância, pois é na sua fluidez que se constroem as novidades teológicas e comportamentais que revitalizam o subcampo pentecostal no Brasil. Por isso, nenhum conceito que seja estático, enrijecido e pontual poderá dar conta dessa religiosidade pentecostal brasileira, e em função disso, desde o início deste trabalho tenho insistido que o termo neopentecostal é um conceito-obstáculo para os estudiosos que pesquisam o universo pentecostal brasileiro. É necessário redefinir o termo que designa a terceira onda no Brasil.

A necessidade de um novo conceito

Vive-se um período da história humana em que o dinamismo e a instantaneidade são marcas registradas. Não quero aqui debater se estamos na Modernidade Tardia, na Pós-Modernidade, na Modernidade Líquida ou mesmo na Supermodernidade. O fato é que vivemos no início do século XXI a ressaca do século XX, que se caracterizou pelas contradições. Pode-se dizer que o ritmo de crescimento populacional não teve precedentes: enquanto o século XX teve início menos de 2 bilhões de pessoas, terminou com mais de 6 bilhões, apesar das atrocidades de duas guerras mundiais que ceifaram milhões de vidas.

Enquanto no campo científico os esforços dos pesquisadores trouxeram avanços significativos, fazendo a expectativa de vida (média mundial) pular de 40 anos para 68 anos hoje em dia, vimos no século XX ideologias tanto de direita, quanto de esquerda matarem milhões de pessoas nos campos de concentração nazista e nos gulags soviéticos. O século XX foi um museu de horrores e, ao mesmo tempo, um período de avanços nunca experimentados pela humanidade. Por isso, ele é tão contraditório e tão fascinante.

No campo religioso brasileiro, como foi visto acima, a religiosidade pentecostal viveu seu período de nascimento e de grande crescimento ao longo do século XX. No início do século XXI, tomando como referência as ondas pentecostais que foram tratadas no início do trabalho, temos um fenômeno incomum, de coexistência das três ondas. Ou seja, uma igreja considerada de primeira onda coexiste no tempo e no espaço com uma igreja de segunda onda e de terceira onda.

E exatamente pelo fato delas coexistirem no tempo do dinamismo e da instantaneidade é que elas trocam experiências e se fecundam com práticas, ritos, doutrinas e costumes umas das outras. Portanto, tentar separá-las somente pelo viés histórico-institucional, como é o caso da metáfora das ondas marinhas, possui os seus limites, porque o campo está em constante movimentação e a relação dialética entre os grupos pentecostais nos mostra a fragilidade de nossas tentativas de apreender o campo religioso com esquemas rígidos e análise.

Também foi afirmado neste trabalho que, por enquanto, carecemos de outros métodos de análise para o subcampo pentecostal brasileiro. E essa é uma tarefa que os pesquisadores de religião no Brasil têm diante de si. Como isso é algo que demanda muito tempo de pesquisa e investimento intelectual, fica aqui o desafio. As comemorações do centenário do Pentecostalismo no Brasil exigem dos pesquisadores que estes comecem a pensar essa religiosidade a partir de novos lugares e com novos olhares. É uma excelente oportunidade para se iniciar esse trabalho.

Por enquanto, o que pretendemos fazer é criticar o conceito neopentecostal - creio que isso já foi feito nas páginas anteriores. Resta, agora, propor um novo conceito que parece ser mais apropriado para designar as igrejas de terceira onda.

Aliás, cabe aqui uma observação do que entendemos por conceito. Uma boa definição de conceito foi dada pelo pesquisador William Massei Junior (UNICAMP), que trata dos limites da razão em Lutero e Schopenhauer. Ele diz:

Na verdade, a existência dos conceitos é a causa da diferença gritante entre a vida humana e dos animais, pois os conceitos, produto da razão, são os responsáveis pela linguagem, pela possibilidade de fazer planos e tomar decisões independentemente do momento presente, de viabilizar, por assim dizer, uma vida em três momentos, uma vez que traz a existência humana presente tanto para o futuro quanto para o passado; por possibilitar a linguagem, a razão (por meio de seu produto, o conceito) também é responsável pela comunicação do pensamento, ou por sua ocultação,e torna possível uma série de empreendimentos, como ‘o agir combinado de mais indivíduos, a ação conjunta planejada de muitos milhares, a civilização, o Estado: também a ciência, a retenção de experiência anterior, a inclusão (Zusammenfassen) do que é comum em um único conceito, a comunicação da verdade, a propagação do erro, o pensar, o poetar, os dogmas e as superstições’. (JUNIOR 2008:17-18)

Como se pode observar pela definição acima, é impossível, nas relações humanas, prescindirmos dos conceitos. Eles são fundamentais para quem faz religião, política ou ciência.

No fundo, os conceitos usados em qualquer campo de conhecimento têm por finalidade comunicar uma síntese de elementos que definem provisoriamente o objeto que é alvo de estudo. Em se tratando de religião, cabe ao pesquisador buscar os elementos gerais que definem um determinado grupo religioso ou um conjunto de tendências expressadas por esse grupo. Durkheim já apontava para essa necessidade.

Mas como descobrir o fundo comum da vida religiosa sob a luxuriante vegetação que a recobre? Como, sob a contradição das teologias, as variações dos rituais, a multiplicidade dos agrupamentos, a diversidade dos indivíduos, reencontrar os estados fundamentais, característicos da mentalidade religiosa em geral? [...] Tudo está reduzido ao indispensável, àquilo sem o que não poderia haver religião. Mas o indispensável é também o essencial, isto é, o que antes de tudo importa conhecer. (DURKHEIM 1983:208)

Descortinar os elementos que caracterizam a religião numa determinada época é tarefa rotineira dos pesquisadores dos fenômenos religiosos.

A busca de um novo conceito para designar a terceira onda pentecostal no Brasil surge da necessidade de melhor qualificarmos as constantes mudanças que estão acontecendo na atualidade. Não se trata de mero capricho, mas de uma constatação em que se percebe que um conceito tornou-se obsoleto e necessita ser ultrapassado.

Quando realizei minha pesquisa de Doutoramento na PUCSP estudando a força midiática da Igreja Internacional da Graça de Deus, percebi, pelas pesquisas que havia realizado, que Romildo Ribeiro Soares, líder daquela igreja denominada por mim até então como neopentecostal, não era de fato um líder neopentecostal. A forma como Soares conduz os seus cultos em horário nobre na TV brasileira atraía para frente dos televisores um número muito grande de protestantes históricos. E, a partir dessa constatação, fiz uma pesquisa de campo que reforçou minhas suspeitas e mostrou-me que aquela igreja, apesar de ser enquadrada como neopentecostal, já não podia ser definida desta maneira. Comecei então a procurar um termo que melhor definisse aquele grupo religioso.

Deparei-me com o termo transmídia, que é o fenômeno da atualidade no campo midiático. Para exemplificar tal conceito é necessário lembrar que mídias variadas e aparentemente contraditórias estão sendo usadas ao mesmo tempo por homens e mulheres no início do século XXI. Com o advento da Internet, alguns profetizaram o fim da televisão convencional, como aconteceu com o cinema quando do aparecimento da grande novidade chamada televisão. Em ambos os casos, os profetas de plantão erraram. As mídias novas e já conhecidas passaram a existir no mesmo tempo e espaço, e se fecundaram mutuamente, permitindo algo novo no cenário midiático. Hoje em dia é comum alguém assistir televisão e ser estimulado pelo apresentador ou pelo narrador esportivo a entrar em um site e fazer uma pergunta, deixar sua opinião, tecer suas críticas. O universo dos microblogs permitiu, por exemplo, a um determinado grupo, de forma instantânea, construir e espalhar pela rede mundial de computadores uma visão muito positiva de um concorrente de reality show, que, para permanecer nesse tipo de programa televisivo, precisa do apoio de internautas que estão conectados instantaneamente às duas mídias, ou seja, à TV e à Internet. Esse é o fenômeno da transmídia. O que se pretende apontar é que vivemos numa época em que mídias diferentes, nascidas com propósitos diversos, são capazes de se conectar dinamizando de forma incrível o campo midiático. Pode-se dizer que a base que permitiu a existência de tais mídias diferentes foi a revolução tecnológica, ou seja, apesar de terem nascido em tempos diferentes e com propósitos diferentes, todas são oriundas da mesma matriz tecnológica.

Transpondo isso para o universo religioso, pode-se dizer que temos algo parecido acontecendo. O Pentecostalismo implantado no início do século XX no Brasil é a base religiosa que permitiu o nascimento de uma gama enorme de diferentes pentecostalismos e, no início do século XXI, verifica-se a coexistência das três ondas pentecostais no tempo e no espaço. As igrejas oriundas dessas ondas estão experimentando uma convivência em que as diferenças diluem-se e tornam-se muito tênues. As igrejas de primeira, segunda e terceira onda trocam experiências, práticas litúrgicas e doutrinárias, principalmente graças ao alcance do poder midiático; classificá-las, pois, como grupos estanques, é um equívoco. Como costuma dizer o antropólogo, Ronaldo Almeida, “a onda quebra em várias direções”. As ondas pentecostais misturaram-se e é impossível dizer, na atualidade, o que é exclusivo de cada uma. É necessário repensarmos um novo conceito para designar tal fenômeno.

Usando como referência o fenômeno da transmídia, pode-se dizer que temos no universo religioso pentecostal brasileiro, o fenômeno do transpentecostalismo, termo que já usei em 2008 em minha tese de doutorado.

O prefixo trans, em latim significa: “além, para além; de um lado a outro” (TORRINHA 1942:884). É daí que vem a ideia de trânsito, de algo que está em movimento constante, algo que está além, que vai para além da estaticidade. Quando comparo o prefixo Neo, com o prefixo Trans, vejo neste uma oportunidade muito maior de exprimir a atual situação do subcampo pentecostal brasileiro.

Existem várias situações na atualidade que justificam o uso do termo transpentecostalismo.

Como observado anteriormente, estamos em um momento no qual as igrejas das três ondas pentecostais no Brasil estão convivendo no tempo e no espaço. No ano de 2010, por ocasião da realização da Marcha para Jesus (organizada pela Igreja Renascer em Cristo e que conta com o apoio de inúmeras igrejas evangélicas no Brasil), foi possível observar um protesto interessante. O jornal “Folha de São Paulo” registrou esse protesto.

Com bandeiras e camisetas que diziam ‘Marcha pela ética evangélica brasileira. O $HOW tem que parar’, cerca de 20 pessoas realizaram um protesto contra lideranças evangélicas durante a Marcha para Jesus. O alvo dos manifestantes era a teologia da prosperidade, professada por algumas das principais lideranças evangélicas do país, dentre elas a Renascer em Cristo. ‘O que estamos vendo é a proclamação de um evangelho monetário. E a Bíblia não é um veículo de lucro, disse Paulo Siqueira, idealizador do protesto. Teólogo e membro da Igreja do Evangelho Quadrangular, ele afirma que a maior parte das igrejas evangélicas no Brasil virou capitalista’.[5]

Apesar do pequeno número de participantes, o episódio é sintomático na medida em que expõe essa convivência de vários grupos pentecostais em um mesmo tempo e espaço. Pode-se perceber, pela fala líder do grupo, que se autodenomina teólogo (título muito valorizado entre os protestantes históricos) e membro da Igreja do Evangelho Quadrangular (segunda onda), que há divergências sérias quanto aos aspectos doutrinários que embasam teologicamente a liderança do movimento conhecido como Marcha para Jesus, movimento nascido nos arraiais da terceira onda pentecostal brasileira, mas que, por sua vez, consegue congregar evangélicos de várias tendências, desde os protestantes históricos até aqueles pentecostais que não se enquadram em nenhum segmento de classificação, pois possuem uma prática cúltica com características pentecostais e uma doutrina que os aproxima do protestantismo histórico.

Essa situação de intercâmbios de papéis é marcante nosso tempo. Como classificar isso? Como enquadrá-la? O fato é que nenhum termo ou conceito marcado pela rigidez e situado historicamente pode nos ajudar a responder tais questionamentos. Um termo mais flexível e abrangente pode realizar tal tarefa. Por isso, optamos pelo uso do conceito transpentecostal em detrimento do conceito neopentecostal, em relação à terceira onda do Pentecostalismo brasileiro. Esperamos, com isso, contribuir para novas discussões sejam travadas entre os pesquisadores de religião no país e para que possamos avançar em termos análise sobre o Pentecostalismo.

Considerações Finais

O artigo que foi apresentado a pouco teve a finalidade de promover uma crítica a um conceito que é muito utilizado quando se trata de compreender o fenômeno pentecostal brasileiro. Sabendo que esse conceito já está cristalizado, tanto na academia quanto nas igrejas cristãs do campo religioso brasileiro, não tive a pretensão de simplesmente trocá-lo, mas de analisá-lo como um conceito importante num dado momento de análises do fenômeno religioso pentecostal no Brasil, mas que na atualidade, devido a algumas mudanças, e principalmente à convivência no tempo e no espaço das igrejas das três ondas pentecostais - que se fecundam mutuamente com práticas e ritos, que são apropriados e transformados dentro da instantaneidade que marca nossa época -, ele virou um conceito-obstáculo. O conceito neopentecostal é um obstáculo, pois engessa e enrijece as análises sobre o comportamento religioso na atualidade.

Como ainda não possuímos uma outra ferramenta para nos aproximarmos e classificarmos o subcampo pentecostal brasileiro, ainda nos valemos da metáfora das ondas marinhas, que ainda é válida e muito útil, quando se trata de analisar esse fenômeno; a crítica recaiu sobre a designação do conceito que define a terceira onda pentecostal brasileira.

Bibliografia

DURKHEIM, Émile. 1983. Coleção: Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural. 2ª Edição.

FLAMARION, Ciro. 2005. Um historiador fala de teoria e metodologia: ensaios. Bauru: EDUSC.

HOLANDA, Sérgio Buarque de. 1995. Raízes do Brasil. São Paulo: Ed. Companhia das Letras.

JUNIOR, William Massei. 2008. Os limites da razão em Luther e Schopenhauer. Campinas, UNICAMP. [Dissertação de Mestrado em Filosofia].

MARIANO, Ricardo. 1999. Neopentecostais: Sociologia do Novo Pentecostalismo do Brasil. São Paulo: Loyola.

MARTIN, David. 2005. On secularization: towards a revised general theory. Aldershot: Ashgate.

ROMANO, Roberto. 2001. O caldeirão de Medéia. São Paulo: Perspectiva.

SCHLEIERMACHER, Friedrich. 2000. Sobre a religião. São Paulo:Novo Século.

TORRINHA, Francisco. 1942. Dicionário Latino Português. Porto: Gráficas Reunidas.

Notas

[*] Gerson Leite de Moraes é doutor em Ciências da Religião pela PUCSP. Doutorando em Filosofia pela UNICAMP.

[1] http://www.cacp.org.br/iurd/artigo.aspx?lng, acesso 08/08/10.

[2] http://www.ongrace.com/NP/rr/lerResposta.php?id=4646

[3] http://www.cacp.org.br/iurd/artigo.aspx?lng, acesso 08/08/10.

[4] http://www.ongrace.com/NP/rr/lerResposta.php?id=4646, acesso 08/08/10.

[5] Folha de São Paulo, 04/06/2010, A10.