Diferentes olhares, diferentes pertenças: Teologia da Libertação e MRCC

Sílvia Regina Alves Fernandes[1] []
(Ao fr. Clodovis Boff, pelo diálogo amigo)

Introdução

O catolicismo, sobretudo no Brasil, caracteriza-se pela diversidade. Há consenso quanto ao fato de que se pode ser católico de muitos modos e as formas de pertença podem ser contextuais e flexíveis. Mas o uso do termo diversidade parece não ser problematizado pela literatura socio-antropológica, sendo usado para expressar tanto a diferença quanto a variedade.

Etimologicamente o termo expressa dois sentidos: 1) algo que estabelece diferença; 2) algo que estabelece divergência, oposição. Esta sutil diferença de significados expressa que tanto pode existir diversidade que afirma a diferença sem uma necessária oposição ao outro, quanto pode existir diversidade que opõe-se ao outro, divergindo.

Na linguagem de Bhabha (1998) há uma distinção crucial nos termos diversidade e diferença cultural. Enquanto o primeiro seria o reconhecimento da cultura enquanto objeto de conhecimento empírico ou uma "categoria da ética", o segundo - a diferença cultural - constitui-se como uma possibilidade de percepção da cultura como um processo de significação legítimo, capaz de produzir campos de força. Nesse caso, o outro será o agente ativo da articulação, não perdendo seu poder de estabelecer seu próprio discurso institucional e oposicional.

Nesta análise de Bhabha fica claro que a tradição antropológica e sociológica quando fala da diversidade cultural analisa o outro como objeto, como "horizonte exegético" produzindo um círculo fechado de interpretação. Numa adaptação da linguagem de Bhabha para as distinções feitas anteriormente, é possível pensar que, o que este autor chama de diferença cultural, pode ser traduzido no segundo significado do termo diversidade, ou seja, a possibilidade de se estabelecer oposição e divergência.

Mas será possível pensar que na esfera religiosa, o discurso sobre o outro pode moldar esse outro, emoldurando-o e significando-o apenas como objeto epistemológico? Atitude essa que pode pertencer não apenas a acadêmicos distantes do mundo religioso, mas também a intelectuais orgânicos e agentes eclesiais?

No mundo católico tornou-se lugar comum o discurso sobre a diferença. Para citar apenas um dos últimos pronunciamento, temos um texto Papal de 08/12/00 denominado: Diálogo entre as culturas para uma civilização do amor e da paz. Nesse texto, o respeito à diferença é bem enfatizado como sendo uma atitude valorizada pelos produtores do discurso religioso do catolicismo.

Paula Montero (2000) analisa que a diferença tornou-se um importante valor que vem norteando estratégias políticas de evangelização do catolicismo, sobretudo na América Latina. Temos visto aqui no Brasil, que há um discurso recorrente por parte dos organismos da igreja Católica sobre o diálogo, o respeito à diversidade, com ênfase no ecumenismo.

Neste texto, pretendo levantar algumas questões sobre o modo como intelectuais orgânicos e agentes eclesiais vêm operando o dilema da diferença. Não pretendo responder no espaço desse trabalho, inteiramente a essa questão e, tão pouco, abranger o catolicismo brasileiro em sua pluralidade. Minha preocupação é abordar a questão da diferença a partir do que chamo de tendências de inserção no catolicismo e/ou metodologias de evangelização, a saber: a Teologia da Libertação (TdL) e o Movimento de Renovação Carismática Católica (MRCC).

Nos últimos anos, tais modos de "ser Igreja" vêm provocando um intenso debate sobre suas diferentes estratégias e formas de inserção e suas práticas intra e extra-eclesiais. Há que se diferenciar a natureza tanto da TdL quanto do MRCC. A TdL é uma Teologia, construída cientificamente, com objetivos de transformação socioestrutural a partir da categoria o pobre ou o excluído partindo de suas questões e de sua cultura, possuindo assim um caráter intra e extra-eclesial que pretende questionar - a partir da religião - outras esferas da vida social como a política e a economia.

O MRCC constitui-se como um movimento intra-eclesial que, independente de seu caráter internacional, visa uma atuação que se consolida prioritariamente no âmbito paroquial. Toda a estratégia de ação e divulgação do MRCC visa a pertença institucional seguindo o ciclo: Paróquia/grupo de oração/ Conversão pessoal/ ação eclesial (pastorais evangelizadoras). Não entrarei aqui no debate sobre a legitimidade da ação de cada uma das tendências, no sentido de dizer se a opção pelos pobres se concretizou ou não a partir da Teologia da Libertação, ou se o MRCC constitui-se como uma estratégia de evangelização para minimizar a evasão de fiéis católicos para outras crenças, inclusive de tradição pentecostal.

Ambas as tendências não podem mais ser abordadas de maneira polarizada com o mesmo tom que se falava há pelo menos 10 anos. A impossibilidade de tal polarização é lembrada muitas vezes pelos próprios teólogos da libertação, por analistas sociais e, em outros momentos, por agentes ligados ao MRCC.

Mas o que mudou na forma de analisar a TdL e o MRCC? Que fatores podem estar provocando uma visão mais conciliadora e menos antagônica por parte dos analistas e agentes eclesiais no interno da igreja Católica? Por outro lado, há os que mantêm uma postura de oposição entre as duas tendências. Com que objetivos se demarca a oposição? Como questiona Montero (2000), "a quem interessa a diferença?"

Este tema é portanto, emergente não apenas no cenário político como também no religioso e neste último caso, na maneira como se constrói e se trabalha a diferença entre indivíduos de uma mesma instituição religiosa. Nota-se que, cada discurso vai sendo construído dialeticamente. A formulação teórica sobre a crença do outro e sobre o outro que crê não se apresenta de forma unívoca. Assim, não é possível considerar a TdL como um modo de ver a inserção no mundo e na Igreja que obedece a apenas um modelo determinante, ou com elementos constitutivos fechados; assim como não é possível analisar o MRCC sob um único olhar. Há que se buscar desvendar as contradições, as formas de consolidação e as questões que os sujeitos de cada tendência se colocam lançando a questão de como esses sujeitos percebem e tratam as diferenças.

Nota-se que existem sistemas de classificação diferenciados que constituem uma e outra tendência como uma série analógica que pode se representada no seguinte esquema:

TdL MRCC
Reino/Projeto Pertença institucional
Inculturação Evangelização
Transformação de estruturas sociais Conversão pessoal
Mística[2] Dogma

Estes são apenas alguns dos elementos que constituem cada tendência e que estarei tratando aqui como sistemas de classificação.

Meu objetivo principal é portanto, abordar ambas tendências sob a perspectiva da diferença cultural-religiosa, identificando os momentos em que as análises dos sujeitos pertencentes à cada uma, valorizam a diferença legitimando a ação e o modo de ser do outro ou produzindo uma retórica acerca da diferença que nega ao outro seu poder de significação, legitimando para deslegitimar.

Metodologia

Minha análise considerou a produção teórica de expoentes ligados à TdL através da Revista REB - Revista Eclesiástica Brasileira. Nesta revista não foi difícil encontrar um número expressivo de artigos que tratam da TdL e do MRCC, ora em perspectivas comparativas, ora tratando-se de aspectos de uma ou outra tendência isoladamente. A escolha da REB deve-se ao fato de que possui artigos produzidos por intelectuais orgânicos, em sua maioria, embora seja notável a posição de vantagem da TdL em termos do ator que fala. O MRCC será analisado a partir de notícias veiculadas na Internet, em sites católicos e no site oficial do movimento.

As diferentes perspectivas de análise se justificam pelo fato de que a produção do MRCC sobre a TdL é escassa[3], cabendo o questionamento sobre os fatores que conduzem a tal escassez. A própria natureza de cada tendência pode ser um deles. A TdL nasce de um processo de intensa reflexividade provocando o que Montero denomina de "reflexibilidade cultural" demandando reciprocidade na compreensão das culturas. No projeto da TdL, este seria um elemento fundamental gerando uma prática inculturada.

O MRCC nasce de uma experiência dos agentes religiosos com o sagrado. Nesse sentido não se constitui como fruto de uma teoria produzida reflexivamente. Embora seus expoentes fossem oriundos de camadas médias, não possuíam o status de intelectuais orgânicos tais como os formuladores da TdL.

As análises comparativas que priorizam o texto escrito sobre as duas tendências portanto, estarão sempre em desvantagem quanto à percepção da visão do MRCC sobre a TdL considerando que, para os agentes eclesiais ligados ao MRCC, a crítica ou divergência em relação à TdL não costuma ser expressa através de produção literal.

Na primeira parte desse texto, apresento os principais argumentos de teólogos e outros agentes mais identificados com a proposta da Teologia da Libertação, buscando desconstruir o discurso e situando a questão da diferença de maneira transversal entre os autores. Na segunda parte, a partir da análise de entrevistas e textos extraídos de sites da Internet, apresento onde aparece subliminarmente o tema da TdL na ótica do MRCC e de seus expoentes. A mesma técnica de desconstrução é utilizada na tentativa de perceber as representações e estratégias do MRCC no trato com a TdL.

1 - TdL - visões sobre o outro e implicações na prática religiosa

O teólogo Clodovis Boff, um dos principais nomes ligados à TdL no Brasil, em texto mais recente sobre o MRCC[4] traz uma visão conciliadora sobre o movimento afirmando haver certa convergência, na prática, entre as duas tendências. Os principais argumentos que indicam, na visão do autor, os méritos do MRCC estão relacionados no artigo em 12 itens que podem ser resumidos em dois pontos: 1) O MRCC oferece um reforço da espiritualidade católica e conversão pessoal; 2) O MRCC propicia um reforço institucional através de sua ênfase na pertença comunitária. Na visão de Clodovis o MRCC adequa-se à pós-modernidade porque "responde às demandas de sentido" e "sabe falar ao coração do homem pós-moderno".

Tais argumentos nos levariam a crer que de fato, a visão é conciliadora e oferece um esforço de diálogo com o outro a partir desse outro, sem querer reduzi-lo ao mesmo (Montero, 1997). Contudo, outros trechos do artigo poderiam levar-nos a conclusões bem diferentes sobre a visão do autor, como veremos abaixo.

Pode-se contudo, objetar que, se a RCC ainda não é libertadora,(grifo meu) nada há nos seus princípios que bloqueie essa opção
Portanto, se hoje a RCC não aparece ainda como libertadora, não é por questão de erro que precisa corrigir, mas de falhas que se devem preencher. (grifo meu)

Tais afirmações são apresentadas como limites do MRCC que são indicados através de três itens mais elaborados: Paralelismo eclesial; emocionalismo como fim; compromisso social . Diferente dos méritos indicados em 12 itens, os limites da MRCC para o autor não escapam das críticas mais consensuais acerca do movimento. No item em que trabalha a questão do compromisso social, por exemplo, afirma que a forma de inserção do MRCC não questiona as estruturas sociais. Pode-se perceber que esta crítica tem como referência a visão de mundo da TdL e é o ponto que coloca o MRCC em posição de maior vulnerabilidade na visão dos expoentes da Libertação. Por outro lado, diversos grupos ou movimentos ligados ao catolicismo não realizam tal questionamento das estruturas sociais e nem se percebem com esse fim, sem contudo, receberem críticas contundentes sobre suas formas de inserção na igreja ou suas práticas religiosas.

O uso da expressão "ainda não é libertadora" referindo-se ao MRCC revela que a conciliação proposta supõe que há um ideal de vivência religiosa prescrito através do sistema de classificação da TdL Reino/ Projeto. A adoção de tal sistema pelo outro deverá fazer com que ele incorpore alguns elementos essenciais em sua prática, que poderão descaracterizá-lo originalmente. Se nada impede que o MRCC adote uma postura mais libertadora, por que então ele não o faz? Na verdade, o que parece estar em jogo é o carisma original do MRCC que, ao que tudo indica, opõe-se à TdL no que se refere a seu modo de inserção. Fica claro que, o que Boff denomina de "falhas a preencher" pode ser para o MRCC pontos cruciais de sua identidade religiosa que ele quer manter e não mudar, por estarem relacionadas à sua visão de mundo. Veremos na segunda parte deste estudo que, a atitude adotada pelo movimento parece ser a de adaptações e não de reformulações de sua prática[5].

Mudar ou questionar as estruturas sociais é um elemento fundamental na concepção da TdL que possui todo um referencial marxista[6]. A proposição de que o MRCC adote esse modelo leva a crer que mais do que a valorização da diferença, há uma tentativa de cooptação do outro, de emolduramento, transformando-o em um dócil corpo da diferença (Bhabha, 1998:59). Para o MRCC, a pertença institucional é seu fim. A idéia de Reino de Deus que se faz na terra a partir da transformação socioestrututral - para citar a argumentação da TdL - não é vislumbrada. As estruturas mudarão se cada homem mudar, ou se converter a Jesus. Essa é a crença do MRCC e certamente por aí caminhará também sua prática religiosa. Beckhauser (1999)[7] analisa o MRCC a partir de considerações sobre a Liturgia. Seus argumentos são menos tolerantes e conciliadores do que os de Clodovis Boff. Nesse sentido ele demarca a diferença através de uma formulação teórica baseada na norma litúrgica universal. Alberto Beckhauser é frade e possui um cargo na CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) que delibera sobre Liturgia. Concentra-se mais na instituição e, suas críticas principais ao MRCC correspondem ao que denomina "cultura de sensações", elemento que pode ser analisado em oposição ao que Clodovis Boff analisa positivamente do MRCC ("sabe falar ao coração do homem pós-moderno).

Para Beckhauser a organização litúrgica feita pelo MRCC é inadequada havendo superficialidade na adaptação da linguagem simbólica da Liturgia à linguagem televisiva. O autor alerta ainda para o fato de que a Liturgia possui um caráter eclesial que supõe integração comunitária e não satisfação individual de sentimentos religiosos. Refere-se especialmente às celebrações promovidas por Padre Marcelo Rossi e outros padres ligados ao MRCC como Jonas Abib e Eduardo Dougherty. Para o autor, a crescente exposição midiática é um grave problema caracterizado pela busca de resultados imediatos como o aumento do número de fiéis e paróquias com mais recursos financeiros.

Percebe-se a preocupação com a manutenção da tradição litúrgica no texto de Beckhauser e suas críticas não propõem convergência e adaptação de diferenças, mas antes mantêm uma posição claramente contrária à proposta litúrgica do MRCC:

O que atrai realmente nestas Missas? As músicas, a expressão corporal, mais ginástica do que oração? A mera satisfação de sentimentos e emoções em nível puramente humano? A satisfação de sentimentos religiosos mais no plano da religião natural do que cristã? A simpatia pelo padre que celebra? Trata-se de uma celebração da Igreja ou é missa do Padre fulano?

Personalismo de sacerdotes e celebrações emotivas de massa são criticadas pelo frade que relata ainda as abordagens da mídia em geral sobre o que denomina "fenômenos religiosos". O texto não propõe diálogo, é demarcador de uma diferença que busca sua própria legitimação a princípio, baseada nas normas institucionais. Contudo, o autor argumenta que nas celebrações festivas e midiáticas não se percebe a "dimensão socio-transformadora da vida da Igreja". Percebe-se aqui, como no texto de Boff, uma preocupação de que o compromisso social seja pilar da prática religiosa do MRCC.

A exigência de que o MRCC trabalhe e inscreva em sua espiritualidade o compromisso social vem provocando algumas mudanças no discurso do Movimento, como veremos mais adiante. É importante notar porém, que o MRCC parece interpretar de maneira diferente da proposta da TdL, as noções de compromisso social e de transformação da realidade[8] e certamente sua prática será diferenciada na busca de tentar promover outras formas de compromisso social que não passe necessariamente pela transformação das estruturas.

Benedetti (1999)[9], padre e sociólogo, possui também uma visão bastante crítica dos novos padres ligados ao MRCC, como Marcelo Rossi. Sua análise tem como objeto os seminários como instituição total e a formação dos seminaristas. Não propõe conciliação entre tendências como Clodovis Boff. Critica o padre que não possui uma presença "real" no mundo, e cujo papel é reduzido apenas ao papel de homem ligado à Igreja. O autor vai criticar ainda a formação descompromissada dos novos padres: "nenhuma paixão pelo ecumenismo e justiça social".

Aspectos que constituem o cotidiano dos presbíteros na atualidade são elencados. Há problemas relacionados a questões subjetivas dos padres (angústia, insegurança, dificuldades na dimensão afetivo-sexual etc.) e relacionados ao exercício da função (perplexidade diante dos novos movimentos, excesso de trabalho, apego a cargos eclesiásticos). A rejeição de Benedetti sobre a busca de cargos eclesiais ou o que ele denomina de "clericalismo exagerado" expressa sua valorização dos conceitos e pressupostos presentes na formulação da TdL onde os padres são mais secularizados, com maior inserção na vida social e abolindo o uso de vestes que os diferencia socialmente. O autor parece almejar que os seminários formem padres mais "libertadores" e ao analisar a formação dos seminários critica alguns efeitos ou resultados desse tipo de formação que podem ser vistos na figura do padre Rossi:

Na mídia televisiva constróem sua imagem e, à sua sombra, editam livros, vídeos, discos, CDs, cassetes, camisetas. Aparecem como portadores de dons extraordinários, quase sempre de caráter mágico.

Tanto a magia quanto a utilização dos meios de comunicação não são nem de longe ideais ou pressupostos que norteiam a Teologia da Libertação já que ela sempre atuou numa perspectiva de crítica ao sistema social vigente e na implementação de um tipo de religiosidade que, embora valorizando a mística, não privilegia o caráter mágico da religião.

Sem querer reduzir o texto do autor à mera presença do antagonismo existente entre as duas tendências, retomo a questão central deste trabalho. Estes autores inserem-se na discussão sobre a diversidade católica constatando apenas a diferença ou opõem-se ao outro diferente? Até aonde se consegue fazer a crítica sem hierarquizar, sem deslegitimar a experiência diversa, sem desejar introduzir o caráter único da verdade[10]? Até aonde o que se tem feito não é simplesmente uma ordenação da diferença em uma cadeia homogênea? (Montero, 1997)

Luiz Alberto Souza (2000) analisando a situação atual das Cebs argumenta numa linha mais conciliadora com o MRCC e mais crítica quanto aos analistas sociais, mídia e agentes eclesiais ligados a TdL. Analisando a situação de pluralismo religioso atual e a relação entre comunidade e massa, o autor afirma:

Disputar hegemonia com outros movimentos ou ficar na defensiva diante deles, é cair na velha tentação da intolerância e da fórmula única. O crescimento do movimento carismático é sinal de uma enorme sede de sagrado que sacode o mundo moderno em crise.

Em outro momento do texto, porém, o autor expressa de maneira indireta o que considera problemático nas "mobilizações aeróbicas":

O seguimento de Jesus tem de levar a uma caridade ancorada no compromisso com os pobres e a justiça social e à criação de comunidades. A volta para um espiritualismo intimista seria uma regressão de todo um ganho das últimas décadas, no esforço de unir fé e vida concreta, construção do Reino e de um mundo mais justo e mais humano.

Nota-se aqui que há dois movimentos nas análises de expoentes da TdL sobre o MRCC. Um primeiro que, embora constatando a diferença entre as duas tendências e buscando o respeito à essa diferença, acaba por cair na formulação de um modelo ideal de vivência da fé questionando as formas de pertença do outro; um segundo que, não apenas constata a diferença como também a rejeita mais abertamente, mantendo os pressupostos da TdL. A temática "compromisso social" que o MRCC deve, na visão dos autores aqui analisados, assumir e incorporar em sua prática, perpassa transversalmente todos os argumentos, tanto os mais conciliadores quanto os mais críticos. Será que tal exigência que é um dos pilares do antagonismo entre MRCC e TdL vêm causando algum impacto junto ao MRCC, reorientando sua ação?

2 - MRCC frente a TdL - a negociação das diferenças

O estudo de Mariz e Machado (2000) com mulheres vinculadas às CEBs identificou no discurso dessas mulheres um tom de complementaridade entre as duas tendências (TdL e MRCC). Algumas das entrevistadas demonstraram certo grau de simpatia por algum aspecto do MRCC (espiritualidade, otimismo, alegria). Nesse sentido pode ser possível indicar que a complementaridade parece ocorrer mais nas bases do que entre os agentes eclesiais em lugares de liderança[11]. As autoras notaram entretanto, que para todas as entrevistadas, "os carismáticos eram sempre o outro, às vezes visto como complementar, mas muitas vezes como distante, ou concorrente, ameaça e algumas vezes quase inimigo".

Vimos que dentre as críticas que são realizadas ao MRCC, destaca-se a falta de compromisso social. Este discurso tanto é realizado por expoentes da TdL como pela mídia em geral[12]. Mas como se comportam algumas lideranças do MRCC diante de tais críticas?

Padre Zeca, pertencente à arquidiocese do Rio, conhecido pelos eventos na praia denominados "Deus é Dez", ao ser perguntado sobre o que pensa a respeito do apelo da CNBB a um maior compromisso social, especialmente dirigido aos padres cantores, responde:

No último evento que realizamos, no Deus é Dez, eu já tive essa preocupação e em alguns momentos falamos dos problemas sociais da nossa cidade, do Brasil. Neste ano, no "Deus é Dez", atinado para esse problema, vai ter uma música de cunho social[13]

Percebe-se que o social se transforma, na visão de expoentes do MRCC, em uma categoria genérica, com contornos ainda pouco definidos na prática religiosa de seus agentes. Possui portanto, um sentido diferenciado daquele que corresponde à outra tendência. Como afirma Padre Zeca, já há algumas providências sendo tomadas para que o social seja considerado em seus eventos: "Neste ano, vamos exibir videoclips em telões mostrando as iniciativas sociais da Arquidiocese do Rio de Janeiro". Mas adverte que há uma linha de prioridades na vivência da fé: "A reflexão social deve surgir no segundo momento, já que o apelo primeiro deve ser o encontro pessoal com Cristo".

Padre Zeca parece valorizar as diferenças entre os diversos cantores da fé e inclui em seu comentário, dentre outros, o cantor Zé Vicente ligado à TdL: "É bonito a gente ver a variedade. Cada um tem um estilo próprio". Nesta fala se percebe uma tentativa de conciliação por parte do padre, mas na medida em que ele hierarquiza as prioridades da vivência cristã a partir das categorias social e espiritual, manifesta sua opinião de forma implícita acerca do modo de pertença dos expoentes da TdL mais ajustados com as mudanças socioestruturais.

Perguntávamos no início desse texto se o apelo para que o MRCC tivesse maior compromisso social estaria provocando algum efeito concreto em suas práticas. Vejamos o posicionamento de Padre Marcelo Rossi, outro forte representante do MRCC[14]. Em 1998 em entrevista ao Noroeste News[15], padre Marcelo afirmara:

Quero frisar que não tenho nada contra a Teologia da Libertação, estudei nessa faculdade, mas sou contra todo tipo de radicalismo, falta de equilíbrio. Então foi um período em que ficou na parte social e esqueceram da parte espiritual.

A crítica se inverte logicamente daquela que percebemos entre os expoentes da TdL. Para aqueles, o problema do MRCC é o "espiritualismo exacerbado", "a cultura de sensações", a falta de compromisso social. Para o Padre Marcelo, o problema da TdL é o esquecimento da "parte espiritual".

Mais recentemente por ocasião de seu terceiro CD, uma notícia veiculada na Internet possui a seguinte chamada: "Padre Marcelo cansa do oba-oba e promete começar a agir" e informa que as "coreografias engraçadinhas devem ficar em segundo plano, dando lugar a denúncias polêmicas sobre a atual situação social e espiritual do país". Esta notícia é corroborada pelo padre Marcelo que afirma: "Esse trabalho tem mais conteúdo. Vou continuar com as coreografias, mas quero levar as pessoas a refletir também".

Percebe-se que de alguma forma o eco das críticas dos expoentes da TdL sobre o MRCC começam a ser avaliadas pelo Movimento. Observando outros agentes que não os padres carismáticos, pode-se perceber ainda outras iniciativas que parecem expressar um alinhamento do MRCC aos questionamentos e críticas que lhe são feitos.

D. Fernando Figueiredo, assessor eclesiástico do MRCC no estado de São Paulo apresenta uma cartilha elaborada por Reinaldo Beserra dos Reis, Coordenador Nacional da Renovação Carismática Católica, com o tema Fé e Política. A cartilha é dividida em cinco partes convocando os fiéis do MRCC à participação nas eleições e à promoção de ações concretas. Reinaldo Reis é responsável pela Secretaria Matias, órgão do MRCC que trata especificamente do tema Fé e Política. Uma das normas do Movimento quanto à participação política de seus membros em situação de coordenação é clara:

Caso o candidato ocupe algum cargo de coordenação na Renovação Carismática, deve se afastar durante o período da campanha eleitoral para evitar tensões e conflitos desnecessários[16].

Nota-se que há uma preocupação do Movimento em não misturar as esferas política e religiosa provocando uma situação ambígua quanto à percepção da política: ela parece ser importante para expandir a evangelização em outras esferas da vida social, mas não pode ser confundida ou trabalhada conjuntamente com a esfera religiosa[17]. O discurso sobre Política, agora mais elaborado pelo MRCC, pode estar se consolidando também numa tentativa de fugir às críticas mais convencionais que lhe são atribuídas. Por outro lado, alguns analistas crêem que o Movimento obrigou a Igreja a mudar de postura como é o caso do Cardeal D. Eugênio que apoia o MRCC[18].

D. Amaury Castanho, bispo de Jundiaí-SP, demonstrou expressiva simpatia pela atuação do MRCC afirmando que: "não é nosso papel lutar por salários mais justos, moradias e água. Os partidos e sindicatos que assumam suas responsabilidades. Nos interessamos por isso , mas essa não é nossa prioridade. Passemos alegria e não tristeza"[19].

No material analisado para esse estudo, não faltaram menções sobre novos rumos ou estratégias que o MRCC vem adotando em sua prática eclesial. Abertura de novas secretarias enfatizando questões antes não priorizadas pelo Movimento, mudanças no teor das canções religiosas, uso de expressões semelhantes ao discurso da TdL como "unir fé e Vida"[20], criação de Cooperativas de geração de renda etc. Mas essas mudanças ou adequações do Movimento estariam nascendo por uma iniciativa própria de seus agentes? Seriam fruto de uma reflexão acerca de sua prática religiosa ou estariam tentando responder aos críticos mais contundentes, fortalecendo sua pertença institucional?

Como pudemos observar, as lideranças do MRCC não parecem tão convencidas quanto a um redirecionamento do Movimento. O outro na visão dos membros dessa tendência seria o diferente cabendo a oposição, ou simplesmente o diverso, cabendo a conciliação? Incorporar as temáticas do outro representaria sinal de obediência institucional para o MRCC ou mais do que isso, o Movimento estaria passando por reformulações de suas práticas?

Em recente encontro com a CNBB realizado no mês de Agosto de 2000 - onde estiveram presentes representantes da coordenação nacional da RCC, assessores do setor de Leigos da CNBB e uma Comissão Episcopal - foram lançadas algumas questões para a discussão em grupo. Dentre elas destaca-se: O que favorece e dificulta o relacionamento da RCC com as pastorais, particularmente as pastorais sociais? E entre os desejos expressos pelos participantes foi mencionada a necessidade de que se instaure "um espaço de diálogo entre a coordenação da RCC e assessores das CEBs". O documento é finalizado afirmando que no encontro "tudo transcorreu em harmonia" e houve um "esforço sincero de aproximação e conhecimento" citando os momentos de oração e a "prática do diálogo fraterno, que não é fácil entre diferentes".

É preciso deixar claro que há ainda muita tensão na relação TdL e MRCC. Tensão que embora aparentemente esteja mais presente junto às lideranças, como indica Clodovis, ocorre também na vivência comunitária[21], expressando que as diferenças estão aí e não precisam ser negadas, apenas negociadas. Até onde a negociação dessas diferenças permitirá ao MRCC manter sua identidade fundadora? Sua identidade religiosa estando em tal nível de exposição graças à ação dos padres-cantores, lhe permitirá ainda o poder de significar por si só, ou estará presa nas garras das alianças que estabelece?

A adaptação dos sistemas de classificação[22] da TdL para os do MRCC e vice-versa faz parte das estratégias de sobrevivência das duas tendências[23]?

São questões para maior aprofundamento. Vimos que, em tempos de diversidade, torna-se necessário analisar mais detalhadamente o discurso dos atores sociais envolvidos com o tema trazido no espaço deste trabalho. É necessário também identificar de onde parte a formulação teórica sobre o outro para que ele possa ser ele mesmo, adotando sua visão de mundo sem ser cooptado por um discurso homogeneizador de vivência da fé na mesma instituição Católica.

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Lista de textos e Notícias da Internet:

Notas

[1] Socióloga, Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UERJ, membro da Associação de Cientistas Sociais do Mercosul, colaboradora no CERIS (Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais).

[2] Embora na literatura atual se atribua aos novos movimentos religiosos a vivência de uma espiritualidade mística (Steil, 1998), vale lembrar que já na década de 80, momento de efervescência das Comunidades Eclesiais de Base, os teólogos da Libertação Leonardo e Clodovis Boff asseguravam que a Mística estava nas raízes da TdL. Em um texto deste período, indicam que uma das tentações que a TdL poderia passar seria o "descuido das raízes místicas, donde brota todo verdadeiro compromisso pela libertação, supervalorizando a ação política. É na oração, na contemplação, no trato comunitário e íntimo com Deus que se renovam as motivações que fazem nascer da fé o empenho pelos oprimidos e por todos os homens". Ver Boff L. & Boff, C. (1985) Como fazer Teologia da Libertação. Petrópolis, RJ: Vozes

[3] Não encontrei para esse trabalho sequer uma publicação do MRCC que faça uma análise ou tenha algum posicionamento sobre a TdL. Foram pesquisados 10 sites ligados à Renovação Carismática, que por sinal são bastante numerosos (mais de cem endereços sem considerar as Paróquias com orientação Carismática), notícias da agência católica de notícias Catolicanet, entrevistas dos Padres Zeca e Marcelo Rossi e o site oficial do movimento (www.rccbrasil.org.br). Ao todo, utilizei para esse trabalho 4 artigos da Revista Eclesiástica Brasileira e 18 textos com informações sobre o MRCC.

[4] Boff Clodovis (2000) "Carismáticos e Libertadores na Igreja" REB 237. Petrópolis, RJ: Vozes

[5] Pude dialogar diretamente com fr. Clodovis no momento de produção deste texto, o que contribuiu para enriquecer esse debate, principalmente quando ele afirma que alguns elementos da fé cristã são "inegociáveis", entre eles, a opção pelos pobres. O que eu gostaria de enfatizar é que para o MRCC, o Evangelho está sendo vivido, ao seu modo e talvez, quem sabe, até mesmo a opção pelos pobres, com seus programas assistenciais. Então, como medir a concretização das "exigências de fundo da mesma fé?", para usar uma expressão de Clodovis. A preocupação é legítima no campo da Teologia, mas para a Sociologia, importa o modo como cada sujeito social irá interpretar essa mesma "mensagem fundadora" e que efeitos sociais produzirá esse determinado modo de interpretá-la. Penso que, talvez para o MRCC, sua experiência e prática religiosa estejam em consonância com o Evangelho, ou com a libertação e nesse sentido, talvez já se sintam "libertadores". Por outro lado, discutirei mais adiante algumas implicações dos efeitos que o discurso de expoentes da TdL pode estar produzindo no MRCC.

[6] Nessa mesma conversa, fr. Clodovis me chama a atenção para o fato de que no "atual nível de consciência eclesial", a mudança de estruturas sociais não é mais "matéria opinável", no sentido de que já é consenso entre os católicos. Penso que, embora para a Doutrina Social da Igreja essa seja uma exigência e uma recomendação normativa, o consenso a esse respeito entre os fiéis católicos ainda está longe de existir.

[7] Beckhauser, Alberto (1999) "Análise de certos fenômenos 'religiosos' à luz da Sagrada Escritura". REB 235, Petrópolis, RJ: Vozes

[8] Mariz e Machado (1998) chamam a atenção para o fato de que grupos carismáticos e pentecostais buscam transformar a realidade através de uma mudança de vida individual e ainda desenvolvendo estratégia de atuação no espaço público através do uso da mídia e trabalhos no campo da assistência social.

[9] Benedetti, L. R. (1999) "O 'novo clero': arcaico ou moderno? REB 233. Petrópolis, RJ: Vozes.

[10] Expressão do capítulo I do texto de Gellner, Ernest (1997).

[11] O texto de Clodovis, já citado, também indica essa possibilidade: "O que ocorre, no concreto da vida, é que as contraposições não se situam tanto no nível da base, mas no dos agentes. Em geral, as bases navegam com certa naturalidade entre uma e outra corrente, tirando proveito de ambas".

[12] Para conferir apenas algumas citações abordagens midiáticas que trabalham a oposição entre espiritual e social referindo-se a TdL e MRCC, ver: O Globo 3/11/1999; Folha de São Paulo, 17/10/99; 06/02/00; Notícias catolicanet 07/11/99 (www.catolicanet.com.br)

[13] Jornal de Opinião - 19 a 25/06/2000 - Semanário da Arquidiocese de Belo Horizonte.

[14] É importante lembrar que tanto o padre Zeca como o padre Marcelo Rossi não querem ser identificados como carismáticos, porque crêem que este rótulo reduz seu pertencimento à Igreja ao pertencimento a um Movimento. Contudo, não há como negar que em ambos a espiritualidade que propagam e o discurso que incorporam são inteiramente alinhados com o MRCC. Eu faria uma pequena distinção entre os dois no sentido de que o Padre Zeca possui um discurso mais elaborado certamente devido à sua maior formação acadêmica já que está cursando o Doutoramento na PUC/RJ.

[15] Não foi possível saber a procedência deste jornal já que a notícia foi veiculada pela catolicanet. Essa entrevista pode ser encontrada no endereço www.catolicanet.com/padremarcelo/entre8.htm.

[16] Essas informações podem ser encontradas no seguinte endereço: www.rccbrasil.org.br/sec_matias.html

[17] Neste caso, parece confirmar-se pensamento Weberiano no que se refere à relação entre Religião e Política. Na medida em que a ação racional como a política está inevitavelmente ligada às condições mundanas, coloca-se de alguma forma em tensão com a ética da fraternidade, já que as organizações institucionais de salvação sentem-se responsáveis diante de Deus pela salvação de todos (Weber, M. "Rejeições Religiosas do mundo e suas direções". Ensaios de Sociologia. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara,1982). Uma situação de tensão parece ser mais aguda onde a prática religiosa é menos secularizada, daí a advertência sobre o posicionamento do membro do MRCC junto à Comunidade em caso de ingresso na vida política.

[18] Ricardo Mariano em entrevista à Folha de São Paulo em 17/10/99 afirma que "os padres não tem como fechar as portas para eles (os carismáticos) e a cúpula da igreja Católica foi obrigada a mudar de postura".

[19] Notícia extraída do site www.deusvivo.com.br com referência de fonte da Folha de São Paulo, 17/10/99.

[20] Marizete Martins, coordenadora nacional da Secretaria de Ação Social do MRCC justifica a ação social implementada pela necessidade de "unir fé e vida".(Catolicanet 10/11/2000)

[21] Em Setembro de 2000 pude assessorar um encontro com membros da TdL acerca do MRCC e foi visível não apenas perplexidade diante do crescimento do MRCC, mas a preocupação com a relação comunitária.

[22] Padre Zeca usa atualmente o termo "inculturação da fé" ao referir-se ao seu trabalho com os jovens. Vale lembrar que o termo inculturação faz parte da tradição missiológica da Igreja com forte apoio de teólogos e estudiosos da TdL, sendo usado pela primeira vez em 1979 no documento intitulado Catechesi Tradendae.

[23] Não descarto que para ambas o que está em jogo é a vivência do Evangelho, princípio que deve nortear, segundo a crença cristã, o posicionamento do cristão frente ao mundo. Entretanto, o que procuro analisar é que a exigência de garantir a verdade da fé, ou sua essência, leva a formas diferentes de atuação no mundo, fato que Weber já chamava a atenção em seus estudos. Nesse caso, portanto, não entro na questão de identificar o nível de consciência dos sujeitos de ambas as tendências a respeito das estratégias discursivas adotadas.