Editorial - REVER número setembro, ano 7, 2007

Filosofia da Religião

Afinal, o que é a filosofia da religião? Sendo uma das disciplinas que compõem o espectro disciplinar das ciências da religião, a filosofia da religião é plural no que se refere aos seus objetos de trabalho. Isso, ao mesmo tempo em que se mantém fiel à sua natureza de desenvolver um diálogo erudito e conceitual sofisticado entre as grandes tradições religiosas constituídas e as demais áreas do conhecimento e da experiência humana, entre elas a própria filosofia, a epistemologia, a história, a (pós) modernidade e as várias formas de ciências constituídas e seus conteúdos. Este número traz um menu marcado pela diversidade temática, visando mostrar o amplo espectro de possibilidades da reflexão em filosofia da religião.

Connor Cunningham, filósofo, professor da Universidade de Nottingham, Inglaterra, discute com o darwinismo, buscando revelar a grande dose de wishful thinking que está por detrás do pretenso óbvio caráter científico dos teóricos darwinistas mais recentes. A intenção de Cunningham é mostrar o niilismo reducionista-materialista presente nessa pretensa cientificidade. Ágata Bielik-Robson, filósofa, professora da Universidade de Varsóvia, Polônia, volta ao tema da morte de Deus em Nietzsche, agora vista pelos olhos do filósofo judeu Franz Rosenzweig e do historiador da mística judaica Gershom Scholem, a fim de, nesse confronto, revelar a relação latente e determinante entre esse niilismo da morte de Deus e um modo da experiência messiânica judaica e cristã.

Scott Randal Paine, filósofo e teólogo, professor da Universidade de Brasília, faz uma filosofia das religiões que visa enfrentar os desafios postos pelo material colhido pelas ciências da religião nas últimas décadas, especificamente partindo das religiões orientais. Paine entende que se faz necessário estabelecer uma filosofia comparativa das religiões a fim de ampliar a reflexão conceitual em ambas as áreas, filosófica e científica. Gabriele Cornelli, filósofo, professor da Universidade de Brasília, apresenta um panorama da filosofia grega no qual uma “religião filosófica underground” vem á tona na relação entre Platão, o orfismo, o pitagorismo: do Hades à caverna de Platão. O objetivo de Cornelli é mapear quais as possibilidades de um “Ocidente subterrâneo” e determinar como este Ocidente estaria presente nas tradições filosóficas e religiosas que moldam nosso pensamento. Eduardo Gross, filósofo e teólogo, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora, traz a contribuição de uma das áreas mais clássicas das ciências humanas, a hermenêutica, e sua vocação para relacionar verdade e método, especificamente a “verdade da existência de Deus” e seus métodos.

E por último, Otávio Velho, antropólogo, professor no Museu Nacional do Rio de Janeiro, na seção intercâmbio, faz uma reflexão epistemológica a partir de “seus dois Gregórios”, na qual associa a obra do antropólogo Gregory Bateson à teologia apofática do teólogo e filósofo bizantino do séc. XIV Gregório Palamas. Visa, com isso, realizar um debate onde teologia (o Cristianismo ortodoxo) e epistemologia possam contribuir em níveis iguais de consistência conceitual.


Boa leitura!

Luiz Felipe Pondé