Um tema instigante na pesquisa contemporânea em estudos da religião nos diferentes continentes é a relação religião-mídia. Afinal, vivemos o século XXI, a era da comunicação, a “Idade Mídia”, como preferem alguns, e a religião é forte elemento nesta conjuntura global.[1]
Abordar o tema, particularmente com relação à maior das religiões, o Cristianismo, não é falar de um elemento novo. As igrejas, em geral, nunca rejeitaram os meios de comunicação social. Desde o advento da imprensa, no século XV, com Gutemberg, passando pela era dos elétrico-eletrônicos – rádio, cinema, TV, informática – há uma busca de integração da mensagem religiosa à dinâmica desses meios.
Com uma compreensão do lugar e papel da mídia baseada no referencial aristotélico e funcionalista, que entendia o processo da comunicação como um movimento de convencimento do outro, as igrejas centraram sua prática na concepção do meio como veículo de convencimento. Ou seja, o objetivo de sua ação como igrejas (missão) deveria ser convencer pessoas a optarem pelo Evangelho, e conseqüentemente pela adesão a um determinado segmento cristão, o que geraria um efeito-chave: o crescimento do Cristianismo. Os meios de comunicação social tornariam, portanto, esta tarefa mais fácil. Ao lado disso, a perspectiva da visibilidade/publicidade também passa a motivar a aproximação igrejas-mídia eletrônica.
Tal relação se configura de diversas formas ao longo da história até chegarmos ao século XXI, a era da comunicação social, alimentada pelo processo de construção de uma “cultura midiática” facilitada pela dinâmica da globalização/mundialização e tornada possível pelos próprios meios eletrônicos.
Como entender a relação mídia x religião, especificamente no campo religioso brasileiro, em que a presença midiática das igrejas constitui uma curva ascendente? A presente edição de REVER procura responder esta questão. Para tanto, em seu bloco temático traz artigos de cinco estudiosos que têm dedicado boa parte de suas pesquisas e reflexões ao tema. As abordagens são diversas e bastante ricas: os discursos cristãos contemporâneos veiculados pela mídia religiosa; os “acertos e desacertos” dos evangélicos na mídia; a presença midiática católico-romana; a dimensão da fé como entretenimento presente na programação religiosa de rádio e TV; e relação com a mídia de um grupo do qual pouco se fala/estuda – os adventistas do Sétimo Dia.
Com mencionado no início deste editorial, o tema é instigante. Vale ressaltar, também, que é um objeto que tem ampla abertura para diálogos inter e transdisciplinares - afinal, o fenômeno está em curso: as mídias são elementos em permanente transformação, assim como a dinâmica das religiões. Leitores e leitoras deste conjunto de artigos são, portanto, convidados a entrar já neste rico e propício diálogo. Bem-vindos!
Magali do Nascimento Cunha, editora convidada.
[1] Ver Hoover, Stewart. Religion in the media age. New York: Routledge, 2006.