O artigo faz parte dos resultados de uma pesquisa sobre contribuições das grandes religiões do mundo para uma conduta ética no mundo de hoje. Apresenta aspectos fundamentais de um dos grandes documentos éticos da humanidade, que é o Bhagavad-Gita do Sanâtana-Dharma (Hinduísmo). A sua leitura requereu uma breve contextualização, tanto histórica quanto do próprio corpus de textos sagrados da tradição hinduísta. A abordagem adotada na pesquisa obedece a três perspectivas: a) a dimensão do cuidado e disciplina pessoal; b) a dimensão dos ordenamentos institucionais; c) a dimensão da responsabilidade histórica. O texto fica, em suas conclusões, em aberto e propõe-se a ajudar na recuperação de tesouros do passado, fundamentais para o presente e para o futuro da humanidade.
Palavra-chave: Hinduísmo; Bhagavad-Gita; Ética; Religião
This article contains a part of the results of a research about the contribution of the Great Religions to an ethical conduct in the present world. It presents fundamental aspects of one of humanity's greatest ethical documents, which is The Baghavad-Gita, in Sanâtana-Dharma (Hinduism). It's reading has requested a brief contextualization both historical, as well as about the very corpus of sacred texts of Hinduist tradition. The approach adopted by the authors concerns three perspectives: a) the dimension of personal care and discipline; b) the dimension of institutional regulations; c) the dimension of historic responsibility. The text, in its conclusions, remains open, with the intention of being an aid for the recuperation of historic treasures, fundamental for the present and the future of humanity.
Key words: Hinduism; Baghavad-Gita; Ethics; Religion
O Ganges dos direitos nasce no Himalaia dos deveres!
(Mahatma Gandhi)
Que contribuições trazem as tradições religiosas para a orientação ética nas sociedades contemporâneas? A pergunta é polêmica e poderia conduzir-nos a um debate infindável e inócuo. No entanto, tentativas de resposta, apesar de incompletas, podem ser sinalizações úteis e mesmo questionamentos eloqüentes para os modos de ser e viver em sociedade no mundo de hoje. É, sem dúvida, um sempre oportuno reencontro com tesouros da história humana, às vezes demasiadamente esquecidos.
O presente artigo pretende trazer um recorte específico dos materiais colhidos na pesquisa sobre contribuições das grandes religiões do mundo para uma ética e orientação das políticas sociais no mundo de hoje.[1] Apresentamos basicamente uma leitura de passagens do Bhagavad-Gita do Hinduísmo,[2] com o viés da atenção voltada para suas possíveis contribuições éticas para o mundo de hoje. Trata-se, portanto, de um recorte específico, num estudo sobre uma tradição oriental, ou um conjunto de tradições orientais, que é o Hinduísmo. A leitura exigiu uma ampla contextualização, tanto histórica quanto do próprio corpus de textos sagrados da tradição em questão. Recorremos também a publicações de experts ligados ou não ao Hinduísmo e a depoimentos esclarecedores de líderes contemporâneos nele atuantes.
Como nos demais textos e materiais analisados na pesquisa, o nosso argumento central, neste artigo, está atento a três perspectivas: (1) a perspectiva da disciplina pessoal, do cuidado pessoal e das relações interpessoais; (2) a perspectiva da importância dos ordenamentos institucionais: a família, a religião e outros ordenamentos com suas normas de conduta, suas hierarquias de poder e suas relações interinstitucionais; (3) a perspectiva do compromisso histórico, como responsabilidade no grande ordenamento da sociedade e da natureza, a superação das desigualdades sociais e a utilização da natureza, da ciência e da tecnologia.
A nossa intenção é a de convidar os leitores e leitoras a uma reflexão sobre contribuições dessa tradição que possam ajudar a jogar novas luzes sobre os grandes desafios que a humanidade hoje enfrenta. Apesar de não entrarmos nos aspectos relativos aos limites e inconseqüências presentes na Índia, os desafios de que falamos também são inerentes, em muitos aspectos, da própria sociedade indiana.
Os seguidores do Hinduísmo percebem-se dentro de uma norma perene da existência. O termo hinduísmo é uma criação dos ingleses em 1830, e cujo domínio é muito mais amplo do que aquele que, no Ocidente, conhecemos por religião. O verdadeiro nome do Hinduísmo é Sanâtana-Dharma, significando uma norma perene de existência, a que sempre foi reconhecida. É uma tradição que é o próprio fundamento das coisas e não tem, portanto, um fundador. Existe uma espécie de policefalia nessa tradição, e a mente hindu mobiliza-se mais por uma ortopraxia do que por uma ortodoxia. Segundo Jan Gonda, “o Hinduísmo é o que os hinduístas fazem”.[3] Segundo Swami Krishnapriyananda Saraswati (Swami K.S.), o Sanâtana-Dharma “possui uma origem que se oculta nas noites dos tempos”. Segundo esse líder religioso, essa tradição remonta ao período pré-histórico e, ao longo dos milênios, se amolda e se adapta às novas situações.[4]
Mesmo que se deva ter presente a origem que se oculta na noite dos tempos pré-históricos, os estudos que se conhecem situam, em geral, o período que inicia em 1.500 (a.n.e.) (essa sigla de datação significa “anterior à nossa era”? ela não é muito comum; poderia ser explicada em uma nota) como marco histórico de início da constituição do Hinduísmo. Trata-se do período védico, caracterizado pela invasão dos povos arianos, que, aos poucos, se instalam nas principais regiões da Índia, provocando um grande sincretismo entre a cultura nômade recém-chegada (ariana) e a cultura já estabelecida, a cultura dravídica, sustentada por agricultores, criadores e moradores de aldeias ao longo do rio Indo.
Ao falar no contexto que gerou e cultiva, de modo especial, o Hinduísmo, não podemos deixar de produzir uma pequena nota sobre a questão das castas na Índia. Segundo Burkhardt Sherer,[5] o Hinduísmo é, antes de tudo, uma religião do povo, ou seja, é uma religião que faz parte da cultura e é herdada por nascimento (como indiano). Assim, a religião também está intimamente relacionada com as posições sociais (classes e castas) nas quais os indivíduos nascem, vivem e morrem. As posições sociais herdadas fazem parte do Karma dos indivíduos, isto é, dizem respeito a um resultado de ações anteriores. Este Karma, ou lugar fixado, em geral não é experimentado como injusto do ponto de vista social. Lembramos aqui a nota sintética com que este autor nos brinda em sua descrição das castas e classes na Índia:
As mais de 2.000 castas e 20.000 subcastas dividem-se em quatro classes: os brâmanes (sacerdotes), a nobreza ou “estado guerreiro” (kshatriya), os “provedores”, isto é, os camponeses e artesãos (vaishyas) livres, e os servidores (shudras). Os três estados superiores são considerados como “nascidos duas vezes”. Cada casta acarreta consigo seus próprios deveres religiosos e sociais. Abaixo da classe dos servidores, estão ainda os párias, isto é, os intocáveis, assim chamados porque apenas um rápido contato com eles torna ritualmente impuro o membro de classes mais elevadas. Também os não-indianos são considerados intocáveis.[6]
Todas as reflexões sobre a Índia e sobre o Hinduísmo devem ter presente esta realidade, que é referência congênita e também motivo de muitas interrogações, sobretudo para os desavisados que não conseguem mergulhar efetivamente nas profundezas dessa cultura.
Quanto aos textos sagrados, temos, inicialmente, o corpus Sruti (revelação; o que é ouvido da divindade). Nesse corpus destaca-se o Rig-veda, um texto ariano que relata as batalhas com os povos locais os quais resistiam ao avanço dos invasores. Essas batalhas desenrolaram-se até depois do ano 1000 (a.n.e.). Já o Sama-veda, o Yajur-veda e o Atharva-veda narram o período da fusão cultural. Estes quatro textos constituem os Vedas (ou saber, conhecimento), escritura sagrada mais antiga do Hinduísmo. Cada um dos textos que compõem os Vedas contém explicações, ensinamentos e fórmulas mágicas. A rigor, os Vedas são considerados textos revelados, originados diretamente do Absoluto (Brahma) no começo do mundo e captados por sábios que os teriam transmitido oralmente de geração em geração e, depois, compilados em forma escrita. Trata-se de uma imensa literatura que procura dar conta das concepções religiosas dos primeiros conquistadores arianos do subcontinente indiano e também das concepções religiosas elaboradas no próprio solo da planície do rio Indo, um pouco depois das conquistas arianas.[7]
Depois dos Vedas, um segundo conjunto de textos deve ser destacado, originado das inovações religiosas, provocadas pelas profundas transformações ocorridas, sobretudo, no período de 800 a 600 (a.n.e.).[8] Este período, na verdade, apresenta-se como um amálgama de tradições. Nele, os brâmanes fundam (ou remanejam) a sua proeminência e combatem o antropomorfismo ingênuo dos antigos arianos, desvalorizando Indra e todos os deuses-heróis dos hinos védicos e criando um deus supremo, Brahma, que preside os seus sacrifícios. Dois deuses suscitam entusiasmo, especialmente entre as camadas populares: Xiva e Vixnu (este último tendo como um de seus avatares ou reveladores o herói Krishna), o que geraria duas importantes vertentes do Hinduísmo: o Xivaísmo e o Vixnuísmo. Todo o contexto dessas transformações levou à formulação dos Upanixades, que são, a rigor, comentários aos Vedas. Segundo Heinrich Zimmer (2003), o conjunto de textos que compõe os Upanixades
(...) revela uma gradual intensificação na importância dada ao problema da redescoberta e assimilação do Eu. Os diálogos filosóficos dos Upanixades indicam que, durante o oitavo século (a.n.e.), houve uma mudança de orientação dos valores, deslocando o foco de atenção do universo exterior e limites tangíveis do corpo para o universo interior e intangível, levando às suas últimas conclusões lógicas as perigosas implicações desta nova direção. (...) os reis dos deuses, Indra e Varuna (...) já não recebiam suas cotas de preces e sacrifícios. Ao invés de direcionar a mente a estes simbólicos guardiães e modelos da ordem natural, sustentando-os e mantendo-os vigentes por uma contínua seqüência de ritos e meditações, o Homem voltava sua atenção para o íntimo, esforçando-se por conseguir manter-se num estado de crescente autoconsciência pela reflexão profunda, pela auto-análise, pelo controle respiratório e pelas severas disciplinas psicológicas da Ioga.[9]
As novas orientações espirituais e religiosas, que se afirmam no período, devem ser entendidas, no entanto, num contexto mais amplo. Segundo Karen Armstrong (2001), as pessoas não mais se satisfaziam com uma religião que se concentrava em aspectos externos e esse não era um fenômeno exclusivamente indiano, já que, no período 800 a 200 (a.n.e.), também conhecido como Era Axial, nas diferentes regiões do mundo desenvolveram-se espiritualidades preocupadas com a consciência individual, refletindo as novas condições econômicas e sociais, nas quais se acentuavam as desigualdades e a exploração. Assim o Hinduísmo e o Budismo na Índia devem ser vistos ao lado do Taoísmo e do Confucionismo na China, do Racionalismo filosófico na Europa e das diferentes versões de Monoteísmo, que se afirmavam no Oriente Médio.[10]
Uma vertente que se revelou muito próspera, no contexto em questão, e que já foi referida acima, é a Ioga e a livre especulação metafísica e religiosa (características da religiosidade autóctone), que, nos séculos VI e V (a.n.e.), dariam nascimento a duas novas religiões: o Jainismo e o Budismo.
Os brâmanes, que constituíam a classe mais privilegiada da estrutura social indiana, intuindo o abalo que as novas circunstâncias - especialmente o crescimento budista e jainista - trariam ao seu poder ideológico, passam a defender a sua posição, apoiando-se nos cultos populares por meio de uma aproximação sincrética. O Hinduísmo que conhecemos hoje continua sendo o fruto desse amplo processo, repleto de ricos sincretismos.
Além dos Vedas e dos Upanixades, que aparecem, em geral, agrupados no corpus Sruti, um outro corpo de textos sagrados, é de fundamental importância, para o entendimento do processo histórico-religioso do Hinduísmo. Trata-se do corpus Smriti (tradição confiada à memória) com diversos conjuntos, compilados já na nossa era, que recolhem uma grande multiplicidade de textos, alguns dos quais relativamente antigos, podendo ser reportados até o ano 300 (a.n.e.).[11] Esses textos são também considerados textos revelados (como memória da tradição), porém, à diferença dos Vedas e dos Upanixades, que eram considerados como emanados do absoluto e seus comentários, nesses se apresentam discursos circunstanciados, como narrativas épicas, emitidos por algumas figuras divinas determinadas, tais como Xiva, Vixnu (ou seus avatares), escritos populares e reflexões teológicas e filosóficas. Destacam-se duas grandes epopéias: o Ramayana e o Mahabharata. Enquanto os Vedas e os Upanixades estão centrados em aspectos rituais, os textos posteriores (todo o corpus Smriti) são dominados, por um lado, pela idéia de Dharma (ou ordem universal) e, por outro, pelo ensinamento dos caminhos para a salvação, que se abrem ao Homem mediante sua participação ativa na manutenção desse Dharma. Vê-se uma clara evolução da religião essencialmente ritual para uma religião que envolve um comprometimento moral pessoal, mais evidenciado.
Os períodos de surgimento dos textos que são, em geral, demarcados pelos autores, não nos devem levar a uma leitura equivocada ou linear da história. É preciso destacar que o Hinduísmo é, em primeiro lugar, a história e a cultura da Índia, na permanente atualização dos cinco milênios que se sucederam, incluindo a Índia pré-ariana. O Hinduísmo, marcado pelo sentido indiano de história, continua muito vivo e dinâmico naquilo que os hindus fazem. Segundo Swami Sivananda, “o Hinduísmo é a religião dos hindus. Ela é a mais antiga das religiões. (...) Ele irá existir enquanto o mundo sobreviver. Há uma peculiar e misteriosa força espiritual que está impregnada no coração de cada hindu.”[12] Existe uma leve sugestão em alguns dos pensamentos acima, de que os indianos, antes da adesão a qualquer outra religião, permanecem, sobretudo, hindus, porque o Hinduísmo é muito mais do que uma tradição religiosa. Ou, olhando de outra forma: o Hinduísmo seria, na verdade, a religião indiana...
Como já referimos, no corpus Smriti se destacam duas grandes epopéias da Índia: o Ramayana e o Mahabharata. Este corpus escriturístico compõe-se de literatura que evidencia o Dharma e os seus problemas, por meio de uma grande diversidade de situações humanas. O Bhagavad-Gita (ou Canto dos Bem-Aventurados) é uma parte importante do Mahabharata, ocupando um lugar todo especial na literatura sagrada da Índia, compilada, sobretudo, a partir do séc. I de nossa era. O Bhagavad-Gita, cujas origens, a rigor, remontam ao século III (a.n.e.), é um escrito que se tornou texto-chave do Hinduísmo, na nossa era.
O Bhagavad-Gita reúne e ordena os caminhos de salvação. Heinrich Zimmer (2003) assim se expressa, a respeito desse texto sagrado:
Foi nos grandes paradoxos do célebre Bhagavad-Gita que o pensamento não-bramânico, pré-ária, aborígine da Índia, combinou-se profícua e harmoniosamente com as idéias védicas dos invasores arianos. Em seus dezoito breves capítulos, desenrola-se uma caleidoscópica interação das duas tradições que, durante uns dez séculos, estiveram lutando pelo controle e domínio do pensamento indiano.[13]
O mesmo autor afirma que o ensinamento do Bhagavad-Gita, mesmo sendo considerado uma doutrina esotérica, deve ser visto como a expressão daquilo que mais profundamente impregna a memória popular como princípios básicos norteadores da vida religiosa indiana. Segundo os seguidores do Hinduísmo, em geral, trata-se de um dos mais claros e mais compreensíveis resumos de proposta de vida para o hindu. Nele está expressa, de uma forma acessível, toda a base do Hinduísmo.
É um texto de valor permanente, não só para os habitantes da Índia, mas também para toda a humanidade. A sua presença é indispensável nas bibliotecas do mundo todo. Mircea Eliade denomina o Bhagavad-Gita de Hamlet indiano. Segundo M. Biardieu (1981) o Bhagavad-Gita, ainda hoje, é o livro de cabeceira do hindu piedoso.[14] Em O Livro das Religiões, de Victor Hellern e outros, o Bhagavad-Gita é apresentado como “o livro sagrado que ocupa o lugar supremo na consciência do indiano médio”.[15] Segundo Hans Küng, o Bhagavad-Gita “é a escritura sagrada mais conhecida e de maior influência, muitas vezes chamada de evangelho do Hinduísmo e, ao mesmo tempo, um dos grandes documentos éticos da humanidade.”[16]
O Bhagavad-Gita é, em todos os sentidos, O Livro, uma espécie de cimento que une a pluralidade de línguas e culturas que compõem a Índia. O Bhagavad-Gita reúne e ordena todos os caminhos ou vias de salvação que são conhecidos. A maneira mais clássica de apresentar as vias [de salvação] é [aquela] colocada na boca de Krishna, no Bhagavad-Gita, [livro] que se constitui, por assim dizer, em uma pequena enciclopédia hindu das vias de libertação. Os caminhos são reunidos e ordenados da seguinte forma, em três grandes vias:
[A] A via do sacrifício, também conhecida como caminho da ação (karma-marga). A palavra indiana Karma é utilizada, hoje, para designar todos os atos humanos, porém, no Período Védico, o termo referia-se basicamente aos atos rituais, necessários para manter o Dharma. A palavra Dharma, às vezes, aproxima-se do que entendemos por lei e, em outros momentos, refere-se, mais precisamente, ao que entendemos por dever. Os dois sentidos, na verdade, se mesclam. O Dharma diz respeito à ordem do universo e à ordem pessoal do indivíduo, ou seja, a ordem cósmica (exterior) e a ordem pessoal (interior). Assim como existe uma ordem cósmica, regida por leis da natureza, assim existe uma ordem pessoal sinalizada para cada indivíduo, à qual ele deve ser fiel.
O Dharma (da raiz dhr, escorar, sustentar) é o conjunto das relações inteligíveis, das leis subjacentes ao universo e o impedem de se desmoronar no caos. A este nível, apresenta-se como uma ordem cósmica que ao mesmo tempo engloba e ultrapassa a realidade humana. Ao nível propriamente humano, consiste no conjunto das instituições, dos modos de vida, dos ritos e dos comportamentos individuais justos, no sentido de que são geradores de paz, de estabilidade, de concórdia, de prosperidade, e permitem assim à generalidade das pessoas atingir, em toda a medida do possível, certos bens como o bem-estar material, as satisfações dos sentidos, a saúde, a longa duração da vida, a continuidade das linhagens familiares.[17]
Não existe o Dharma genérico, dirigido para o ser humano, como tal. O Dharma é dirigido aos indivíduos em sua situação específica na estrutura social, como casta, gênero, idade etc.[18] A antiga prática ritual, aqui referida, e que se encontra minuciosamente descrita nos Vedas, continua a desempenhar importante papel no Hinduísmo. Tomando parte nos atos rituais, especialmente nos sacrifícios, os hinduístas tentam obter a felicidade terrena ou - e este é o objetivo último - escapar do ciclo das transmigrações.
[B] A via do conhecimento,[19] também conhecida como caminho do conhecimento (jnana-marga). Segundo uma idéia central do pensamento religioso indiano, desde os Upanixades, séc. VIII (a.n.e.), é a ignorância (ilusão) do Homem que o amarra ao ciclo da transmigração. Compreender a verdadeira natureza da existência, ou seja, sair da ilusão, é, portanto, um caminho para a salvação. É quando o Homem adquire o reto conhecimento, o conhecimento transcendental, que ele pode fugir à roda implacável do transmigrar. Esse conhecimento, que traz a salvação, é o de que a alma humana (Atma) e o mundo espiritual (Brahma) são uma só coisa. O Brahma é o princípio construtivo do universo, uma força, que tudo permeia, da qual (única alma universal) todas as almas individuais são reflexos. O Homem é libertado das transmigrações ao adquirir plena compreensão dessa unidade. O objetivo é dissolver-se no Brahma, como o rio se dissolve no mar. Esta é uma metáfora comum nas tradições indianas.
[C] A via da devoção, também conhecida como caminho do amor a Deus (bhakti-marga). Aparentemente, a via da devoção é o caminho mais fácil para a salvação. É fácil somente na aparência, pois ela de fato propõe a entrega de todas as ações humanas, mesmo as mais cotidianas, a um Senhor, ou seja, tudo o que o devoto fizer deve ser realizado como uma oferenda voluntária a um Ser Divino. Bastaria tal atitude para se receber a graça. O Bhagavad-Gita gira em torno da via da devoção, mas integra também, de forma rica, as outras duas vias. A via da devoção toma um sentido radical quando levamos a sério, a percepção de que na filosofia hindu todos os seres, humanos ou não-humanos, são sagrados.[20]
Na parte do Mahabharata composta pelo Bhagavad-Gita, Krishna, que é deus-herói desta passagem, expõe todas as vias de salvação a Árjuna, o seu interlocutor guerreiro. O que fica, no entanto, muito claro, é que nenhuma das vias de salvação teria algum sentido fora do contexto da ação desinteressada (despojamento benfazejo), dado que, se realizadas com o intuito de ganhar algo em troca (frutos da ação), elas seriam incapazes de alcançar qualquer objetivo, ou melhor, o Homem que pratica as vias movido por algum interesse jamais se libertará. As vias, ao mesmo tempo em que produzem o Homem despojado, exigem, igualmente, uma postura desapegada (despojada). As relações de troca não têm lugar. Elas se tornam impotentes diante da ação desinteressada mergulhada no rio da auto-entrega e da devoção ao Ser Divino.
Vejamos, a título de ilustração, o centro do episódio descrito no Bhagavad-Gita: Krishna é uma espécie de cocheiro de Árjuna, conduz o carro do guerreiro Árjuna ante os inimigos. E quais são os inimigos? Os parentes, os mestres, o sogro. Árjuna treme e não quer lutar. Ele não consegue ver o bem que decorreria da morte dos seus. Então Krishna, para exortá-lo à guerra e tirá-lo da confusão, lhe diz:
A matéria é mutável, porém eu sou tudo o que dizes e tudo aquilo que pensas. Tudo repousa em mim, como pérolas num fio. Eu sou o perfume da terra e o calor do fogo, sou a aparição e o desaparecimento, sou o jogo dos trapaceiros, sou o esplendor que brilha. Todos os seres caem na noite e todos são reconduzidos ao dia. Já venci todos esses guerreiros. Entretanto, alguns acham que podem matar, e outros, que podem ser mortos; ambos se enganam. As armas não podem ceifar essa vida que te anima, nem fogo pode queimá-la, não pode ser molhada pelas águas ou ressecada pelo vento. Nada temas e levanta-te, pois eu te amo.[21]
Esta é a lógica do Bhagavad-Gita. É necessário agir, mas que seja uma ação acompanhada de desprendimento profundo de seus resultados. Essa ação desinteressada, desvinculada dos frutos dos atos, é a morada do verdadeiro conhecimento, é o verdadeiro sacrifício. Não se trata de um agir conformado feito de indiferença diante da infelicidade e da miséria, como pode parecer à primeira vista. Trata-se de um agir engajado, mas ornado pelo despojamento benfazejo.
Retornando aos nossos três parâmetros expressos no início do presente texto, podemos dizer que este despojamento benfazejo faz parte da disciplina pessoal para o alcance da felicidade, mas é também fundamental para o reto funcionamento dos ordenamentos institucionais e para o exercício da responsabilidade com o todo, no compromisso com os caminhos da sociedade e com o correto uso da natureza, da ciência e da tecnologia.
Swami K.S., em seu depoimento escrito para nossa pesquisa, fala das regras simples que ordenam a vida do hindu:
Regras simples e fáceis de serem aprendidas, como limpeza de corpo e mente, comer de forma adequada, respeito ao próximo, distribuindo o que tem com os outros e o cuidado especial com os visitantes, hóspedes e estrangeiros, cuidando até mesmo dos inimigos e de todas as entidades vivas, enfatizando o serviço abnegado como forma de realização espiritual, são marcas muito fortes da religião filosófica predominante na Índia. Um hindu é capaz de doar tudo o que tem para alguém se sentir como na sua própria casa. Ninguém passa fome na Índia devido a este princípio.
No que diz respeito especificamente à disciplina pessoal, o depoimento do Swami K.S., depois de referir os dois componentes morais fundamentais do Hinduísmo, o Yama (para o relacionamento com os outros) e o Niyama (na relação consigo mesmo) e as suas normas,[22] comenta o seguinte:
Toda a vida pessoal e de relação leva em conta a lei de causa e efeito, também conhecida como Karma, ou seja, toda a ação que é feita tem a sua reação igual e contrária. Ações boas acumulam reações boas, ações más acumulam reações más. Sendo uma lei inevitável, não há como agir de um ou outro modo sem ficar sujeito ao Karma. Portanto, o Karma prende uma pessoa no mundo material. Para que a pessoa possa se libertar deste mundo material, libertando-se dos nascimentos e mortes, deverá agir de tal forma que as suas ações sejam como uma oferenda para o supremo. Por isso, a ação deve ser abnegada, sem ter em vista colher os frutos do resultado do trabalho.
O Bhagavad-Gita está repleto de passagens que apontam para o despojamento como a verdadeira sabedoria que se coloca acima da alegria e da tristeza. No capítulo 2, estrofe 38, lemos: “Lute apenas por lutar, sem pensar em perda ou ganho, em alegria ou tristeza, em vitória ou derrota, pois, agindo desse modo, você nunca pecará”. Em outro texto congênere do Mahabharata encontramos a seguinte passagem: “Para o sábio são de todo o coração bem-vindos prazer e dor, alegria e tristeza, sem desencorajar-se” (MB 12.174.39).[23] Ou ainda: “Dois tipos de pessoas são felizes nesta terra: aqueles que são completamente ignorantes e aqueles que são verdadeiramente sábios. Todos os demais são infelizes” (MB 12.174.33).[24]
O serviço a Deus (no ritual religioso) é importante para crescer na sabedoria, na liberdade e no desapego benfazejo. Nele se cria um clima de interioridade favorável. O ritual religioso não deve ser, no entanto, interesseiro portador de apegos ou intenções escondidas. Condenam-se os abusos dos rituais védicos.[25] Cria-se, de fato, um círculo virtuoso, pois somente quem cresce na mente desapegada, cresce no gosto do serviço a Deus. “Na mente dos apegados aos prazeres dos sentidos e à riqueza material, e que por isso se iludem, não ocorre a decisão de prestar serviço a Deus” (BG cap.2, 44).[26]
O que importa é cumprir a sua missão na vida, dando o melhor de si, usando da melhor forma as suas habilidades, concentrando-se no fato de ser um servidor pessoal de uma causa superior. Calcular resultados e preocupar-se com as expectativas dos outros pode gerar ansiedades, medos de errar, roubando a paz e a concentração. “O direito que é devido é o de cumprir a missão e não o de reclamar o resultado da ação. Não considere, em si mesmo, o objetivo dos seus atos, nem se prenda à inação” (BG cap. 2,47). Esta sentença é complementada com as seguintes recomendações: “Fixando a mente na Yoga (no Senhor), abandonando o desejo de vitória ou de derrota, execute o seu trabalho sem apego ao resultado” (BG cap.2, 48).
Quem faz isto permanece equilibrado no meio das maiores adversidades.
Dor e prazer, nascimento e morte, perda e ganho, união e separação são inevitáveis, (...), assim como o suceder do dia e da noite. Os loucos se alegram na prosperidade e se lamentam na adversidade, mas o Karma-yogi permanece equilibrado em todas as circunstâncias (TR 2.149.03-04).[27]
No capítulo 16, estrofes de 1 a 3, o autor do texto sagrado faz uma síntese daquilo que deve caracterizar as pessoas verdadeiras.
O Supremo Senhor disse: Inexistência de medo, purificação da vida, compreensão transcendental, caridade, autocontrole, prática de sacrifícios, estudo dos textos védicos, austeridade, humildade, não-violência, não se irar, desapego, gentileza, veracidade, renúncia, não gostar de ver defeitos, determinação, modéstia, compaixão para com todas as entidades viventes, estar livre da cobiça, cordialidade, clemência, vigor, pureza, limpeza, não desejar ser honrado. Essas nobres qualidades, ó descendente de Bhárata, se encontram nas pessoas de natureza divina (BG cap.16, 1-3).
Um texto congênere, em outra passagem do Mahabharata, complementa com a seguinte passagem: “Devemos tratar os outros da mesma forma como gostaríamos de ser tratados” (MB 12.167.09).[28] Nunca estamos na posição de poder desqualificar os outros, pois sempre seremos alguém que desqualifica com base em determinada forma de viver e de pensar. Às vezes, iludimo-nos achando que conquistamos a liberdade mudando o outro. As coisas não são assim. Se aceitarmos os outros, total e incondicionalmente, somente então seremos efetivamente livres. Ocupar-se dos defeitos dos outros é a pior das “poluições” humanas.
No Hinduísmo, além da moral geral, estão sempre presentes “os deveres específicos que a cada um incumbem em função da sua pertença a esta ou àquela classe social, em função da etapa ou estágio de vida em que se encontra e, bem entendido, da sua idade e do seu sexo”.[29] Na verdade, não existe no Hinduísmo, uma ética pessoal. “O individuo representa um simples elo na transmissão dos saberes sagrados e profanos, dos usos, dos modos de vida específicos de uma casta. Está votado a repetir pura e simplesmente o destino de seus antepassados.”[30]
Indagado sobre a importância dos ordenamentos institucionais (família, religião, normas sociais, hierarquia de poder, relações interinstitucionais) Swami K.S., entre outras coisas, fez as seguintes reflexões:
O Sanâtana-Dharma dá forte ênfase ao Karma. Então, uma pessoa nasce numa família, numa determinada situação, devido às ações de suas vidas passadas. A vida presente é o resultado de componentes que foram sendo adicionados durante a conduta de uma pessoa na sua vida anterior.
Cada pessoa deve fazer o seu caminho dentro do seu Karma. No texto sagrado do Bhagavad-Gita, lemos no capitulo 18, estrofe 47: “Cumprir o próprio dever, embora, imperfeitamente, é melhor do que fazer o trabalho de algum outro, com a maior perfeição. As obrigações prescritas, tendo em vista a natureza particular da pessoa, não podem ser afetadas por relações de pecado” (BG cap.18, 47). A felicidade e o equilíbrio emocional consistem nisto, em não querer extrapolar daquilo que é a própria competência.
No mesmo depoimento, do qual já reproduzimos diversas passagens, Swami K.S. reage da seguinte maneira sobre as expressões instituição familiar e instituições políticas: “Família e nação são componentes fortes no povo da Índia, a ponto de considerar Bharata, o nome como é conhecida a Índia para os indianos, uma deusa, que tem características da mãe divina”.
Ele ressalta que a Índia é um Estado laico desde 1947, constitucionalmente livre de qualquer atrelamento exógeno e religioso, mas isso não interfere no fato de estarmos diante de uma sociedade profundamente impregnada dos princípios pautados pela religião. Na Índia, segundo este líder religioso,
cada um é responsável pelo bem-estar de todos. Uma vez que a cultura filosófico-religiosa da Índia é de despojamento, ser pobre é indicativo de progresso espiritual. Então todos agem ajudando uns aos outros. Muitas vezes, as pessoas passam toda a sua vida num trabalho voluntário sem nada receber, vivendo num total anonimato.
Para ilustrar este comentário, poder-se-ia arrolar aqui uma infinidade de passagens dos textos sagrados. Selecionamos três breves passagens do Bhagavad-Gita:
Renunciando ao apego, aos frutos do seu trabalho, satisfeito e independente, agindo sem interesse, ele não fica envolvido, embora esteja engajado em todo tipo de ação (BG cap.4, 20).
Não é bom renunciar aos atos de sacrifício, caridade e penitência. É melhor executá-los. Na verdade, sacrifício, caridade e penitência trazem purificação até mesmo às grandes almas (BG Cap.18, 5).
(...) todos esses atos devem ser executados sem apego aos resultados, mas como um simples dever. Eis a Minha opinião, ó descendente de Pritha. (BG cap.18, 6).
O real sacrifício está em desfazer-se daquilo que amarra aos prazeres sensuais. A perfeição deste real sacrifício “dá-se no momento em que a pessoa se liberta das armadilhas dos prazeres e dos desprazeres” (MB 12.162.17).[31] Ninguém pode ser feliz sem este real sacrifício.[32] O caminho da perfeição está na renúncia pessoal. As instituições funcionam bem, na medida em que isso acontece.
Mesmo que exista uma clara divisão de tarefas, no âmbito da vida familiar, por exemplo, os serviços de limpeza e higiene da casa e sua manutenção são tarefas de todos, sem hierarquia. Buscar água, lavar o assoalho, limpar o banheiro etc., segundo Swami K.S., são tarefas de todos. Nas tarefas do dia-a-dia, cada mão tem suas funções específicas... “A mão esquerda somente é utilizada para atividades de limpeza e higiene, a mão direita é usada para comer e pegar as coisas consideradas puras. Nada é oferecido com a mão esquerda, sendo isso considerado muito ofensivo.”
Apesar da relativa partilha democrática das tarefas domésticas, existe uma evidente concepção diferenciada, no que diz respeito às relações de gênero, como revela a seguinte passagem textual:
Homens e mulheres desempenham diferentes papéis dentro do drama cósmico, e assim, suas necessidades e temperamentos diferem. Manu disse: As mulheres devem ser honradas e adornadas. Onde as mulheres são honradas, lá as suas celestiais controladoras (Devas) permanecem com prazer. As mulheres devem sempre ser amadas e protegidas (da tentação de homens mal-intencionados). Os pais delas as protegem na infância, os maridos as protegem na juventude e os filhos as protegem na idade avançada (MS 3.56).[33]
Finalmente, um pequeno comentário sobre a perfeição... O autor sagrado diz: “Todo esforço está coberto por alguma imperfeição, do mesmo modo que o fogo é coberto pela fumaça. Por isso mesmo ninguém deve deixar o trabalho para o qual foi destinado, ó descendente de Kunti, muito embora esse trabalho possa ser defeituoso” (BG. cap.18, 48). A verdadeira perfeição reside no modo como as coisas são feitas e não nos seus resultados aparentes. Nada neste mundo é feito só de boas ou de más coisas. As coisas se misturam. Em tudo encontramos aspectos bons e aspectos ruins. “O que importa não é o que você faz, mas como você faz!”[34] A imagem da flor de lótus é muito ilustrativa: ela mantém a sua beleza viçosa mesmo nadando nos piores charcos... “Quem cumpre a sua tarefa, sem se sentir apegado, entregando os resultados ao Supremo Senhor Deus, não pode ser atingido por reações de pecados, assim como a flor do lótus não se molha dentro d’água” (BG cap. 5, 10).
Sobre a questão da responsabilidade histórica, ou seja, o engajamento social e cidadão dos seguidores do Hinduísmo, Burkhard Sherer (2005), nos dá importantes indicações para a reflexão:
O sistema de castas e os deveres sociais e religiosos individuais (svadharma) governam tão intensamente a sociedade, que no Hinduísmo o engajamento social nunca teve maior desenvolvimento. A vida atual é condicionada pelas ações anteriores – portanto pelo mau karma. Sobre este pano de fundo, a justiça social não é nem possível nem coerente. O moderno estado indiano, com sua constituição social, tenta enfrentar a rigidez desta mentalidade de muitos séculos.[35]
A Índia é, literalmente, um mundo à parte, diz Swami K. S., ao referir-se à economia do país e a toda a questão que envolve a responsabilidade relativamente à sociedade, à natureza, à ciência e à tecnologia. Alguns pontos merecem destaque especial, na opinião deste líder religioso: todo indiano cultiva um grande amor pela figura da mãe, mas também por todos os seres, com igualdade. O povo indiano é de tradição vegetariana, tendo hábitos alimentares de raízes de tradição milenar. Ele pratica a hospitalidade mesmo sendo muito pobre. Existem também paradoxos sérios que devem ser anotados... por exemplo, o costume da cremação dos corpos ao ar livre; o uso da lenha, apesar de ser uma eficiente maneira de evitar a difusão de doenças, causa impactos sobre a natureza. A Índia é um país de um paradoxal bem integrado convívio das tecnologias mais avançadas com hábitos e práticas de vida pautados por uma evidente carência destas tecnologias. Apesar de ser um Estado laico, a maior parte, senão quase todos os recursos sociais, como escolas, hospitais etc., são mantidos por instituições religiosas e ou culturais. “A religião na Índia é uma vivência diária, não há distinção da vida religiosa da vida prática. Tudo tem uma conotação religiosa na Índia.”
No mesmo depoimento deste líder religioso temos que existem hoje 15 línguas oficiais na Índia e cerca de 3.000 dialetos distintos ativos falados nos mais diferentes recantos do país. Essa diversidade de línguas, de costumes e de culturas surpreende e comove.
Em nenhum país a democracia, no seu sentido de liberdade de escolher o seu próprio caminho, é praticada como na Índia... A definição de que a Índia é um outro mundo, é, sem dúvida, a mais acertada para compreender esta imensa diversidade, que convive de forma harmoniosa, sendo um exemplo de paz, de fraternidade e de solidariedade para o resto do mundo. (Swami K.S.).
O que caracteriza um gênio está na sua habilidade em lidar com idéias entre si opostas ou com o paradoxo de viver no mundo de forma ao mesmo tempo comprometida e desapegada. Esta idéia está bem expressa no texto do Bhagavad-Gita, cap.3, 26 e 29. O equilíbrio está em cumprir os próprios deveres de forma correta e profundamente comprometida e conscienciosa. Extrapolando disso, devido a apegos e benefícios desordenados, corre-se o risco de gerar desequilíbrios. “Se Eu deixasse de cumprir os Meus deveres prescritos, arruinaria os três mundos, criando prole indesejada, destruindo, assim, a paz de todos os seres vivos” (BG. cap. 3, 24). Os três mundos de que fala o autor sagrado são: os céus, a terra e as regiões inferiores (Cfr. BG. cap. 3, 22).
Quem é desordenadamente apegado e busca ganhos indevidos só pensa em si e acaba ajudando a destruir o mundo e os outros.
O homem demoníaco pensa:Eu tenho tanta riqueza, e vou ganhar muito mais de acordo com os meus planos. Tanta coisa é minha agora e terei mais no futuro. Eu matei meu inimigo, os meus outros desafetos, todos eles morrerão. Agora é tudo só meu. Eu vou desfrutar de tudo, sou perfeito e poderoso, sou feliz como ninguém, sou multimilionário, meus amigos são bacanas, ninguém é mais poderoso e importante do que eu. Vou praticar caridade, executar sacrifícios, e me regozijarei. Eles se iludem assim, devido à sua ignorância (BG. cap. 16, 13-5).
De fato, trava-se uma infindável batalha entre o Bem o Mal na vida de cada pessoa. A permanente contradição entre o caminho do desapego benfazejo para a realização e a libertação e o caminho do apego egoísta para a destruição e o aprisionamento.
Segundo Swami K.S., “a religião na Índia é uma vivência diária. Não há distinção da vida religiosa da vida prática. Tudo tem uma conotação religiosa na Índia”. Não é estranho que a maior parte das entidades sociais, as escolas, os hospitais e outros, “são mantidos por instituições religiosas e ou cultural-religiosas”.
Isso também ajuda a explicar, de certa forma, o que André Padoux (2000), em seus estudos, observa sobre a crescente tendência, entre os hindus de todas as observâncias, no sentido de abandonar os ritos voltados puramente para o conhecimento interior, voltando-se de mais a mais para a devoção, a ação em vista da salvação, ou seja, a ação desinteressada ou o despojamento benfazejo. Não se trata de uma tendência de nossos dias, pois “o primeiro texto a prescrever o yoga da ação é o Bhagavad-Gita”,[36] como já descrevemos acima. O caminho da devoção afirmado pelo Bhagavad-Gita apresenta o conhecimento da Grandeza Divina na aproximação amorosa efetiva de ação neste mundo.[37] Essa afirmação da ação, do mundo e seus meios de realização são também enfatizados na análise de Heinrich Zimmer (2003) sobre o Bhagavad-Gita. Segundo este autor, este princípio ético
requer que o indivíduo continue executando suas obrigações costumeiras e atividades cotidianas, mas com uma nova atitude de desapego quanto aos frutos, ou seja, os possíveis ganhos ou perdas que resultem de tais atos. O mundo e seus meios de realização não devem ser abandonados, mas, na ação, a vontade do indivíduo deve unir-se ao fundamento universal, não às vicissitudes do corpo e do sistema nervoso.[38]
A necessidade de se assumir o mundo está expressa claramente no Bhagavad-Gita, ao mostrar como a Divindade Suprema mesma, por meio do divino porta-voz Krishna está visceralmente implicada nos acontecimentos do mundo.
O Bhagavad-Gita ensina que se deve arcar com os deveres da vida para a qual nascemos. Apesar da imperfeição da vida terrestre, devemos cumprir a nossa missão na sociedade.
Mesmo uma pessoa nascida numa casta impura (um varredor de ruas, um auxiliar de crematórios, por exemplo) deve permanecer na profissão herdada. Cumprindo sua função o melhor possível e de maneira ordenada, tornar-se-á um membro prestigioso e virtuoso da sociedade. Por outro lado, ao interferir nas tarefas de outras pessoas, ele será culpado de perturbar a ordem sagrada. Como temos visto, mesmo a prostituta, que dentro da hierarquia da sociedade está muito aquém da virtuosa dona de casa, pode participar - caso ela cumpra com perfeição o código moral de sua desprezível profissão - do supra-humano e transindividual Poder Sagrado que se manifesta no cosmos. Ela pode até fazer milagres que desconcertam reis e santos.[39]
O Bhagavad-Gita mostra como os segredos da religião são também acessíveis àqueles que não se retiram às florestas, os homens de ação, que permanecem ligados ao mundo, podem da mesma forma salvar-se da ilusão e da ignorância. A condição é o agir desinteressado, o desapego benfazejo. Segundo este autor, apesar de tratar-se de um livro consolador, ele é também a justificação dada à existência na história. No Bhagavad-Gita, ao contrário de algumas tendências dentro do Hinduísmo, o espírito não se desgarra da história.[40]
É preciso ressaltar algo que já afirmamos anteriormente a respeito da configuração da ação exposta no Bhagavad-Gita, o cumprimento desinteressado da atividade terrena que devemos realizar no caminho para a libertação. “Não devemos esperar recompensa ao cumprir nosso dever como filho ou como pai, como brâmane ou como guerreiro, ao realizar os ritos ortodoxos, ao fazer obras caridosas ou qualquer outra obra virtuosa.”[41] O cumprimento desinteressado das ações, buscando desapegar-se dos frutos das ações, ensinado por Krishna, é uma espécie de “caminho do meio”.
Por um lado, o devoto deve evitar o extremo de se apegar à esfera da ação e seus frutos (a busca egoísta de propósitos pessoais, com avidez de aquisição e posse) e, pelo outro, deve evitar cair, com o mesmo cuidado, no extremo da abstinência vazia de toda a espécie de ação.[42]
A dedicação prazerosa à ação no mundo, de forma livre, desinteressada, ou seja, sem ser escravo dos resultados ou por conturbações diante da ação e dos resultados alheios, é o verdadeiro segredo de uma sociedade harmoniosa. Esta é, sem dúvida, a maior lição que o Bhagavad-Gita traz, através de mais de dois milênios para o dia-a-dia da história presente no mundo em que vivemos.
Segundo K. R. Narayanan, presidente eleito da Índia, proveniente do meio dos sem-casta, em pronunciamento feito em agosto de 1997, por ocasião do 50º. aniversário da independência,
a Índia tem a incomparável honra de mostrar ao mundo que o homem não vive só de pão. Os valores culturais, morais e espirituais sempre foram os esteios básicos de nossa sociedade. E é precisamente aqui que a Índia se encontra diante do seu maior desafio: o enfraquecimento desta estrutura moral e espiritual básica de nossa vida pública. Os males do comunalismo, da mentalidade de castas, da violência e, sobretudo, da corrupção estão solapando a atual sociedade indiana.[43]
Esse líder político chama a atenção para males que têm profundas raízes históricas, culturais e, mais precisamente, religiosas. O comunalismo, no qual os horizontes do pensamento são os agrupamentos étnicos e a mentalidade de castas, têm muito a ver com os caminhos do Hinduísmo, ao longo da história. A sociedade da Índia convive também com crescentes problemas de violência e corrupção. As contribuições éticas e para a orientação de políticas sociais, que colhemos e tentamos sistematizar neste artigo, não se dirigem, portanto, só para as sociedades que não conviveram com toda a riqueza cultural inerente ao Hinduísmo, mas valem também, da mesma forma, para a sociedade indiana que é a porta-voz de toda essa riqueza cultural para a humanidade.
Lembramos, no início, em epígrafe, a frase de Mahatma Gandhi, “o Ganges dos direitos nasce no Himalaia dos deveres!” para mostrar a necessária harmonia entre essas duas dimensões, para uma sadia vida em sociedade. Esta harmonia faz parte inerente da cultura milenar acumulada na Índia.
O princípio do desapego talvez seja o que melhor resume a energia que proporciona essa harmonia e este equilíbrio. No que diz respeito à ética hinduísta (não à ética negativa, caracterizada pelo não, mas à ética em um sentido mais afirmativo, mais vivo), depreende-se, como elemento-chave para o seu entendimento, o princípio do desapego.
O desapego está associado ao que chamamos de ação desinteressada. É um desapego benfazejo. É benfazejo, não só porque faz bem para o próprio indivíduo que vive despojado de si, mas porque está voltado para o bem em geral, para a vida em todas as suas formas. Trata-se da assim chamada ahimsa, que significa não machucar, mas sobretudo, não viver à custa de outras vidas. Na prática, redunda na sacralização da vida como tal, e em primeiro lugar da vida animal, numericamente mais abundante que a humana e exposta sem defesa, à malícia desta.[44] É uma atitude radical de não-violência pela qual se procura evitar todo tipo de sofrimento ou constrangimento a outros seres. Gandhi foi o gênio moderno da ahimsa.
Podemos dizer que, assumindo tais posturas, as coisas do mundo passam a não mais ser vistas como concorrentes, mas sim como parceiras com as quais é preciso compartilhar o espaço vital. Isso afronta as expressões individualistas que caracterizam a sociedade hoje.[45] O desapego benfazejo pode ser considerado, a rigor, a melhor bússola dos modernos empreendedores que sabem perceber o seu sucesso empresarial para muito além dos lucros imediatos...
Precisaríamos de muito mais espaço para relacionar esta ética com os fundamentos do pensamento religioso-filosófico indiano, com as noções fundamenteis do Hinduísmo. O fato é que, essencialmente, esta ética está associada à questão do eu: se não compreendermos a unidade entre a alma universal e a alma individual (Hinduísmo), nenhum mandamento, nenhuma regra, nenhum acordo, nenhuma lei, nenhum contrato será eficaz.
Para finalizar, podemos afirmar que a Índia, por meio de suas tradições religiosas e de sua rica e múltipla história cultural, é um grandioso exemplo de permanente busca e cultivo do sentido da vida humana. As suas tradições religiosas e a sua cultura concedem este sentido, percebendo a vida humana como parte de um universo, que, por sua vez, também tem um sentido, na medida em que é emanado de uma divindade suprema e na medida em que é também lugar onde os deuses e forças sobrenaturais estão sempre presentes.
Que essa rica e múltipla história cultural possa contribuir de forma crescente, no que ela tem de mais profundamente humano, para a humanização da humanidade, dentro e fora da Índia, mas, sobretudo, em nosso meio ocidental tão alheio e ainda aprendiz na escola de humanidade que são as tradições culturais, que se perdem na noite dos tempos, mas sempre têm coisas novas e, talvez, inesperadas para nos dizer.
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[*] José Ivo Follmann é doutor em Sociologia, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UNISINOS. Cleide Cristina Scarlatelli é doutora em Teologia, professora nos Cursos de Graduação da UNISINOS. O artigo é fruto de um amplo trabalho coletivo de pesquisa e leituras no qual participaram: José Virgílio Maciel, Júlia Schenkel e Débora Barbosa Bauermann (bolsistas de Iniciação Científica). Contou também com contribuições especiais de Adevanir Aparecida Pinheiro (assistente social, mestre em Ciências Sociais Aplicadas) e de Inácio José Spohr (doutorando em Ciências Sociais).
[1] A pesquisa está alinhada com as mesmas buscas e preocupações do teólogo alemão Hans Küng, que vem se dedicando, há praticamente duas décadas através de reflexões e publicações, a esta questão: Qual a contribuição das religiões para o etos da humanidade, para uma ética mundial que aos poucos toma forma na consciência da humanidade? (KÜNG, H., Religiões do Mundo; Em busca dos pontos comuns, p. 17).
[2] Hinduísmo é o termo genérico mais usado para dar conta da Ordem Eterna ou, em sânscrito: Sanâtana Dharma, que é a denominação correta da religião hindu. (KÜNG, H., Religiões do Mundo: Em busca dos pontos comuns, p. 57).
[3] Ver HULIN; KAPANI, O Hinduismo, In: DELUMEAU, J., (org.). As Grandes Religiões do Mundo, p. 361-3. GONDA, Les Religions de l’Inde, p.416.
[4] Depoimento escrito por Swami Krishnapriyananda Saraswati (Swami K.S.), Porto Alegre, setembro de 2005. No mesmo depoimento, temos uma referência a palavras de Swami Sivananda, segundo o qual, no Hinduísmo, subsiste Sanâtana Dharma (religião eterna) e Vaidika Dharma (religião dos Vedas).
[5] Ver SHERER, B., (org), As Grandes Religiões: Temas centrais comparados, p.122.
[6] Idem.
[7] Depois do ano 1.000 (a.n.e.) os grupos arianos teriam chegado à região do Ganges e só nos anos 400 da nossa era teriam efetivamente se estabelecido no sul da Índia. (Ver CASTRO, J., Religiones Del Mundo: Cultos y creencias del hombre, p.189).
[8] Trata-se de transformações em todos os âmbitos da sociedade. Falar em transformações pode parecer eufemismo, a depender da perspectiva em que nos colocamos. Segundo KÜNG, H., Religiões do Mundo: Em busca dos pontos comuns, p. 61, dificilmente se há de encontrar uma sociedade tão completamente estruturada como a indiana. Cada pessoa aqui é capaz de dizer, pronta e exatamente, qual o seu lugar na sociedade, qual o seu status social. Este depende, em primeiro lugar, da casta.
[9] ZIMMER, H., Filosofias da Índia, p. 23.
[10] ARMSTRONG, K., Uma História de Deus: quatro milênios de busca do Judaísmo, Cristianismo e Islamismo, p. 80.
[11] Existem muitas discrepâncias com respeito às classificações dos textos sagrados do Hinduísmo. O importante, no entanto, é que os textos, na medida em que se sucedem, vão ampliando a compreensão e tornando mais próximo do povo e do dia-a-dia da vida os princípios originais revelados e que estavam por muito tempo reservados para uma elite hierarquicamente afastada.
[12] Depoimento escrito por Swami Krishnapriyananda Saraswati (Swami K.S.), Porto Alegre, setembro de 2005.
[13] ZIMMER, H., Filosofias da Índia, p. 272. Segundo ZIMMER, pode-se dizer, inclusive, que mesmo o Budismo e o Jainismo diluíram-se no Bhagavad-Gita, porque foram submersos nas águas espessas do Hinduísmo – as próprias águas da civilização da Índia, lembrando expressão de Fernand Braudel.
[14] BIARDEAU, M., L’Hindouisme. Anthropologie d’une civilisation, p. 128.
[15] HELLERN, V; NOTAKER, H., ; GAARDER, J., O Livro das Religiões, p. 46.
[16] KÜNG, H., Religiões do Mundo: Em busca dos pontos comuns, p. 90.
[17] HULIN; KAPANI, O Hinduismo, In: DELUMEAU, J., (org.). As Grandes Religiões do Mundo, p. 349-50.
[18] Idem, p. 350.
[19] Na via do conhecimento, a literatura especializada apresenta os termos renascimento, reencarnação e transmigração de forma misturada. Preferimos, a rigor, o termo transmigração, porque parece mais próprio da Índia; renascimento parece-nos muito genérico e reencarnação remete ao Espiritismo Kardecista (as concepções hinduístas e espíritas são diferentes).
[20] RAMANANDA, P., The Bhagavad-Gita: The Song of God, p.IXX. Ver também KÜNG, H., Religiões do Mundo: Em busca dos pontos comuns, p.90.
[21] Citação do Bhagavad-Gita em: CARRIÈRE, J., Índia. Um Olhar Amoroso, p. 233.
[22] Yama: 1) Ahimsa (não agredir), 2) Satya (dizer a verdade), 3) Asteya (não roubar), 4) Brahmacharya (permanecer celibatário, casto), 5) Aparigraha (não cobiçar). Niyama: 1) Saucha (pureza), 2) Santosha (contentamento), 3) Tapas (austeridade), 4) Svadhyaya (estudo das escrituras), 5) Ishvarapranidhana ou Atmanivedana (auto-rendição a Deus).
[23] RAMANANDA, P., The Bhagavad-Gita. The Song of God, p.26 (citando o Mahabharata).
[24] Idem.
[25] Ibid., pp.28-29.
[26] Todas as citações do Baghavad-Gita (BG), que seguem, são extraídas da edição de DUARTE, R., Bhagavad Gita. Canção do Divino Mestre, 1998.
[27] RAMANANDA, P., The Bhagavad-Gita. The Song of God, p. 32 (citando Tulasi Ramayana).
[28] Idem, p..245 (citando o Mahabharata).
[29] HULIN; KAPANI, O Hinduismo, In: DELUMEAU, J., (org.). As Grandes Religiões do Mundo, p. 361-2.
[30] Idem,, p. 350.
[31] RAMANANDA, P., The Bhagavad-Gita. The Song of God, p. 273 (citando Mahabharata).
[32] Idem, p. 274.
[33] RAMANANDA, P., The Bhagavad-Gita. The Song of God, p.254 (citando Manu Smrti).
[34] Idem, p. 288.
[35] SCHERER, B., (org.), As Grandes Religiões: Temas centrais comparados, p. 126.
[36] PADOUX, Chemins Indiens de la Délivrance, In: LENOIR, F.; e TARDAN-MASQUELIER, Y., Encyclopédie des Religions, p. 1774.
[37] Idem.
[38] ZIMMER, H., Filosofias da Índia, p. 277.
[39] Idem, p. 279.
[40] Ver em ELIADE, M., A Provação do Labirinto. Diálogos com Claude-Henri Rocquet.
[41] ZIMMER, H., Filosofias da Índia, p. 278.
[42] Idem, p.288.
[43] Ver em KÜNG, H., Religiões do Mundo: Em busca dos pontos comuns, p.89.
[44] HULIN; KAPANI, O Hinduismo, In: DELUMEAU, J., (org.). As Grandes Religiões do Mundo, p. 352.
[45] As reflexões sobre compaixão são inspiradas em BOFF, L., Princípio de compaixão e cuidado.