A maioria dos artigos ou ensaios do presente número da REVER – organizado pelo Grupo de Pesquisa "Gênero, Religião e Política" (GREPO/PUC-SP/CNPq) – foi apresentada no seminário "A religião entre números: as pesquisas Datafolha e FVG", realizado no dia 13 de setembro de 2007 no auditório da Coordenadoria Geral de Especialização, Aperfeiçoamento e Extensão (COGEAE/PUC-SP). O objetivo principal foi discutir as pesquisas acerca de religiões e seus números publicados pela Fundação Getulio Vargas (FGV) – A economia das religiões: mudanças recentes, sob coordenação de Marcelo Neri – e pelo jornal Folha de S. Paulo – caderno especial "Religião" de 6 de maio de 2007.
O artigo de Lucila Scavone é permeado por uma inquietação recorrente, marcada por uma perspectiva de gênero, bem presente no Cristianismo (destacadamente católico, mas também protestante e pentecostal): por que as mulheres permanecem fiéis a suas religiões se estas lhes conferem posição subalternas (no campo religioso e na sociedade)? Segundo ela, a resposta passa, sociologicamente, pelos processos de socialização (habitus) – o que não pode ser encarado como ausência de resistências. Outra pergunta: por que as pessoas (sobretudo, as mulheres, segundo as pesquisas), no Brasil, estão mudando do Cristianismo tradicional (católico e protestante histórico) para o Pentecostalismo e o neopentecostalismo? A resposta não passa por uma mudança de status, pois tais organizações reafirmam o lugar tradicional das mulheres na igreja e sociedade. Lucila Scavone encontra explicação no fato de que tais práticas religiosas dão respostas mais imediatas às inquietações cotidianas das mulheres. A busca do conforto espiritual é substituída pela busca da resolução de problemas concretos.
Em seu artigo, Leonildo Silveira Campos observa que os números significam formas de legitimação dentro do meio evangélico, algo que reafirma suas doutrinas porque, para os evangélicos, mais cedo ou mais tarde o Brasil vai se tornar um país pentecostal. Os nomes das igrejas – por exemplo: "Igreja Universal do Reino de Deus", "Igreja Internacional da Graça de Deus", "Igreja Mundial do Poder de Deus" – e seus megatemplos demonstram o desejo de internacionalização. No entanto, o projeto "Brasil Pentecostal" passa por inúmeras contradições e dificuldades, dentre elas a competição no mercado religioso: o Catolicismo romano, por exemplo, sob o comando do Papa Bento XVI, está se reorganizando para reconquistar fiéis.
O texto de Ronaldo de Almeida afirma ser delicado produzir qualquer prognóstico (como tendência) em um momento caracterizado por mudança. Abordando todo o Pentecostalismo - o clássico e o novo (neo) -, avalia que, por um lado, há entusiasmo pelos números e, por outro, preocupação e desconfiança em relação à arrecadação do dinheiro. Afirmou também que "para pensar o crescimento pentecostal, interessa-me o fiel que é incerto, que circula. 'Se eu transitei muito, minha experiência religiosa é maior do que a religião que declaro no momento'". Para ele, os evangélicos se abrem, no momento, para um espaço de dupla pertença. O Pentecostalismo mudou para crescer e os outros mudaram para competir. Expandiu-se no Brasil "um jeito de ser" evangélico – que é mais forte do que os números. Conclusão de Almeida: "quanto mais o Brasil se torna pentecostal, mais o Pentecostalismo se torna brasileiro".
Convidada para fazer as considerações finais do evento, Leila Marrach Bastos de Albuquerque (UNESP) proferiu a conferência: "A religião cabe nos números?". O texto foi incluído nesse número da REVER uma vez que afirma a importância dos dados estatísticos no estudo das religiões e adverte para o perigo de se considerar que o fenômeno religioso possa ser apreendido em toda sua complexidade por meio desses mesmos dados.
A convite do GREPO, outros dois pesquisadores enviaram sua contribuição para este número da REVER: Ricardo Mariano (PUC-RS) e José Artur Teixeira Gonçalves (Centro de Estudos de Religiões Alternativas no Brasil – CERAL/PUC-SP).
O artigo de Ricardo Mariano analisa alguns dos principais fatores da expansão pentecostal no Brasil – desde os anos 50, mas, principalmente, a partir da década dos 80 do século passado –, demonstrando que ela ocorre numa situação religiosa pluralista e de mercado, num contexto socioeconômico caracterizado por grande vulnerabilidade social, pobreza, desigualdade, violência e criminalidade. O autor utiliza com competência os números para sua discussão do campo religioso brasileiro.
O texto de José Artur Teixeira Gonçalves analisa o Budismo de origem étnica em Presidente Prudente (município do oeste do Estado de São Paulo) tendo em vista dados demográficos e históricos.
Maria José Fontelas Rosado-Nunes[*] ()
Breno Martins Campos[**] ()
Neusa Cursino dos Santos Steiner[***] ()
[*] Professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e líder do Grupo de Pesquisa: Gênero, Religião e Política (GREPO).
[**] Professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie e vice-líder do GREPO.
[***] Médica, analista junguiana, mestre em Ciências da Religião pela PUC-SP e participante do GREPO.