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Nota dos Editores

O cinema forma uma imagem que pensa
Godard
    
    A frase de Jean-Luc Godard nos ajuda a justificar a escolha do tema central para este volume da Revista Aurora. Avaliar o cinema enquanto uma forma de comunicação capaz de fazer pensar já seria suficiente para que se desenrolasse uma discussão a respeito de suas implicações políticas. Dizer então que “o cinema forma uma imagem que pensa” o coloca em uma condição de sujeito, capaz de atuação na realidade através do pensamento, o que nos permite relacioná-lo à política.
    Sabemos que existe uma ampla discussão nas Ciências Humanas em torno do cinema e sua importância social. O cinema permite que o consideremos a partir de sua realidade mercadológica, em uma sociedade tão acolhedora à indústria do entretenimento; mas também nos incita a avaliar sua capacidade de recobrar os sentidos dos homens e o colocar diante de suas próprias questões. Está longe de ser consensual o debate em torno dos prejuízos do cinema para o modo de existir alienado dos homens, ou das vantagens de se atuar no interior de uma indústria cultural podendo lançar mão de uma linguagem sedutora para gerar reflexão nos homens. Essa discussão torna-se relevante para a política desde o momento em que os primeiros filmes puderam ser exibidos para a população, e desdobra-se em diversos assuntos e perspectivas, algumas das quais retomamos aqui, neste número da Revista Aurora.
    A natureza política do cinema é afirmada por Miguel Chaia na coluna Cinema: político desde seu nascimento, e sua discussão ocorre nos artigos dos autores selecionados para esse número: Anita Simis, Ângela Aparecida Teles, Mauro Luiz Rovai, Rafael Araújo, Priscilla Alves Teixeira Branco, Ari Macedo, Vera Chaia, Carolina Ghidetti e Telmo Antonio Dinelli Estevinho. Alguns dos textos recorrem à relação entre o cinema e a econômia, nas suas mais diversas esferas de produção e financiamento, outros voltam-se mais para a questão social implícita, seja na discussão das pespectivas revolucionárias do cinema de Vertov e Eisenstein, seja na avaliação do cinema como forma de propaganda por Adhemar de Barros, ou mesmo no retrato da boca do lixo e da violência. Apresentamos ainda a discussão a respeito da importância da crítica de arte trazida por Ana Maria Tavares e por Fábio Cypriano, esse último avaliando em que medida ocorre uma postura crítica efetiva no jornalismo cultural.
    Sérgio Muniz, reconhecido cineasta brasileiro, concedeu-nos uma entrevista em que nos fala de diferentes aspectos da relação entre cinema e política, além de relatar sua experiência na Escola Internacional de Cinema e Televisão de Cuba e comentar seu último documentário. Syntia Alves nos faz um convite para assistir El mar deja moverse, documentário de Emilio Ruiz Barranchina sobre a morte de Federico Garcia Lorca, poeta que se insere no contexto da Guerra Cívil Espanhola. Também são de sua autoria as imagens dessa edição, Se eu quiser falar com Deus, feitas durante a Semana Santa, na Espanha.
    Esperamos, com esse número, reafirmar o vínculo existente entre o cinema e a política, contribuindo com novas perspectivas para o enriquecimento das questões trazidas aqui. Os dois temas relacionados são, certamente, bastante familiares aos leitores. Entendemos isso como afirmação da importância de se estabelecer essa discussão, além de encontrarmos uma oportunidade de chamar a atenção para a importância da arte como forma de entendimento e de mudança social.

Rafael Araújo
Silvana Martinho
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