Sumário
 
 
A estetização da política na mídia.
Silvana Martinho*

           

A política é envolvida pela arte e pela mídia, que constituem ou a base ou o fundamento para a política ser estetizada. A arte pode ser política quando um artista ou um pequeno grupo está sujeito ao impacto externo, há um potencial pesquisador nele, há uma preocupação social semelhante ao esforço estético e ao desenvolvimento de uma linguagem e de uma pesquisa de linguagem. O artista se posiciona no jogo das relações de força de uma sociedade. A arte aparece enquanto forma de resistência na individualidade. Ela pode se mostrar como um diferencial frente a, por exemplo, uma sociedade de consumo.

A arte crítica deixa transparecer o poder de posição e ao mesmo tempo de conhecimento na análise da arte. Ela é a individualidade enquanto presença crítica e política, nesse sentido ganha uma utilidade, é um meio para difundir interesses individuais com relação a instituições, com a idéia de transformação da sociedade.

Sempre presente, no tempo de agora ou em passados longínquos, no desdobrar do pensamento e da vida, imperceptível ou barulhento, a arte é expressa a partir de diversas possibilidades. No tempo, contra o tempo e em um tempo por vir, a arte ao se apropriar das novas tecnologias pode criar novas experimentações e estabelecer outras relações entre espaço e tempo, agregadadas a simultaneidade.

No contexto contemporâneo, a sociedade é atravessada por um novo elemento da comunicação que é caracterizado pela capacidade de integração, em um mesmo sistema, de diferentes modalidades. Tais como a potência escrita, oral e audiovisual da comunicação humana, que se relacionam a partir de variados caminhos percorridos em redes, atrelado à convergência de diferentes mídias. Esse elemento corresponde à Internet – rede mundial interligada de computadores – que atua como um meio de comunicação mediado por computadores que interagem entre si e estabelecem um modo de organização social a partir de redes integradas.

A Internet passa a incorporar novas práticas e atores sociais, assim como cria novos espaços e relações de poder. As NTICs têm-se expandido com grande velocidade dentro da sociedade contemporânea, estando presente na realidade direta ou indireta de parcela significativa da população podendo produzir outras praticas, inclusive, de ação política, em especial dentro da Internet.

Um segmento da arte pode, ao se apropriar dessa nova mídia, faze-lo de maneira crítica, instigando questões e rompendo paradigmas. Expressões artísticas em suas diversas potencialidades podem utilizar esse espaço para construir novas manifestações, invertendo relações temporais e transcendendo barreiras entre obras e público.

Exemplo de manifestações artísticas, não muito citadas, mas não menos importantes, correspondem às histórias em quadrinhos, elas são narrativas seqüenciais por qu adros, em ordem de tempo com personagens fixos, nas quais a situação irá se desenvolver através de legendas e balões com textos pertinentes a cada quadro. Diferente das charges que estão intimamente ligadas aos acontecimentos temporais e perecíveis, as histórias em quadrinhos podem ou não ser temporais, políticas, sociais ou de humor com personagens e elencos fixos. Podem se desenvolver em uma tira, uma página ou várias páginas. O elemento básico das histórias em quadrinhos é um desenho simples encenado em uma moldura quadrilátera que, apesar de isolada relaciona-se às suas seqüências.

As histórias em quadrinhos ganharam força enquanto debate político no período da Segunda Guerra Mundial, em que elas perdem o caráter ingênuo e aventureiro para se tornarem panfletárias e cheias de ideologia.

Atualmente, elas se apropriaram das Novas Tecnologias da Informação e Comunicação e ao fazerem isso transcenderam a publicação na mídia impressa. Transcenderam na maneira como são elaboradas, para quem o são e até mesmo por quem são realizadas. No entanto, os ganhos vão além: é na Internet que elas podem ser avaliadas, repensadas e atingem leitores em escala global.

Em governos autoritários as histórias em quadrinhos, enquanto crítica política, ganham força, devido a sua linguagem rápida e acessível às diferentes classes sociais e às diferentes idades – atrelando a linguagem escrita à linguagem visual – dizendo de forma lúdica o que em outros formatos talvez fosse censurado.

Um exemplo de arte política no campo das histórias em quadrinho corresponde ao “Paraíso de Zahra”, a narrativa se desenvolve em Teerã e trata o desaparecimento de um adolescente após um protesto contra as eleições de 2009 que mantiveram o presidente Ahmadinejad no poder e a constante busca do adolescente por sua mãe. O medo de um possível risco de morte faz com que o autor da história em quadrinho seja mantido em anonimato.

As novas mídias possibilitam que manifestações artísticas como essas, ganhem visibilidade em rede global fazendo com que o mundo tome conhecimento sobre regimes totalitários, usando a rede e o tempo real como temas, instigando questionamentos.

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