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Referências Teóricas

A Educomunicação vem firmando-se, no Brasil, como campo epistemológico entre pesquisadores e tem seus estudos ampliados e sistematizados pelo Núcleo de Comunicação e Educação - NCE, da Escola de Comunicações e Artes da USP, sob orientação do professor Ismar de Oliveira Soares. Pesquisa realizada de 1997 a 1999 (Soares 1999) entre estudiosos e profissionais de Comunicação e de Educação do Brasil e de toda a América Latina e recentemente confirmada (1999 e 2000) mostrou que o campo da inter-relação Comunicação/Educação legitima-se como importante novo campo interdisciplinar de ação e reflexão frente ao desenvolvimento da sociedade midiática, das novas tecnologias da comunicação e da informação e do deslocamento da escola como fonte privilegiada do conhecimento.

O conceito de Educomunicação entendido por Soares é “o conjunto das ações inerentes ao planejamento, implementação e avaliação de processos, programas e produtos destinados a criar e fortalecer ecossistemas comunicativos em espaços educativos presenciais ou virtuais, tais como escolas, centros culturais, emissoras de TV e rádio educativos, centro produtores de materiais educativos analógicos e digitais, centros de coordenação de educação a distância ou e-learning e outros...” (Soares 2000). Para ele, a inter-relação comunicação e educação trabalha “a partir de um substrato comum que é a ação comunicativa no espaço educativo, ou seja, a comunicação inter-pessoal, grupal, organizacional e massiva promovida com o objetivo de produzir e desenvolver ecossistemas comunicativos através da atividade educativa e formativa”. (Soares 2002a)

O locus de ação da Educomunicação são os ecossistemas comunicativos, ambos intrinsicamente ligados, já que a primeira é representada pelo “conjunto de ações que permitem que educadores, comunicadores e outros agentes promovam a ampliem as relações de comunicação entre as pessoas que compõem a comunidade educativa”. (Soares 2002c)

Do conceito de ecossistema desenvolvido pela Biologia, é importante ressaltar a relação de trocas, de interdependência entre seres diferentes, que acontece em variados níveis; e do fato de que ecossistemas maiores podem conter ecossistemas menores.

Jesús Martín-Barbero articulou o conceito de ecossistema comunicativo, não apenas conformado pelas tecnologias e meios de comunicação, mas também pela trama de configurações constituída pelo conjunto de linguagens, representações e narrativas que penetra nossa vida cotidiana de modo transversal (Martín-Barbero 2000). Segundo Baccega, o ecossistema comunicativo “nos impregna a todos e o carregamos conosco em nossas atitudes, em nossos comportamentos, em nossos valores, em nossas decisões.” (Baccega 2002).

A preocupação de Martin-Barbero é com o desafio de “como inserir na escola em um ecossistema comunicativo que contemple ao mesmo tempo: experiências culturais heterogêneas, o entorno das novas tecnologias da informação e da comunicação, além de configurar o espaço educacional como um lugar onde o processo de aprendizagem conserve seu encanto” (Martín-Barbero 1996). Daí a necessidade que Soares vê da criação de “verdadeiros "ecossistemas comunicativos" nos espaços educativos, que cuide da saúde e do bom fluxo das relações entre as pessoas e os grupos humanos, bem como do acesso de todos ao uso adequado das tecnologias da informação” (Soares 2002c).

Desse modo, o conceito de Educomunicação de Soares é entendido, nas suas ações, da perspectiva da gestão comunicativa: “a organização do ambiente, a disponibilidade dos recursos, o modus faciendi dos sujeitos envolvidos e o conjunto das ações que caracterizam determinado tipo de educação comunicacional.” (Soares 2002a)

Isso implica em buscar a descentralização de vozes, a dialogicidade, a interação. As relações devem buscar equilíbrio e harmonia em ambientes onde convivem diferentes atores, não apenas no mundo tecnológico, mas em todas as esferas. È fundamental pensar na qualidade das relações interpessoais do processo, visto que não podemos desconsiderar que, antes de tudo, temos seres humanos que estão interagindo.

Essa posição está lastreada em Paulo Freire, para quem a comunicação é fundamental nas relações humanas, assim como a inter-relação de seus elementos básicos no processo educativo. Para haver conhecimento, é necessária uma relação social igualitária e dialogal entre os sujeitos, que resulta em uma prática social transformadora. “A educação é comunicação, é diálogo, na medida em que não é a transferência de saber, mas um encontro de sujeitos interlocutores que buscam a significação dos significados” (Freire 1979), dizia Paulo Freire, para quem a dialogicidade como essência da educação libertadora apresentava algumas características importantes: a colaboração (a ação dialógica só se realiza entre sujeitos), união (fundamental para a consciência de classe ou de grupo), a organização (momento da aprendizagem em que se busca transformar) e síntese cultural (instrumento de superação da cultura), idéias também basilares da Educomunicação.

 

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