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Reação dos Alunos

Os alunos, em sua maioria, mostraram-se muito interessados, ávidos do conhecimento da língua e fascinados pelo recorte literário inédito propiciado pelo curso. Os que iniciaram o curso diretamente no Módulo Textos Literários , não conhecendo previamente a metodologia de abordagem de textos adotada por nós queriam "tudo pronto". Conduzidos à pesquisa, ao hábito do raciocínio, pouco a pouco, como no trabalho realizado nos módulos I, II e III, acabaram aderindo ao que lhes era solicitado. Passaram então a trabalhar junto com o professor e com os colegas. Muitas vezes apontaram uma solução para algum problema ou partilharam alguma descoberta, como sites interessantes, complementando o texto fornecido e se envolveram, talvez até mais do que em uma sala de aula presencial. Sua curiosidade tendo sido despertada, mais de três - entre quinze alunos - leram em português Mme. Bovary inteiro, ou Le Ravissement de Lol V. Stein , durante o curso.

As discussões realizadas nos fóruns comprovam a riqueza do envolvimento dos alunos. Vale a pena ler algumas mensagens trocadas no Interventions , por exemplo, sobre a socialização de descobertas e dúvidas, neste caso, a confusão que a palavra trafic provocou na compreensão de uma parte do texto de Madame de La Fayette:

Msg: O italiano - traficante ou comerciante?

- à Mára,

Em algum lugar vi uma apreciação sobre as atividades do italiano, gancho para apresentar os personagens principais. Quanto ao italiano, em cuja casa Mlle. De Chartres fica conhecendo o príncipe de Clèves, entendo, no texto, que o se trata efetivamente um traficante de pedras preciosas. O texto é claro:

... des pierreries chez un Italien qui en trafiquai t ... . Cet homme était venu de Florence avec la reine, et s'était tellement enrichi dans son trafic, que sa maison paraissait plutôt celle d'un grand seigneur que d'un marchand.

... pedrarias na casa de um italiano que as traficava ... . Este homem viera de Florença com a rainha (isto é, quando a herdeira da casa dos Médicis veio do reino de Florença para se casar com o rei da França, trouxe seu séquito e dentre aqueles que a seguiram, estava tal italiano - a autora utiliza recursos da vida na época para dar consistência a sua criação, misturando fantasia e realidade) - e de tal forma enriquecera com o tráfico, que sua casa mais parecia com aquela de um grande senhor (proprietário provavelmente feudal) do que de um comerciante.

Não fica dúvida que não se trata de um comerciante, mas sim de um traficante (trafic: commerce plus ou moins clandestin, honteux et ilicite).

Ainda quanto a este parágrafo, a jovem foi no local pour assortir des pierreries - assortir, literalmente consta no dicionário como fornecer, combinar. Mas no contexto mais se assemelha a que ela foi lá adquirir pedras preciosas, se provisionar, é isso mesmo?

p.s. - qual o significado de bourgeoisie de robe ?

A.

- à A.,

Adorei sua explicação, acho interessantíssimo explorar fatos históricos nos textos literários. É empolgante conhecer a história pela releitura que se faz dela em textos literários. Obrigada pela delícia de informação

R.T.

- à A,

Faço minhas as palavras da R.T. Muito obrigado...

D.

- à Jovens,

gostei muito dos comentários. Entretanto, insisto no que diz respeito à interpretação de "traficante", visto que devemos entender e inserir as palavras no contexto em que existiam e em que foram utilizadas. Vejam que interessante o que diz o Robert Historique de la Langue Française (Alain Rey, 1998, p.3875) sobre "trafic":

"En moyen français, comme le note P. Guiraud, trafic est souvent accompagné d'un mot exprimant l'idée négative de "fausseté"; cependant jusqu'au XVIIe siècle il désigne le commerce en général et s'emploie au XVIe siècle et à l'' époque classique (1552) avec une valeur figurée correspondante, "domaine où s'xerce une activité". Parallèlement, trafic désigne le fait de monnayer un bien moral (1541), emploi auquel correspond la locution d'abord juridique "trafic d'influence". Le mot s'emploie ensuite (sans épithète dépréciative) pour parler d'un commerce plus ou moins immoral et illicite (1656).

Bisous. Mára.

PS.quanto à "bourgeoisie de robe", vamos pesquisar?

Dêem uma olhada no bendito e adorado google.fr e insiram "bourgeoisie de robe" na busca. Vocês verão que tem até peça de Molière que fala disso.

Bon divertissement!

bisous. Mára.

- à Continuo achando que o comércio do italiano era meio clandestino mesmo - em primeiro lugar pelo simples fato de ele ser italiano (e olhe que tenho uma porcentagem de sangue de lá).

Se fosse apenas um rico comerciante não seria necessário toda aquela observação, e ele seria chamando de marchand - ou é xenofobia que leva um francês denominar um italizano coemrciante de traficante? quando se referem a franceses é marchand,quando se trata de italiano é traficant??

A.

- à Também achei que trataria-se de um traficante ou contrabandista, mas ficou estranho pelo fato dele estar acompanhando a rainha, pois contrabandista prejudica o reino uma vez que não recolhe impostos. Mas isto pode não significar nada, desde que o contrabando favoreça os reinantes, não é mesmo? Hihihihi...é muito imoral minha interpretação?

L.

- à L., sua interpretação é correta a meu ver.

Lembra-se de Getúlio Vargas? Aos amigos, tudo, aos inimigos, a lei.

Pois é, o italiano viera do reino de Florença, devia ser amigos dos Médicis e sua intenção era exatamente traficar, para obter lucros e se tornou mais rico que os comerciantes franceses.

Acho que o texto foi bem claro (ou euvejo crime em tudo? ou eu que não acredito na bondade e magnanimidade dos homens?

A.

- à chère M. A., torno a sugerir para voltarmos ao contexto, conforme nos confirma o próprio dicionário histórco. Quanto a estarmos influenciados por nossa profissão e pela circnstância em que vivemos, quem não está? [...]. Bise, Cris

- à Cris,

independente de minha profissão, eu realmente entendi que o italiano não era um comerciante honesto. Talvez de propósito a autora tenha colocado o termo trafaicante, pois na Europa os italianos são vistos como vigaristas. E efetivamente, na Itália, vemos que eles têm uma moral toda peculiar. Para chegar à raiz deste entendimento, téríamos que conehcer muito bem a mentalidade da autora, se ela tivera algum dissabor com italianos etc.

A.

- à Chère M. A., eu entendi que você primeiramente interpretou como traficante,etc. Respondi ao seu comentário porque você foi quem levantou a hipótese de ver a realidade com olhos mais penetrantes, vendo mais "crime" em todo lugar. Concordo plenamente que seria necessário conhecer ainda melhor a autora, a época, as relações França-Itália (que era apenas um punhado de principados na época) para maiores elocubrações. Vamos nos guardar para Lol que será mais "quente".Bise, Cris

- à Bonjour tout le monde,

A., suas interpretacoes sobre o que a autora quis ou nao dizer estão realmente muito interessantes. É isso mesmo que fazemos em literatura: tentamos descobrir o que o autor tinha em mente ao escrever o livro. E, nos vários tipos de crítica literária podemos nos orientar em várias direções para comentar o texto, tentar entendê-lo, contextualizá-lo, etc...

Mas como aqui nao estamos em um curso de literatura mas de leitura (cf as msgs sobre as dificuldades com a Lol, que foram mais de leitura propriamente dita) é bom nos orientarmos através do que dispomos: dicionários. Temos certeza, assim, de que nao nos afastamos demasiadamente do sentido do texto.

Assim, insisto sobre o que foi colocado no dicionário histórico já que o romance foi publicado em 1678 e o que vigorava nesta época era a seguinte definicao para trafic:

"jusqu'au XVIIe siècle il désigne le commerce en général et s'emploie au XVIe siècle et à l'' époque classique (1552) avec une valeur figurée correspondante, "domaine où s'xerce une activité".

Le mot s'emploie ensuite (sans épithète dépréciative) pour parler d'un commerce plus ou moins immoral et illicite (1656).

Tudo bem? Todo mundo entendeu direitinho? Claro que vocês podem interpretar como quiserem mas no texto da Princesse, tudo nos leva a crer que era comércio mesmo.

bisous a tous.

Mára.

Dentro do curso Itinerários de Leitura em Francês, é a primeira vez que este módulo - Textos Literários - é oferecido. Pode-se dizer que o aproveitamento foi muito grande tendo aliado o conhecimento lingüístico à Literatura e cultura Francesas. Pode-se ainda afirmar que este módulo, de certa maneira, consistiu em preparo para o seguinte - Textos Acadêmicos - que visou mais objetivamente ao preparo do exame de proficiência.

Verificou-se que a utilização de Textos Literários bem escolhidos e bem direcionados e trabalhados com acuidade, pode ampliar a aprendizagem da Língua no sentido de alçá-la ao campo da Cultura e dos valores humanos.

Em seis semanas os alunos demonstraram que foram capazes de ler, compreender textos clássicos da Literatura Francesa, desde Le petit Chaperon Rouge de Charles Perrault até um texto complexo de romance contemporâneo como Le Ravissement de Lol V. Stein de Marguerite Duras.

Sem dúvida, o trabalho em equipe foi fundamental para que o módulo transcorresse sem problemas pois sabíamos exatamente nossas possibilidades e objetivos em relação aos alunos. Também o nosso investimento tanto nos fóruns quanto na correção das activités e no acompanhamento personalizado de cada aluno contribuiu de forma decisiva para que todos ficassem satisfeitos, curiosos e para que se dedicassem cada vez mais à leitura.

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