Rythm's Thief é uma intervenção artística
que trabalha a geomorfologia urbana como media para a navegação
de sinais sísmicos, emitidos de um sítio abandonado na zona leste
de São Paulo e captados no Sesc Belenzinho.
O padrão sísmico resulta da passagem de ondas sísmicas
por um determinado local da superfície da terra. O ponto de onde
são emitidas as vibrações iniciais é chamado de foco. O ponto na
superfície acima do foco é chamado de opicentro.
Nesta intervenção, as ondas sísmicas são provocadas
pelo impacto gerado por dois bate-estacas, cravando perfis metálicos
de grandes dimensões, dispostos a uma distância de 100m um
do outro.
Os bate-estacas geram uma série rítmica de sinais
a serem captados por sismógrafos ao longo do percurso, reproduzindo
a informação de intervalos de tempo diferentes, pela alternância
dos momentos em que cada um dos perfis é atingido pelo bate-estaca.
A captação destes sinais em um set up localizado
no local de recepção permite a sua análise por um programa computacional,
com o objetivo de extrair padrões complexos digitais para serem
apresentados em tempo real.
Concomitantemente será teletransmitido por uma
equipe broadcasting de TV, com as câmeras e microfones localizados
em pontos estratégicos, de tal modo a dar outra visibilidade aos
fenômenos complexos envolvidos no processo: impacto da estaca no
perfil, como o sistema mecânico e a codificação destes padrões em
sistema digital, modo pelo qual torna visível algo invisível para
o nossa escala de percepção.
O SOLO URBANO COMO INSTRUMENTO
O meio de propagação sísmica é o solo urbano, que
também é mídia dos sinais sísmicos, cujo padrão e ritmo são codificados
digitalmente. Aquilo que para a sismologia é ruído cultural, para
nós é material bruto de linguagem, num trânsito livre entre código
e natureza.
O solo da cidade é semanticamente rico pela presença
freqüente de diversos eventos, tanto em sua superfície (carros,
trens, metrôs, etc..) quanto no subsolo, (tubulações, alicerces,
fundações, escavações metroviárias, etc ...), especialmente no contraste
com a composição de terrenos naturais (florestas, desertos, etc
...).
A proposta artística do projeto envolve a idéia
de intervenção na própria fisicalidade urbana, atingindo a escala
de implantação da urbis no solo, primeira manifestação da cultura
urbana - "deitar raízes em um lugar", um espaço geo-físico.
Sinais e ritmos são primitivas manifestações do
adensamento semiótico e por isso cultural e por isso estético. Sinais
sísmicos são telúricos, brutos, naturais, expontâneos, mas prenhes
de sentido cultural, na medida em que resultam da instrumentação,
do uso das ferramentas humanas de construção, no solo e subsolo.
Portanto, Ladrão de Ritmos usa o solo como
instrumento - membrana de percussão, que entra em orquestração,
roubando outros sinais que se propagam no subsolo da zona leste
de São Paulo.
José Wagner Garcia
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