A panorâmica é uma das formas mais acabadas da
visão panóptica. Ver tudo. Hoje, a visão que se pretende abrangente
só evidencia a problemática de se apreender as grandes dimensões
das paisagens metropolitanas. Mapear.O olhar só registra cenas de
alcance limitado, circunscritas pelos obstáculos, direcionadas pela
experiência imediata. Impossível estender-se pelo horizonte.
Não por acaso as imagens aéreas da região leste
de São Paulo, feitas pelo mesmo fotógrafo para o catálogo do projeto,
trazem superfícies juncadas por telhados de zinco e cortadas por
linhas de trem e autopistas. Um oceano sem fim, praticamente indiscernível.
Cassio Vasconcellos trabalha com fragmentos de
uma panorâmica. Eles têm de ser dispostos à diferentes distâncias,
ampliados em diferentes tamanhos. Apenas a partir de um ponto de
vistas constituem o todo. Toda a questão da escala está destrinchada
aqui. Mas cada recorte pode também ser observado isoladamente.
Está dada a sugestão: hoje a observação de registro
imagético da cidade implica trabalho. A imagem não se oferece mais
à contemplação, mas constitui material analítico, pode ser manipulada
eletronicamente, associada à dados, inserida em dispositivos de
localização e pesquisa.
Num momento em que os novos procedimentos de sensoramento
remoto e GIS colocam como central a questão da leitura dos dados
obtidos, ele decompõe a estrutura da perspectiva panorâmica, a forma
básica da imagem fotográfica da paisagem urbana. Poderão as imagens
de satélite, com sua abrangência regional, capazes de zooms cada
vez mais acurados de parcelas do território urbano, nos permitir
uma maior apreensão de sua configuração e dinâmica?
|