A arquitetura industrial, até meados do
século, baseou-se em rígidas e massivas estruturas,
determinando programas inflexíveis de uso e circulação.
Espaços condicionados pelo maquinário pesado, a distribuição
dos insumos, o escoamento dos produtos e a administração
da mão-de-obra. Espaços disciplinares do trabalho
fabril. Os vastos andares da torre leste, hoje vazios, guardam todas
as características dessa rígida estruturação
espacial. As escadas de acesso e os elementos arquitetônicos
internos orientam a passagem e a apreensão do lugar.
A proposta de Ana Tavares visa romper esta sistemática do
acesso e da percepção. Trata-se da instalação
de um conjunto de passarelas e escadas que interliguem as diversas
áreas existentes nos andares e, através de aberturas
feitas nas lajes, os diferentes pisos entre si. Instaurando um dispositivo
de circulação inteiramente distinto daquele imposto
pela estrutura arquitetônica. O percurso criado não
pretende oferecer acesso aos locais. Pelo contrário, trata
de evidenciar a impossibilidade de acesso físico a lugares
específicos e, ao mesmo tempo, proporcionar uma visão
ampliada da arquitetura. O conjunto deve criar uma rede ilógica
de tráfego, deslocando o visitante de seu ponto de vista
usual e proporcionando-lhe uma distinta experiência espacial.
A intervenção pretende criar um dispositivo de circulação
análogo aos túneis subterrâneos projetados para
o fluxo de pessoas em metrôs ou espaços públicos
das grandes cidades, onde a passagem se transforma experiência
solitária e o mapeamento da cidade se efetiva como trama
labiríntica e caótica. A referência à
Piranesi, com seus espaços desconectados e escadas que dão
à lugar algum, é evidente. Não se trata de
criar um programa alternativo de acesso aos lugares. O projeto não
obedece às regras de funcionalidade da arquitetura industrial,
mas procura justamente discutir a falta de acessibilidade destes
espaços fechados.
A intervenção possibilita o tráfego de pessoas
nas mais diversas direções, através dos obstáculos
arquitetônicos, em contraposição à lógica
estrutural. Liga espaços distantes pela transposição
de outros, mais próximos. Conecta espaços sobrepostos,
em andares diferentes, sem acessar pisos intermediários.
Liga um andar a outro passando por fora do edifício. Uma
dissolução da rígida compartimentalização
espacial determinada pela arquitetura, aproximando áreas
antes afastadas e distanciando outras até então vizinhas,
suprimindo a distinção entre acima e ao lado, interior
e exterior.
A configuração do espaço e o dispositivo de
circulação resultantes correspondem à fragmentação
do tecido urbano e à formação de intervalos
e enclaves, rearticulados através de inúmeras transposições
e conexões de trânsito, uma das características
essenciais da Zona Leste de São Paulo.
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