Uma história contada com o auxílio da matéria prima fundamental do processo industrial: a água. O vapor, tradicionalmente usado para impulsionar o maquinário industrial. A água em todas as fases do seu processo de transformação. Na Luz, uma estrutura de placas de gelo, por entre as quais as pessoas podem passar, experimentando sensações de frio e calor. Uma situação de deslocamento que é típica das estações de trem. A mutação do estado sólido para o líquido servindo de metáfora das partidas e chegadas.
No Moinho, extraordinária ferida urbana, ocorre um purgamento do material. As bases dos silos destruídos, formando uma espécie de concha, são cheias de um material borbulhante, em permanente fervura. A passagem do líquido ao estado pastoso dá seqüência à narrativa. Essas estruturas servem de cadinho para a purificação de tudo aquilo que ali foi aviltado e conspurcado. Na Matarazzo, por fim, uma cortina d’água, erguida na chegada do trem, na perspectiva das construções, parece um dispositivo de apagamento. A água lava as impurezas, levando consigo todas as coisas. A matéria começa a se desfazer. Resultado a que se chega no último dispositivo criado por Ricardo Ribenboim: uma instalação com vapor numa das chaminés da fábrica. O vapor, acumulado dentro da chaminé, é liberado a intervalos regulares, rimando com a pontuação feita pelas passagens dos trens. A fumaça é o último estágio da desaparição: completa-se o enunciado.
Fecha-se o ciclo de decadência e revitalização: o ritmo do vapor saindo pela chaminé indica que o espaço voltou a pulsar. Tempo é reintroduzido naquele lugar em suspensão. Os processos da matéria _ o derretimento, a fervura, a liquefação e a evaporação _ revelam o movimento oculto naquele mundo aparentemente inerte. |