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BOLETIM CLÍNICO - NÚMERO 14 - MARÇO/2003

Boletim Clínico | Psicologia Revista | Artigos



BIOENERGIA

Outro pesquisador da energia, Alexander Lowen, continuou o trabalho de Reich seguindo um caminho pessoal embora o nome que deu à sua linha teórica retome o bíon reichiano, a energia de vida.

Alexander Lowen foi o criador da bioenergética, a qual constituiu uma nova maneira de encarar a relação entre mente e corpo.

"A bioenergética é também uma técnica terapêutica que ajuda o indivíduo a reencontrar-se com o seu corpo, e a tirar o mais alto grau de proveito possível da vida que há nele. Ela é uma aventura de autodescoberta. Difere de formas similares de exploração da natureza do ser por tentar e perseguir o objetivo de compreender a personalidade humana em termos de corpo humano. Segundo Lowen, os processos energéticos do corpo determinam o que acontece na mente, da mesma forma que determinam o que acontece no corpo"

A busca pessoal que levou Lowen até a bioenergética seguramente não teria tido final feliz se ele não tivesse tido a formação terapêutica com Wilhelm Reich. Foi com Reich que ele assimilou a teoria da análise do caráter e aprendeu a técnica terapêutica de Reich durante seu processo de terapia com ele.

Desde a mocidade Lowen teve uma inclinação muito grande para exercícios físicos que lhe ocasionavam um extraordinário bem estar. Essa motivação para o trabalho corporal chegou a sistematizar-se quando foi discípulo de Reich "Durante os anos trinta fui diretor de esportes em diversos acampamentos de verão e descobri que um programa regular de atividades físicas não só melhorou minha saúde, como também teve resultados positivos em meu estado mental". Teve contato com a Eurritmia de Emile Jacques-Dalcroze e com o relaxamento progressivo de Jacobson e Ioga Hindu.

Discípulo de Reich desde que o conheceu em Nova York em 1940 até 1952. Neste período de tempo realizou sua análise com Reich durante três anos.

Para Reich a energia sexual era a energia. Já Lowen não dá toda ênfase para a energia sexual, afirmando que "Um indivíduo neurótico mantém um equilíbrio ao reter sua energia em tensões musculares e ao limitar sua excitação sexual. Um indivíduo saudável não possui limites, e sua energia não fica confinada na couraça muscular. Toda sua energia está conseqüentemente disponível para o prazer sexual ou para qualquer outro tipo de expressão criativa".

Durante o curso que Lowen fez com Reich sentiu um grande ceticismo em relação aos seus pressupostos por causa da "aparente supervalorização do papel do sexo nos problemas emocionais", no entanto no decorrer da segunda metade do curso, depois de ter começado a ler os ensaios de Freud sobre a sexualidade infantil, conseguiu perceber a validade das afirmações de Reich, ao entender o que Freud colocava, em estreita relação com a sua própria sexualidade infantil.

Em 1942 Lowen começou a fazer terapia com Reich e em paralelo participava das atividades científicas no laboratório:

"Iniciei minha terapia pessoal com Reich na primavera de 1942. Durante o ano anterior, fui freqüentador assíduo do laboratório de Reich. Ele mostrou-me alguns dos trabalhos que estava desenvolvendo com biopreparados e tecidos cancerosos. Um dia, então, ele me disse: "Lowen, se você está interessado neste trabalho, só existe uma forma de se introduzir nele, que é através da terapia". Essa afirmação me surpreendeu, pois eu não esperava por isso. E lhe disse: "Eu estou interessado, mas quero me tornar famoso". Reich levou a sério essa minha ressalva, tendo respondido: "Eu o farei famoso". Por todos esses anos, tive a afirmação de Reich como uma profecia. Era o impulso de que eu precisava para superar minha resistência e iniciar o trabalho para o qual consagrei toda a minha vida.

Minha primeira sessão de terapia com Reich foi uma experiência da qual jamais me esquecerei. Cheguei com a ingênua suposição de que não havia nada de errado comigo. Deveria apenas ser uma análise didática. Deitei-me na cama e estava usando um calção de banho. Reich não utilizou o divã, pois essa era uma terapia orientada para o corpo. Eu deveria dobrar os joelhos, relaxar, respirar com a boca aberta e o maxilar relaxado. Segui tais instruções e aguardei para ver o que acontecia. Depois de algum tempo, Reich disse: "Lowen, você não está respirando". Respondi: "É claro que estou, do contrário estaria morto". Ele então respondeu: "Seu tórax não se move. Sinta o meu". Coloquei minha mão sobre o seu tórax e senti que subia e descia com cada respiração. Eu certamente não estava respirando do mesmo modo.

Deitei novamente e voltei a respirar, desta vez cuidando que meu tórax se enchesse com a inspiração e se esvaziasse com a expiração. Nada aconteceu. Minha respiração continuou fácil e forte. Depois de alguns instantes, Reich disse: "Lowen, jogue sua cabeça para trás e abra bem os olhos". Fiz o que me foi pedido e... um grito irrompeu da minha garganta.

Era um dia bonito de início da primavera e as janelas do quarto se abriam em direção à rua. Para evitar qualquer embaraço com os vizinhos, o Dr. Reich me pediu que levantasse a cabeça, o que deteve o grito. Voltei a respirar profundamente. Pode parecer estranho, mas o grito não me incomodou. Eu não estava ligado a ele emocionalmente. Não senti medo. Depois que respirei por mais algum tempo, o Dr. Reich me pediu que repetisse o procedimento: jogar a cabeça para trás e abrir bem os olhos. Mais uma vez me veio um grito. Hesito em dizer que gritei, pois não me pareceu tê-lo feito. Simplesmente me aconteceu. Novamente não havia sentido contato com o som. Deixei a sessão com a impressão de que eu não estava tão bem quanto imaginara. Existiam coisas (imagens, emoções) na minha personalidade que não eram conscientes e então compreendi que elas haveriam de vir à tona"

Em seu livro "A função do orgasmo", Reich relata um atendimento que foi fundamental para a confirmação de seus pressupostos:

"Em Copenhague, no ano de 1933, tratei de um homem que opunha uma resistência especial ao desmascaramento de suas fantasias homossexuais passivas. Essa resistência se manifestava numa atitude extrema de tensão do pescoço ('pescoço-duro'). Após um ataque energético contra sua resistência, finalmente ele cedeu, mas de forma bastante alarmante. A cor de seu rosto mudava rapidamente do branco para o amarelo ou para o azul; sua pele estava manchada de várias cores; tinha fortes dores no pescoço e no occipital; teve diarréia, sentiu-se abatido e parecia ter perdido o equilíbrio"

Lowen mais tarde, refletindo sobre esse caso atendido por Reich, percebeu que: "O 'ataque energético' foi apenas verbal, mas foi direto à atitude de 'pescoço-duro' do paciente. Os sentimentos manifestaram-se somaticamente após o paciente ter abandonado uma atitude de defesa psíquica. Nesse ponto, Reich chegou a conclusão de que a "energia poderia ser contida por tensões musculares crônicas"

O estudo da atitude dos corpos de seus pacientes levou Reich a dizer que "não existe um indivíduo neurótico que não apresente tensão abdominal".

A seguir "Notou uma tendência comum a todos os seus pacientes de reter a respiração e inibir a exalação, correspondendo a um controle de seus sentimentos e sensações. Concluiu que o fato de reter a respiração serviu para diminuir a energia do organismo ao reduzir suas atividades metabólicas, o que, por sua vez, reduzia a formação da ansiedade. (...) Para Reich, então, o primeiro passo no procedimento terapêutico era conseguir com que o paciente respirasse mais fácil e profundamente. O segundo seria mobilizar qualquer expressão emocional que fosse mais evidente na face ou no comportamento do paciente."

Nas sessões subseqüentes, Reich continuou a sugerir a Lowen que se deitasse e respirasse o mais livremente possível, tentando permitir que ocorresse uma profunda expiração, e que se entregasse a seu corpo, não controlando qualquer expressão ou impulso que surgisse.

"Aconteceu uma série de coisas que gradualmente me puseram em contato com antigas recordações e experiências. De início, a respiração mais profunda a qual eu não estava acostumado, produziu em minhas mãos sensações fortes de formigamento que, em duas ocasiões, se transformaram num espasmo carpopedal, com uma forte câimbra nas mãos. Essa reação desapareceu na medida em que meu corpo se acostumou com o aumento de energia provocado pela respiração profunda. Houve um ligeiro tremor em meus lábios e em minhas pernas quando movi ligeiramente meus joelhos juntos ou isoladamente, ao ter seguido um impulso de esticar minha boca".

Durante uma sessão Lowen sentiu impulso de socar a cama em que estava deitado, vendo no lençol o rosto de seu pai que tinha lhe dado uma forte surra quando era garotinho. Percebeu então que estava esmurrando o pai e não a cama. Lowen relata várias experiências de infância, sendo a de emoção mais intensa o carão que levou da mãe por estar chorando demais quando tinha nove meses. Percebeu que o rosto que tinha visto quando gritou no início da terapia, era o rosto de sua mãe.

Depois desse fato a terapia entrou numa fase de pouco progresso, até que Reich falou para ele: "Lowen, você é incapaz de se dar a seus sentimentos. Por que você não desiste?".

Esse questionamento de Reich foi um choque terrível para Lowen que viu ruir por terra todo o seu projeto com Reich. As palavras de Reich fizeram Lowen cair e chorar com soluços como não tinha feito a muitos anos. Depois que se entregou a seus próprios sentimentos, foi possível continuar a terapia.

"Para Reich, o objetivo do tratamento era o desenvolvimento no paciente de sua capacidade de se entregar totalmente aos movimentos espontâneos e involuntários do corpo, os quais fazem parte do processo respiratório. Conseqüentemente, a ênfase recaía em deixar que a respiração se processasse o mais plena e profundamente possível. Se isso fosse feito, as ondas respiratórias produziriam um movimento de ondulação do corpo chamado, por Reich, de reflexo do orgasmo" .

Reich considera que as pessoas neuróticas não tem capacidade de ter orgasmo, sendo esse clímax condição para uma saúde emocional normal. "O orgasmo pleno, segundo Reich, descarrega todo o excesso de energia do organismo, não restando, portanto, nenhuma energia para suportar ou manter um sintoma ou comportamento neurótico". O orgasmo para Reich "representava uma reação involuntária do corpo como um todo, manifestada em movimentos rítmicos e convulsivos".

A respiração profunda durante as sessões podem determinar em certos indivíduos o que Reich chamou de reflexo do orgasmo. "Nesse caso, não existe clímax ou descarga de excitação sexual desde que não houve o acúmulo desse tipo de excitação, o que acontece é que a pelve se move espontaneamente para frente a cada expiração e para trás a cada inspiração. Esses movimentos são produzidos pela onda respiratória conforme for circulando para cima e para baixo, movida pela inspiração e pela expiração. Ao mesmo tempo, a cabeça executa movimentos similares aos da pelve com a diferença de que se move para trás na fase expiratória e para frente na fase de inspiração. Teoricamente, o paciente cujo corpo está suficientemente livre para ter esse tipo de reflexo durante a sessão de terapia também estaria capacitado a experimentar o orgasmo total no ato sexual. Tal paciente deve ser considerado emocionalmente saudável".

Depois de um ano de férias da terapia, Lowen a retomou em 1945. Nessa fase Lowen atendeu seu primeiro cliente em terapia reichiana. Apesar de Reich ter considerado a terapia de Lowen bem sucedida, anos mais tarde ele percebeu que permaneceram sem solução muitos dos principais problemas de sua personalidade. Os problemas não resolvidos com Reich, afirma Lowen tê-los superado anos mais tarde com a bioenergética.

"Em Setembro de 1947, deixei Nova York e fui com minha esposa para a universidade de Genebra, a fim de fazer o curso de medicina, de onde saí formado em junho de 1951, com o título de Dr. em Medicina (M.D.)"

A terapia reichiana foi modificada no sentido de que o terapeuta tivesse contato corporal com o paciente para que esse contato permitisse o relaxamento dos músculos trabalhados. Lowen relata que no caso dele, Reich trabalhou os músculos do maxilar.

Preciso acrescentar que "os terapeutas da bioenergética são treinados para utilizar suas mãos no intuito de palpar e de sentir espasmos ou bloqueios musculares; para aplicar a pressão necessária ao relaxamento ou à redução da tensão muscular, atentando para a tolerância do paciente à dor; para estabelecer contato através de um toque suave e tranqüilizador, que forneça apoio e calor. Hoje em dia é difícil compreender a amplitude do passo dado por Reich em 1943."

Depois de anos relutando Lowen chegou à conclusão "de que não existe apenas uma saída que desvenda todos os mistérios da condição humana". Chegou a perceber que se pensasse mais em termos de polaridades e de seus inevitáveis conflitos e soluções temporárias poderia compreender melhor seu cliente. "Uma visão da personalidade que vê o sexo como única chave para a personalidade é por demais restrita, mas ignorar o papel do sexo na determinação da personalidade do indivíduo é desprezar uma das mais importantes forças da natureza".

Para Lowen a felicidade é a consciência do crescimento. A terapia pode ajudar a crescer mediante "novas experiências e ajudando a remover ou reduzir os bloqueios e obstáculos à assimilação das experiências".

O GROUNDING - "Este conceito desenvolveu-se vagarosamente através dos anos, na medida em que se tornou evidente que todos os pacientes sentiam a falta de ter seus pés firmemente plantados no chão". Isso acontecia por estar fora de contato com a realidade. "Grounding, ou seja, fazer com que o paciente tenha contato com a realidade, com o solo onde pisa, com seu corpo e sua sexualidade, tornou-se uma das pedras fundamentais da bioenergética".

Lowen fez "um estudo intensivo sobre tipos de caráter, relacionando as dinâmicas físicas e psicológicas dos padrões do comportamento". Isso tudo serviu de base para o trabalho sobre o caráter feito na bioenergética.

A bioenergética tem como objetivo ajudar o indivíduo a abrir o seu coração para a vida e para o amor.

A ENERGIA SUTIL NA CALATONIA DE PETHÖ SANDOR

A calatonia é constituída basicamente por um conjunto de estímulos táteis, o terapeuta vai estimular com seus dedos os dedos dos pés, a sola dos pés e pontos nas pernas do paciente, finalizando na nuca.

Os toques do terapeuta constituem estímulos de energia sutil que passa para esses pontos do paciente. Esses pontos tocados tem uma ressonância energética sutil com áreas do sistema nervoso central e com glândulas de secreção interna. Se compreendermos desta maneira a calatonia, ela se alinha dentro da técnica Shiatsu dos orientais.

A calatonia ficou durante muitos anos sem ter sua descrição completa publicada, porque seu criador, Pethö Sandor, considerava que o aprendizado deveria começar pela vivência do método.

"No original grego o verbo Khalaó indica 'relaxação', e também 'alimentação', 'afastar-se do estado de ira, fúria, violência', 'abrir uma porta', 'desatar as amarras de um odre', 'deixar ir', 'perdoar aos pais', 'retirar todos os véus', etc.

(...) Assim, ainda conforme o próprio autor, a expressão calatonia indica uma condição de descontração, soltura, porém não apenas do ponto de vista do tônus muscular: em seu sentido mais amplo, refere-se também àquelas possibilidades de reorganização de tensões internas, cuja origem, o termo nos sugere analogicamente. "

Atualmente, segundo a professora Rosa Maria Farah, a calatonia é uma forma de intervenção terapêutica cuja extensão vai muito além das duas seqüências iniciais já citadas.

A ação do terapeuta na calatonia é de diluir as tensões acumuladas nos grupos musculares que manipula.

"Como sabemos, do ponto de vista fisiológico, o estímulo tátil é potencialmente capaz de eliciar uma variada gama de respostas. (...) O ato de lamber o filhote recém-nascido, presente nos mamíferos, demonstrou-se como fundamental para a sobrevivência do mesmo: muito mais do que 'lavar' o filhote, a fêmea fornece, assim, uma estimulação essencial para o desenvolvimento normal de sua prole. Observou-se, em cães e gatos privados das lambidas da fêmea, falhas severas do funcionamento do sistema geniturinário. A reversão deste processo foi obtida com carícias propiciadas aos animais pelas pessoas que os cuidavam".

No ser humano, o contato do bebê com sua mãe é fundamental para o desenvolvimento saudável, tanto físico como psicológico, a privação materna nos primeiros seis meses de vida do bebê pode levar à chamada depressão anacrítica descrita por Spitz.

O efeito terapêutico da calatonia tem pelo menos duas causas:

1- o toque sutil estimula ramificações nervosas a nível da pele, que levam esses estímulos à zonas neuronais nas quais se produzem endorfinas, substâncias que produzem um efeito psicológico de otimismo e jovialidade.

2- Todo ser humano tem um corpo etérico, uma envoltura eletromagnética que se concentra de forma mais intensa nos meridianos e pontos de acupuntura.

A energia que corre pelos meridianos e pontos de acupuntura, é a energia chi (energia universal) que assimilada é integrada ao corpo físico à nível da pele.

Pelo caráter eletromagnético do corpo etérico, quando duas pessoas tem contato sutil há uma interação entre as energias eletromagnéticas dos corpos etéricos, essa interação fluirá do corpo etérico com mais energia para aquele que tem menor, quando os toques se fazem em pontos da pele que tem ressonância com áreas cerebrais, essas áreas serão estimuladas pelo toque sutil.

A CALATONIA COMO RECURSO TERAPÊUTICO

Além dos efeitos bioenergéticos, ocasionados pela interação entre dois corpos etéricos e a ressonância do sistema nervoso central e nas glândulas de secreção interna do paciente, a calatonia também tem o efeito de mobilizar conteúdos psíquicos em nível consciente e inconsciente. É bastante freqüente que os pacientes tenham vivências relacionadas com situações traumáticas de suas vidas, e em alguns casos aparecem imagens coloridas que plasmadas com papel e guache, mostram uma criatividade artística não manifesta até então. Tanto as vivências traumáticas quanto as vivências artísticas, constituem ponto de partida para um enriquecimento do processo terapêutico.

Para o leitor que quiser aprofundar seu conhecimento sobre a calatonia, recomendamos o livro da psicoterapeuta e professora Rosa Maria Farah que consta na bibliografia.

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